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CAPÍTULO 2 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS

2.2.3. APRENDER CIÊNCIAS EM AMBIENTES DE ENSINO NÃO FORMAL

Só nas últimas décadas é que promotores e avaliadores, na comunidade científica não formal, começaram a estudar sistematicamente o que as pessoas aprendem, como aprendem e quais as experiências de ambientes não formais que reforçam a identidade das pessoas como aprendentes de ciência.

A curiosidade é inerente ao Homem que procura incessantemente novo conhecimento e melhores tecnologias. Esta busca pelo conhecimento frequentemente envolve ciência, como seja o exemplo de uma criança que pergunta porque o céu é azul, ou o proprietário de uma casa que está preocupado com o radão na cave, ou ainda o avô que quer oferecer um brinquedo educativo a um neto. Cada uma destas situações envolve aprendizagem de ciência num contexto não escolar.

Há opiniões que afirmam não serem as escolas as responsáveis pela aprendizagem de ciência por parte da população, muito pelo contrário, as pessoas aprendem mais fora da escola, pois apenas passam nelas cerca de 9 porcento da sua vidas (Jackson, 1968; Sosniak, 2001, citados por Bell, Lewenstein, Shouse e Michael, 2009). Afirmam ainda, que no ensino escolar básico e secundário a ciência é muitas vezes marginalizada pela tradicional ênfase colocada na matemática e na língua materna. Canavarro (2000), confirma, dizendo ter detectado uma diferença pouco significativa das concepções dos jovens sobre ciência produzida pelo percurso escolar. Aquela parece ser mais condicionada pelo contexto onde vivem, grupo social e hábitos de consumo informal da ciência (programas, revistas, visitas a museus e centros, exposições, ...).

O National Research Council é a organização que actualmente melhor analisou e sistematizou os resultados de grande número de estudos sobre a aprendizagem das ciências em contextos não formais, pelo que recorremos à informação divulgada nos seus relatórios. Este organismo considera que é frequentemente subvalorizado o

potencial dos contextos de ensino não escolares para a educação em ciências, que são locais onde afinal as pessoas passam a maior parte do tempo da sua vida. Mas a seguinte questão tem sido colocada várias vezes: as pessoas efectivamente aprendem ciências em ambientes de ensino não formal?

A resposta a esta questão é crítica para tomadas de decisão políticas e para o desenvolvimento do trabalho de investigadores e de entidades promotoras desses ambientes de ensino. O National Research Council (2009) publicou no seu mais recente relatório17 resposta claramente afirmativa a esta questão: sim, as pessoas aprendem em ambientes de ensino não formal. São numerosos os estudos que evidenciam haver aprendizagem de ciência em contextos de ensino estruturado não escolar, tais como museus, centros de ciência, aquários, centros naturais e parques ou jardins zoológicos, nos quais os participantes encontram uma série de fenómenos do mundo real sobre os quais o seu interesse é despertado, onde são questionados e confrontados com o que já sabem e são levados a reflectir e a atribuir novos sentidos a esses fenómenos e à sua contextualização. Igualmente se provou haver aprendizagem sobre ciência em participantes de programas com actividades de natureza científica, planeadas e articuladas entre si.

Conforme já referido, uma das finalidades dos ambientes de ensino não formal de ciências é introduzir os aprendentes ao conhecimento e aos procedimentos científicos, à cultura científica e ao papel da ciência nas tomadas de decisão. Enquanto parte destes objectivos pode ser conseguida na escola, os contextos não formais têm a vantagem de alcançar facilmente pessoas com diferentes níveis de interesse e conhecimento sobre ciência e de todas as idades. Mas surgem outras questões como por exemplo, qual o modo mais eficaz para atingir estes objectivos? Que recursos e estratégias são necessários aos promotores de ambientes não formais de ensino para serem bem sucedidos nessa finalidade? Que dados são necessários para analisarem a sua prática? Quais devem ser os resultados desejáveis na aprendizagem de ciências?

Para verificar, se, como ou quando ocorre aprendizagem é necessário haver recolha e análise de dados que permitam evidenciar essas aprendizagens. No entanto a escolha dos dados que são necessários obter e o tipo de medições que é preciso fazer

17 Este relatório foi resultado de estudo realizado a pedido da National Science Foundation (NSF) que

constitui o maior sponsor norte americano para a investigação e desenvolvimento da educação em ciências em contexto não formal.

para ajuizar sobre a aprendizagem de ciência em ambientes não formais tem sido muitas vezes controversa.

Por vezes, investigadores e profissionais têm adoptado as mesmas ferramentas e medidas de desempenho utilizadas em ambientes escolares. De igual modo algumas situações para obtenção de financiamentos públicos e privados para a educação não formal têm exigido essa medição de desempenho académico. No entanto, medir os tradicionais resultados de desempenho académico é muito limitador quando se trata de aprendizagens realizadas em contextos de ensino não formal, apesar da vantagem de facilitar a coordenação entre os ambientes não formais e as escolas.

Efectivamente, muitos dos resultados de desempenho académico não reflectem as características definidoras dos ambientes não formais e são apontadas três razões principais para esta limitação: (1) não abrangem a gama de capacidades e competências que podem promover os ambientes não formais, (2) não contemplam premissas fundamentais desses contextos de ensino, tais como o seu foco na experimentação voluntária, o carácter lúdico das actividades e o facto de não obedecerem a um currículo, e (3) não foram concebidos para o leque de participantes, muitos dos quais não têm idade escolar.

A recomendação é então, para não adoptar apenas objectivos escolares, nem apenas metas de aprendizagem subjectivas, mas sim adoptar uma combinação de objectivos específicos da aprendizagem de ciência em ambientes não formais, que são utilizados quer na investigação científica, quer na prática.

Passamos a explicitar o contributo dos contextos de ensino não formal para as aprendizagens e desenvolvimento de competências do currículo formal de ciências.