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4.2 Interpretação dos resultados

4.2.1.7 Apoio de instituições

A literatura explica que, para esse tipo de arranjo organizacional, é necessário o concurso de instituições governamentais e não governamentais que possam auxiliar, direta ou indiretamente, os produtores no processo produtivo, em tecnologias, em recursos humanos, materiais e financeiros, e na gestão das próprias propriedades e da associação.

Na análise das entrevistas, foram identificadas as seguintes instituições: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Juiz de Fora, especificamente o Pró-Leite, Emater, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Embrapa, Laticínio Bom Pastor e fornecedores de insumos. Ainda, as pesquisas identificaram graus diferenciados de intervenção e cooperação, bem como, também, divergências entre os pesquisados sobre a atuação dessas instituições para o fomento e desenvolvimento da APRP.

Sobre as instituições que apóiam a APRP, os três relatos abaixo ilustram a participação efetiva dos órgãos governamentais nas ações dos produtores rurais de Pires:

O apoio governamental direto, em minha opinião, é realizado por três instituições: Prefeitura de Juiz de Fora, Emater e Embrapa. Excetuando-se a Prefeitura de Juiz de Fora, com o subsídio de R$ 0,02 por litro de leite produzido, os demais apóiam com tecnologia. O apoio de tais instituições tem demonstrado valor para o desenvolvimento da associação (Relato da entrevista – P1).

Seria a Emater, Embrapa, Secretaria de Agropecuária, os principais parceiros nessa cadeia de produção para poder melhorar a qualidade

(Relato da entrevista – P2).

No início, nós tivemos grande apoio da Emater, da Embrapa, do próprio Pró-Leite da Secretaria de Agropecuária (Relato da entrevista –

P3).

A participação efetiva da Prefeitura de Juiz de Fora é atestada pelo relato do T1:

Hoje, a principal linha de apoio do Pró-Leite aos produtores rurais é o incentivo à pecuária planejada e à melhoria da produção e da qualidade do leite hoje na região. O Pró-Leite, hoje, atende aos Pires, primeiramente, alguns produtores que têm um nível tecnológico um pouco menor e que querem melhorar isso. A gente atende diretamente ao produtor para melhorar o seu repasse de animais, essa questão de manejo, mexer diretamente na sua questão financeira para saber aonde ele está gastando errado, aonde ele pode gastar, qual a tecnologia nova que ele pode estar implantando na propriedade para melhorar seus custos, melhorar a sua produção; e diretamente, na associação, a gente faz coletas de leite, juntamente com o convênio com a Embrapa. Então, esse leite é levado para a Embrapa, é analisado e a gente tem um feedback desses resultados. Em cima desses dados, a gente consegue apontar onde estão os problemas de qualidade do leite nos produtores que poderão vir a prejudicar os outros produtores que têm uma

qualidade melhor. Em cima disso, o técnico do Pró-Leite vai à propriedade problemática e vai atender diretamente o produtor, quer dizer, a gente tem uma linha que atende diretamente ao produtor e uma linha que atende diretamente à associação. E ajuda, de certa forma, na questão de organização de si próprio porque a fundação da associação foi juntamente com o Pró-Leite e dá essa assessoria tanto na parte administrativa da associação quanto na parte individual de cada produtor (Relato da entrevista – T1).

Ao analisar o relato do entrevistado T2, observa-se que a Emater apóia as ações da APRP, porém, de modo indireto, como indicado:

Nós tivemos a oportunidade de ministrar um treinamento na área de qualidade do leite, treinamento de retireiros, produtor ou o próprio empregado. Então, contamos com o apoio das associações, e também na área de processamento, de melhoria da qualidade do leite. Então, a Emater tem levado essa tecnologia aos produtores, com o apoio das associações, no caso de Pires, especificamente da associação de Pires

(Relato da entrevista – T2).

Essa situação é idêntica à da Embrapa, referendada pelas observações dos entrevistados T2 e T3:

O apoio da Embrapa, eu diria assim, é mais indireto, porque ela disponibiliza a tecnologia que nós fazemos chegar até o produtor, é indireto, eu colocaria dessa forma. Agora, vale ainda colocar, eu estou me lembrando de um detalhe. A Embrapa tem um trabalho de qualidade do leite onde o pessoal, os técnicos da Secretaria coletam, acho que é mensalmente, e a Embrapa faz a análise da qualidade do produto lá no tanque. Aí ela tem uma participação bem direta lá, através da Secretaria, esse apoio dela junto ao Pró-Leite. Então, ela faz uma análise para os associados (Relato da entrevista – T2).

