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4 CAPÍTULO 03 – COMUNICAÇÃO PÚBLICA E OS CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS ESTUDO DO CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE DE

7- Comissão de Comunicação – Deliberações restritas a eventos previstos pelo

4.9.5 Apontamentos específicos sobre Natureza da informação

É importante apontar que não se pode falar da disputa por sentido e pelos fluxos informativos sem considerar a rede social da comunicação pública (MATOS, 2009a). Em se tratando do controle social da política de saúde, são inúmeros os atores e sujeitos que se organizam em esferas públicas para participar das ações envolvendo essa política pública.

A disputa, no que configuramos como arena central (o plenário do conselho), começa na organização e nas relações estabelecidas nas esferas características de cada segmento, conforme identificamos na figura 02, para o caso específico do Conselho Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul.

Destacamos o Fórum dos Usuários do Sistema Único de Saúde de Mato Grosso do Sul como espaço politicamente representativo do segmento de usuários, diversificado em sua composição ao reunir lideranças comunitárias e de organizações da sociedade civil e representantes de movimentos sociais. Há ainda o Fórum dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Mato Grosso do Sul reunindo as representações sindicais e corporativas das principais categorias profissionais que prestam serviços na rede de saúde.

Identifica-se também o espaço que reúne o segmento de gestores públicos, como os secretários de saúde e gestores prestadores de serviços, responsáveis pela gestão de hospitais e serviços de saúde que não são em sua totalidade do sistema público governamental; ao contrário, compreendem fundações, associações hospitalares vinculadas a organizações civis que recebem repasse de recursos do Sistema Único de Saúde para prestar serviços.

Consideramos ainda como esferas que estabelece interface com o Conselho Estadual de Saúde, as esferas midiáticas compostas pelos sistemas de mídia produtores de informação sobre a área e a política de saúde.

A dimensão do Sistema Único de Saúde (SUS) em diferentes níveis faz com que a política pública para essa área seja ampla, abrangendo diversas áreas, como saúde do trabalhador; questões específicas como enfrentamento ao HIV/AIDS; saúde de populações específicas como adolescentes, indígenas, mulheres e ações voltadas a públicos em situações peculiares como presidiários.

Para cada tema ou grupo a ser atendido pela política de saúde existe uma rede de outros conselhos gestores de políticas públicas ou comissões temáticas formadas com a participação de governos e sociedade civil formados para tratar dessas questões, grupos ou temas específicos. É o caso da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador; Comissão do Programa de DST/AIDS; Conselhos Gestores da Criança e do Adolescente; Conselhos de Direitos da Mulher e inúmeras outras instâncias especializadas que estabelecem diálogo com a esfera decisória do Conselho Estadual de Saúde.

No campo da Gestão, identificam-se as denominadas Comissões Intergestoras Bipartites (CIBs), que reúnem gestores estaduais e municipais para pactuar decisões sobre a gestão do Sistema Único de Saúde. Nessa lógica, estão as Mesas de Negociação (no âmbito estadual e municipal), esferas em que gestores e trabalhadores solucionam conflitos e demandas envolvendo relações de trabalho.

Em linhas gerais, todas essas esferas com dinâmicas muito próprias convergem para o conselho, a partir de um fluxo permanente de informações que se transformam em pauta de discussões no colegiado.

Pensando no papel que a dinâmica de gestão dos fluxos assume na apropriação do potencial da informação pública e na definição dos ritos e dos debates que respondem pela produção de decisões nos conselhos, conforme apontado, torna-se necessário saber quais as esferas públicas e as redes de sujeitos/atores (PITTA, 1995) que participam dessa disputa pela informação e sua lógica de circulação.

Se as práticas sociais de sujeitos que disputam a política de saúde partem da compreensão do investimento como a colocação de sentido no espaço-tempo sob a forma de processos discursivos, as relações para o exercício do poder estão condicionadas a formações espaço-temporais operadas pela dinâmica do espaço-tempo dos fluxos informativos que são produzidas, sistematizadas e difundidas entre e por meio das esferas públicas formadas no entorno do próprio Conselho Estadual de Saúde.

O mapeamento dos fluxos que permitem saber por onde circulam as informações públicas que ocupam e organizam o ritual deliberativo do Conselho Estadual de Saúde aponta para uma rede complexa e heterogênea de atores, interesses e esferas públicas que se entrelaçam convergindo/divergindo para agendar e, posteriormente, inserir-se no processo deliberativo do conselho.

A disputa pela produção de sentido às informações (e nem sempre pelo acesso) e pelo controle e meios de legitimidade para os fluxos informativos entre as esferas públicas ligadas ao Conselho são capazes, nessa dimensão das dinâmicas entre os atores, de ocupar o rito deliberativo a favor de um ou outro segmento.

