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CAPITULO I – SERVIÇO SOCIAL E AMBIENTE

3. Políticas ambientais e questões urbanas

3.4 Aplicabilidade das medidas no quadro Nacional

O quadro legislativo nacional, lançado pela Directiva Europeia 2001/42/CE e transposto pelo Decreto-Lei nº 232/2007 de 15 de Junho, lança algumas dúvidas conceptuais e metodológicas ao referir implicitamente duas abordagens distintas, uma mais estratégica no preâmbulo, onde o objecto de avaliação são as grandes opções estratégicas do plano ou

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programa e suas alternativas e outra claramente de base AIA no “corpo” do Decreto-Lei, ao destinar a avaliação ambiental ao enquadramento de projectos sujeitos a AIA, adoptando um conceito de ambiente limitativo e excluindo as políticas dos objectos sujeitos a avaliação.

Este diploma, em conjugação com a republicação do Decreto-lei nº 380/99 de 22 de Setembro, dada pelo Decreto-Lei n.º 316/2007 de 19 de Setembro, obriga à avaliação antecipada dos efeitos esperados no ambiente dos instrumentos de gestão territorial. O objecto de avaliação é o conjunto das decisões de natureza estratégica, actuando sobre o processo de concepção e elaboração da estratégia de desenvolvimento para o território em causa e não sobre os impactes das soluções propostas. Pretendia-se com a AAE influenciar a decisão, incutindo valores ambientais no processo de planeamento e procurando que a estratégia de desenvolvimento seja mais sustentável.

No entanto, a ampla prática de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) à escala do projecto em oposição à ainda recente prática nacional de AAE tem vindo a criar dúvidas conceptuais e práticas junto dos técnicos de planeamento, em particular sobre o que é o objecto de avaliação e qual o real contributo da AAE para o processo de planeamento. Estas dúvidas são agravadas por um enquadramento legal pouco claro, propositadamente amplo em relação às abordagens a tomar.

O quadro de orientações da União Europeia é complexo e embora nos alerte relativamente à importância da questão do ambiente, é de difícil acesso a consulta sobre a forma como os diferentes Estados-Membros estão a implementar as directivas e recomendações. Em relação a Portugal a percepção é que no essencial este corresponde a pouco mais que uma transposição das recomendações e resoluções adoptadas pela Comissão Europeia e propostas aos Estados-Membros. Ainda assim, há alguns aspectos sobre as questões ambientais no que se refere às respostas que merecem destaque, sobretudo no que se refere aos objectivos preconizados.

Nos últimos anos a abordagem às questões do ambiente e da sustentabilidade ganham um novo relevo sobretudo com a renovação da Estratégia de Lisboa e o lançamento do novo Programa Comunitário de Lisboa para o ciclo 2008-201021. Com o lançamento da Estratégia “UE 2020”22

as políticas da UE - Decreto-Lei nº 207/2006, de 27

21 Comunicação de 11 de Dezembro de 2007, intitulada «Estratégia de Lisboa”.

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Europa 2020: estratégia para o crescimento da União Europeia, Bruxelas, COM (2009) 647 final, 24 de Novembro de 2009.

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de Outubro D.R. n.º 208, Série I, de 27-10-2006, aprova a Lei Orgânica do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, em alteração com a entrada do novo Governo .

A transição de um modelo de desenvolvimento baseado no crescimento económico para um modelo de desenvolvimento sustentável, necessário para a manutenção da existência humana, implica modificar a visão e inter-relação com a natureza, através do uso consciente e racional dos recursos do planeta e tomando como premissa que a pobreza é incompatível com um desenvolvimento sustentável.

A EU cria as Estratégias de Desenvolvimento Sustentável (EDS) como referenciais de politicas diversas, uma visão global de desenvolvimento em todas as suas vertentes e a longo prazo. Anualmente, nos Conselhos Europeus de Primavera é feita a sua avaliação e disponibilizado um relatório pela Comissão.

Destacamos a nível nacional a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS 2015) e o respectivo Plano de Implementação (PIENDS) aprovados pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 109/2007, de 20 de Agosto. Elaborada de forma compatível com os princípios da Estratégia Europeia de Desenvolvimento Sustentável (EEDS), constitui um instrumento de orientação política da estratégia de desenvolvimento do País no horizonte de 2015 e, um referencial para a aplicação dos fundos comunitários no período 2007-2013 - Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável. ENDS 2015; Plano de Implementação da ENDS 2015 – PIENDS; 1º Relatório Bienal de Execução da ENDS 2015.

