• Nenhum resultado encontrado

O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA

No documento Educação Ambiental. Prof.a Eliane Dalmora (páginas 111-121)

MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Os educadores ambientais precisam estar preparados para utilizar os mais diversos materiais que o cotidiano nos apresenta, explorando a sua diversidade de forma crítica. Ao estar atentos a aspectos da cultura popular e de outros elementos que provenham do contexto do educando terá estudantes motivados na busca de sua própria aprendizagem. São muitas atividades que tem despertado a atenção dos educandos no campo da educação ambiental: campanhas educativas, gincanas ecológicas; eventos ecológicos (como seminários, feiras e oficinas); mutirões, festas, concursos, caminhadas e trilhas, programas de rádio e jornais escolares, entre outros.

Estas atividades não podem se restringir a um momento do espaço da escola em que o professor interrompe a continuidade dos conteúdos para organizar um evento sem relacionar a temática tratada com o cotidiano escolar. Mesmo que a instituição de ensino tenha incluído este evento no calendário a Educação Ambiental não se resume a estas ações pontuais, ao contrário a atividade precisa ser planejada como parte de um envolvimento dos educadores e da comunidade escolar mais ampla. No ato de organização do currículo as atividades lúdicas sustentam o foco de interesse do educando pela escola sempre se for considerado cada momento de aprendizado das crianças, adolescentes e adultos.

2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO EDUCANDO

Na perspectiva piagetiana de educação, o desenvolvimento da inteligência no indivíduo ocorre nas ações e nas percepções, nas imagens e na linguagem. O desenvolvimento é um processo adaptativo que se estende da adaptação biológica para a adaptação psicológica seguindo estágios sucessivos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.robertexto.com/archivo5/teoria_construtivista.htm>. Acesso em: 26 ago. 2011.

Cada estágio integra as aquisições anteriores e as reorganiza dentro de um contexto mais amplo, e assim as aquisições sensoriais da primeira e da segunda etapa de desenvolvimento se mantêm nos adultos, mas submetidas ao controle do pensamento formal.

Nesta concepção piagetiana, a educação é formada por sujeitos que não se limitam a experimentar as influências do ambiente de forma passiva, mas ativamente busca a informação e elabora a conduta. Sempre é um ato de conhecer e transformar a realidade, e esta transforma a si mesmo e reelabora. Cada indivíduo apresenta uma motivação interna de busca do saber e desenvolve os seus próprios mecanismos de recompensas, os quais se sucedem de modo evolutivo e por etapa, respeitando os tempos cíclicos de cada idade.

Jean Piaget evidenciou regularidades traduzidas em estágios sucessivos de desenvolvimento que iniciam a partir do nascimento e vão se sucedendo até a adolescência. Também percebeu que estes não ocorrem meramente através do acúmulo de conhecimento (como ato de apreender para aprender), mas sim do desenvolvimento das estruturas de pensamento (ato de desenvolver). Porém, tais estágios não são delimitados de forma rígida, mas seguem variações individuais, nem sempre de superação clara entre um estágio e o seu subsequente. Conforme argumento central do autor, o desenvolvimento infantil é um processo temporal por excelência. O tempo é apresentado na sua dimensão de duração: enquanto invariável na aquisição das estruturas e operações cognitivas e enquanto ritmo - podendo modificar conforme a velocidade com que a maturidade ocorre em cada pessoa, dadas pela herança genética, a experiência física individual com os objetos e a transmissão social. (GARCIA; FERNANDEZ; MENDELLÍN, 2007).

NOTA

Para aprofundar o conhecimento desta abordagem na educação sugiro a leitura do livro: LA TAILLE, Yves D.; OLIVEIRA, Marta; DANTAS, Heloisa. Piaget, Vygostky, Wallon, teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Ed Summus, 1992.

É na fase denominada pela escola piagetiana de Pré-Operatória que há o desenvolvimento da função semiótica com o uso crescente dos símbolos e signos, no domínio da linguagem. Já, no estágio das Operações Concretas da idade escolar, dos 7 aos 12 anos, ocorrem as operações mentais que permitem resolver problemas lógico/matemáticos como a classificação; constituem inferências características do raciocínio lógico.

terá uma avaliação mais pormenorizada do todo e sua composição em partes, retornando ao todo através das partes.

Nessa fase, ocorre a sistematização e a estabilidade de muitas noções relacionadas aos objetos, tendo como referência o sujeito.

