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4.2 Interpretação dos resultados

4.2.1.5 Equipamentos compartilhados

A literatura sobre clusters e arranjos produtivos locais (APLs) faz forte menção sobre a utilização de equipamentos compartilhados pelos participantes do arranjo, como uma vantagem competitiva central.

No caso da APRP, a utilização de equipamentos compartilhados é marcante, por ser um fator agregador dos produtores e, sem dúvida alguma, uma estratégia concorrencial decisiva. Inicialmente, a APRP foi aquinhoada com o financiamento de um tanque de resfriamento, a fundo perdido, pelo Programa Pró-Leite da Prefeitura de Juiz de Fora. Sobre o assunto, a Emater-MG, em documento técnico denominado “Informações resumidas sobre o resfriamento e coleta de leite50”, de 2002, afirma que a qualidade do leite é uma exigência do

setor de lácteos e dos consumidores finais.

Por sua vez, o documento técnico explica que a melhoria da qualidade do leite é determinada pela produção higiênica, pela sanidade das vacas, equipamentos e outros utensílios limpos e desinfetados, prática correta de ordenha, resfriamento e estocagem do leite a granel, e coleta, transporte e entrega do produto nos laticínios.

Especificamente para resfriamento e coleta a granel do leite, o tanque de resfriamento é um equipamento fundamental para a preservação da qualidade do produto, por manter a temperatura baixa, inibidor da multiplicação de bactérias e da acidez.

O tanque de resfriamento é recomendado para propriedades com maior capacidade de produção ou para comunidades que objetivam atender grupos de produtores. Em geral, os tanques têm capacidade entre 250 e 6.000 litros. A sua localização é determinada em função da distância entre os produtores, no caso

específico dos tanques comunitários e em função do acesso das estradas vicinais para a sua coleta nos caminhões-tanque.

A Instrução Normativa n.º 51/2002, nos itens 3 e 4 do Anexo VI - Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel estabelece procedimentos para Instalação de Equipamentos de Refrigeração e Especificações Gerais para Tanques Comunitários:

3. Instalações e Equipamentos de Refrigeração

3.1. Instalações: deve existir local próprio e específico para a instalação do tanque de refrigeração e armazenagem do leite, mantido sob condições adequadas de limpeza e higiene, atendendo, ainda, o seguinte: - ser coberto, arejado, pavimentado e de fácil acesso ao veículo coletor, recomendando-se isolamento por paredes; - ter iluminação natural e artificial adequadas; - ter ponto de água corrente de boa qualidade, tanque para lavagem de latões (quando utilizados) e de utensílios de coleta, que devem estar reunidos sobre uma bancada de apoio às operações de coleta de amostras; - a qualidade microbiológica da água utilizada na limpeza e sanitização do equipamento de refrigeração e utensílios em geral constitui ponto crítico no processo de obtenção e refrigeração do leite, devendo ser adequadamente clorada. 3.2. Equipamentos de Refrigeração

3.2.1. Devem ter capacidade mínima de armazenar a produção de acordo com a estratégia de coleta;

3.2.2. Em se tratando de tanque de refrigeração por expansão direta, ser dimensionado de modo tal que permita refrigerar o leite até temperatura igual ou inferior a 4ºC no tempo máximo de 3h após o término da ordenha, independentemente de sua capacidade;

3.2.3. Em se tratando de tanque de refrigeração por imersão, ser dimensionado de modo tal que permita refrigerar o leite até temperatura igual ou inferior a 7ºC no tempo máximo de 3h após o término da ordenha, independentemente de sua capacidade;

3.2.4. O motor do refrigerador deve ser instalado em local arejado; 3.2.5. Os tanques de expansão direta devem ser construídos e operados de acordo com Regulamento Técnico específico.

4. Especificações Gerais para Tanques Comunitários

4.1. Admite-se o uso coletivo de tanques de refrigeração a granel ("tanques comunitários"), por produtores de leite, desde que baseados no princípio de operação por expansão direta. A localização do

equipamento deve ser estratégica, facilitando a entrega do leite de cada ordenha no local onde o mesmo estiver instalado;

4.2. Não é permitido acumular, em determinada propriedade rural, a produção de mais de uma ordenha para enviá-la uma única vez por dia ao tanque comunitário;

4.3. Não são admitidos tanques de refrigeração comunitários que operem pelo sistema de imersão de latões;

4.4. Os latões devem ser higienizados logo após a entrega do leite, através do enxágüe com água corrente e a utilização de detergentes biodegradáveis e escovas apropriadas;

4.5. A capacidade do tanque de refrigeração para uso coletivo deve ser dimensionada de modo a propiciar condições mais adequadas de operacionalização do sistema, particularmente no que diz respeito à velocidade de refrigeração da matéria-prima (Brasil, 2002).