A estrutura de governação da ENDS foi alterada em 2010, cabendo ao Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais (DPP), do Ministério do Ambiente e Ordenação do Território (MAOT), coordenar o desenvolvimento da ENDS e assegurar a articulação com a Estratégia Europeia De Desenvolvimento Sustentável, (Despacho n.º 13560/2010, de 24 de Agosto). Compete ao Grupo Operacional do MAOT, a missão de operacionalização da ENDS (Despacho n.º 2316/2011, de 1 de Fevereiro).

A ENDS e o PIENDS estão em vigor desde 2007 e abrangem um horizonte temporal até 2015. No âmbito das obrigações comunitárias são entregues à CE os relatórios bienais de acompanhamento e monitorização da ENDS, os quais são submetidos ao Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) para garantirem uma permanente participação da sociedade civil no acompanhamento da implementação da Estratégia (Parecer do CNADS - 1º Relatório Bienal da ENDS 2015).

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Outro instrumento de política nacional foi o Programa Polis - Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades, foi criado através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 26/2000, de 15 de Maio, que propõe desempenhar um papel mobilizador e potenciador de iniciativas que visassem a qualificação urbanística e ambiental das cidades, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida nas cidades, através de intervenções nas vertentes urbanística e ambiental, melhorando a atractividade e competitividade de pólos urbanos que têm um papel relevante na estruturação do sistema urbano nacional.

O Programa Polis pretendia desenvolver um conjunto de intervenções consideradas exemplares, com base em parcerias, especialmente entre Governo e Câmaras Municipais, que pudessem servir de referência para outras acções a desenvolver pelas autarquias locais, tendo em vista: desenvolver grandes operações integradas de requalificação urbana com uma forte componente de valorização ambiental; desenvolver acções que contribuam para a requalificação e revitalização de centros urbanos e que promovam a multifuncionalidade desses centros; apoiar outras acções de requalificação que permitam melhorar a qualidade do ambiente urbano e valorizar a presença de elementos ambientais estruturantes tais como frentes de rio ou de costa; apoiar iniciativas que visem aumentar as zonas verdes, promover áreas pedonais e condicionar o trânsito automóvel em centros urbanos.

Em termos internacionais destacam-se a Agenda 2123 e a Carta de Aallborg24, assinadas pelo município de Lisboa. Ambos documentos estabelecem premissas para a implementação de acções que promovam a sustentabilidade urbana e ambiental da cidade. A um outro nível, a Agenda de Lisboa procura aliar “crescimento e inovação a emprego de qualidade”. Em linha com o que prevê a Nova Carta de Atenas, nomeadamente a criação da Cidade Coerente, através da conjugação das coerências Social, Económica e Ambiental,

o Programa de Acção para o Bairro procura estruturar de forma coerente a morfologia do

tecido urbano, mantendo a vivência própria do espaço e preservando a sua diversidade e riqueza cultural.

O programa enquadra-se também na redacção da Carta de Leipzig sobre as Cidades

Europeias Sustentáveis, através da qual os ministros responsáveis pelo Desenvolvimento

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http://www.apambiente.pt/_zdata/Instrumentos/GestaoAmbiental/A21L/Guia%20Agenda%2021 %20Local.pdf

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Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade aprovada na Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis, realizada em Aalborg, Dinamarca, a 27 de Maio de 1994

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Urbano dos Estados Membros da União Europeia se comprometeram a tudo fazer em prol do desenvolvimento urbano integrado, bem como a dar uma atenção particular aos Bairros

carenciados das cidades.

O Programa de Acção definido para os bairros carenciados das cidades enquadra-se no quadro normativo da legislação portuguesa regulada pelo Regime Jurídico de Ordenamento e Gestão Territorial, que abrange políticas de desenvolvimento territorial e de promoção da sustentabilidade ambiental e urbana. A nível nacional, são vários os documentos que dão corpo a esses desígnios. Destacam-se aqueles com maior incidência sobre o Planeamento Urbano: a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável 2015, o Plano Nacional para as Alterações Climáticas, o Plano 5 Nacional do Emprego, o Plano Tecnológico, o Plano Estratégico de Habitação 2008-2013 e o Programa Nacional de Planeamento e Ordenamento do Território (PNPOT).

São objectivos do Programa de Acção os definidos no PNPOT, com especial incidência nos seus Objectivos Estratégicos 4 e 6, referentes ao assegurar da “equidade territorial no provimento de infra-estruturas e de equipamentos colectivos e a universalidade no acesso aos serviços de interesse geral, promovendo a coesão social” e ao reforço da “qualidade e a eficiência da gestão territorial, promovendo a participação informada, activa e responsável dos cidadãos e das instituições”.

Adequa-se igualmente ao estipulado pelo Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML).

A síntese das medidas e a ligação aos diplomas que regulamentam e transpõem as directivas comunitárias encontra-se no quadro 2A (ver anexo 2).