• Nenhum resultado encontrado

A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL

No documento Educação Ambiental. Prof.a Eliane Dalmora (páginas 39-47)

PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Não nasci marcado para ser professor assim. Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos. Não importa se com eles estava de acordo ou não. [...] Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social que tomamos parte. (FREIRE, 1983, p. 87).

Neste tópico serão apresentadas sugestões para o exercício do educador ambiental, que inicia seu trabalho no planejamento educacional e avança com a sua inserção tanto na política pública, como na gestão empresarial. Sua atuação pode ser diferenciada se engajada e articulada de modo participativo e cooperativo, assim propiciando ações coletivas propensas a resultados ampliados.

Observe que o educador engajado na promoção de novos ideários, que visa motivação dos sujeitos para a participação, precisa assumir uma postura que vai além do simples repasse de informação ou de quem realiza a formação. O educador age como um facilitador dos processos de ensino aprendizagem, na medida em que visa o efetivo envolvimento e compromisso do educando na busca pelo conhecimento e vivência de novas experiências de vida e de relacionamento com o mundo.

2 A POLÍTICA, GESTÃO E ENGAJAMENTO PROFISSIONAL

NA PROMOÇÃO DA EA

A Educação Ambiental está mais propriamente inserida na proposta de gestão ambiental integrada, ou seja, no planejamento participativo que integra os aspectos físicos, químicos e biológicos com os aspectos socioeconômicos. Constitui-se a leitura dos modos de apropriação social dos recursos naturais, numa perspectiva sistêmica.

O PRONEA (BRASIL, 2010) sugere as seguintes formas de atuação para o educador e o gestor ambiental:

• influenciando no planejamento das políticas públicas, participando dos espaços participativos (conselhos, fóruns comitês etc.);

• promovendo a transversalidade da questão ambiental, disseminando-a nos diferentes setores da gestão pública e privada (secretarias de obras, turismo, saneamento, saúde, educação, urbanismo, agricultura, indústria e comércio); • construindo e implementando a Agenda 21, nas mais diversas esferas de

atuação (município, escolas, nações e regiões);

• estimulando a formação, qualificação e aperfeiçoamento em Educação Ambiental dos trabalhadores e da população em geral;

• realizando diagnósticos socioambientais, inserindo matrizes de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais gerados pelos empreendimentos.

Nesta perspectiva, ao atuar com adultos, o gestor ambiental é o facilitador dos processos de ensino-aprendizagem, para instituir mudanças significativas nas relações sociedade/natureza. O facilitador tem a tarefa de motivar os participantes para que se responsabilizem por sua própria experiência de aprendizagem, garantindo, assim, a autonomia na busca da aprendizagem após o momento da capacitação.

A aprendizagem não é apenas resultado do esforço de quem ensina, mas, de antemão, depende da vontade de aprender. Portanto, a primeira tarefa do educador é motivar o educando para a busca da aprendizagem. A aprendizagem é resultado de um desenvolvimento autônomo, no qual os capacitadores podem colaborar como facilitadores e mediadores desta busca.

Já, para o educador ambiental que trabalha em instituições de ensino, suas ações consistem em:

• colaborar no planejamento dos projetos políticos pedagógicos, de modo a contemplar a educação ambiental conforme a legislação;

• promover a transversalidade da questão ambiental no currículo contribuindo com a capacitação dos educadores e na elaboração de projetos integrados com as mais diversas áreas do conhecimento e a troca de experiências entre os educadores e assim, estimulando a formação de coletivos de educadores;

• viabilizar a participação e automobilização dos jovens e crianças para com as questões ambientais emergentes, em especial as relacionadas diretamente com a sociedade local;

• estimular a formação, qualificação e aperfeiçoamento em Educação Ambiental dos trabalhadores e da população em geral, quando atua nos cursos profissionalizantes ou de formação universitária.

3 OS COLETIVOS JOVENS

Em 2003, o Ministério do Meio Ambiente lançou a campanha Vamos Cuidar do Brasil, com a Conferência Nacional do Meio Ambiente, reunindo jovens e infantojuvenis de dezesseis mil escolas, das mais diversas procedências do país. A Conferência primou pelo processo participativo das comunidades e das escolas, elaborando uma proposta de política ambiental de caráter sistêmico, inter e multidisciplinar; com estratégias de gradativa implementação tanto para a educação presencial com a difusa e a distância.