Nosso foco primeiro é o que a gente chama de capacitar multiplicador, gente que vai multiplicar isso lá na frente. Houve um momento, vamos dizer assim, no início da Embrapa, não sei dizer se é, é Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite, porque a Embrapa era gado de leite, era

mais dentro da produção. Então, como a assistência técnica está esfacelada no país, todo mundo queria que a gente fizesse assistência técnica lá na ponta e isso, de fato, não tem condição, nós não temos gente para fazer isso. Então, nós focamos em capacitar multiplicador, capacitar assistência técnica, (...) estamos fazendo um grande programa. Nós estamos capacitando assistência técnica no Pró-Leite de todos os estados brasileiros. Quer dizer, é multiplicador para chegar lá na ponta. Agora, nós somos demandados demais. Então, muitas associações vêm nos visitar e outras organizam eventos nos municípios. Então, é técnico nosso lá e, outra coisa, nós começamos a ter estudos utilizando associações de produtores, principalmente projetos ligados à transferência de tecnologia e agricultura familiar (Relato da entrevista

– T3).

O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) é mencionado exclusivamente pelo T2, ao explicar sua relativa participação junto aos produtores rurais a partir das suas atribuições institucionais, essencialmente, de fiscalização:

O IMA trabalha com a parte de vacina, o controle sanitário. Então, eu não sei, mas eles não têm uma participação muito direta não. Mas o IMA também tem sua participação porque eles fazem o controle de vacinas do rebanho. As bezerras do terceiro ao oitavo mês, as fêmeas deverão ser vacinadas contra a brucelose. Então, o IMA exige, acompanha e fiscaliza. Então, ele não deixa de ter uma participação também importante nesse contexto como órgão fiscalizador (Relato da

entrevista – T2).

Comentário consideravelmente crítico foi feito pelo entrevistado T4, em relação à atuação dos órgãos governamentais na APRP:

Acho que poderiam ser mais intensivos e vou até chamar de mais reais. Eles não convivem com a dificuldade que se tem no campo realmente, eles trabalham mais a distância, as informações não chegam. No caso, você citou o exemplo da Emater. A Emater não tem uma atividade efetiva no campo, o que realmente precisa a região, o que faz. Eu vi até, não sei se cabe no assunto aqui agora, eu vi um trabalho da Embrapa

de São Carlos, aqui na região de Santos Dumont, com dois ou três produtores, um trabalho que, talvez, a Embrapa de Juiz de Fora tenha o mesmo conhecimento, ou as mesmas ferramentas para se trabalhar aqui e não fazem. Precisou vir um técnico de São Carlos para fazer um trabalho em Santos Dumont. Como é o critério, talvez eu estou sendo até injusto aqui, mas talvez o critério precisa ser um negócio levado mais a um nível amplo. Não precisa a pessoa ficar naquela procura por essa situação. Eu acho que isso falta. O Pró-Leite tem feito um trabalho já há algumas gestões, independente do que está acontecendo, se é prefeito A ou B, ela tem feito um trabalho com o Pró-Leite bom. Eles vêm fazer o trabalho de coleta de leite, de qualidade de leite, fazem a cobrança, inclusive parece que tem até um incentivo da Prefeitura em função dessa qualidade. Existe qualidade, tem um percentual de R$0,02. Quem não tem a qualidade não tem o percentual. Mas eu não conheço o critério não (Relato da entrevista – T4).

Pelas características contratuais da APRP e do Laticínio Bom Pastor, comprador de toda a produção de leite ao longo dos anos, algumas divergências foram encontradas nos depoimentos sobre o seu papel como órgão de apoio ao arranjo organizacional. Os depoentes a seguir concordam plenamente que o laticínio é um parceiro institucional estratégico:

Auxilia. O Laticínio Bom Pastor, a gente diz que não é pura e simplesmente um comprador. É uma parceria que existe entre a associação e o laticínio, que o laticínio contribui com a análise do leite, a apanha do leite nos períodos corretos e retorna o resultado dessas análises do leite para que possamos corrigir as falhas existentes. Então, existe uma ajuda da parte do laticínio sim (Relato da entrevista – P2). A parceria entre a associação e o Laticínio Bom Pastor é tão grande que ele não só sugere outros equipamentos como também acompanha, fazendo exames do produto e passando para a gente o que deve ser feito para melhorar a qualidade. Então, ele tem, nessa parte, ele não só compra o leite porque ele quer comprar o leite, mas ele também quer qualidade porque ele depende da qualidade para que ele consiga colocar no mercado. E ele nos traz também o mercado dele, porque o laticínio Bom Pastor não é vendedor de leite, ele é vendedor de queijo;

outro mercado e tanto porque, se nós vendêssemos para um laticínio que vendesse leite, só o leite, nós estaríamos mexendo com o leite. Hoje, nós mexemos também com a industrialização do produto. Então, ele nos traz, para a gente, todo mês, a inovação de um outro, nós conhecemos um outro lado que é um outro mercado, não o mercado só do leite, o mercado da mussarela, dos derivados do leite. Isso faz com que nós cresçamos também porque conhecemos um outro lado que, talvez, não é só o leite, não é também só o mercado do leite, mas o mercado dos derivados do leite. E ele não só negocia aqui em Juiz de Fora como negocia o produto dele em outros estados. Então, ele traz uma variação muito grande e ele nos orienta, como devemos fazer, porque fazer e, realmente, tem nos somado muito (Relato da entrevista – P3).