Às vezes, a gente vai fechado com um tema para o conselho e a gestora vem e dá uma outra conotação, ela faz um outro tipo de convencimento. Se nós falamos “não, nós vamos votar contra isso aqui”, ela faz outro tipo de convencimento, de esclarecimento. E de repente a gente muda de opinião também (...) Ela (gestora) presta contas. Às vezes, ela presta contas de alguma informação mais nova do que aquilo que a gente estudou. De repente, a gente está fazendo uma discussão aqui, mas ela tem que provar, que não é assim, que não pode ser assim... ela vem com uma outra informação mais nova, que já é o outro processo, que já aconteceu. Por isso que eu to falando, a falta de informação, para nós, é muito complicada. (CONSELHEIRA ENTREVISTADA A)

Não se pretende no estudo identificar como a interferência de cada um dos sujeitos nos seus respectivos espaços impacta nas deliberações realizadas pelo Conselho Estadual de Saúde porque cada pauta em discussão envolve uma correlação de forças específicas que nem sempre se mantém na decisão seguinte do colegiado.

No entanto, a força de cada esfera pública nas disputas no interior do conselho tem vínculo com o que são capazes de produzir, organizar, em se tratando de informação, e na capacidade de se apropriar da dinâmica de circulação a partir da relação com outras esferas.

O caso representativo, identificado em estudo dos documentos do Conselho, aponta para a inserção na agenda da esfera midiática de problemas envolvendo o maior hospital público do Estado pela ação de um segmento de conselheiros. Essa atuação foi decisiva para trazer ao espaço do conselho o problema da rede hospitalar estadual, apressando o processo de discussão no interior do Conselho.

A capacidade que os atores das esferas públicas têm de inserir informações no tempo e espaço dos fluxos, que circundam e perpassam o conselho, significa condições de agendamento e enquadramento do debate sobre o tema na perspectiva do grupo ou segmento interessado em um imprimir determinado viés para as discussões no colegiado.

A possibilidade de organizar, produzir e difundir informações de determinada esfera também imprime ritmo ao processo deliberativo. A questão é saber qual esfera e atores detêm habilidades e recursos para operar esse processo de gestão de informação e dos processos comunicativos na arena decisória que envolve o Conselho, quando há uma política organizada sob por uma perspectiva pública.

Sobre essa questão específica, registra-se que essa organização segue o ritual burocrático sob o discurso legítimo da legalidade, dos prazos, hierarquias, competências e atribuições institucionalizados nas organizações públicas. A burocracia como discurso orienta, na ausência de políticas para regular, coordenar a produção, sistematização e distribuição de informações entre as esferas que disputam o espaço decisório do conselho, a lógica dos fluxos informativos, seja para interrompê-los ou potencializá-los. O destaque é para o caso representativo pelos contornos dos tradicionais embates entre o dizer competente e a ‘fala experienciada’.

(...) a Secretária Executiva do CES leu um e-mail que veio endereçado ao ex- Presidente do Conselho tratando sobre irregularidades, falta de atendimento e má administração do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora de Três Lagoas. O Pleno decidiu que a denúncia seja repassada à Ouvidoria e para a Mesa Diretora do Conselho Estadual. A Conselheira de Campo Grande e Presidente eleita do FUSUS (Fórum Usuários do SUS), Cleonice Alves, disse que a casa fica na entrada lateral da Santa Casa e não são só pacientes, mas também pessoas doentes são deixadas naquele local, inclusive parentes seus já estiveram ali, o local se parece com um depósito e não tem nenhuma infra-estrutura. O Conselheiro Disvaldo disse que essa denúncia de Três Lagoas deve ser encaminhada para a Auditoria Estadual e para o DENASUS. A Conselheira Edelma Lene Peixoto Tibúrcio (segmento gestor) disse que a sistemática funciona da seguinte maneira: a Ouvidoria é quem recebe a denúncia e encaminha para a Auditoria. A Auditoria encaminha para o DENASUS, portanto não cabe a nenhuma Comissão do Conselho tratar essas denúncias antes desse procedimento padrão. Olin Delmar afirmou que entende que seria interessante uma consulta ao CRM (Conselho Regional Medicina) para verificação se tais denúncias não infringem o Novo Código de Ética Médica.O Pleno decidiu que a proposta da Conselheira (segmento gestor) não inviabiliza a proposta do Conselheiro Olin Delmar e que ambas serão encaminhadas. (ATA da 238 ªREUNIÃO ORDINÁRIA, 2010)