É uma fase muito importante, pois, é nela que ocorre o preparo para a alfabetização. Tudo aquilo que ela representou através da linguagem oral e de desenhos, assume novas formas quando lida com essa nova representação.

Neste período operatório a criança passa a dissociar a ação da expressão oral: passa do conceito falado ao conceito escrito e lida com operações matemáticas.

FONTE: Disponível em: <www.cefac.br/library/teses/6cebb2f37b7aaf0d8cf301c0a0630edc.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2011.

A criança distingue o desenho e a escrita fazendo uso de sinais gráficos para reproduzir letras, realiza a ordem linear dos elementos gráficos na escrita.

Mas como a Educação Ambiental se concretiza nesta fase de alfabetização? Primeiramente, é necessário identificar nas crianças as representações sociais de meio ambiente, utilizando o lúdico como base de dados e como forma de despertar e cativar o interesse da criança pela temática.

Através da representação visual dos desenhos, teatro e redação podemos envolver as crianças de forma intensa e assim, resgatar sua compreensão de mundo. As relações indivíduo/sociedade resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural, através da informação simbólica da linguagem e as vivências provenientes do meio cultural em que ela está inserida. Assim ao proporcionar excursões e observações na realidade local (um riacho próximo ou uma praça) se está despertando a criança para conhecer e pensar o mundo em que se insere.

Num primeiro momento do desenvolvimento, o pensamento da criança continua centrado no seu próprio ponto de vista. Representam a imagem da realidade que lhes é aparente, ora romanticamente bela e ordenada, ora drasticamente contaminada e caótica. Na perspectiva construtivista cabe ao educador ambiental proporcionar à criança o sentido da observação, valorizando a percepção lúdica e sensitiva, sem se preocupar em trazer conceitos predefinidos situadas em problemáticas complexas e abstratas.

Com o desenvolvimento a criança passa a ter noção de tempo, espaço e ordem; é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Já compreende regras e as cumprindo, não mais se limita a uma representação imediata do mundo concreto; pode chegar à abstração e consegue representar uma ação.

Neste período, a criança está em constante formação estrutural da ideia, dá significado à realidade vivida. Cabe ao educador oportunizar as experiências de convivência com a natureza. As aulas de ciência se compartilhadas em ecossistemas, hortas, pomares, praças implicarão em afetividades e conhecimento da natureza.

Gradativamente, utiliza-se de forma coerente e fluente da linguagem para acompanhar e apoiar seu raciocínio. Passa então a coordenar mentalmente mais de uma relação, justificando suas respostas e baseando-se em argumentos lógicos. Consegue assimilar o objeto que é percebido, separando as partes (elementos, propriedades ou relações) do todo, compreendendo de forma mais coerente e ágil. Nesta etapa a dimensão da problemática ambiental pode então ser pedagogicamente tratada. São problemas comuns, nos campos e nas cidades, tais como: poluição, biodiversidade erosão, doenças hídricas e perda dos benefícios múltiplos que o recurso hídrico pode oferecer (nadar, pescar, beber água, lavar e outros).

Somente, então se avança para as explicações de causas, consequências e a busca de responsabilidades. Convêm domínios do campo filosófico, político e social para evitar possíveis simplificações e posicionamentos normativos, característicos de uma educação acrítica, que prefere atribuir culpados à essência do homem genericamente definido, destituído de uma racionalidade e de um “espírito de bondade”. Propõem saídas baseadas em comportamentos individuais e ações pontuais, nada condizentes com a complexidade das questões ambientais. Ao se direcionar a Educação Ambiental para respostas apressadas e justificativas simplificadoras impede-se de realizar uma verdadeira alfabetização ecológica, formadora de sentidos expressos em dramatizações, poesia, literatura, práticas de laboratório, descobertas do universo e da dinâmica da natureza.

Construções gramaticais específicas relatando a dramatização, como ponto específico introduzem o cotidiano no sentido real da paisagem local, de modo a expressar o sentido e atingir os alunos para a contribuição na formação de cidadão e de profissionais docentes mais informados e comprometidos com ações que promovam a conscientização da preservação, conservação, recuperação ambiental como forma de garantir às gerações futuras desenvolvimento com qualidade de vida, surge como proposta conteúdo da dramatização no que se refere à EA que informalmente pretende desenvolver.