Eu acho uma coisa muito importante porque nós não temos um comprador de leite, nós temos um parceiro. Onde é da região, é um cara que foi do meio rural e, hoje, ele é um empresário que ele sabe a dificuldade do produtor rural. É onde que a gente tem esse acesso, essa liberdade de sentar e discutir (Relato da entrevista – P5).

Por outro lado, os entrevistados P4 e T1 concordam e reconhecem o apoio institucional do Laticínio Bom Pastor para APRP. Formulam, porém, questionamento sobre a sua participação, como:

O Laticínio Bom Pastor não colabora diretamente para as nossas melhorias tecnológicas. Até penso eu o seguinte: que ele, uma das melhorias, a qualidade do leite, eu acho que quem deveria fornecer e ficar mais em cima disso seria ele porque ele é o comprador. Isso aí a Secretaria de Agropecuária, através do Pró-Leite, é que fica em cima. Ele não oferece nada não (Relato da entrevista – P4).

Sim, ele tem ajudado, mas ainda está faltando. Eu acho que, muito mais ajuda do laticínio porque, nesse processo, todo ele é o maior beneficiado. Porque, na verdade, hoje ele tem que negociar de frente para frente com uma associação que tem peso, ele tem um produtor com volume de leite muito maior, então, com qualidade muito melhor. Então, hoje, sim, ele ajuda a gente muito, é parceiro nosso porque tem um fácil contato. Só que a gente ainda espera uma maior ajuda, espera que ele ainda venha pagar melhor em cima de qualidade de leite para a gente

estar podendo cobrar mais os nossos produtores e estar elevando nossos produtores a um nível superior em tecnologia (Relato da

entrevista – T1).

As considerações do entrevistado T4 apresentam ponderações importantes sobre o nível de participação do Laticínio Bom Pastor. Fica evidenciado que a real contribuição é na questão da qualidade do leite, como verbalizado pelo mesmo:

Eu contribuo muito na área de qualidade, até com a situação de consideração, às vezes, com a grande dificuldade que eles ainda estão enfrentando para conseguir adquirir a cultura moderna, que é exigência do governo. Há o asseio de qualidade de retirada de leite, alguns atendem, outros não atendem, e, naquele que coloca o volume, às vezes, dá algum problema, a gente vai, dá um apoio, faz os exames na empresa, traz para eles, mostra qual é o problema. Essa é a parte que a gente tem contribuído demais. Por exemplo, na qualidade mesmo, na melhoria de qualidade porque, na verdade, ela é de interesse deles e também de interesse da empresa (Relato da entrevista – T4).

Ainda, a pesquisa investiga a ocorrência do apoio das empresas fornecedoras de insumos básicos e equipamentos, conforme considerado na literatura sobre arranjos organizacionais. Na análise das entrevistas, o tema é relativamente pouco explorado, indicando uma reduzida ação de integração dessas empresas com a associação. A leitura dos relatos abaixo comprova a tese exposta:

Muito pouco, poderia contribuir mais. Mas, a gente, às vezes, solicita a presença dos representantes dessas fábricas de ração para mostrar a qualidade do produto, quais as vantagens do produto e a gente, além da qualidade e tudo do produto, a gente briga muito pelo preço do produto final, para poder beneficiar o pequeno produtor. Então, eu acho que eles poderiam contribuir mais, mas não deixa de ter uma participação

Sem dúvida. A associação, eu acho que o mais importante no associativismo, que nós temos buscado e nós temos pregado muito, é a parceria. A parceria está trabalhando em torno tanto do comprador de leite e dos nossos fornecedores. Então, sempre buscamos com os fornecedores um técnico deles, uma assistência técnica, um apoio, um desconto para melhorar o preço (Relato da entrevista – P3).

E tem ajudas de algumas fábricas de insumos, alguns vendedores de insumos que estão patrocinando, às vezes, a gente com alguém da sua empresa para ir lá dar uma palestra. Os torneios leiteiros, eles dão uma ajuda muito boa em questão de premiação porque essa premiação vai incentivar o produtor a levar seu animal e estar interagindo com a gente. Então, acaba que, até nesse ponto, a associação ajuda muito porque a gente tem ajuda dos grandes; são vendedores de insumos, são os compradores de leite, estão sempre ajudando a gente a promover encontros, palestras, para capacitação dos nossos produtores (Relato

da entrevista – T1).