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As discussões acerca da aprendizagem colaborativa não são recentes, elas permeiam o meio educacional desde o século XVIII, com educadores utilizando essa filosofia para promover trabalhos em grupos que preparassem os alunos para enfrentar a realidade social.

Dillenbourg (1999) conceitua de forma simples a aprendizagem colaborativa como uma situação de aprendizagem na qual duas ou mais pessoas aprendem, ou pelo menos tentam, aprender juntas. Para o autor, ainda, o número de sujeitos envolvidos pode sofrer alterações, podendo abranger milhares de pessoas, assim como a aprendizagem pode ser feita de forma síncrona ou assíncrona, com divisão de tarefas ou todas as tarefas sendo resolvidas conjuntamente. Em síntese, a aprendizagem colaborativa é o resultado de uma interação entre pares que trabalham juntos para a resolução de problemas.

A aprendizagem colaborativa tem sido defendida amplamente nas discussões sobre métodos de ensino, pois ela é capaz de promover uma aprendizagem mais ativa por meio da interação e é capaz de desenvolver, no aluno, a capacidade de negociação, de resolução de problemas e de autorregulação do processo de ensino-aprendizagem, além de aguçar seu pensamento crítico e propor estímulos positivos para que essas capacidades sejam exercidas

com plenitude. Assim, essa metodologia torna o aluno mais responsável por sua aprendizagem, ou seja, ele é capaz de assimilar conceitos e construir conhecimentos com autonomia, em contextos e ambientes colaborativos adequados para que essa interação seja feita de modo criativo.

Dessa forma, a aprendizagem colaborativa se desenvolve com base em tendências pedagógicas amplamente difundidas no contexto escolar, como a Teoria Sociocultural de Vygotsky. Essa teoria se concentra em estudar a relação entre a interação social e o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, assim, “todo o desenvolvimento e aprendizagem humanos é um processo ativo, no qual existem ações propositais mediadas por várias ferramentas”. (VYGOTSKY, 1978, apud TORRES e IRALA, 2014, p. 73)

Uma dessas ferramentas, sobretudo a mais importante, é a linguagem, uma vez que representa a base da inteligência humana e ajuda a desenvolver as outras funções do intelecto humano. A inteligência ocorre, em primeiro lugar, de forma interpsíquica, para, em segundo plano, ocorrer de forma intrapsíquica. (TORRES e IRALA, 2014, p. 73)

Por meio da linguagem ocorre a interação social, que facilita a troca entre sujeitos em uma atividade interpessoal, o que é traduzido no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky.

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de uma pessoa com maior capacidade. A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de “brotos” ou “flores” do desenvolvimento, ao invés de frutos do desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1984, p.97).

O conceito apresentado por Vygotsky ajuda a entender que algumas funções do nosso cérebro ainda estão em desenvolvimento e que precisam de uma orientação de um agente mais experiente para que possam se completar. A troca de informações com esses agentes, em um contexto e situação sociais bem definidos, possibilita que o aprendiz adquira conhecimentos e técnicas a fim de resolver as atividades de forma independente. Sendo assim, a aprendizagem colaborativa se faz de extrema necessidade para que todos os atores possam evoluir dentro da situação proposta.

A aprendizagem colaborativa tem sido amplamente utilizada em ambientes virtuais de aprendizagem e na utilização de objetos de aprendizagem e tem como principais objetivos promover uma modificação no papel do professor, o qual era visto como o único detentor do

conhecimento e passa a ser visto como mediador ou facilitador, desenvolver habilidades de metacognição e ampliar a aprendizagem por meio da troca entre pares.

Para Behrens & Alcântara (2000, p.6),

Depreende-se que uma postura cooperativa exige colaboração dos sujeitos envolvidos no projeto, tomada de decisões em grupo, troca e conflitos sócio- cognitivos, consciência social, reflexão individual e coletiva, construção de uma inteligência coletiva, tolerância e convivência com as diferenças, responsabilidade do aprendiz pelo seu aprendizado e pelo grupo, constante negociação e ações conjuntas e coordenadas.

Essa metodologia é tão significativa que o Plano Nacional de Educação (PNE 2014- 2024) a coloca como um de seus desafios, para que haja uma articulação coletiva, aberta e cooperativa entre os protagonistas do processo de ensino-aprendizagem, e que se pense em outros espaços formativos que não exclusivamente as escolas e coloca, ainda, a discussão das políticas públicas de inserção das TIC como um desafio emergente e imprescindível de ser resolvido.

Uma das formas de se integrar a aprendizagem colaborativa ao currículo é promovendo a escrita colaborativa, seja por meio das plataformas digitais, ou por meio do texto impresso. Essa técnica permite que o aluno seja protagonista de seu próprio percurso de aprendizagem e permite, ainda, que a troca seja realizada, fazendo com que se amplie o horizonte do ensino de texto, além de possibilitar conexões lúdicas e promover a criatividade, uma vez que a construção conjunta de um texto pode trazer resultados ímpares e inovadores.

Portanto, é na perspectiva da aprendizagem colaborativa e a luz da teoria dos gêneros textuais e discursivos que o trabalho com os e-books interativos e colaborativos deve ser pautado, para que o conhecimento seja construído socialmente de forma autônoma, fazendo com que a aprendizagem se dê por meio do processo de interação entre todos os atores envolvidos e que os obstáculos os quais antes impediam a aproximação aluno-professor e aluno- conhecimento sejam, de fato, derrubados.