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Reconhece-se atualmente que há muitas crianças que durante o seu percurso escolar, atravessam fases nas quais sentem algum tipo de dificuldades. Uma das maneiras usadas pelas escolas para responder melhor aos alunos com necessidades especiais é introduzindo procedimentos de apoio ao trabalho individual de cada professor.

Este material debruça-se sobre as dificuldades que cada professor pode experimentar devido ao stress que lhe é imposto pelas mudanças do sistema educativo, procurando depois inventariar os meios de apoio disponíveis.

Stress e ensino

Apesar do stress ser um problema corrente das nossas vidas, dá-se muito pouca atenção à forma como aparece, a quais são os seus efeitos e a como pode ser ultrapassado. De facto, o conceito de stress do professor ou de esgotamento do professor origina em geral comentários irónicos e não uma discussão séria do problema. Deste modo, pode ser difícil para os professores admitir que estão numa situação de stress com receio de esta afirmação ser interpretada como sinal de aborrecimento ou incapacidade. Pode contudo ser falso considerar o stress como totalmente negativo, como uma experiência inevitavelmente prejudicial. Pode mais construtivamente, considerar-se o stress dos professores como a perceção de problemas ou solicitações que requerem a adoção de medidas para serem ultrapassados. Assim, o stress tanto pode encorajar o desenvolvimento de um melhor ensino, como ser contraproducente.

Há três formas de abordar o problema do stress. Em primeiro lugar é possível observar as pressões a que os professores estão sujeitos. Quer isto dizer que se admite que determinados acontecimentos são considerados como geradores de situações de stress. As origens ambientais do stress são de dois tipos - deficientes condições de trabalho e mudanças que alteram a natureza do trabalho. As condições de trabalho deficientes incluem recursos materiais inadequados, edifícios mal concebidos, salários baixos e escassas perspetivas de promoção.

As mudanças que alteram a natureza do trabalho podem ser de tipo organizacional a nível da escola, a nível regional (ou nacional) ou dever-se a alteração das expectativas do público, à introdução de novos métodos de ensino, à modificação de funções, etc.

A segunda abordagem de compreensão da origem do stress consiste em examinar as respostas dos professores a diferentes situ- ações de stress. Cada pessoa encontra formas diferentes de dar resposta aos mesmos problemas e o que serve para uma, pode não servir para outra. Contudo, é preciso dizer que nem todas as pessoas são capazes de enfrentar com êxito estas situações; daí que se possa desenvolver uma ansiedade que pode eventualmente conduzir à doença.

Finalmente, uma abordagem interativa pode explicar os efeitos do stress. Esta abordagem tem em conta não só os fatores ambientais mas também os aspetos positivos e negativos de cada professor.

Como se desenvolve o stress

Uma forma adequada de debater o stress do professor é identificar as diferentes etapas por que passam os professores, como resultado de reações cada vez mais negativas face a situações de stress. A sequência destas fases pode ser a seguinte: Primeira etapa

O professor, ao tomar consciência da premência das solicitações, recorre a soluções que conhece, novas ou já antigas, mobilizan- do todo o seu “saber fazer” profissional. Por exemplo, um professor posto perante a situação de uma criança que não aprende um novo conceito matemático, pede conselho a um colega e de acordo com ele incorpora um novo “saber fazer” na sua própria experiência profissional.

Segunda etapa

Como o professor não consegue nunca responder a todas as solicitações que lhe são feitas, começa a pôr em causa a sua própria competência. Continuando com o nosso exemplo - o professor pensa: “Deve ser por minha culpa que esta criança não aprende este novo conceito matemático”.

Terceira etapa

Um sentimento de fracasso prolongado pode conduzir a efeitos mais generalizados e causar até, o aparecimento de uma do- ença psicossomática. Desta análise depreende-se que por norma, não se encontrando uma solução eficaz na primeira etapa, solução encontrada pelo próprio professor ou resultante de uma intervenção externa, a frustração conduzirá à ansiedade que, por sua vez, originará a doença.

Fatores que geram o stress

Foram realizados vários estudos sobre as características das profissões que estão mais sujeitas ao aparecimento de stress. Estes estudos indicam que os seguintes fatores têm particular relevância em todas as profissões, quer estejam ou não relacionadas com a educação:

1 Ambiguidade e conflito de funções

Recentemente, tem-se debatido muito o papel da educação, das escolas e dos professores. Muitos pensam ter-se ampliado o papel do professor, sendo agora preciso não só saber ensinar determinada matéria mas sobretudo, saber como ensinar crian- ças. Levantam-se ainda questões de responsabilidade. Perante quem é o professor responsável: a criança, os pais, a escola, a comunidade, a sociedade?

2 Excesso de funções

Exigem-se ao professor maiores responsabilidades através das suas funções. Para além de ter de se adaptar a mudanças curri- culares e organizacionais que afetam a definição do seu papel, é-lhe pedido para alargar as suas funções a aspetos administra- tivos e de orientação dos alunos.

