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PARTE II – O BERIMBAU DA CAPOEIRA

NOME DO TOQUE

4.1.5 Samba de Roda

É uma variação mais tradicional do samba que se relaciona à roda de capoeira. É tocado por toda a orquestra, com palmas e canto.

Não há uma métrica específica para as letras do Samba de Roda. A cantiga sempre acompanha o toque de berimbau, que possui o mesmo nome da cantiga (Samba de Roda).

Reiteramos que nas rodas de rua do passado, quando a capoeira era proibida, qualquer aproximação da polícia fazia a roda de capoeira se transformar em roda de samba, já que o samba era mais tolerado pelo Estado. Atualmente, é muito utilizado no final da roda e, também, quando dois jogadores começam a fazer um jogo muito agressivo, o Samba de Roda é tocado e cantado para que desse modo os dois capoeiras passem a sambar e então o que poderia ser uma contenda passe a ser alegria e descontração. A seguir, apresentamos um exemplo de Samba de Roda:

Amor da Morena (Refrão)

O amor da moreninha É doce, mas não enjoa Tem cocada e brigadeiro de matá uma pessoa O carinho da moreninha Tem abraço e tem cafuné Nos braços da moreninha Eu fico até quando quisé (Refrão)

O amor da moreninha É doce, mas não enjoa Tem cocada e brigadeiro de matá uma pessoa

As cadeiras da moreninha Remexem que nem maré

Num movimento que descaminha A doçura na ponta do pé

(Refrão)

O amor da moreninha É doce, mas não enjoa Tem cocada e brigadeiro de matá uma pessoa

4.1.6 Martelo50

É um gênero lítero-musical no qual o cantar alterna-se entre os participantes. Nele cada cantador propõe um problema para o seu concorrente, faz-lhe acusações debochadas e/ou perguntas embaraçosas.

O Martelo51 é uma forma expressiva espontânea, pois o capoeira canta o que quiser e sobre o que quiser na resposta ao cantador oponente. Pode exaltar alguém, avisar o oponente sobre algo respectivo ao jogo ou simplesmente, o que é mais comum, irritar o adversário por meio das rimas provocando, o riso dos integrantes da roda.

O adversário precisa desenvolver rapidamente uma resposta para o problema que lhe foi lançado e devolver uma pergunta mais difícil ainda para complicar a vida do seu contrário.

Prioridade do texto falado sobre o toque de berimbau, o orador improvisa frases em resposta à frase do orador oponente.

Durante o canto do Martelo não há jogo, os antagonistas atacam e contra-atacam verbalmente agachados ao pé do berimbau. Os demais integrantes da roda escutam a dupla e respondem o refrão.

Paranauê paranauê Paraná! (refrão)

50 Dos gêneros lítero-musicais da capoeira, o Martelo é o menos utilizado na ARUÃ Capoeira. Durante

todo o meu tempo de treinamento não presenciei o uso na Roda de Capoeira, porém, por várias vezes foi utilizado o Martelo em momentos de treino e de brincadeiras fora do ritual da roda.

Cantador 1 (improviso) Eu nasci nessa cidade Nessa terra das mangueiras

E aqui nesse chão eu jogo a capoeira Paranauê paranauê Paraná! (refrão) Cantador 2 (improviso)

Olha aqui meu camarada Eu também sou capoeira Preste muita atenção Pra não falar besteira

Paranauê paranauê Paraná! (refrão) Cantador 1 (improviso)

O jogador de capoeira É bom que seja correto

Pra dar a essa arte o seu valor completo Paranauê paranauê Paraná! (refrão) Cantador 2 (improviso)

Concordo com o que tu versas Essa arte capoeira

É pra quem quiser Capoeira eu recomendo

pra homem, menino, menina, velho, velha e mulher Paranauê paranauê Paraná! (refrão)

4.2 REGISTRO

Lembramos que, no uso do berimbau dentro da tradição da capoeira, os principais elementos sonoros a serem levados em conta são: 1- as duas notas de corda - a aguda (quando o dobrão é apertado contra a corda e a baqueta bate na corda pouco acima do dobrão) e a grave (quando a corda é solta, isto é, sem o dobrão encostado na corda e a baqueta batendo entre o dobrão e o barbante); 2- o escracho (quando encostamos levemente o dobrão na corda e ao mesmo tempo batemos a vareta na corda, resultando em um som derivado da nota aguda, não sendo, portanto uma nota, mas uma espécie de enfeite daquelas duas notas principais) (MARCONI; SAMPAIO; TIBÉRIO, 1987); e 3- o uso do caxixi.