3 ATIVIDADES DE SENSIBILIZAÇÃO E INTERVENÇÃO NA

REALIDADE

Fazem parte da proposta de sensibilização da comunidade em geral frente a um problema ambiental evidente e abrangente, com potencial para originar risco de saúde pública e comprometimento da integridade dos ecossistemas locais. As campanhas podem envolver temáticas, como:

• Denúncias contra desmatamentos, queimadas, ocupações de áreas de preservação permanente, caça predatória, maus tratos com animais e perda da biodiversidade local.

• Esclarecimento quanto a riscos ambientais tanto no que se refere a riscos individuais como alimentação e saúde do trabalhador, quanto a riscos coletivos como a questão nuclear.

• Deposição irregular do lixo doméstico com coleta seletiva.

• Programas de envolvimento comunitário e empresas na conservação de recursos naturais no estilo “Adote uma árvore”, “adote uma praça”.

• Mutirões de limpeza de rios e terrenos, visando expor o problema da deposição irregular dos resíduos sólidos, os riscos para a saúde, a fauna e flora e a poluição visual.

• Combate a zooneses devido ao uso indevido dos recursos hídricos como depósito, o descuido com animais domésticos e a geração de focos de contaminação provenientes da deposição no ambiente de resíduos sólidos e esgoto cloacal.

As experiências, neste campo, têm demonstrado que a escola pode desencadear estas ações, mas se fortalecem quando ocorrem parcerias com empresas associações de moradores, prefeituras e ONGs. É importante que educadoras(es) estejam atentos(as) quanto à forma como será a participação das turmas de estudantes, observando a integração dos conteúdos com as temáticas, de modo reflexivo e de acordo com o estágio de desenvolvimento do educando.

Adolescentes e crianças terão diferentes envolvimentos nas campanhas, o que poderá trazer resultados significativos para a aprendizagem ou não. Os riscos da atividade não ter êxito é maior quando o planejamento da campanha for realizado de modo não participativo. A mesma observação se estende para o respaldo na comunidade. O esclarecimento inicial dos envolvidos é uma etapa imprescindível, mais do que a própria campanha em si. O apoio de profissionais da área da educação pode ser fundamental. Para divulgar a campanha é necessária a preparação de folhetos, cartazes, palestras e o apoio da imprensa local.

3.1 DATAS COMEMORATIVAS E EVENTOS

Os eventos relacionados com as datas comemorativas, se incluídos na rotina dos educadores podem ser mais um espaço para tratar de temas específicos. Esta ação tem importância quando o tratamento da questão não se restrinja a este dia homenageado.

O ideal seria correlacionar as datas com os acontecimentos da sala de aula para não fragmentar conteúdos ou gerar a impressão de descontinuidade do problema. São muitas datas: controle da poluição por agrotóxicos, turismo ecológico, datas comemorativas ao dia mundial da água, conservação do solo, índio, caatinga, mata atlântica, meio ambiente, combate à poluição, pela limpeza da água, limpeza de praias, mares, oceanos, árvore, cidade sem meu carro entre outras. A escola precisa se planejar para decidir em quais destas datas vai realizar ações ou como o fará de modo a garantir seu papel educativo e as atribuições quanto à sistematização dos conhecimentos e organização dos estudos dos educandos.

Eventos que envolvam a comunidade escolar são importantes para o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental. Podem ser propostas atividades que promovam uma reflexão sobre as questões ambientais, através da formação de grupos de alunos com trabalhos como: reciclagem, arte a partir dos resíduos sólidos, jornal ecológico, painéis, cartazes e maquetes, manejo de culturas e debates sobre problemas ambientais da comunidade. Os temas poderão ser resultados de atividades de grupos, envolvendo várias disciplinas e os estudantes.

3.2 A MÚSICA, A ARTE E A LITERATURA NO APRENDIZADO

A sala de aula precisa sair da sua rotina de quadro, conteúdo, apresentações de data show e exposição oral sempre demandando do estudante o silêncio, a repetição e a anotação. Assim o espaço da sala de aula torna-se como um local frio e distante da capacidade criativa e exuberante que vive o adolescente. Uma das formas de tornar mais estimulante o ensino das ciências ambientais é aproximando mais intrinsecamente o professor e o aluno com o uso da música, a literatura, poesia, fotografias, pinturas que retratam e instigam a reflexão sobre as temáticas socioambientais.

