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O aprendizado contextualizado ou a escola do sujeito-ator Inicio esse último ponto com uma reflexão de Victor Valla (1998, p 196): “traba-

pesquisa dos movimentos sociais e educação no campo

3. Contribuições para uma abordagem multidimensional

3.4. O aprendizado contextualizado ou a escola do sujeito-ator Inicio esse último ponto com uma reflexão de Victor Valla (1998, p 196): “traba-

lhar com os temas de movimentos sociais e educação popular exige muito estudo, tanto no nível teórico, quanto em nível de uma atenta observação daquilo que está sendo dito ou realizado por grupos populares”. É nessa direção que uma sociologia aplicada ao estudo dos movimentos sociais e da educação no campo poderia trazer contribuições para uma relação social construtiva entre o pesqui- sador, o mediador do aprendizado (outra palavra para professor) e o sujeito-ator do auto-aprendizado.

Por isso, parece-me que tratar o aprendizado do sujeito-ator, a partir de sua inserção em cenários socialmente contextualizados, exige considerar as dimen- sões tratadas acima: suas histórias de vida, seus territórios de referência e suas formas de sociabilidade.

Conforme Castells (1997, p. 362) já observou, as redes de movimentos sociais fazem mais do que organizar atividades e socializar informações, sendo de fato “produtoras e distribuidoras de códigos culturais”. Por isso, a escola do sujeito-ator deve estar sintonizada com as forças culturais sinérgicas de cada realidade social, assim como os atores dos movimentos devem estar atentos ao que se lhes propõe como aprendizado (cf. Scherer-Warren, 2000). Para ilustrar trazemos um relato de uma escola do MST:

7 Sobre as noções de sujeito e ator dos movimentos, vide Touraine, 997 e 994. d.

“Como a mística é algo que nos alimenta, que fortalece nossa organização, que nos dá esperança de viver com dignidade, resgatando os valores, entendemos que ela deve estar presente em nosso cotidiano… É neste sentido que a mística está presente na sala de aula e na escola, através da riqueza dos símbolos de nosso Movimento”. (MST, Coleção Fazendo Escola, 2000, p. 42).

Além disso, essa sinergia dos movimentos sociais alarga os projetos dos sujeitos, os processos de inclusão social tornam-se mais abrangentes, não se restringindo às conquistas socioeconômicas apenas, mas incluindo demandas por direitos de participação política, à diversidade cultural, qualidade de vida, e ambiental e ao conhecimento. A escola do sujeito-ator deve ser sensível a esses novos anseios de cidadania, como foi bem ilustrado por um representante do Fórum Nacional de Reforma Agrária e Justiça no Campo, referindo-se às práticas dos movimentos sociais no campo:

“Você vê que aumentaram várias frentes de inclusão. Porque você não só incluiu os cam- poneses no processo produtivo,… mas você está incluindo gente, vida, que é a inclusão social, que é a questão da cidadania. Você recuperou aquela pessoa, que não sabia nem ler, nem escrever. O cara hoje está na escola. Já pensando em ir para a faculdade. Olha como o sonho dele aumentou. O sonho dele antes era de ter a terra, agora o sonho dele é ter a faculdade. Você fez foi uma revolução cultural”. (Gilberto Portes de Oliveira)

Para finalizar, poderemos relembrar com Roseli Caldart (2004), que “olhar para o movimento social como sujeito pedagógico significa retornar uma vez mais à reflexão sobre a educação como formação humana e suas relações com a dinâmi- ca social em que se insere” (p. 317-8). O que, em outras palavras, significa discutir e entender a relação entre “os movimentos sociais e a cultura política, a democracia, a economia popular, a territorialização e espacialização dos movimentos, a histó- ria…” (ibid, p. 322), aproximando metodologicamente produção do conhecimento e aprendizado e, assim, construindo sujeitos de seu próprio destino.

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