No registro52, utilizamos a onomatopeia DIM para representar a nota aguda;

DOM como representação da nota grave; e TIM, para o escracho.

Figura 22 - DIM Fonte: Arquivo pessoal, 2011.

52 As representações onomatopaicas utilizadas nesta dissertação para o registro dos toques da capoeira no

berimbau são de uso comum no meio capoeirístico. Elas servem para auxiliar a memória, sendo representações que remetem à altura dos sons, mas sem indicação quanto à duração de cada som percutido.

Figura 23 - DOM Fonte: Arquivo pessoal, 2011.

Variados outros sons secundários53 podem ser produzidos pelo berimbau; porém, apenas mais um será representado, já que o mesmo será necessário em muitos toques. Falamos do semi-escracho, obtido quando encostamos o dobrão na corda e a mesma está vibrando, sem nela tocar com a baqueta. Esta técnica gera um som que aproveita a vibração feita pela mais recente batida. Para representar o semi-escracho, utilizamos a onomatopeia TINS.

Quando tocamos o escracho e o semi-escracho, encostamos o berimbau na barriga. Na nota grave, afastamos um pouco o instrumento da barriga e na nota aguda distanciamos ainda mais o berimbau (MARCONI; SAMPAIO; TIBÉRIO, 1987). Afastando ou aproximando o instrumento do corpo, conseguimos diferentes modulações nas duas notas básicas, uma vez que a abertura da caixa sonora da cabaça fica voltada para o abdômen de quem toca (SOARES, 2001).

Outro som que deve ser levado em consideração é gerado por uma única sacudida do caxixi, no caso específico dos toques Angola e São Bento Pequeno da Angola, após as sequências de batidas que produzem os toques. Para esse som não há uma representação silábica já que seu uso ocorre somente nos toques citados.

53 Ao bater com a baqueta na cabaça, na verga e na parte da corda abaixo do barbante que prende a cabaça

à verga; percutindo com a baqueta em pontos da corda afastados da cabaça; variando a força aplicada ao percutir a corda com a baqueta; mudando a pressão exercida sobre a corda pelo dobrão; fazendo variações da distância entre a cabaça e a barriga, entre outras variações de sons que o tocador pode executar no berimbau.

4.3 PARTITURAS

As partituras foram por nós elaboradas utilizando pequeníssima quantidade de símbolos e estes bastante simples: um ponto, um xis, um asterisco e um círculo separados por linhas verticais e posicionados em uma linha superior e outra inferior.

A linha horizontal simula a corda do berimbau. A linha vertical representa o pequeno intervalo de tempo entre uma batida ou uma sequência de batidas.

Figura 24 - Linhas horizontais e verticais da partitura.

A nota aguda é simbolizada por um ponto colocado sempre na linha de cima;

Figura 25 – Nota aguda.

A nota grave é simbolizada por um ponto colocado sempre na linha de baixo.

Figura 26 – Nota grave.

O escracho é simbolizado por um “x” sempre colocado na linha de cima.

Figura 27 – Escracho.

O semi-escracho é simbolizado por um asterisco (*) colocado sempre na linha de cima.

Figura 28 – Semi-escracho.

O círculo representa o som feito pelo caxixi quando o mesmo é sacudido uma única vez, usado nos toques Angola e São Bento Pequeno da Angola.

4.3.1 Toques

Esclarecemos que:

- Na representação dos toques, utilizamos a partitura e, abaixo dela, as sílabas separadas por vírgulas, estas últimas remetendo ao pequeno intervalo de tempo entre batidas ou sequências de batidas.

- O toque deve ser sempre repetido por inteiro. Por exemplo, tocamos no São Bento Grande da Angola: TIM TIM DIM, DOM DOM e novamente TIM TIM DIM,

DOM DOM, e assim por diante.

A velocidade aproximada de execução54 (o tempo musical) do toque será indicada através do número de pulsos de duração regular (batidas por minuto – BPM) calculado através do metrônomo.

- Nesta proposta de registro, os toques são representados sem floreios e enfeites, objetivando facilitar a leitura dos toques e devido ao fato de que os enfeites e floreios são pessoais e, portanto, cada capoeira deve criar os seus.

A seguir, apresentamos nossa proposta de registro dos toques executados nas rodas de Regional e de Angola na ARUÃ Capoeira.

Angola BPM - 75