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6. JULGAMENTO IMPROCEDENTE DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE E O CHOQUE COM O PRINCÍPIO DA RESERVA DE

6.2. Petição Inicial Inepta e Não-fundamentada

O art. 15 da lei 9.868/99 aduz que no caso de petição inepta, poderá o Ministro Relator da Ação Declaratória de Constitucionalidade indeferir a petição inicial, sem necessidade de remeter-se os autos à apreciação do mérito pelo pleno do STF.

65 ADI 2.440, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, decisão monocrática, julgamento em 17-3-08, DJE de 27-3-08. No

Desta feita, devemos entender por petição inepta aquela que não observa, além dos pressupostos processuais gerais, aqueles requisitos específicos estabelecidos para o rito em questão, enumerados no art. 14 do mesmo diploma legal.

Basicamente, deve-se ter em mente que, por tratar-se de uma ação, no sentido genérico de tal conceito jurídico, a ADC deve primar pela observância tanto das condições da Ação quanto dos pressupostos processuais de validade. Assim, a petição inicial deve conter um pedido possível do ponto de vista jurídico e fático (Possibilidade do Pedido), ser proposta por um daqueles legitimados constantes do rol do art. 13 da Lei 9.868 e art. 103 da CF88 (Legitimidade para Agir), bem como observar se o meio escolhido é adequado para se atingir o fim desejado (Interesse-utilidade) e se é realmente necessário à obtenção à tutela desejada (Interesse- necessidade).

O interesse processual, a um só tempo, haverá traduzir-se numa relação de necessidade e também numa relação de adequação do provimento postulado, diante do conflito de direito material trazido à solução judicial. Mesmo que a parte esteja na iminência de sofrer u dano em seu interesse material, não se pode dizer que exista o interesse processual, se aquilo que se reclama do órgão judicial não será útil juridicamente para evitar a temida lesão. É preciso sempre ‘que o pedido apresentado ao juiz traduza formulação adequada à satisfação do interesse contrariado, não temido, ou tornando incerto66

No que diz respeito à legitimidade para agir, não basta que o proponente esteja inscrito como um daqueles presentes no Rol de Legitimados do art. 103 da Constituição de 88. Com base na jurisprudência do próprio Supremo, vem-se exigindo a existência de pertinência temática para alguns dos legitimados. Deste modo, não basta apenas estar presente no Rol, deve ainda o promovente demonstrar sua correlação com a disposição de lei objeto da demanda abstrata de controle de constitucionalidade.

Prosseguindo, ressalte-se para o fato da necessidade de enquadramento da petição inicial da ADC naqueles requisitos enumerados nos arts. 282 e 283 do Código de Processo Civil, com as devidas ressalvas e adaptações.

Art. 282. A petição inicial indicará: I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

66 THEODORO Jr., Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 31ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000, p.

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificações; V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - o requerimento para a citação do réu.

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.

Por fim, a inicial deve ainda observar aqueles pressupostos intrínsecos ao procedimento da ADC e insculpidos por força do art. 14 da Lei n. 9.868/99, trazendo aos autos documentos específicos e que o legislador julgou serem indispensáveis para a apreciação do pedido autoral.

Art. 14. A petição inicial indicará:

I - o dispositivo da lei ou do ato normativo questionado e os fundamentos jurídicos do pedido;

II - o pedido, com suas especificações;

III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.

Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, quando subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato normativo questionado e dos documentos necessários para comprovar a procedência do pedido de declaração de constitucionalidade.

Tanto o dispositivo de lei ou ato normativo questionado, os fundamentos jurídicos do pedido e o próprio pedido com suas especificações são similares àqueles pressupostos requeridos para interposição da Adin (art. 3 da mesma Lei). O que difere no caso em apreço é a necessidade de comprovação de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da regulamentação objeto da demanda.

Em resumo, não observado todos esses pressupostos ou as condições da ação, é a petição inicial tida como inepta. Parte da doutrina vem defendendo a possibilidade de emenda à inicial, nos termos do art. 284 do CPC67, caso o autor não apresente ou comprove a observância de algum dos requisitos acima delineados.

67 Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que

apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.

