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Aplicabilidade da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”

AUTO + CUIDADO

6.3 Aplicabilidade da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”

Por meio de convite da professora Inez Montagner, professora titular da Universidade de Brasília, Campus da Ceilândia, a autora ministrou aula sobre a saúde da população negra na disciplina “Pensamento Social em Saúde”. A disciplina discute as alteridades e as diferenças nas formas como a população e os indivíduos se confrontam com o fenômeno da saúde. Tematiza as desigualdades sociais como determinantes das diversas formas de adoecimento, bem como o seu impacto nas realidades de gênero, geração, raça, etnia e orientação sexual na saúde. Discorre sobre as formas sociais de interação entre os indivíduos e os grupos no tocante ao adoecimento, a obtenção de bem- estar e de cura, da formas de morrer e das formas de sofrimento subjetivo. Aborda a importância dos movimentos sociais para a democratização da saúde e para a instauração da diversidade como norteador da oferta de serviços de saúde.

Para apresentar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, a autora se utilizou da obra “Quarto de despejo”, conforme demonstrado no plano de aula no apêndice 2. Foi solicitado aos alunos que lessem a obra antes da aula, para que ela pudesse ser dialogada com a turma. De posse de informações epidemiológicas e utilizando o texto de Carolina como fio condutor de análise, pode-se apresentar as necessidades de saúde dessa população e a importância de uma política que discuta essas necessidades.

A professora titular da disciplina solicitou aos alunos que apresentassem feedbacks para a autora. A maioria apresentou dados positivos do uso de uma autora negra brasileira para discutir saúde e, alguns dos últimos ciclos dos cursos, sentiam a necessidade de ter tido durante mais informações sobre a saúde desta população.

Outro convite foi feito à autora pela professora Elizabeth Alves de Jesus Prado, também da Faculdade de Saúde, campus Ceilândia, para aula numa tarde de sábado sobre a saúde da população negra. A turma tinham 38 participantes e diversas formações, na qual foram percebidas a necessidade de conteúdos sobre a saúde da população negra durante os cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Saúde Coletiva e Terapia Ocupacional.

Havia estudantes que não tinham conhecimento dos cruzamentos entre a saúde da população negra e os conhecimentos de saúde. A autora, auxiliada por um técnico do Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social (DAGEP), construiu apresentação no Prezi com 20 Marcos da PNSIPN6. E no quadro branco escreveu

diversos conceitos chave para discutir a saúde da população negra:

Figura 4. Conceitos-chave para discutir a saúde da população negra

A autora, durante o programa de mestrado profissional, teve oportunidade de dialogar sobre a saúde da população negra no estágio de docência em disciplina de graduação em saúde coletiva. Ministrou a oficina “Peleja da Equidade” na semana de acolhimento aos estudantes ingressantes no primeiro semestre de 2018 da Faculdade de Saúde, na qual apresentou as políticas de equidade do Departamento de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde.

Enquanto atuava na implementação da PNSIPN a autora também ministrou palestras no 1º Seminário de Saúde Integral da População Negra no Município da Serra, no estado do Espírito Santo, no qual participaram profissionais da saúde e participantes do controle social do município. Em roda de conversa após o primeiro dia de seminário, foi decidido em conjunto a criação de uma carta7, que a autora redigiu o rascunho e

auxiliou na consolidação do texto em dois turnos.

A autora também pode apresentar a política para professores da educação básica da cidade satélite Ceilândia, apresentando as necessidades de uma educação antirracista. Os professores foram lembrados da necessidade de serem ativos para a

6 https://prezi.com/jey5v34fhhxm/20-marcos-da-

pnsipn/?utm_campaign=share&utm_medium=copy

7 http://portalms.saude.gov.br/noticias/sgep/42884-1-seminario-de-saude-integral-da-

diminuição do crime. Como já nos dissemos, o racismo é estrutural, mas não é por isso que ele não deva ser enfrentado. E os professores devem estar informados das especificidades da saúde da população negra e dos efeitos da Doença Falciforme, doença prevalente na população negra e que causa diversos efeitos na continuidade dos estudos. No 13º Congresso Internacional da Rede Unida a autora ministrou a oficina “EQU- AÇÃO: promoção da equidade nos serviços de saúde”, que tinha o objetivo de apresentar as políticas de equidade do DAGEP. Estiveram presentes professores e estudantes de cursos da saúde,que puderam refletir sobre a necessidade de discussão da equidade durante os cursos. Neste mesmo congresso, a autora teve aceito o resumo “As contribuições do “Quarto de despejo” para a formação em saúde no eixo saúde, cultura e arte. Após a apresentação do resumo tive bons feedbacks dos presentes que puderam refletir como Carolina pode ser importante para discutir a saúde.

No primeiro semestre de 2018, a autora atuou como monitora na disciplina “Tópicos especiais em ciência política 2: teoria política e sexualidades: política e LGBT” ministrada pela professora Denise Mantovani, ligada ao Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Essa disciplina fez parte de uma das edições das disciplinas de tópicos movidas pelo projeto de extensão Corpolítica. O projeto de extensão foi iniciado na Faculdade de Direito e se expandiu para a universidade. Atuou nos coletivos Jovem de Expressão, Casa Frida e Mercado Sul, durante semestres letivos com oficinas de discussão sobre raça, classe, gênero e outras abordagens sobre direitos sociais. Essa disciplina tem oportunizado o debate sobre as opressões estruturais da sociedade com foco na população LGBT. A disciplina é ministrada no campus Darcy Ribeiro da UnB e, dentre as quinze profissões de saúde, atraiu somente estudantes de Serviço Social.

Em uma das aulas da disciplina de tópicos a autora pode apresentar o objetivo do seu trabalho de mestrado. Nesta aula foram dialogados o texto de bell hooks “Moldando a teoria feminista” de 2015 e a biografia de Carolina Maria de Jesus. Com o texto de hooks foi discutido a diferenças de opressões vivenciadas pelas mulheres, a conceituação tardia de opressões sofridas por mulheres negras, a relação entre classe e raça que era ignorada pelo movimento feminista branco , que tinham demandas que não contemplavam as mulheridades negras. A biografia de Carolina foi apresentada para discutir a vivência de praticada contra a mulher negra e as diferenças com relação às demandas das mulheres brancas.

A autora escolheu não utilizar power point como apoio para discussão e utilizou o quadro para escrever termos importantes do texto. No quadro foram escritas palavras que

representavam o conjunto de definições discutidas nos textos, com o objetivo de fazer conexão entre as abordagens e ajudar os estudantes a refletirem sobre o que a vivência das duas autoras podem trazer para a discussão: patriarcado; supremacia branca; condescendia, apropriação; silenciamento; branquitude; capitalismo; privilégio; negação; autoindulgência; raiva; sentimentalismo; negras; dominação masculina; objetivação; narcisismo; liberalismo; unidimensional; hegemonia; sexismo; individualismo - dilemas pessoais; sexismo; classe; racismo; discurso feminista; inter-relação; raça; escravidão; sofrimento; exploração; insensibilidade; dona de casa branca; super mulher negra forte; opressão; narcisismo.

Essas atividades desenvolvidas pela autora a oportunizaram dialogar com diferentes públicos sobre as necessidades de saúde da população negra e as necessidades de buscar diversas formas de dialogar com estudantes, professores e profissionais de saúde. As obras de Carolina Maria de Jesus foram sempre citadas como materiais para aprofundamento e discussões em sala de aula.