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Apoio à democracia por sentidos atribuídos à democracia

INTERNATIONAL POLITICAL SCIENCE REVIEW, vol. 22. 152

MORENO. Citizen Views of Democracy in Latin AmericaUniversity of Pittsburgh Press. 153

O autor não descreveu o processo de escolha das variáveis, os testes estatísticos usados para definir o ajuste das variáveis da escala e os detalhes da análise fatorial de componentes principais que deu base para formação do índice.

que apóie a democracia, mesmo admitindo que os resultados econômicos sob uma democracia não sejam os melhores.

Mishler e Rose154 ressaltam que, tradicionalmente, as pesquisas sobre o processo democrático têm como objeto as democracias longamente estabelecidas do ocidente. O estudo dos regimes que buscam a institucionalização da democracia deve levar em conta que esse processo envolve muita incerteza e seu resultado depende do apoio dos cidadãos não apenas à democracia como um ideal, mas, sobretudo, do apoio ao regime democrático incompleto que está em vigor. Por isso, seria necessário diferenciar a medida de apoio ideal ao regime da medida de apoio realista. Os autores defendem, ainda, que as perguntas não devam apresentar textualmente a palavra democracia, uma vez que essa presença influenciaria o indivíduo a dar respostas positivas. Uma medida de apoio realista deveria dar ao entrevistado a possibilidade de comparar o regime que experimenta com o regime passado.

Amaney Jamal e Mark Tessler, pesquisadores do Asiabarômetro, usam a contraposição entre o apoio à democracia e o apoio aos regimes alternativos, incluindo as avaliações do impacto das tradições islâmicas sobre essas atitudes alternativas.155 Eles questionam a utilidade de empregar questões que oferecem escolhas excludentes entre democracia e desenvolvimento econômico, em sociedades muito pobres.

As pesquisas sobre o apoio à democracia na África também têm utilizado essa lógica de contraposição. Michael Bratton associa a questão da preferência pela democracia em relação aos regimes autoritários com um índice de rejeição do autoritarismo, criado a partir da desaprovação do regime militar, do regime controlado por um homem, do regime controlado por um partido, ou por líderes tradicionais.156 O autor classifica os respondentes em quatro categorias: os “democratas comprometidos” que apoiam a democracia e rejeitam todas as formas de autoritarismo; os “proto-democratas” que apoiam a democracia, mas escolhem alternativas autoritárias; “proto-não-democratas” que não apoiam a democracia e rejeitam o autoritarismo; e, por fim, os “não democratas comprometidos” que não apoiam a democracia e apoiam as opções autoritárias. A classificação permitiu ao autor hierarquizar os países entre aqueles que mais consistentemente aprovam a democracia e rejeitam o autoritarismo. A classificação feita a partir da questão do apoio ao regime, que indicava uma média de apoio de 69% em doze países africanos, foi refinada a partir da reclassificação que gerou o seguinte resultado: 51% dos cidadãos nesses países rejeitaram todas as alternativas autoritárias, mas,

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155 JAMAL, TESSLER. Measuring Support for Democracy in the Arab World and Across the Globe. 156

apenas 43% tinham posições consistentes, apoiando a democracia e rejeitando o autoritarismo.

A estratégia de qualificar os respondentes de forma a evidenciar as diferenças entre as opções puramente democráticas e totalmente autoritárias é defendida também por Andreas Shedler e Rodolfo Sarsfield.157 Eles argumentam que a utilização de mais de um item para compor um índice de apoio à democracia é um meio para se evitar as pseudoatitudes e para avaliar a consistência das atitudes dos cidadãos.

Vivian Schwarz-Blum,158 em publicação do Barômetro das Américas, utilizou um

índice de apoio ao sistema com o objetivo de avaliar a estabilidade do regime sem utilizar o termo democracia. Intencionava evitar respostas que fossem alinhadas com posições desejáveis socialmente. As questões utilizadas no seu índice são as seguintes: 1. Em que medida você acha que as cortes garantem um julgamento justo em seu país? 2. Em que medida você respeita as instituições políticas de seu país? 3. Em que medida você acredita que os direitos básicos dos cidadãos são garantidos no seu país? 4. Em que medida você sente orgulho de viver sob o sistema político do seu país? 5. Em que medida você sente que deve apoiar o sistema político?

A medida de apoio criada pelo Barômetro das Américas resolve o problema colocado por Mishler e Rose,159 mas enfrenta o problema histórico colocado por Briam Barry.160 A questão que se coloca é que, se o entrevistado é crítico em relação às instituições de uma democracia recém-instalada (desconfia da aplicação da justiça no país, tem críticas ao funcionamento das instituições, avalia que os direitos básicos dos cidadãos ainda não foram contemplados, não apoia o sistema político), ele entra na contagem dos indivíduos que não apoiam o sistema. Como destacou Barry, se as instituições funcionam precariamente e, por isso, não são confiáveis, como se pode esperar que os indivíduos expressem apoio a elas? Da mesma forma, causaria desconfiança se um indivíduo respondesse positivamente às questões acima em uma democracia com funcionamento deficiente, afinal, um nível alto de apoio a um sistema político que funciona precariamente pode ser uma forma de assegurar a continuidade dos problemas e não uma superação deles.

Talvez em função das dificuldades geradas por tal índice, as pesquisas do Barômetro das Américas multiplicam as medidas de apoio político. A medida complementar ao apoio ao sistema é a tolerância política, ela capta o quanto o indivíduo reconhece os direitos políticos

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AFROBAROMETER PAPER, n. 45. 158

SCHWARZ-BLUM. Desafíos para la democracia en Latinoamérica y el Caribe. 159 INTERNATIONAL POLITICAL SCIENCE REVIEW, vol. 22.