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CAPÍTULO 2 – Desenvolvimento e avaliação da intervenção pedagógica

2.6. Apreciação global do projeto

Os questionários utilizados constituíram uma mais-valia na recolha de informação valiosa sobre as perspetivas dos alunos acerca da utilização de músicas na aprendizagem de espanhol e de inglês para a sensibilização à diversidade cultural e desenvolvimento de valores e atitudes necessários à comunicação intercultural. Em relação ao questionário inicial, foi elaborado de forma a perceber os interesses e expetativas dos alunos, fornecendo informações pertinentes sobre o caminho a percorrer durante a minha intervenção pedagógica. Neste seguimento de ideias, creio que será mais pertinente comparar os resultados das fichas de autorregulação com o questionário final, já que além de possuírem a mesma escala também têm questões mais relacionadas

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com o projeto de intervenção pedagógica proposto, mas não descurando a importância do questionário inicial em algumas questões.

Os alunos identificaram vários elementos em que a música pode atender às suas necessidades e interesses. No questionário final todos os alunos concordam que a música os motivou a aprender uma língua estrangeira e quase 100% concordam plenamente que gostaram de trabalhar com música em sala de aula. Este facto já havia sido testemunhado no questionário inicial e nas fichas de autorregulação. Os alunos gostam de trabalhar com música em sala de aula e concordam que os temas musicais eram apelativos. O questionário inicial deu informações valiosas sobre a escolha da música e temas que poderiam ser dirigidas aos gostos e interesses dos alunos, o que poderá explicar a elevada recetividade dos alunos. Além das fichas de autorregulação, que me permitiam perceber como poderia melhorar a abordagem seguida, as conversas com os alunos sobre as suas dificuldades e interesses também foi crucial para estes resultados tão animadores.

As atividades desenvolvidas ao longo da minha intervenção permitiram aos alunos potenciar o seu conhecimento cultural e tornarem-se mais conscientes da diversidade cultural no mundo. Este constitui um dos pontos mais importantes do meu projeto de intervenção, e os dados recolhidos durante a intervenção e no questionário final indicam que os objetivos foram globalmente alcançados, embora reconheça que se trata de um tema didático complexo e que exige mais tempo de exploração em sala de aula para que as mudanças sejam mais visíveis e sustentáveis. Em todo o caso, os alunos concordam que ganharam consciência sobre a importância de conhecer outras culturas de forma a comunicar mais adequadamente nas línguas estrangeiras, o que se traduz numa tendência em conhecer outras culturas de forma a comunicar de forma mais respeitosa e tolerante, combatendo assim estereótipos e preconceitos. Este aspeto é essencial ao desenvolvimento da competência intercultural na comunicação entre os alunos, e a sua recetividade ao diálogo intercultural poderá ser parcialmente explicada pelo facto de estes alunos já estarem inseridos em comunidades multiculturais, o que lhes confere maior sensibilização para questões desta natureza. De acordo com os dados, os alunos ganharam maior consciência sobre a importância de aprender sobre outras culturas para ser capaz de comunicar de forma mais adequada em línguas estrangeiras e refletir sobre a necessidade de combater as desigualdades, preconceitos e intolerância no mundo. Por seu turno, o professor de línguas também deve levar em

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linha de conta a ideia de que a aquisição da competência intercultural é um processo relativamente gradual e complexo, que requer tempo, entrega e dedicação.

Falar da perspetiva do professor e da forma que este incorpora toda esta intervenção torna-se a meu ver essencial. Dervin (2010), elaborou uma série de competências essenciais ao comunicador intercultural, as quais já tive oportunidade de mencionar anteriormente. O desenvolvimento de cada uma destas competências torna- se então fulcral para o crescimento do professor. No entanto, é natural que este sinta que desenvolveu mais intensamente umas que outras. Penso que com o desenvolvimento do projeto consegui desenvolver uma interação com o grupo-alvo que se mostrou essencial para o seu sucesso. A empatia conseguida com o grupo também se revelou essencial para a criação de “laços” e confiança no grupo. Outro dos aspetos que penso ter desenvolvido com maior eficácia foi a capacidade de adaptabilidade. Com este tipo de intervenção, nem sempre é fácil controlar todas as variáveis, mas penso que o sentido de adaptabilidade se revelou fulcral para o cumprimento desta tarefa.

