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PARTE II – O BERIMBAU DA CAPOEIRA

DIM DIM, DOM, DIM DIM, DOM DOM, DIM DIM

5.3 CONTEÚDOS A SEREM APRENDIDOS

5.3.4 Aprender e ensinar

Ao ser perguntado sobre como aprendeu a tocar berimbau Mestre Silvério respondeu:

Eu com toda a minha vergonha, até a minha corda amarela eu não sabia tocar berimbau, aí eu olhei pra mim e o meu mestre disse:

- Como é que os outros sabem tocar berimbau e só tu que não sabes?

Aí é que eu fui me tocar. Mesmo assim, quando eu comecei a jogar capoeira, eu sempre fui o maior da turma, já era o mais forte, já tava começando a desenvolver bem a musculatura. Aí o mestre me treinava pra eu ser o linha de frente, o defensor dos outros, até dele mesmo que era menor, mais franzino, não tinha aquela minha musculatura mais tinha habilidade boa. Aí ele começou a me treinar pra eu ser o linha de frente:

- Quando ninguém mais tiver conseguindo jogar com os camaradas mais fortes tu irás lá resolver a situação.

Aí eu treinava, eu treinava, ele me botava pra treinar normalmente com os cinco: o Beto, o Walcir, o Afonso, o Ismael e o Pita. Esses cinco eram os que jogavam mais, tinham mais habilidade do que eu, e eu mais pesado. Eu comecei a treinar com eles, aí treinava 15 minutos com esse, 15 minutos com aquele outro, eu ia passando de um pro outro, normalmente eu sempre era o mais treinado. Acho que por isso que eu desenvolvi mais músculos do que eles, porque eu fiquei bem mais forte do que eles. Eu sempre treinei dobrado, mais do que todo mundo.

sabia. Eu não tocava nem Angola, porque devido a esse tempo que eu treinava com os outros meninos eu pouco pegava os instrumentos, eu tocava mais o atabaque e mais o pandeiro, mas o berimbau mesmo não. Só que quando tinha um cansado me pediam pra tocar aí eu falava: - Não sei tocar! Eu não sei tocar berimbau.

Aí eles me encarnavam, aí eu comecei a criar vergonha e pedi pra um, pro outro. Uma vez o João Paulo:

Mestre Silvério: - João Paulo me ensina a tocar Angola. Aí ele olhou pra mim:

João Paulo: - Tu não sabes tocar Angola? Mestre Silvério: - Não!

[Mas, hoje, mestres e professores vêm] de muito longe [para aprender comigo]. Tinha um de Ananindeua, um de Icoaraci e um que veio lá de Outeiro participar das oficinas com a gente. Devido essa vergonha que eu passei por não saber tocar berimbau eu comecei a me esforçar mais. Depois que eu aprendi Angola eu fui pedir pro meu mestre pra ele ensinar os outros toques. Aí ele me ensinou o São Bento Grande de Angola, me ensinou a tocar Regional de Bimba, que é o São Bento Grande e Iúna e o Samba de Roda, foi o que ele me ensinou, o resto eu tive que correr atrás, tive que aprender mesmo. Aí depois que eu ganhei alguns CDs de música de capoeira que eu comecei a desenvolver mais. Hoje eu te digo que eu sei, sei tocar 22 toques de capoeira, domino esses toques bem, domino os fundamentos deles (Mestre Silvério, 2013).

Na fala do Mestre Silvério vê-se que apenas na segunda graduação que o mesmo foi se interessar por tocar berimbau, pois quanto maior é a graduação maior é a responsabilidade dentro do grupo e uma dessas responsabilidades pode ser a de fazer a substituição, durante a roda de capoeira, do tocador de berimbau que estiver cansado. Com o estímulo e a ajuda do grupo é possível aprender os toques menos complexos em sua execução como os Angola e São Bento Grande da Angola, passando para o Regional e depois os mais complexos como o Iúna e o Samba de Roda.

Quanto ao modo de ensinar de Mestre Silvério, ele conta:

A gente incentiva o aluno a ter o seu próprio berimbau, aí tem uns que dizem:

Aluno iniciante: - Não, não mestre, eu não vou conseguir aprender a tocar o berimbau!

Mestre Silvério: - Vai sim, é só prestar atenção no que os teus colegas estão fazendo que tu vais aprender certinho.

Aí a pessoa começa a treinar capoeira e fica só ouvindo o som do berimbau, depois ele vai experimentar:

Aluno iniciante: - Deixa eu ver se eu acerto! Ele pede pra um pede pra outro:

Aí os que já sabem alguma coisa passam o básico:

Aluno experiente: - Olha o São Bento Pequeno da Angola58 é esse aqui: TIM TIM DIM DOM (o

mestre faz mais um chiado imitando o chocalhar do caxixi), TIM TIM DIM DOM (mais um chiado imitando o chocalhar do caxixi).

Aí ele aprendeu o básico, que é justamente dominar as batidas no toque São Bento Pequeno da Angola ele vai aprendendo os outros, desse modo ele vai acrescentando toques; só vai acrescentar alguns toques pra cima outros pra baixo. Aí vai desenvolvendo, eu nunca peguei assim, alguns logo no início pra dar curso de berimbau. Só vim fazer isso nos últimos cinco anos que eu comecei a passar cursos de berimbau para os nossos alunos, porque eu via que alguns tinham umas dificuldades pra aprender, aí eu comecei a tirar uns domingos do ano pra dar aula, quatro domingos de berimbau pra desenvolver mais os alunos.

É porque eu não gosto de aluno que tenha dificuldade pra tocar berimbau, eu fico meio envergonhado quando o aluno não sabe tocar berimbau. Porque não é culpa do aluno, é culpa do mestre que não ensinou direito. O aluno se esforça:

Aluno: - Eu aprendi um pouquinho por que eu me esforcei! Mas é o mestre que tem que encaminhar ele, mostrar,

O mestre: - Olha esse toque aqui é mais forte, esse aqui é mais fraco. Olha tu tens que dar um certo espaço de tempo pra executar outro toque.

Vai lapidando os meninos até que eles ficam exímios tocadores de berimbau (Mestre Silvério, 2013).