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Paradigma Ecológico (Ecologia Social, Comunitária, Dependência de Recursos)

CAPITULO I – SERVIÇO SOCIAL E AMBIENTE

4. Paradigma Ecológico (Ecologia Social, Comunitária, Dependência de Recursos)

tem condicionado nos último séculos o comportamento humano, organiza-se na ideia de que o universo, no seu todo, é uma máquina sem vida. Como tal, esta concepção perimiria extrair o máximo de todos os recursos (limitados) sem que se reflectisse nas consequências que essa filosofia teria nas gerações futuras.

As características típicas de uma sociedade industrial e capitalista, têm como pressuposto, a competitividade pela existência a partir do enriquecimento individual, da crença no progresso material com crescimento ilimitado, (e.g. Guimarães, s/d) esquecendo que a concepção instrumental da relação homem – natureza, se torna reducionista e que é parte da herança liberal, que nos tem conduzido a diversos problemas.

Esta concepção não tem levado em conta os processos sistémicos presentes no padrão das relações entre as pessoas, entre estas e a sociedade, e entre as pessoas, as sociedades e a natureza, menos ainda nos valores humanos e existenciais e de referenciais ligados à qualidade de vida.

Problemáticas como as desigualdades sociais, os limites do crescimento económico, desemprego, poluição em geral e outros, são sinais de um modelo disfuncional e inadequado, sem possibilidade de resposta aos desafios de um mundo globalizado, já que as características fenomenológicas não fazem parte do pensamento linear e racionalista, e muito menos se adequam em gráficos cartesianos, onde tudo se resume a um valor numérico e se desvaloriza a essência da vida: o Homem.

Galimberti (2006) afirma que, actualmente, o homem já não é sujeito, mas algo utilizado pela esfera técnica, que determina o seu agir, o modo de pensar, perceber, sentir e projectar. A versão antiga da técnica mediava a relação do homem com a natureza, a

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versão actual, passou a ser o cenário dentro do qual homem e a natureza se colocam face às exigências promovidas pelas possibilidades técnicas, deixando de ser capaz de se perceber, fora desse mundo, i.e. de ter um conhecimento de si, fora desse âmbito.

Perante um futuro global de escassez de recursos, assimetrias sociais, disparidade na distribuição de rendimentos e degradação do meio ambiente, provocados pela ganância do crescimento económico e pela exploração dos recursos humanos e naturais, cumulativo com o “preço” de uma divida externa que teremos que pagar, a que acresce o “buraco” financeiro provocado por instituições financeiras ineficazes ou corruptas, associado a um “desgoverno” politico e uma crise de valores humanistas, falta de sentido crítico e um sistema que se confronta contra todos os que se proponham a encontrar soluções sustentáveis para os problemas, numa resistência à mudança dos sistemas institucionais estabelecidos, que se dizem a favor e ao serviço do “povo”, é difícil aliarmo-nos e não

(…) reflectir sobre a grande crise em que vivemos, em todos os âmbitos de acção do ser humano e em todos os lugares, (…) mais, percebemos que estas falhas estão interligadas e não podem ser entendidas de forma isolada, ou linear, como peças autónomas de um relógio (Guimarães, s/d:s/p).

Contudo, começamos a perceber gradualmente uma mudança de paradigma, embora este novo entendimento esteja longe do horizonte do pensamento politico e económico, que o vê como uma ameaça à estrutura que os alimenta e que, apesar do reconhecimento de que para garantir a sobrevivência das espécies temos que adoptar soluções que garantam a sustentabilidade das gerações futuras, preferem fechar os olhos para não ver as consequências da inter-relação dos problemas actuais, perpetuando os erros com justificações mecanicistas e racionalistas.

O pressuposto da nossa exposição leva-nos à emergência de um novo paradigma, no caso, o ecológico. De acordo com Tavares (s/d:1) “Como conceber, todavia, a relação entre velho e novo paradigma? Não se trata de uma simples justaposição entre ambos, menos ainda de uma substituição de um pelo outro” O autor alerta-nos para o conflito dessa justaposição de um pelo outro, porque de facto “o novo paradigma encontra-se em processo de gestação enquanto o velho paradigma parece estar agonizando”.

Em 1973, surge um movimento chamado Deep Ecology (Ecologia Profunda), que o filósofo Arne Naess define como “A essência da ecologia profunda consiste em formular questões mais profundas” (Guimarães, s/d) e que segundo Capra,

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Precisamos estar preparados para questionar cada aspecto isolado do velho paradigma. Eventualmente, não precisaremos nos desfazer de tudo, mas antes de sabermos isso, devemos estar dispostos a questionar tudo. (…) a Ecologia Profunda faz perguntas profundas a respeito dos próprios fundamentos da nossa visão de mundo e do nosso modo de vida modernos, científicos, industriais, orientados para o crescimento e materialistas. (…) questiona todo esse paradigma com base numa perspectiva ecológica: a partir da perspectiva dos nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações futuras e com a teia da vida da qual somos parte (Capra, 1997: 26 in Guimarães, s/d).

Embora gradualmente é (…) cada vez mais irreversível a consciência de que todos nós fazemos parte de uma teia frágil, linda e muito mais profunda do que nos fazem crer as nossas estruturas científicas e comerciais (...) fazemos parte da teia da vida que constitui um enorme organismo vivo (…) e esta nova percepção holística, sistémica ou inter- relacional entre todas as coisas que nos cercam (Guimarães, s/d:s/p).