Com este programa, o MEC passa a atuar para além da formação de professores do Ensino Fundamental (com ênfase da 5ª à 9ª série) e na elaboração de materiais didáticos. Um dos programas mais amplos de educação não formal, previstos na política nacional, foi desencadeado com a juventude. Em todos os estados foram criados os Coletivos Jovens (CJ) de Meio Ambiente, com o objetivo de criar instrumentos de gestão para a afirmação cidadã. Motivados, os grupos organizados ou indivíduos se colocam num movimento autônomo e horizontal, por fomentar o empoderamento e a participação do segmento jovem nas ações relacionadas com as questões socioambientais emergentes

Os coletivos são espaços de interlocução, implementados pelo MEC, MMA e Secretaria Nacional de Juventude; coordenados por educadores locais que estimulam a mobilização de adolescentes para a realização da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente.

Foi realizada uma conferência em 2003, envolvendo 5.658.877 estudantes e professores, 15.452 escolas. Como resultado foi elaborada a Carta Jovens Cuidando do Brasil, a criação da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas-Com-Vidas, do Programa Vamos Cuidar do Brasil e a criação dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente.

FONTE: Adaptado de: <http://www.scribd.com/doc/56976518/12/A-Conferencia-Nacional-Infanto- Juvenil-pelo-Meio-Ambiente-representa-um>. Acesso em: 23 ago. 2011.

FIGURA 3 – PROGRAMAS INTEGRADOS DE EA QUE VISAM CAPACITAR E FORTALECER GRUPOS DE EDUCADORES E EDUCANDOS

PRESENCIAL Formação Continuada

Material Didático

DIFUSA Conferências de Meio Ambiente nas escolas

Mobilização AÇÕES ESTRUTURANTES COM-VIDAS Coletivos Jovens A DISTÂNCIA Rede de Educação para a Diversidade ED UC AÇ ÃO AMB IENTAL N AS ESCOL AS

FONTE: Disponível em: <www.mma.gov.br/propostasdasescolas>. Acesso em: 20 jan. 2011.

Os coletivos jovens fazem parte de programas integrados de Educação Ambiental nas escolas que incluem programas de formação continuada, com a organização de material didático:

a) visando à formação continuada;

b) a formação de uma rede educação para diversidade na categoria da educação à distância;

c) ações estruturantes COM-VIDAS que originam os coletivos jovens;

d) as conferências de Meio Ambiente nas escolas de abrangência difusa (Figura 3). Com a intenção de construir um processo permanente de Educação Ambiental na escola e na comunidade, o programa contemplou quatro dimensões: 1 Capacitação: que consistiu em programas de formação de educadoras(es)

ambientais e educandos (coletivos jovens) para a participação.

Em 2005, foi realizada a II Conferência. Na ocasião foi elaborada a Carta das Responsabilidades – Vamos Cuidar do Brasil, que contribui para o Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas e reafirma a importância dos coletivos. A carta é um manifesto de compromisso dos jovens com a construção de uma “sociedade justa, feliz e sustentável” e com “responsabilidades e ações cheias de sonhos e necessidades”. (HENRIQUES; TRAJBER; MELLO; LIPAI; CHAMUSCA, 2007).

3 Organização social : constituição de Conselhos de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas, estabelecendo o controle social da Educação Ambiental na escola e a implementação da Agenda 21 Escolar, dando suporte a atividades curriculares e extracurriculares das escolas.

4 Pesquisa-ação: incentivo a projetos de pesquisa comprometidos com a implementação de ações de transformação da realidade, unindo os conhecimentos aprofundados, os resultados de pesquisas locais e potencializando a ação das ONGs de um mesmo território, com vista à construção de projetos coletivos de intervenção transformadora.

ESTUDOS FUTUROS

Na Unidade 2, veremos mais detalhadamente, como se efetiva a proposta de pesquisa-ação e de participação na Educação Ambiental.

Os princípios que orientam a formatação dos coletivos são a autonomia no ato de aprender traduzida pela ideia de que ‘jovem escolhe jovem’, ‘jovem educa jovem’ e da interlocução na qual ‘uma geração aprende com a outra’. O movimento gerado com os debates em conferências permitiu a construção de uma identidade de educadores ambientais, a formação política dos jovens e a continuidade do movimento para novos participantes oriundos das ações de mobilização.

O objetivo é superar a visão estreita no qual os dois termos – Educação e Ambiental que eram considerados meros adjetivos qualitativos nos sistemas de meio ambiente passam a ser substantivos, onde processos de educação se tornam mais concretos; e estejam efetivamente em todos os níveis e modalidades de ensino: da gestão do espaço escolar ao acadêmico mais amplo.

