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Aplicação do Princípio do Colegiado no Ordenamento Brasileiro

5. PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO

5.3. Aplicação do Princípio do Colegiado no Ordenamento Brasileiro

Como dito, a cláusula de reserva de plenário é meio importante para se garantir a manutenção da segurança jurídica dentro do ordenamento, tendo em vista que evita o pronunciamento massivo de decisões de inconstitucionalidade que, por vezes, podem, inclusive, ser conflitantes, gerando ainda mais dúvidas acerca do enquadramento da norma com o espirito da Constituição vigente.

Desse modo, temos que a aplicação do quórum qualificado é quase que indispensável para a manutenção da “saúde” do ordenamento.

Quando surgiu no direito brasileiro, até mesmo por força do sistema de controle de constitucionalidade utilizado na época, referida regra foi dirigida ao controle difuso de normas, ou seja, ao julgamento de arguições incidentais de inconstitucionalidade.

Todavia, com a evolução jurídica do instituto do controle jurisdicional, o Brasil passou a adotar o sistema misto, com primazia pelo controle concentrado (cujo tema já foi objeto de discussão em capitulo anterior, cabendo aqui apenas menção ao assunto). Desta forma, devemos entender que o principio do colegiado se aplica, hodiernamente, não apenas ao julgamento de casos difusos, devendo ser observado quando do julgamento de inconstitucionalidade por meio das ações diretas de controle concentrado.

Nesse diapasão, cabe destacar que os limites da aplicação da clausula de Full Bench encontra seu principal loco de discussão na Jurisprudência e doutrina pátrias, com primazia para

o primeiro ambiente, onde foi já bastante discutido e examinado pelos Tribunais (incluindo-se aqui o próprio STF), sem, contudo, examinar-se a questão central deste trabalho, qual seja: a inconstitucionalidade do julgamento improcedente da Ação Declaratória de Constitucionalidade pelo Relator de referida ação.

Não obstante esta omissão, cabe destacar que os julgados acerca do tema tem mostrado de maneira indissolúvel o entendimento dos juristas nacionais acerca da extensão do principio em comento. Assim, analisaremos os julgados do STF a fim de tentarmos alcançar, mais adiante, uma conclusão satisfatória acerca do problema central deste estudo.

Havendo arguição de inconstitucionalidade de lei ou ato do poder público, em regra, por força do art. 97 da CF 88, apenas com a maioria absoluta do Tribunal ou órgão especial poderá ser declarada a inconstitucionalidade de tal norma.

No julgamento de Recurso Extraordinário pelo STF, de relatoria do Min. Cezar Peluso, em 2007, foi dito que até mesmo a "aplicação direta de norma constitucional que implique juízo de desconsideração de preceito infraconstitucional só pode dar-se com observância da cláusula de reserva de plenário prevista no art. 97 da Constituição da República”.59

Dessa forma, o STF esposou entendimento de que, mesmo que não se declare a inconstitucionalidade de maneira explícita de preceito normativo, ao negar-lhe eficácia em detrimento de Norma Constitucional, acaba-se por negar-se também validade à lei em função de seu desrespeito à Lei Maior. Estaríamos, então, diante de caso onde se deveria verificar-se a observância do quórum qualificado, nos termo da reserva de plenário.

Assim, podemos inferir que, nos termos da Suprema Corte nacional, para questão de aplicação da regra do art. 97 da CRFB de 1988, “reputa-se declaratório de inconstitucionalidade o acórdão que – embora sem o explicitar – afasta a incidência da norma ordinária pertinente à lide para decidi-la sob critérios diversos alegadamente extraídos da Constituição”.60

Com esse entendimento formado, podemos então perceber que a Súmula Vinculante n. 10, elaborada pelo STF em 2008, é nada mais que uma súmula interpretativa, que veio

59 RE 463.278-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 14-8-2007, Segunda Turma, DJ de 14-9-2007.

60 RE 432.597-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 14-12-2004, Primeira Turma, DJ de 18-2-2005.

No mesmo sentido: Rcl 7.322, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 23-6-2010, Plenário, DJE de 13-8-2010; RE 379.573-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 6-12-2005, Primeira Turma, DJ de 10-2-2006; AI 521.797- AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 5-9-2006, Primeira Turma, DJ de 29-9-2006.

consolidar o posicionamento já firme do Supremo diante das inúmeras tentativas de se burlar a reserva de colegiado.

Súmula Vinculante n. 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Diante de tal situação, não resta dúvidas de que a necessidade de observância de quórum qualificado para declaração de constitucionalidade de ato normativo do poder público é a regra geral. Deste modo, mesmo que se esteja diante de situação onde apenas se nega eficácia à legislação, há que se verificar o pressuposto da maioria absoluta para tal.

Não obstante esta conclusão, deve-se lembrar de que toda regra possui sua exceção, e no caso, não poderia ser diferente, pois, embora o principio do colegiado seja importantíssimo para a manutenção da segurança jurídica dentro do ordenamento pátrio, pode-se afirmar que chega a ser uma verdadeiro empecilho para os tribunais e órgãos colegiados, que inclusive buscam constantemente meios de escapar à sua aplicação.

Seja pela dificuldade de se reunir em uma única sessão os membros do Pleno de um Tribunal, seja por motivação política, o fato é que constantemente os tribunais tentam usar de meios para escapar da regra do art. 97 da Constituição Federal.

Essa constante irresignação dos Tribunais à norma do art. 97 da CF foi que levou o Supremo a redigir a SV n. 10, já que, constantemente, vinham as turmas recursais de inúmeros Tribunais encontrando meios de burlar a necessidade de quórum qualificado, como, por exemplo, e no caso do texto dado à Súmula em questão, limitando-se a negar eficácia à norma em detrimento de aplicação de regra constitucional.

Com a publicação de referido dispositivo (SV n. 10), o objetivo do STF não foi acabar com as exceções à aplicação da cláusula de Full Bench, mas apenas coibir a recalcitrância dos órgãos colegiados em fugir à sua aplicação quando necessária.

O fato é que, a despeito da regra de aplicação ao principio do colegiado, realmente existem casos em que se justifica a não observância da norma do art. 97 da CF de 1988. Passemos, assim, a tecer alguns comentários acerca do assunto.