A tal propósito, Morin diz que:

É preciso substituir um pensamento que separa por um pensamento que une, e essa ligação exige a substituição da causalidade unilinear e unidimensional por uma causalidade em círculo e muti referencial, assim como a troca da rigidez da lógica clássica por uma dialógica capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagónicas; que o conhecimento da integração das partes num todo seja completada pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes (Morin, 1997:19).

Acresce o pensamento de Capra, ao mostrar-nos o paradigma ecológico como “O novo paradigma (…)” (uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade e que estabelece uma visão particular da realidade) “(…) pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma colecção de partes dissociadas” (Capra, 1996:21).

Reforçando que “a percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenómenos, e o facto de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).” (Capra, 1996:21)

Brofenbrenner (1996) define o ambiente ecológico como um sistema de estruturas agrupadas, independentes e dinâmicas, que se apresentam em cinco sistemas: microsistema, os contextos em que o indivíduos participa directamente, de maior proximidade e imediatos (família, vizinhança, colegas); mesosistema, são as interacções

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entre os microsistemas, nas inúmeras possibilidades de relação entre cada pessoa e os contextos; exosistema, não implica a participação activa dos indivíduos, mas afecta-o, principalmente se o individuo estiver numa situação de vulnerabilidade (autarquias, local de trabalho, segurança social); macrosistema, sistema alargado (padrões socioculturais, instituições, valores, crenças, modos de vida) aspectos que influenciam o macrosistema e consequentemente o individuo; cronosistema, que introduz a componente temporal, ou seja a influencia das mudanças que ocorrem durante o período de vida do individuo, no contexto e na dinâmica das interacções e relações com os outros sistemas (os processo que decorrem do contexto difere nos vários períodos e fases de desenvolvimento).

Nesta perspectiva entende o individuo de um ponto de vista global e integrado, sem contudo deixar de considerar o papel dos contextos na dinâmica de interacção que se estabelece entre o individuo e o ambiente, com a singularidade própria de cada individuo, que de acordo com o autor não corresponde a um modelo mecanizado, embora os contextos de vida de cada um não existam separados e coexistindo, influenciam-se mutuamente a diversos níveis e constantemente (Bronfenbrenner, 1996).

Os impactos que tudo isso possa ter estão na participação activa de cada individuo e dependendo dos casos contribui para uma maior ou menor influencia no seu processo de desenvolvimento. A teoria de Bronfenbrener (1996) considera o individuo (pessoa) na dinâmica das interacções entre quatro dimensões, conforme a figura I.229:

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O tempo histórico refere-se ao impacto da mudança histórica e social sobre os caminhos de desenvolvimento de uma coorte de nascimentos (todas as pessoas nascidas no mesmo período de tempo, como uma década em particular). Membros da coorte estão expostos às mesmas sequências de mudanças históricas e sociais ao longo do seu curso de vida. Assim, a experiência uma coorte de crescer e envelhecer é diferente da de uma outra da coorte (Elder, 1984; Riley, 1978, 1985). O tempo social refere-se ao momento de transições individuais e familiares e eventos de vida como influenciado pela mudança factores biológicos, econômicos, sociais, demográficas e culturais. (Neugarten, 1979).

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Figura I.2- Indivíduo - dinâmica das interacções

Fonte: Elaboração própria

Cada individuo ultrapassa os vários processos da sua vida de maneiras diferentes, de acordo com a sua experiencia, características pessoais, recursos e apoios a que consegue ter acesso, por isso, o contexto de cada um é muito amplo e complexo, influenciado a todo o momento com as alterações e mudanças que ocorrem à sua volta, produzindo dinâmicas constantes a nível interno que levam a determinadas acções e reacções e que por sua vez configuram influências mútuas. Consequentemente, é fundamental entender e distinguir as diferenças de interacções entre os vários contextos de vida, como se processam essas influências e que impactos provocam.

O autor considera que a forma como o individuo atribui significado ao contexto onde actua e interpreta as normas e valores, determina o seu comportamento, interacção com os outros e as experiencias vividas, i.e. a forma como cada um interpreta é singular e mesmo que os elementos do contexto se repitam, podem ser vividos consoante a configuração de cada individuo. Assim, “O que importa para a compreensão do comportamento é o ambiente como ele é percebido” (Brofenbrener, 1996:6).

Isto evidência, que a dimensão de complexidade da realidade, requer um saber que exige do assistente social novas formas de actuação “Mais do que nunca, estamos diante de uma nova forma de conceber o saber, não um saber como posse, não um saber apenas como aquele campo de conhecimento sobre o qual se tem domínio, mas um saber como algo que se exerce” (Martinelli, 1998:136).

Pessoa Processo Contexto Tempo - Interacções reciprocas - Sequência histórica dos acontecimentos - Tempo histórico, social, pessoal dos acontecimentos - Caract. Pessoais Contextos (cultural, social, económico) História Pessoal Microsistema Mesosistema Macrosistema Exosistema Cronosistema

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Quanto mais analisamos os problemas da actualidade, mais entendemos a sua inter- relação, interdependência e constatamos que não podemos entende-los isoladamente. Não se constrói a prática apenas com o assistente social, mas em articulação com os indivíduos (objecto de intervenção), é através deles que se consolida a prática do Serviço Social, materializada pela colaboração e participação dos sujeitos de atenção nas dimensões ética, politica, social, económica, cultural e na promoção da sua cidadania e empowerment.

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