No que concerne ao uso da música na promoção da diversidade cultural, mas também como ferramenta útil para perceber os conteúdos culturais apresentados, podemos aferir, pelos resultados obtidos, que as perceções dos alunos foram bastante positivas, com a concordância a rondar quase o 100% durante a intervenção. Além disso, foi evidente na observação direta um alargamento de conhecimentos sobre aspetos relacionados com a diversidade cultural.

Em forma de conclusão, podemos afirmar que a música representa um recurso autêntico que não deve ser negligenciado na aprendizagem e no ensino de uma língua estrangeira. O questionário inicial e a observação direta permitiram-me conhecer melhor os alunos, de forma a indagar como poderia desenvolver a minha atividade, utilizando os recursos que se mostrassem mais consonantes com os seus interesses e expectativas, e dessa forma cumprir o que foi proposto para o projeto. Os resultados indicam que a sensibilização à diversidade cultural e ao diálogo intercultural pode ser potenciada pelo uso de canções. Penso que os objetivos propostos foram atingidos, e de acordo com os resultados obtidos os alunos ficaram mais motivados para aprender sobre outras culturas e também querem que a música continue a ser usada no futuro. Os alunos desenvolveram atitudes de respeito e tolerância pela diferença cultural e vontade de querer conhecer o “outro”. Também foi possível observar uma reflexão, por parte dos alunos, sobre como combater preconceitos e estereótipos, o que é essencial ao

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desenvolvimento da sua competência intercultural. Os alunos revelaram sempre grande interesse pelos temas abordados, assim como uma atitude empenhada e ativa durante as atividades onde se debatiam temas culturais.

Em seguida, e com base nos resultados do projeto, apresento alguns planos de ação para o meu futuro profissional como professor, que podem ir ao encontro dos interesses, expectativas e dificuldades confrontadas.

 Implementar atividades lúdicas aproveitando a potencialidade do uso da música, direcionadas aos gostos pessoais dos alunos;

 Promover atividades motivadoras direcionadas para conteúdos culturais e interculturais;

 Preparar atividades atrativas e motivadoras promovendo a diversidade cultural;  Ter atenção às necessidades e interesses dos alunos na planificação das aulas;  Proporcionar momentos de aprendizagem que respeitem a individualidade do

aluno, tentando envolvê-lo nas negociações e tomada de decisões, responsabilizando-o pelo seu processo de aprendizagem;

 Proporcionar momentos de reflexão e de autonomia na aprendizagem.

Concluo reiterando o enorme marco que este trabalho constitui para a minha formação profissional. Espero também que, porventura, ele possa motivar outros docentes para a importância de investir em áreas do saber tão importantes como a componente cultural nas aulas de língua estrangeira.

Considerações finais

Na fase de pré-intervenção deste projeto constatei que, embora os alunos tivessem algum conhecimento cultural, ainda havia muito a fazer neste âmbito. É neste aspeto que considero que o projeto se revestiu de maior relevância, pois através das atividades desenvolvidas ao longo da sua implementação, da análise e comparação entre culturas e da reflexão, foi possível desenvolver a consciência da diversidade cultural a um nível global, como comprovam os dados de avaliação apresentados. A música apresentou-se como um recurso pertinente não só para potenciar a competência intercultural, mas também para motivar os alunos para a aprendizagem. Através do uso da música, as aulas revelaram-se um local privilegiado de contato entre culturas,

