• Nenhum resultado encontrado

4.2 Interpretação dos resultados

4.2.2 Componente transações organizacionais

Ao discutir sobre gestão e governança da APRP, inicialmente, cabe uma incursão sobre a diferenciação entre a forma organizacional de associação e a de cooperativa na área do agronegócio, especialmente nos seguintes temas: finalidades, operações comerciais e remuneração dos dirigentes.

Sob o aspecto doutrinário e das suas finalidades, os dois tipos de organização apresentam similaridade de objetivos. A associação objetiva a representação dos interesses dos associados, entendidos pelo agrupamento ou reunião de pessoas para obtenção e realização de esforços em prol de resultados comuns (ideais) e de interesse geral, em benefício de toda a comunidade ou parte dela, sem finalidade lucrativa, para melhoria econômica, profissional, técnica, legal, política, social e cultural dos seus membros, conforme disposto no artigo 53 da Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

Art. 53: Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômico (Brasil, 2002).

A cooperativa objetiva, conforme definido no art. 3º da Lei n.º 5.764, de 16 de dezembro de 1971, representar os interesses dos cooperados em ações vinculadas ao consumo, produção, prestação de serviços, crédito e comercialização, viabilizando e desenvolvendo sua atividade produtiva.

Art. 3°: Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro (Brasil, 1971).

Percebe-se que a diferença central recai na essência e natureza dos objetivos. Enquanto a associação foca os interesses coletivos, comunitários e técnicos, a cooperativa é objetiva e direta para finalidades econômicas.

Com relação às operações comerciais, evidencia que a associação não pode ter, de imediato, proveito econômico dos produtos ou serviços dos associados. Porém, pode auferir renda para manter suas finalidades. O fundamento legal impede que a comercialização seja feita pela associação, cabendo única e exclusivamente ao associado. Porém, a cooperativa pode comercializar diretamente os produtos ou serviços dos cooperados, como, por exemplo, as cooperativas de leite.

A remuneração dos membros da diretoria das associações e das cooperativas é determinada pelos instrumentos legais. A direção da associação é composta por membros ou associados, que são impedidos legalmente de remuneração pelas suas atividades, apenas podendo receber reembolsos por despesas realizadas no exercício das suas funções. Por sua vez, a direção da cooperativa é remunerada por meio de retiradas mensais (pró-labore) definidas pela Assembléia Geral, não havendo relação de vínculo empregatício.

A seguir são apresentados os demais comparativos entre os tipos de organização: associação e cooperativa, conforme Quadro 5.

QUADRO 5: Comparação entre associação e cooperativa.

CRITÉRIO ASSOCIAÇÃO COOPERATIVA

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuação na

atividade produtiva/comercial

Legalização

Aprovação do estatuto em assembléia geral pelos associados. Eleição da diretoria e do conselho fiscal. Elaboração da ata de constituição. Registro do estatuto e da ata de constituição no cartório de registro de pessoas jurídicas da comarca. CNPJ na Receita Federal. Registro no INSS e no Ministério do Trabalho.

Aprovação do estatuto em assembléia geral pelos associados. Eleição do conselho de administração (diretoria) e do conselho fiscal. Elaboração da ata de constituição. Registro do estatuto e da ata de constituição na junta comercial. CNPJ na Receita Federal. Inscrição Estadual. Registro no INSS e no Ministério do trabalho. Alvará na prefeitura.

QUADRO 5: Continuação.

CRITÉRIO ASSOCIAÇÃO COOPERATIVA

Legislação Constituição (art. 5174, par. 2o.). Código Civil o., XVII a XXI, e art Lei 5.764/71. Constituição (art. 5o. XVII a XXI e art. 174, par 2o.) Código civil.

Patrimônio/ Capital

Seu patrimônio é formado por taxa paga pelos associados, doações, fundos e reservas. Não possui capital social. A inexistência do mesmo dificulta a obtenção de financiamento junto às instituições financeiras.

Possui capital social, facilitando, portanto, financiamentos junto às instituições financeiras. O capital social é formado por quotas-partes podendo receber doações, empréstimos e processos de capitalização. Representação

Pode representar os associados em ações coletivas de seu interesse. É representada por federações e confederações.