As vantagens da utilização do tanque de resfriamento são indicadas pela Emater-MG (2008) como:

a) o resfriamento do leite em temperaturas ideais reduz o risco da

acidez do leite;

b) reduz os custos operacionais de produção, a partir da logística de

transporte (frete) e otimização de rotas (aumento do volume do produto por linhas de coleta);

c) aumenta o valor unitário do litro de leite comercializado, pela

redução dos custos operacionais, pela possibilidade da produção de leite resfriado a granel, e na redução de práticas artesanais de manipulação do leite e da utilização de latões.

d) a utilização do tanque induz o aumento da produção e da formação

de grupamentos de produtores que, por conseqüência, melhoram os preços finais de comercialização pelo aumento do volume a ser entregue para os laticínios.

Indiscutivelmente, como afirma o entrevistado P1, o tanque de resfriamento induziu o associativismo em Pires: “O tanque de resfriamento foi

um indutor para o processo de associação dos produtores rurais de Pires”

(Relato da entrevista – P1).

O entrevistado T4, ao ser perguntado sobre a presença de alguma relação entre a associação de produtores rurais e a instalação do tanque de resfriamento, comenta que, por questões impostas pela Instrução Normativa n.º 51/2002 e pelo custo de implantação do equipamento para pequenos produtores, a relação é observada, conforme relato:

Não sempre, mas, para nós do leite aqui, isso tem sido mais constante por causa da instrução normativa que entrou em vigor regulamentando essa questão. Que leite tem que ter qualidade e, vamos dizer, um tanque de 3.000 litros de leite custa R$40 mil. O cara não tem condição de comprar. Então, os produtores se associam. E outra coisa, a indústria de laticínio também começou a estimular a sua utilização. Na verdade, a indústria solicita que o produtor tenha um tanque individual. Outras coisas, as empresas que vendem tanque comunitário, elas têm linha de financiamento direto, dão aval, dão assistência técnica (Relato da

entrevista – T4).

O entrevistado P2 detalha a questão dos tanques de resfriamento e acrescenta outros equipamentos e instalações à disposição dos associados de Pires:

Um tanque é de 5.300 e o outro de 3.200. Iniciou-se com o de 5.300 e, no decorrer do tempo, como houve um acréscimo de produção, houve a necessidade da aquisição do segundo tanque, de 3.200 litros. E, hoje, a associação possui essa sede. Ela está equipada com esses tanques que compreendem compressor e outros equipamentos que fazem funcionar. Tem um galpão anexo à plataforma de leite que serve de depósito para remédios, para farelo que chega e, além disso, tem o escritório equipado com computador, mesa, tudo que auxilia no trabalho da direção da associação. E todos os associados têm direito de uso

indeterminado desse espaço, o espaço é do associado. A associação possui a sua diretoria que controla o sistema todo, mas o dono do pedaço é o associado. Então, os direitos são iguais para todos, não importa a capacidade de cada um (Relato da entrevista – P2).

Explica ainda o entrevistado P3 que, além do tanque de resfriamento, atualmente, os associados contam com uma balança para pesar animais:

O equipamento que tem lá é só o tanque mesmo de expansão. Tem a balança, a balança de pesar animais, que é uma balança comprada pela associação. A balança então é o único outro produto que tem (Relato da

entrevista – P3).

A pesquisa identificou que, na opinião dos entrevistados, outros equipamentos de utilização compartilhados poderiam ser adquiridos, como equipamentos para fabricação de ração e para inseminação artificial, conforme os relatos abaixo:

A nossa idéia para um futuro bem próximo é a aquisição de uma máquina de beneficiar para fazer a própria ração. A gente compraria os insumos, o caroço de algodão, a soja, o farelo de trigo, milho e faria essa composição. O zootecnista traçava o tipo de alimentação, as dosagens de cada um, a gente colocaria nessa máquina e essa máquina beneficiaria, trituraria e já saía o farelo pronto. Esse é um próximo passo que nós estamos pensando seriamente (Relato da entrevista – P1). Hoje, pensamos em outros vários, outros equipamentos, sim, mas o que nós estamos disponibilizando hoje é tanque de resfriamento e a trituradora para ele fazer a própria ração. Hoje, eu acho que seria interessante depois, nós já estamos buscando essa idéia, da pessoa estar fazendo a ração balanceada. Nós estamos oferecendo a trituração do milho, mas aí precisa da soja. Mas, nós precisamos de outras coisas, a orientação, para que ele possa fazer a ração balanceada de acordo com a sua produtividade (Relato da entrevista – P3).

Poderia, eu pensei já em outro equipamento que seria útil para o produtor, para todo mundo da associação, é um triturador/misturador de ração. Que pode ser, por nós comprarmos já esses insumos com preço bom, se comprar matéria-prima e usar esse triturador e misturador, pode até chegar a um preço melhor ainda. Seria uma das coisas. Ou um botijão de sêmen, ou vários botijões de sêmen que serviriam para várias localidades onde tivesse produtor querendo realizar a inseminação. Esses são os dois pensamentos que eu vejo que tenho, e irei passar para eles (Relato da entrevista – P4).