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levando os alunos a descobrir outras realidades, a comparar, a questionar e a refletir, no sentido de aprofundar e enriquecer a visão da diversidade cultural que existe no mundo. As principais limitações do projeto reportam-se, desde logo, ao reduzido tempo de lecionação no âmbito do estágio e ao número reduzido de aulas dedicadas ao projeto, o que diminuiu as possibilidades de intervenção. No que respeita à construção das atividades desenvolvidas no decorrer da intervenção, senti algumas dificuldades decorrentes da minha inexperiência, da complexidade do tema e também do facto de os alunos ainda não estarem muito familiarizados com ele, ou seja, necessitava de ferramentas e recursos eficazes de forma a introduzir o conhecimento e as competências de uma forma adequada e eficaz. Verificaram-se algumas dificuldades de participação dos alunos sobretudo no início da intervenção, pois podem não ter compreendido bem os seus propósitos, nomeadamente explorar o potencial da música na sensibilização à diversidade cultural na aprendizagem de línguas estrangeiras. Logo na fase inicial, dei principal enfoque, juntamente com as orientadoras cooperantes, à organização dos alunos por grupos, de forma estratégica, para que os mais participativos pudessem estimular e “contaminar” os mais retraídos. Ao longo da intervenção pedagógica foi possível observar que os alunos tinham vontade de ajudar e de cooperar comigo.

As observações, as dificuldades sentidas por mim e pelos alunos, as modificações ocorridas nas atividades e as sugestões de melhoria fornecidas pela minha colega de estágio, pelas orientadoras cooperantes e pelas supervisoras, foram sempre registadas de modo a poder melhorar a minha intervenção pedagógica. Tentei, ao máximo, refletir sobre as minhas dificuldades, os meus erros e as consequências que estes poderiam trazer para o desenvolvimento dos alunos, procurando realizar todas as atividades com o maior rigor possível e criar uma boa relação professor-aluno, preocupando-me sempre com as dificuldades sentidas pelos alunos. A observação das práticas letivas das orientadoras cooperantes e da minha colega de estágio permitiram- me também refletir sobre as minhas conceções de ensino. As observações tornaram-se momentos de aprendizagem, pois foi-me possível observar a interação com os alunos, o debate e confronto de ideias que o professor pode promover e o crescimento da autonomia dos alunos.

A reflexão, na minha opinião, é essencial para o bom desenvolvimento do projeto, pois foi ao refletir sobre as minhas atitudes e a minha atuação que tentei melhorar e modificar a minha forma de intervir. Um professor reflexivo é aquele que,

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após observar e refletir sobre as suas intervenções, procura melhorar a sua prática. É um professor que explora as suas estratégias com o intuito de explorar a aprendizagem dos seus alunos. É realmente importante que todos os professores reflitam e avaliem as práticas que implementam durante as suas aulas para que possam melhorar a aprendizagem dos seus alunos. A recolha de informação junto dos alunos representa um apoio indispensável a essa reflexão, permitindo a investigação da prática e sustentando as decisões pedagógicas.

O estágio profissional provocou alterações na minha visão sobre o que é ser professor. Constatei a necessidade de entrega diária que um professor necessita ter. Consegui refletir sobre a necessidade de desenvolvimento de certas competências que se tornam pilares estruturantes da vida de docente. Percebi ainda que um professor é um ser que está sempre em constante atualização, sempre em busca de novas ferramentas de trabalho para um público sempre em constante mutação e cada vez mais exigente e com novas necessidades de intervenção. Durante o ano deparei-me também com o ser professor e ser aluno em simultâneo o que, inicialmente, me provocou alguma confusão. Porém, foi muito gratificante a aprendizagem que desenvolvi com os alunos no decorrer do estágio profissional. Acho que consegui desenvolver uma boa relação com eles e sei que eles tentaram cooperar comigo ao máximo, pois empenharam-se muito na realização de todas as atividades por mim propostas.

A escola deve proporcionar, de uma forma reflexiva, a aquisição de competências de âmbito cultural, de forma a que os alunos enfrentem situações comunicativas na língua-alvo, evitando mal-entendidos culturais e casos de frustração que podem advir da falta de conhecimento da cultura do outro, mas também de modo a que respeitem a diversidade no seu quotidiano e desenvolvam relações interpessoais baseadas em valores humanistas e democráticos. Apesar de sentir que ainda tenho muito caminho a percorrer para desenvolver este tipo de ensino, considero que a experiência de estágio foi muito gratificante e que o apoio recebido foi fundamental ao meu desenvolvimento profissional, nas dimensões didática e investigativa.

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