• Nenhum resultado encontrado

3 COMUNICAÇÃO E APRENDIZAGEM UBÍQUA: DESAFIOS PARA A

3.2 O POTENCIAL DA UBIQUIDADE NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

3.2.1 Aprendizagem com Mobilidade: Mobile learning

De acordo com Saccol, Schlemmer e Barbosa (2011, p. 25), mobile learning15 (m-

learning) diz respeito aos processos de aprendizagem que ocorrem “apoiados pelo uso de

tecnologias da informação ou comunicação móveis e sem fio”. Para os autores referidos, a característica fundamental é a portabilidade dos dispositivos e a mobilidade dos estudantes, uma vez que podem estar distantes (geograficamente) uns dos outros e também de espaços formais de educação. Destacam, ainda, que o fundamental não é a tecnologia, mas sim a compreensão do conceito de mobilidade acrescido à aprendizagem.

A construção do conhecimento nessa modalidade não precisa ficar limitada a uma infraestrutura fixa de rede e a um espaço formal de aprendizagem, como, por exemplo, a sala de aula (no espaço geográfico) ou os laboratórios de informática. Como possibilita uma aprendizagem flexível, permite ao estudante deixar de ver o aprendizado como uma ação que tem hora e local para acontecer.

Conforme já referido, o uso de tecnologia móvel prioriza a instantaneidade na comunicação, uma vez que o tempo é um recurso escasso nos dias atuais e, por isso mesmo, precisa ser aproveitado durante os deslocamentos dos seres humanos. Assim, o m-learning surge como uma alternativa para aproveitamento e qualidade do tempo, tanto em âmbito educacional quanto corporativo.

Conforme Traxler (2007), o m-learning caracteriza-se pelo uso de equipamentos portáteis que concentram um alto poder de mobilidade, num panorama de computação pervasiva, caracterizado pela mobilidade global do usuário, conectividade, independência do dispositivo e ambiente computacional do usuário, acessível em qualquer lugar e a qualquer hora. Esse autor, ainda em 2007, vislumbrava que o m-learning cresceria de forma similar ao

e-learning16, tendo em vista o desenvolvimento e crescimento das TDM na vida dos seres

15 O termo “mobile”, em sua ambiguidade, pode significar tanto a característica móvel das tecnologias quanto a mobilidade do ser humano que, ao se deslocar, aprende. Esse termo tem sido traduzido no Brasil como “aprendizagem móvel” ou “aprendizagem com mobilidade”, embora ainda seja, muitas vezes, utilizado em sua forma original na língua inglesa.

16 Aprendizagem eletrônica ou e-learning é uma expressão utilizada para designar contextos de aprendizagem baseados na Web, aprendizagem online ou outra formação com suporte na tecnologia.

humanos, o que de fato, nos dias atuais, pode ser confirmado.

O autor referido alerta para o cuidado de se evitarem definições referentes ao m-

learning com uma visão tecnocêntrica, ou seja, qualificar a aprendizagem por meio do uso de

dispositivos móveis ou somente como uma extensão da aprendizagem em sala de aula para espaços menos formais. Para o autor, m-learning é um modo mais flexível de educação que promove a criação de novos contextos de aprendizagem por meio da interação entre os seres humanos, tecnologias e ambientes. Nesse sentido, aponta que a aprendizagem móvel não se refere apenas à mobilidade ou à aprendizagem, como pode ter sido compreendido inicialmente, mas sim como parte de uma nova concepção da sociedade móvel.

Moura (2010) apresenta em seu estudo17 uma vasta abordagem em relação às pesquisas realizadas na comunidade acadêmica internacional a respeito do m-learning. A autora destaca que diversos autores (KUKULSKA-HULME, TRAXLER, 2005; KUKULSKA-HULME, 2009; SHARPLES et al., 2005; TRAXLER, 2005, 2007, 2010; VAVOULA et al., 2009) investigam as potencialidades dos dispositivos móveis como recursos e oportunidades de aprendizagem, por meio de diferentes contextos e tempos, em especial no contexto educativo. Em síntese, as pesquisas realizadas pelos autores referidos apontam que:

a) M-learning é uma área emergente do e-learning e que está se modificando pelo potencial das TDM, ou seja, é a educação online acrescida da mobilidade;

b) A ubiquidade dos dispositivos móveis conduzirá o m-learning a um papel de destaque no âmbito dos processos educacionais e formativos;

c) Os dispositivos móveis permitem a construção do conhecimento em qualquer espaço e o acesso à informação just-in-time, portanto, a aprendizagem em múltiplos contextos através de interações sociais e de conteúdos;

d) A convergência de serviços e funções num único dispositivo, a onipresença, a portabilidade e a funcionalidade associadas ao m-learning provocam mudanças nos processos de ensino e aprendizagem, desde que as instituições de ensino estejam preparadas para acolher e/ou formar a geração digital e nômade;

17 Tese de Doutorado em Ciências da Educação: “Apropriação do telemóvel como ferramenta de mediação em Mobile Learning. Estudos de caso em contexto educativo”, realizada na Universidade do Minho/Instituto de Educação, sob orientação da Profa. Dra. Ana Amélia Amorim Carvalho.

e) M-learning proporciona o desenvolvimento de experiências de aprendizagem individuais e colaborativas em rede, auxiliando os estudantes a manterem o foco na aprendizagem por períodos mais longos;

f) É necessário ampliar o foco de discussão das definições do m-learning para além da mobilidade da tecnologia (dispositivo) e da mobilidade do aprendiz, colocando na centralidade a mobilidade da informação e as possibilidades de produção de conteúdo, bem como a convergência entre essas mobilidades para promoção de aprendizagem; g) Os estudos empíricos para avaliar projetos com o uso do m-learning apontam que os dispositivos móveis provocam mudanças no processo educacional, no entanto é necessário utilizá-los a partir de uma epistemologia que dê suporte para o desenvolvimento de aplicações móveis para a aprendizagem.

Nesse sentido, Traxler (2010) recomenda que se busque um conceito de m-learning não apenas pelo foco tecnológico. Deve-se também abordá-lo pela ótica dos estudantes e do ensino, com foco nas práticas educativas que as novas mídias possibilitam e em suas implicações educacionais e sociais. “Por isso, apesar da tecnologia em si ser o recurso viabilizador de novas práticas, a aprendizagem com mobilidade precisa de uma caracterização que extrapole o contexto tecnológico” (ibid., p. 10).

De acordo com Nash (2007), ao utilizarmos m-learning precisamos considerar que, com o uso das TDM, o ambiente físico do estudante muda constantemente. Se um ambiente de aprendizagem apoiado por essas tecnologias for bem concebido, obterá vantagens da mudança constante dos contextos ou ambientes educativos, de forma a permitir que o estudante integre o mundo exterior (aprendizagem situada) com o mundo das funcionalidades do dispositivo e demonstre com sucesso a realização dos objetivos de aprendizagem.

Assim, consideramos importante, nessa convergência entre os três tipos de mobilidade (tecnologia, estudante, informação), ao invés de repetir situações de aprendizagem com o uso de tecnologias fixas, mais tradicionais, pensar na criação de possibilidades de aprendizagem que não seriam possíveis sem o uso das TDM. No entanto, para que isso aconteça é fundamental que os professores tenham fluência tecnológica digital no uso das TDM, conheçam suas possibilidades e limitações, compreendam que essas tecnologias podem potencializar a aprendizagem ao longo da vida.