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Regressão logística – Fatores relacionados com a não resposta à questão aberta

entanto, as variáveis sociodemográficas explicaram uma parte pequena da variância da confiança institucional. Assim como nessa pesquisa, outros estudos têm identificado pouca influência das variáveis sociodemográficas sobre a confiança política. Norris e Newton concluem que o gênero, a classe e a idade têm uma relação fraca com a confiança política, sendo que a confiança é marginalmente mais alta entre as mulheres, entre os indivíduos de classe média e as pessoas mais velhas.202 Sören Holmberg, em pesquisa realizada na Suécia, também mostrou que os níveis de confiança política variam muito pouco entre os grupos sociais; no entanto, o autor ressalta que os grupos em desvantagem (desempregados, pessoas com pouca educação, pessoas que vivem no campo e mulheres) tendem a apresentar níveis um pouco mais baixos de confiança política.203

Seligson e Carrión, em análise do apoio ao golpe de Estado impetrado por Fujimori, no Peru em 1992, concluíram que o apoio ao golpe foi maior entre os jovens do que entre os

mais velhos.204 Os autores supõem que o apoio ao golpe entre os jovens foi mais comum

porque eles vivenciaram as crises econômicas e não tiveram experiência com regime militar, enquanto os mais velhos tiveram a possibilidade de comparar as experiências vividas sob a democracia com aquelas relativas ao regime autoritário, isso diminuiria o apoio ao golpe. Essa é uma indicação de que a idade do entrevistado pode fazer diferença para o apoio à democracia na América Latina. A tabelas abaixo evidenciam que no Latinobarômetro 2005 o percentual de apoio é maior quanto maior a idade do entrevistado e ligeiramente maior entre os homens.

TABELA 6

Até 25 anos De 26 a 35 anos De 36 a 45 anos De 46 a 55 anos Acima de 56 anos Total

Não apóia democracia 34,39 31,31 31,72 32,72 32,96 32,66

Ambivalente/ Indiferente 28,44 27,81 26,26 23,53 22,28 26,07

Apóia democracia 37,17 40,88 42,02 43,76 44,76 41,27

Fonte: LATINOBARÔMETRO 2005, n. 20492 Nota: Dados trabalhados pela autora.

APOIO À DEMOCRACIA POR GRUPOS ETÁRIOS

TABELA 7

Mulher Homem Total

Não apóia democracia 32,67 32,65 32,66

Ambivalente/ Indiferente 27,80 24,29 26,07

Apóia democracia 39,53 43,06 41,27

Fonte: LATINOBARÔMETRO 2005, n. 20492 Nota: Dados trabalhados pela autora.

APOIO À DEMOCRACIA POR SEXO

202

NORRIS, NEWTON. Desaffected Democracies. 203 HOLMBERG. Critical Citizens.

204

Considerando a grande desigualdade social na região, o controle do nível socioeconômico205 será muito importante para avaliar se indivíduos de diferentes níveis de renda têm probabilidades distintas de apoio à democracia. Seguindo os estudos anteriores, espera-se que existam mais chances de apoio entre os indivíduos com maior nível socioeconômico. A análise por país poderá indicar se essas expectativas se invertem em função dos conflitos distributivos. Em países em que ocorre um conflito distributivo, pode ocorrer uma retirada do apoio ao regime pelos grupos mais abastados206. A tabela abaixo evidencia que o apoio à democracia é maior nos níveis mais altos de renda.

TABELA 8

Baixo Médio Alto Total

Não apóia democracia 38,51 30,75 25,10 32,66

Ambivalente/ Indiferente 30,91 24,72 17,76 26,07

Apóia democracia 30,58 44,53 57,13 41,27

Fonte: LATINOBARÔMETRO 2005, n. 20492 Nota: Dados trabalhados pela autora.

