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As DCNs servem para a organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País e são voltadas para os atores que irão compor os Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs). Foi regulamentado pela Resolução nº1, de 17 de junho de 2010, do Conselho Nacional de Educação. De acordo com o artigo primeiro da resolução (Brasil, 2010), “constitui-se de um grupo de docentes, com atribuições acadêmicas de acompanhamento, atuante no processo de concepção, consolidação e contínua atualização do projeto pedagógico do curso.”. Serão estes à fazer a implementação das alterações promovidas pelas DCNs e também pela Resolução 569 do CNS.

A RES 569 foi resultado de construção durante os anos de 2016 e 2017 no Grupo de Trabalho das Diretrizes Curriculares Nacionais coordenado pela Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho do Conselho Nacional de Saúde (CIRHRT/CNS) e formado por associações nacionais, entidades nacionais de ensino, conselhos profissionais, federações profissionais, representações estudantis, com participação da gestão dos Ministérios da Educação e Saúde.

A resolução insere como preceitos orientadores do perfil dos egressos da área da saúde, a defesa da vida e defesa do SUS, dois itens que não estão presentes na geração 2000 das DCNs. Estabelece como princípios da formação em saúde: responsabilidade social, compromisso com a dignidade humana, cidadania, defesa da democracia e do direito universal à saúde e do SUS, valorização da vida, contribuição para o desenvolvimento social (considerando as dimensões biológica, étnico-racial, de gênero, geracional, de identidade de gênero, de orientação sexual, de inclusão da pessoa com deficiência), ética, participação ética da comunidade e/ou das instâncias de controle social em saúde, trabalho interprofissional, interdisciplinaridade, intersetorialidade, interprofissionalidade. São objetivos da formação segundo a RES 569:

● enfrentamento das iniquidades que causam adoecimento dos indivíduos e das coletividades;

● preparação para a promoção da saúde, educação e desenvolvimento comunitário; ● abordagens de problemas de saúde recorrentes para prevenção de riscos e

doenças;

● formação profissional voltada para o mercado de trabalho; ● atendimento das necessidades sociais em saúde;

● inserção dos estudantes nos cenários de práticas do US desde o início da formação;

● ampliação da rede de ensino-aprendizagem; ● diversificação dos cenários de práticas;

● articulação entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão;

● abordagem de temas transversais no currículo que envolvam conhecimentos, vivências e reflexões sistematizadas acerca da educação das relações étnico- raciais e história da cultura afro-brasileira, africana, dos povos tradicionais e indígena.

Para a inserção dos conteúdos e o alcance dos objetivos da RES 569 deverão ser empreendidos esforços coletivos pelos atores que compuseram o Grupo de Trabalho. O conteúdo da RES tem um material ideológico muito importante para a construção do Sistema Único de Saúde com equidade e integralidade. A edição da Resolução é um grande avanço e para sua implementação serão necessárias outras ações que possam inserir mais pluralidade nos cursos de saúde. A diversidade de docentes, conteúdos, a contemplação das contribuições da população negra, a revisão das bibliografias e um processo de descolonização do conhecimento em saúde.

Observamos que as DCNs dos primeiros anos da década 2000, tinham uma estrutura comum. Nos primeiros artigos sempre mencionam o perfil do egresso do curso como um profissional com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, pautado em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade. A geração 2000 dos DCNs está escrita de forma generalista que não inserem as peculiaridades e as especificidades das populações, nem o conceito da equidade do Sistema Único de Saúde.

Figura 2. Equidade nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de saúde

A geração 2000 das DCNs expressa competências e habilidades gerais que estão construídas em eixos comuns: Atenção à Saúde; Tomada de decisões; Comunicação; Liderança; Administração e gerenciamento e Educação Permanente. Nesses eixos, os textos se alteram nas particularidades dos cursos. Em outro ponto, as DCNs apontam para conteúdos essenciais divididos em ciências exatas, biológicas, da saúde, humanas e sociais. O último núcleo contempla em todas as DCNs desta geração a equidade de forma generalista, incluindo a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, éticos e legais.

As DCNs de Medicina Veterinária foram publicadas em 2003, mas tem elementos que a distinguem das outras da mesma geração por inserir elementos que deverão ser observados na estrutura do curso de graduação. A estrutura apresentada objetiva construir um perfil de egresso com responsabilidade social.

Com relação às DCNs de Ciências Biológicas, essas podem ser consideradas outsider. Elas estão fora dos padrões dos outros cursos, mesmo pertencendo à geração 2000. A estrutura do texto é mais enxuta e não insere muitas especificidades da graduação e da licenciatura. Se aproxima das DCNs da geração 2000 por apontar para uma formação generalista, mas se distancia por provocar o egresso a ser um transformador da realidade presente e busca da melhoria da qualidade de vida. Nas competências e habilidades,

insere a discriminação racial, social, de gênero e a diversidade étnica e racial, conteúdos que não estão presentes nas DCNs escritas no mesmo período. A saúde é pouco mencionada nas DCNs, sendo destaque nos conteúdo da licenciatura.

Outra outsider é a de Serviço Social, publicada em 2001. O perfil dos egressos não se volta nem para uma formação generalista nem para uma atuação engajada. As competências e habilidades se voltam para o enfrentamento da questão social e o empoderamento do controle social. Os conteúdos curriculares se organizam em três núcleos, sendo que o de “fundamentos da formação sócio histórica da sociedade brasileira” é o que mais se aproxima de uma equidade genérica, por abordar a compreensão das características históricas particulares e a diversidade regional e local.

Figura 3. Equidade geral ou racial nas DCNs de saúde

As DCNs do curso de graduação em saúde coletiva foram publicada em 2017 e o conteúdo generalista do perfil do egresso típico das DCNs de 2000, o que pode ter levado à publicação da Resolução nº 544/2017 do Conselho Nacional de Saúde que traz recomendações as DCNs.

Medicina, Saúde Coletiva, Farmácia tem nas suas DCNs menção a equidade étnico racial, relacionado ao cuidado integral em saúde. A racialidade seria um elemento transversal que interfere no cuidado integral em saúde. Educação Física, Enfermagem, Nutrição e Psicologia tem nas DCNs a possibilidade de licenciatura e atuação na educação básica, o que os obriga a observar a Lei 10.639. Esses cursos deveriam ter em seus currículos a dupla obrigatoriedade (Lei 10.639 e Resolução 569/2017) de inserir os conteúdos das relações étnicos raciais.

Os NDEs deveriam estar mais capacitados para levar a pluralidade racial e transversalidade desses conteúdos para esses cursos que têm a possibilidade do bacharelado e licenciatura. Uma pesquisa posterior poderia verificar a diversidade étnico- racial dos NDEs, a representatividade racial poderia indicar como a diversidade está presente na estrutura dos cursos. Os cursos com DCNs da geração 2000 deverão fazer grandes adaptações para alcançar as diretrizes da Resolução 569.