Pode representar os associados em ações coletivas do seu interesse. Pode constituir federações e confederações para a sua representação.

Forma de gestão

Nas decisões em assembléia geral, cada pessoa tem direito a um voto. As decisões devem sempre ser tomadas com a participação e o envolvimento dos associados.

Nas decisões em assembléia geral, cada pessoa tem direito a um voto. As decisões devem sempre ser tomadas com a participação e o envolvimento dos associados.

Abrangência / Área de Ação

Área de atuação limita-se aos seus objetivos, podendo ter abrangência nacional.

Área de atuação limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniões, podendo ter abrangência nacional.

Responsabilidades

Os associados não são responsáveis diretamente pelas obrigações contraídas pela associação. A sua diretoria só pode ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados.

Os associados não são responsáveis diretamente pelas obrigações contraídas pela cooperativa, a não ser no limite de suas quotas-partes e também nos casos em que decidem que a sua responsabilidade é ilimitada. A sua diretoria só pode ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados.

Contabilidade Escrituração contábil simplificada.

A escrituração contábil é mais complexa em função do volume de negócios e em função da necessidade de ter

contabilidades separadas para as operações com os sócios e com não- sócios.

Tributação Deve fazer anualmente uma declaração de isenção de imposto de renda.

Não paga imposto de renda sobre suas operações com seus associados. Deve recolher o Imposto de Renda Pessoa Jurídica sobre operações com terceiros. Paga as taxas e os impostos decorrentes das ações comerciais.

Fiscalização

Pode ser fiscalizada pela prefeitura, pela Fazenda Estadual, pelo INSS, pelo Ministério do Trabalho e pela Receita Federal.

Pode ser fiscalizada pela prefeitura, pela Fazenda Estadual (nas operações de comércio), pelo INSS, pelo Ministério do Trabalho e pela Receita Federal.

Dissolução Definida em assembléia geral ou mediante intervenção judicial, realizada

pelo Ministério Público.

Definida em assembléia geral e, nesse caso, ocorre a dissolução. No caso de intervenção judicial, ocorre a liquidação, não podendo ser proposta a falência. Resultados

financeiros

As possíveis sobras obtidas de operações entre os associados serão aplicadas na própria associação.

Após decisão em assembléia geral, as sobras são divididas de acordo com o volume de negócios de cada associado. Destinam-se 10% para o fundo de reserva e 5% para o Fundo Educacional (FATES)

A pesquisa objetivou identificar, junto aos entrevistados, os prós e contras da organização da APRP, em associação ou cooperativa. Nas análises dos discursos, percebe-se uma unanimidade pela opção da associação, justificadas por fatores, como o tipo de produtores (pequenos), aspectos culturais e conceito das cooperativas no mercado, notadamente com imagem ruim, utilização política, ineficiência gerencial e evidências de corrupção.

O entrevistado T3 concorda que a organização de pequenos produtores rurais em torno de associações tem ocorrido na agricultura familiar, em assentamentos e com produção familiar, e se caracteriza por uma tendência nacional:

Eu acho que, principalmente onde tem a agricultura familiar, trabalho com assentamento e com produtor familiar. Porque, na verdade, a indústria quer um produto de qualidade, gelado e para diminuir a questão do transporte. Olha, não tem jeito, tem que se associar (Relato

da entrevista – T3).

Continua o entrevistado T3, ao mencionar o movimento das associações em Juiz de Fora e na região:

Da cidade de Juiz de Fora, o conhecimento que eu tenho, assim, um pouco melhor, são as relacionadas ao Pró-Leite. Na região em torno de Juiz de Fora, em Lima Duarte, estão aparecendo muitas associações, associação de produtor de leite, principalmente trabalhando em volta de tanques comunitários. Esse é um processo que, a partir da Instrução Normativa, começou a crescer demais, ele forçou o associativismo. Nos últimos tempos, eu não me lembro de tanta organização de associação em torno de tanque comunitário como tem acontecido (Relato da

entrevista – T3).

Ainda na opinião do entrevistado T3, o fenômeno da organização em associações é uma recriação benéfica dos movimentos cooperativistas, quando