Conquanto os arts. 4º e 15 não façam menção expressa à possibilidade de emenda, a petição inicial deve ser indeferida se não houver possibilidade de correção do vício ou se, havendo essa possibilidade e tendo sido ela conferida ao autor, este tiver deixado de atender À determinação. Essa é, a nosso sentir, a interpretação que melhor se coaduna com o interesse público que orienta os procedimentos de controle concentrado de constitucionalidade e com os princípios da instrumentalidade das formas e do aproveitamento dos atos processuais68.

De qualquer forma, inepta a petição inicial, fica permitido ao Ministro Relator, por força do disposto no art. 15 da Lei n.. 9.868/99, indeferir liminarmente a ação, julgando-a monocraticamente, cabendo, todavia, agravo desta decisão no prazo de cinco dias com o intuito de levar a questão para apreciação do pleno do STF.

Essa decisão, ressalte-se, não entra no mérito levantado pelo autor, limitando-se apenas a tratar da questão dos requisitos formais para aceitação da ação (conforme defende entendimento jurisprudencial anteriormente aludido). Deste modo, procede o Relator com julgamento sem resolução de mérito, à exemplo do que ocorre com os julgados nos caso do art. 295, inciso I, do Código de Ritos nacional69 cumulado com art. 267, inciso I, também do CPC70, não fazendo assim Coisa Julgada Material.

Trata-se, em verdade, de coisa julgada formal, instituto técnico-processual que não causa efeitos para além do campo do processo e que, por sua vez, produz uma estabilidade apenas relativa. Ou seja, uma vez exauridos os recursos cabíveis para impugnar a sentença proferida, a decisão torna-se inalterável na mesma relação processual que a originou, não havendo óbices à rediscussão da controvérsia, desde que esta figure como objeto de outro processo, distinto daquele em que se formou a coisa julgada formal.

Deste modo, não há que se falar em declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade quando se trata da decisão de indeferimento de petição inicial inepta pelo Relator, pois, como visto, não se adentrou no mérito da questão, sem se fazer juízo acerca da questão levantada no bojo do processo objetivo.

Não cabe, assim, falar-se em afronta ao Princípio do Colegiado no caso em tela, vez que não se declarou inconstitucional o dispositivo objeto da demanda em razão da improcedência da ação, diante do fato de não tratar-se de sentença de mérito, mas apenas de juízo prévio de Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

68 DIDIER Jr., Op. Cit., p. 441.

69 Art. 295. A petição inicial será indeferida: I - quando for inepta;

admissibilidade realizado pelo Ministro Relator no desempenho de suas funções de coordenador e diretor do processo objetivo.

PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. - Assiste, ao Ministro-Relator, competência plena, para, com fundamento nos poderes processuais de que dispõe, exercer, monocraticamente, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Cabe-lhe, em conseqüência, poder para negar trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes. - O reconhecimento dessa competência monocrática, deferida ao Relator da causa, não transgride o postulado da colegialidade, pois sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que venham a ser proferidas por seus Juízes 71.

Frise-se que este entendimento baseia-se no poder do Relator de negar trânsito a ações ineptas (pedidos incabíveis, intempestivos, sem objetos, dentre outros), bem como a casos que sejam incompatíveis com precedentes já prolatados pela Suprema Corte brasileira. Voltaremos a debater tal ponto mais adiante quando tratarmos do procedimento de indeferimento de petição manifestamente improcedente pelo Relator da ADC.

No caso da petição não fundamentada, temos que o legislador poderia ter omitido tal situação, vez que a não fundamentação já se encontra inserida dentro daqueles aspectos que levam à inépcia da inicial, diante do disposto no inciso III do art. 282 do CPC e inciso I do art. 14 da Lei n. 9.868/99.

Aplicam-se assim as mesmas observações feitas acerca da petição inepta tanto à questão da necessidade de inserção e à justificativa para tal atribuição ao Relator, bem como aos efeitos da decisão quanto à formação apenas de Coisa Julgada Formal, não chegando o julgado monocrático à analisar o mérito da ação objetiva.

Passemos agora à análise do caso de julgamento improcedente da Ação Declaratória de Constitucionalidade no caso de petição inicial manifestamente improcedente.