3 Interação entre diferentes tipos de organização

É evidente que os professores têm de relacionar-se com os outros colegas da escola que podem não só ter funções diferentes, mas também diferentes opiniões sobre o trabalho. Para além disso, os professores são parte de uma equipa multidisciplinar, trabalhando com colegas de outros estabelecimentos de ensino e com os pais, que podem também ter as suas ideias próprias sobre o que deve acontecer na aula.

4 Ser responsável por pessoas

Um aspeto comum a todas as profissões de caráter social é implicar trabalhar com pessoas. Este é também o caso do ensino, onde o professor pode ter de contactar muitas pessoas durante cada semana e provavelmente, de tomar decisões que irão in- fluenciar as suas vidas. Esta responsabilidade é acrescida por ter de prestar contas publicamente, sendo qualquer erro passível de inquérito.

5 Falta de participação

Ao nível da sala de aula, os professores sentem ter bastante autonomia no seu trabalho. Contudo, como controlar do que acon- tece lá fora? Podem tomar-se decisões importantes a nível da escola ou do governo, sem que os professores sejam ouvidos ou possam exercer sobre elas qualquer controlo.

Apoio aos professores

Tendo observado como o stress se desenvolve e os efeitos que pode ter, torna-se importante considerar as formas de enfrentar este problema. De forma geral, podem adotar-se duas atitudes: tomar medidas para reduzir o número de situações de tensão ou aplicar estratégias que tornem os professores capazes de enfrentar melhor os efeitos do stress. Estas duas abordagens são apresentadas a seguir.

Podem adotar-se muitas atuações destinadas a diminuir a possibilidade de aparecimento de situações de stress, embora – ain- da que fosse o desejável - nunca se possam eliminar completamente. Essas principais atuações podem ser agrupadas em três grandes categorias:

1 Pessoais

A resposta pessoal é a forma mais provável de reação ao stress; implica que os professores solucionem os seus próprios proble- mas, quer aprendendo a enfrentá-los, quer aumentando a sua competência profissional.

Aprender a enfrentar os problemas, implica desenvolver outros interesses ou passatempos, trocar impressões com amigos, cole- gas ou conhecidos, mas também criar distância em relação ao trabalho. Por seu lado, o aumento da competência profissional pode ajudar, tanto a aceitar pequenas mudanças administrativas, como aprender a dizer “não”. A aquisição desta competência é facilitada quando a escola assume a responsabilidade de proporcionar algumas possibilidades de formação em serviço. 2 Interpessoais

O professor deve ser capaz de falar com outros profissionais sobre as suas preocupações sem se sentir ameaçado ou diminuí- do. O desenvolvimento do trabalho em equipa pode também ajudar a apoiar os professores de uma escola, desde que suscite sentimentos de respeito e confiança mútuos. Neste caso, as reuniões de equipa podem centrar-se na resolução de problemas, permitindo partilhar dificuldades e examinar diversas possibilidades de solução.

3 Organizacionais

Esta forma de apoio é intencionalmente organizada pela escola a fim de diminuir os possíveis efeitos do stress. Pode ser desig- nada por “Sistema Estruturado de Apoio”. É o aspeto que vamos apresentar a seguir.

Sistemas estruturados de apoio escolar

É talvez prudente admitir que um clima de trabalho em equipa promovido através da partilha de conhecimentos e experiências, não acontece sem um esforço deliberado por parte dos órgãos de gestão da escola. Tem de ser feito para que aconteça. Do mesmo modo, a forma como os professores se relacionam entre si é um fator determinante dos sistemas de apoio nas escolas, facilitando um clima que encoraja os colegas a partilhar as suas preocupações em vez de as guardar para si próprios.

Podem indicar-se pelo menos, três formas de organizar sistemas de apoio:

• Uma escola pode decidir funcionar por equipas, organizadas quer pela proximidade das salas de aula, quer pela afinidade das matérias curriculares. Recorre-se então a um programa de assistência a aulas, de intercâmbio entre professores ou de debates a partir de vídeos, para criar um clima de confiança que facilite a discussão de aspetos suscetíveis de levantar dificuldades. • Pode constituir-se na escola um grupo voluntário de “autoapoio”. Este grupo identifica os aspetos a ser discutidos e decide que cada membro do grupo exponha rotativamente um aspeto da vida da escola que lhe interesse particularmente.

• Uma solução mais formal consiste no “grupo encarregue da resolução de problemas”. Este grupo disporá de linhas de orien- tação cuidadosamente definidas para que a discussão dos problemas de cada criança permita simultaneamente dar apoio à criança e a cada professor. O grupo observa a incidência dos problemas da criança, com quem ocorrem mais frequentemente, quais os professores que se dão bem com ela, como vê a criança o seu problema e depois, enquanto grupo e em conjunto, deci- de o que deve ser feito. As ações decididas são analisadas depois de decorrido um determinado período de tempo previamente acordado, e todo o grupo se volta a reunir para decidir o que fazer em seguida.