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Estudos de Metáfora e Metonímia Conceptuais de Lakoff e Johnson Segundo Lakoff e Johnson, a metáfora e a metonímia são

instrumentos cognitivos, e a linguagem corrente está repleta de expressões metafóricas e metonímicas. No âmbito do léxico, elas são os meios mais freqüentes de extensão semântica, mas se vêem generalizadas, convencionalizadas de tal forma que acabam não sendo mais reconhecidas como metáforas e metonímias. Para a Linguística Cognitiva, portanto, elas são fenômenos conceptuais e constituem importantes modelos cognitivos. A diferença entre metáfora e metonímia é que a metáfora envolve domínios cognitivos (domínios da experiência) diferentes, articulando a projeção da estrutura de um domínio-origem numa estrutura correspondente de um domínio-alvo, enquanto a metonímia se realiza no interior de um mesmo domínio, ativando e realçando uma categoria, ou um sub-domínio, por referência a outra categoria ou outro sub-domínio do mesmo domínio (LAKOFF 1987: 288).

De acordo com Lakoff e Johnson (1986) as metonímias conceptuais são os vários tipos de processos baseados em relações de contiguidade (não apenas no sentido espacial, mas também temporal, causal ou conceptual) do tipo "parte-todo", "percurso-lugar", "origem-percurso-destino",”produto-

3 A referenciação (...) não privilegia a relação entre as palavras e as coisas, mas a relação

intersubjetiva e social no seio da qual as versões do mundo são publicamente elaboradas, avaliadas em termos de adequação às finalidades práticas e às ações em curso dos enunciados. (Mondada, 2001:9)

As operações de referenciação, os interlocutores elaboram objetos de discurso, entidades que não são concebidas como expressões referenciais em relação especular com objetos do mundo ou com representações cognitiva, mas entidades que são interativamente e discursivamente produzidas pelos participantes no fio de sua enunciação. (Koch et alii, 2005) A referenciação constitui, assim, uma atividade discursiva. O sujeito, por ocasião da interação verbal, opera sobre o material linguístico que tem à sua disposição, operando escolhas significativas para representar estados de coisas, com vistas à concretização de sua proposta de sentido. (Koch, [1999, 2002] e 2004: 61).

4 (...) referência é um tema clássico da filosofia da linguagem, da lógica e da linguística: nestes

quadros, ela fois historicamente posta como um problema de representação do mundo, de verbalização do refrente, em que a forma linguística selecionada é avaliada em termos de verdade e de correspondência com ele (o mundo). (Mondada, 2001:9) e (Koch, 2004:34).

produtor”, “objeto usado-usuário”,”controlador-controlado”, “instituição-gente responsável, “lugar- instituição”, “ lugar-acontecimento” etc. Os fatores gerais que favorecem o processo metonímico trazem a possibilidade de “perspectivar” determinada componente de uma estrutura conceptual unitária em detrimento de outra(s) ou do todo.

Desse modo, a metonímia é uma entidade usada para nos referirmos a outra entidade relacionada com a primeira. enquanto a metáfora é uma maneira de conceber uma coisa em termos de outra, tendo por função básica a compreensão, a metonímia tem por base a função referencial, que nos permite utilizar uma entidade por outra. (uso de dois referentes), além de nos proporcionar a compreensão. Deste modo, os conceitos metonímicos e metafóricos estruturam não só nossa linguagem mas também nossos pensamentos, atitudes e ações, além de se impregnarem nossa realidade. Com efeito, as metonímias simbólicas, por exemplo, são articuladas de modo critico entre a experiência do cotidiano e os sistemas metafóricos coerentes que caracterizam as religiões e as culturas (LAKOFF e JOHNSON 1986:73-78). A titulo de exemplo de como se manifestam a metáfora e a metonímia conceptuais em nosso corpus, tomamos um fragmento da situação de diálogo número 1:

60 L1 ah eu tenho 17 cara ... ah eu não sei as pessoas dizem que eu tenho cabecinha mais ou menos

[

61 L2 não tipo pessoal fala muito que:: éh gente às vezes dá mais /quando a gente dá uma mancada o pessoal acha que a gente dá uma mancada o pessoal acha que a gente é criAnça mais acho que esse negócio quando uma pessoa dá mancada ela é criança é totalmente besteira... pô num/ num tem nada a ver com criança num ::

Podemos considerar, à luz das referidas propostas de Lakoff e Johnson, que a expressão a gente é criança, neste contexto de fala, caracteriza uma etapa da nossa vida - a adolescência –, de modo que o

exemplo a gente é uma criança constitui uma metáfora, não sendo mera transferência semântica de uma categoria isolada para outra categoria de um domínio diferente; envolve uma analogia sistemática e coerente entre a estrutura interna de dois domínios da experiência e, conseqüentemente, todo o conhecimento associado aos conceitos e domínios em causa. A metáfora em discussão conceptualiza domínios abstratos em termos de domínios concretos e familiares. O que significa dizer que a conceptualização de categorias abstratas se fundamenta, em grande parte, na nossa experiência cotidiana concreta.

O exemplo envolve dois domínios cognitivos diferentes (domínios de nossa experiência). O diagrama mostra haver um mapeamento (correspondência) entre duas etapas da vida: adulto e criança.

domínio fonte (concreto) domínio alvo (abstrato)

Fica patente que na correspondência entre o domíio-fonte e o domínio-alvo, o falante constrói o sentido metafórico de sua fala. Entre os dois domínios estabelece-se a analogia estrutural que mostra o descontentamento do falante L2 por ter sido chamado de “criança”: o referente criança é usado em pensa que a gente é criança como argumento para atacar e defender um ponto de vista e demonstrar a indignação do falante diante da suposição de dar mancada é considerado pelos mais amadurecidos (adultos) atitude de crianças.

No que se refere à metonímia, observamos, no fragmento: ah eu tenho 17 cara ... ah eu não sei as pessoas dizem que eu tenho cabecinha mais ou menos, o referente cabecinha mais ou menos remetendo a um mesmo domínio cognitivo, ativando e realçando uma categoria ou sub-domínio por referência a

Gente grande - Maturida- de Criança - ingenuida de

outra categoria. Há uma relação de contigüidade conceptual “parte-todo” em que cabecinha representa o todo da pessoa (o adolescente, no caso). Nesse fragmento de fala, a metonímia caracteriza uma maneira mais amena de este adolescente se auto-elogiar e, ao mesmo tempo, se auto-avaliar e se sentir na “média”, ou seja, apesar de ter “só” 17 anos, se julga com experiência próxima à do adulto. Esse exemplo ilustra claramente o modo de funcionamento da metáfora e da metonímia conceituais segundo Lakoff e Johnson. Na próxima seção, descrevemos outro conceito útil ao nosso trabalho, os espaços mentais, de acordo com Fauconnier e Turner.