APOIO À DEMOCRACIA POR NÍVEL SOCIOECONÔMICO

3.3.2 Variáveis relativas para as teorias institucionalistas e ao desenvolvimento político

As variáveis consideradas relevantes para o apoio à democracia, de acordo com as teorias institucionalistas de nível macro, são relacionadas com as características do sistema político e com o desempenho das instituições. Essas teorias defendem que os resultados agregados do desempenho da economia e da política - como crescimento econômico e governo efetivo - são os fatores que influenciam as atitudes individuais. Ian MCallister avaliou que, nas democracias estabelecidas, dentre os fatores econômicos agregados (crescimento do PIB, desemprego e inflação), o crescimento do PIB é o fator que mais influenciou a confiança institucional.207

As teorias econômicas também utilizam as os resultados agregados da economia para tentar explicar a estabilidade e as rupturas dos regimes democráticos na América Latina. Mas o efeito dessas variáveis não segue as expectativas das teorias econômicas. Scott Mainwaring e Aníbal Pérez-Linán, por exemplo, constataram a ocorrência de golpes militares em países

205

Ver no APÊNDICE O, página 194, a discussão sobre o Índice Socioeconômico. 206

No APÊNDICE C, páginas 171 e 172, estão a descrição das variáveis sociodemográficas e suas estatísticas descritivas.

207

com renda per capita alta, Uruguai e Chile, e a persistência da democracia em países muito pobres e durantes crises econômicas.208 Do mesmo modo, Prezeworski e Limongi verificaram que os regimes democráticos resistiram às severas crises econômicas que ocorreram na região nos anos de 1980.209 Efeitos não esperados também ocorrem em relação às expectativas de durabilidade dos regimes considerados consolidados na região: golpes militares ocorreram em nações com estruturas políticas aparentemente estáveis.

Helena Rovner agregou os valores de apoio à democracia210 por país para fazer uma análise multivariada e comparar a importância relativa dos fatores políticos (eleições, restrições culturais e restrições políticas das minorias) e dos fatores econômicos (desemprego e crescimento econômico) para explicar o apoio à democracia. Utilizando os dados do Latinobarômetro de dezessete países nos anos de 1996, 1997 e 1998, a autora concluiu que níveis de apoio aos ideais da democracia não eram sensíveis às variações no desempenho do regime. Vale destacar que o desemprego estava associado negativamente com o apoio (1996 e 1998), mas o crescimento econômico não apresentou relação com o apoio em todos os anos. Rovner reconhece que os resultados não foram consistentes. A autora pondera, no entanto, que o fato de o apoio não estar sistematicamente associado às variações econômicas é um resultado esperado de acordo com a teoria de David Easton: essa dimensão do apoio estaria relacionada com “o reservatório de apoio difuso”, decorrente de valores mais firmemente

enraizados.211 Ryan Carlin avaliou o impacto de variáveis econômicas (desigualdade,

pobreza, PIB per capita, inflação e desemprego) sobre o apoio aberto à democracia, a partir de um índice que variava entre -6 (mais autoritário) a +6 (mais democrático). 212 Com base no World Values Survey (WVS) de oito países da América Latina213, o autor concluiu que a desigualdade e a pobreza diminuem o apoio à democracia, mas declarou-se surpreendido com o fato de o desenvolvimento econômico não diminuir o apoio às formas não democráticas de governo. Carlin tenta justificar esse achado, que contraria a teoria da modernização, a partir de elementos políticos conjunturais dos países com maiores níveis de renda, Argentina, Chile e México. Outro resultado surpreendente, segundo o autor, seria o fato de o desemprego estar

208

COMPARATIVE POLITICAL STUDIES, vol. 36. 209 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, n. 24. 210

A autora usou o item que avalia o apoio à democracia comparado com o apoio à alternativa autoritária. 211

ROVNER. Support for Democracy in Latin America in the 1990, p. 145. 212

O autor somou os valores de duas variáveis de apoio (apoio à democracia em relação ao regime autoritário e democracia pode ter problemas, mas é o melhor regime) e subtraiu o apoio a alternativas autoritárias (apoio a um líder forte que passe por cima das instituições e apoio ao regime militar). REVISTA DE CIÊNCIA POLÍTICA, vol. 26.