Mais especificamente através da música temos uma possibilidade de despertar a curiosidade, imaginação e integração do ser. Através do canto, a interpretação, os aplausos a sala de aula perde sua monotonia característica e são estimulados os domínios da leitura e da interpretação. Constitui-se numa forma de refletir sobre as questões da realidade e estimulando para que o educando se torne um sujeito mais crítico em suas escolhas pela vida.

Temos o desenvolvimento socioafetivo em que o estudante se identifica com grupos que traduzem suas linguagens e se descobre com os outros, melhorando sua socialização e seu sentido de pertencimento com a comunicação e a descontração. Atividades musicais desenvolvidas em grupos favorecem a afetividade, a participação e a autoestima do educando.

UNI

INDICAÇÃO DE LEITURAS!

Veja a obra Não verás país nenhum de Ignácio Loyola Brandão. Uma obra que pode ser trabalhada em conjunto com o professor de literatura. Pode instigar uma série de discussões por apontar de modo realístico situações decorrentes do aquecimento global, da poluição e de segurança alimentar. Também leva ao questionamento sobre as consequências políticas e sociais de uma sociedade sujeita a situações de derradeira crise ecológica. Para ajudar esta reflexão são interessantes os filmes: Home – Nosso Planeta, Nossa casa de Yann Hartus Bertrand; O dia depois de amanhã de Roland Hemmrech e O Dia seguinte de Nicholas Meyer. Todos estes temas são salutares para gerar um debate sobre as questões ambientais do mundo contemporâneo. Já, a obra de José Saramago Ensaios sobre a Cegueira retrata a suscetibilidade do ser humano quanto ao sentido da visão, faz uma crítica aos valores sociais quando sem os sentidos tudo pode ser ocultado, inclusive no que se refere aos hábitos de higiene e da sexualidade. Neste caso, também há o filme de mesmo nome dirigido por Fernando Meirelles.

São muitas as músicas que podem ser introduzidas em sala de aula, visando desenvolver a sensibilidade quanto à questão ambiental. Entre elas destacamos as seguintes: Luiz Gonzaga com Xote Ecológico, A volta da asa branca, Assum preto, Asa Branca e Boiadeiro; Legião Urbana com Índios; Roberto Carlos com As Baleias, Progresso; Guilherme Arantes com Planeta Água; Cio da terra com Milton Nascimento e Beto Guedes com O Sal da terra.

RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você teve oportunidade de estudar os seguintes assuntos: • Na perspectiva piagetiana de educação o desenvolvimento da inteligência no

indivíduo ocorre nas ações e nas percepções como um processo adaptativo que se estende de modo sucessivo da adaptação biológica para a adaptação psicológica.

• As motivações do educando para o aprendizado é interno e depende de sua interação com a realidade. Porém, há estágios que se sucedem temporal e se repetem no desenvolvimento cognitivo dos e entre os indivíduos.

• A velocidade com que o desenvolvimento acontece depende das situações de crescimento individuais.

• O desenvolvimento foi categorizado por Piaget nas seguintes fases: pré- operatória (linguagem oral e imagens), operações concretas (linguagem escrita, símbolos, cálculos).

• Nesta fase, a EA pode realizar interações usando linguagens das artes e literatura, das observações em contato direto da criança com a natureza o que implicarão em afetividades e conhecimento efetivo.

• Com o desenvolvimento a criança passa a ter noção de tempo, espaço e ordem; é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade.

• Passa então a coordenar mentalmente mais de uma relação, justificando suas respostas e baseando-se em argumentos lógicos. Nesta etapa a dimensão da problemática ambiental pode então ser pedagogicamente tratada e se avança para as explicações de causas, consequências e a busca de responsabilidades.

1 Como ocorre o desenvolvimento da inteligência na perspectiva piagetiana? Quais são e em que consistem os estágios de desenvolvimento?

2 Quais as contribuições da abordagem piagetiana no planejamento da Educação Ambiental, em cada estágio de desenvolvimento do estudante? 3 Enumere um conjunto de exemplos de questões ambientais que podem

despertar o interesse da comunidade em geral para o aprendizado e o engajamento.

4 Como gerar ações educativas que se estendem pela comunidade do entorno gerando um movimento pedagógico amplo de adultos e crianças?

5 Qual a importância da música, a arte e a literatura para a Educação Ambiental?

6 Dê exemplos e caracterize os materiais literários e músicas que podem contribuir para gerar o aprendizado nas temáticas ambientais.

No documento Educação Ambiental. Prof.a Eliane Dalmora (páginas 111-121)

Documentos relacionados