DICAS

Caro acadêmico! Para aprofundar os seus conteúdos e para se inteirar dos programas governamentais, sugerimos a consulta na Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental no site <www.mma.gov.br> e do site: <www.mec.gov.br/ secad/ educambiental>, acesse o material Coletivos Jovens de Meio Ambiente – Manual Orientador (2005). Fique atento à agenda do MDA e do MEC e participe desta mobilização nacional pela construção de sociedades sustentáveis.

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

• A Educação Ambiental é também uma tarefa do gestor ambiental, em especial quando realiza um trabalho de natureza participativa envolvendo processos de conscientização.

• A atuação do gestor e do educador é comum, como: atores que contribuem para as políticas públicas, na busca de ações integradas formadas por equipes inter e transdisciplinares, na construção da Agenda 21, na formação ambiental de trabalhadores, no diagnóstico socioambiental.

• O educador é entendido como facilitador da aprendizagem, assim fazendo a motivação para que a aprendiz se desenvolva autonomamente.

• No espaço escolar o educador planeja, promove a transversalidade no tratamento da questão ambiental, envolve o jovem e as crianças para a questão, formar profissionais.

• O MMA tem estimulado a participação dos jovens para promover a Educação Ambiental e o desenvolvimento sustentável nas localidades.

• Os educadores viabilizaram a organização das conferências, estimulando os jovens a se organizarem. Porém, a proposta dos coletivos segue o princípio da autonomia expresso na prática do autoaprendizagem e da construção do conhecimento no grupo onde “jovem educa jovem”.

• O programa contemplou a capacitação, inclusão digital, constituição dos conselhos e participação, pesquisa-ação.

• Os coletivos jovens fazem parte de programas integrados de educação ambiental nas escolas que incluem programas de formação continuada, com a organização de material didático visando à formação continuada; à formação de uma rede educação para diversidade; a ações estruturantes COM-VIDAS e às conferências de Meio Ambiente.

1 Com base no questionamento apresentado pelo texto: “O que aprendeu hoje na escola?”, faça as seguintes atividades:

a) As instituições de ensino que você compartilha (teus amigos, irmãos, filhos ou sobrinhos) têm superado esta visão de mundo acrítica, descolada da natureza socioeconômica e política tão presente na sociedade contemporânea?

b) Perceba que a escola ao passar as informações de modo positivo, acaba construindo uma falsa impressão de realidade, marcando um mundo idealizado de ordem e progresso conferido por atuações nem sempre democráticas, dando inclusive uma falsa impressão de liberdade, paz, ética na política, respeito à hierarquia e status social. Faça um comentário sobre esta afirmação destacando o quanto estes ensinamentos reafirmam o status social de uma sociedade marcada pelas desigualdades, o clientelismo político, a reprodução da violência e a alienação social.

c) Como estes ensinamentos positivos e acríticos podem estar distantes dos propósitos da Educação Ambiental?

O que aprendeu hoje na escola? Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu?

Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu?

Aprendi que Washington nunca mentiu, Aprendi que um soldado quase nunca morre, Aprendi que todo mundo é livre,

Foi isso que o mestre me ensinou, E foi o que aprendi hoje na escola, Foi o que na escola eu aprendi. Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu?(...)

Aprendi que o policial é meu amigo, Aprendi que a justiça nunca morre,

Aprendi que o assassino tem o seu castigo, Mesmo que a gente se equivoque às vezes, E foi o que aprendi hoje na escola,

Foi o que na escola eu aprendi.

Querido filhinho meu?(...)

Aprendi que o nosso governo deve ser forte, Que está sempre certo e nunca erra,

Que os nossos chefes são os melhores do mundo E que os elegemos uma e outra vez,

E foi o que eu aprendi na escola, Foi o que na escola eu aprendi. Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu? (...)

Aprendi que a guerra não é tão ruim assim, Aprendi sobre as grandes em que entramos, Que lutamos na França e na Alemanha, E que, talvez um dia, eu tenha uma chance, E foi o que eu aprendi na escola,

Foi o que na escola eu aprendi.

*Neil Postman e Charles Weingartner. Trad. Álvaro Cabra

FONTE: Disponível em: <http://professoreducacional.blogspot.com/2010_10_01_archive.html>. Acesso em: 24 mar. 2011.

2 Defina os coletivos jovens, destacando a importância da participação social na consolidação de novos compromissos da sociedade com o meio ambiente.

No documento Educação Ambiental. Prof.a Eliane Dalmora (páginas 39-47)

Documentos relacionados