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4. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS DA ADC (ANÁLISE DA LEI 9.868/99)

4.3. Competência para Julgamento

Proposta a Adc por algum dos legitimados enumerados no item acima, é então a ação levada ao Supremo Tribunal Federal – composto por 11 (onze) Ministros –, que por força do art. 102, alínea a, é o único que possui competência originária para processar e julgar a “ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal44”.

Assim temos que no desempenho do controle de constitucionalidade objetivo no Brasil, o papel de Corte Constitucional cabe ao Supremo Tribunal Federal, que concentra a competência para processar e julgar as ações objetivas de controle de validade das normas em face da Constituição.

Todavia, o art. 22 da Lei da Adin e Adc, em conjunto com o art. 97 da própria Constituição Federal de 88, acabam por especificar que a competência para julgar o mérito destas ações objetivas não é atribuída separadamente aos Ministros que compõem o STF.

Com efeito, ao passo que o art. 22 da Lei n. 9.868/99 aduz que “a decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros”, o art. 97 da CF aduz que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”. Deste modo, podemos entender que a competência para conhecer do mérito das ações de controle concentrado de constitucionalidade é do Pleno do Supremo Tribunal Federal, e não de cada Ministro de maneira isolada e monocrática.

Não se pode olvidar todavia o que ocorre por ocasião dos arts. 4º e 15 da Lei n. 9.868/99, quando, excepcionalmente, se atribui ao Ministro Relator competência para indeferir, liminarmente, petição inicial inepta, não-fundamentada e manifestamente improcedente.

No entanto, cabe destacar que mesmo nessas circunstâncias, acaba-se por gerar uma situação inusitada, pois atribui-se competência ao Relator para que, monocraticamente, indefira petição inicial manifestamente improcedente em seu mérito, o que poderia assim ser considerado usurpação de competência do Pleno do STF, ferindo-se ainda o princípio da Reserva de Plenário.

43. DIDIER Jr., Fredie (Org.) . Ações constitucionais - 4ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2009, p. 434-435 44 Art. 102. Alínea “a”. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988.

No caso, é este o objeto central deste trabalho. Todavia, ainda não é o momento adequado para adentrar no tema, cabendo aqui apenas esta breve explanação.

Deste modo, fica claro então que a competência para julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade é do Supremo Tribunal Federal.

4.4. Procedimento

Para impetração da Adc, faz-se necessária a comprovação de controvérsia jurídica relevante acerca da constitucionalidade ou não de determinada lei ou ato normativo federal. Assim, caracterizada tal situação, poderá um dos legitimados do art. 103 da CF interpor Ação Declaratória de Constitucionalidade com o escopo de afastar a dúvida acerca da presunção de validade do dispositivo impugnada.

O art. 14 da Lei da Adin e Adc trata dos pressuposto necessários à composição da petição inicial da Ação Declaratória de Constitucionalidade. Deste modo, por oportunidade da interposição da ação, deve o autor, além de comprovar sua legitimidade genérica (e em certos casos também a Relação de Pertinência Temática – vide item 1.3), deve apresentar o dispositivo de lei ou ato normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido, que deve ser feito com suas especificações e de maneira clara, bem como deve comprovar a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.

Cabe destacar aqui que esta comprovação de controvérsia judicial sobre o tema é quesito indispensável para a aceitação da ação objetiva, não sendo admissível a simples enumeração de alguns casos jurídicos isolados, devendo ser tal situação relevante ao ponto de pôr em dúvida a presunção de constitucionalidade dos atos normativos.

A controvérsia há de ser séria, a ponto de gerar insegurança jurídica, abalando a presunção de legitimidade de que goza todo ato normativo. Não se admite a mera controvérsia doutrinária, vez que ela, conquanto importante para o desenvolvimento cientifico, não tem o condão de obstar a aplicação do ato normativo.45

Sendo protocolada, a ação será distribuída para algum dos Ministros que compõem o Supremo, que fará as vezes de Relator, sendo-lhe assim atribuída a competência para diligenciar na organização do processo para seu julgamento.

Como visto acima, a petição inepta, não-fundamentada ou manifestamente improcedente será indeferida pelo Ministro–relator de maneira monocrática (Art. 15 da Lei n. 9.868/99), cabendo desta decisão agravo (p. único, do art. 15 da mesma lei) no prazo de cinco dias com o intuito de levar a questão à apreciação do plenário do STF. O caso voltará a ser estudado mais adiante em capítulo especialmente dedicado a sua análise frente aparente e já citado choque com o princípio da reserva de plenário.

Não caindo a petição inicial em nenhum dos casos citados no parágrafo anterior, deverá então o Ministro-relator remeter os autos à vistas para o Procurador-Geral da República, que, no papel de representante do Ministério Público Federal, irá exarar parecer no prazo de 15 dias. Referido parecer não é vinculado, ou seja, pode ser proferido tanto contra quanto a favor do pedido em tela.

De observar que, nessa ação, o Advogado-Geral da União não se manifesta, uma vez que ela já objetiva a defesa do ato e, consequentemente, a declaração da sua constitucionalidade. Logo, nada há para o AGU defender. Demais disso, não há pedido de informações.46

Observe-se que, uma vez proposta a ação declaratória em estudo, a exemplo do que ocorre com a Adin, não se admitirá desistência (art. 16 da Lei n. 9.868/99) nem se deferirá intervenção de terceiro de qualquer modalidade (art. 18 da mesma lei). Tais circunstâncias servem para evidenciar de forma ainda mais lídima o caráter objetivo que as ações declaratórias de controle concentrado de constitucionalidade apresentam.

Caso entenda necessário, por força do art. 20 da Lei em comento, poderá o relator requerer algumas informações. Assim, em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.

Assim, após a manifestação do Procurador-Geral da República, bem como, caso se faça necessário, da oitiva das informações, audiências e perícias requisitadas pelo Relator, este lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento pelo Plenário do STF (art. 20 da Lei n. 9.868/99).