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Contribuições da formação docente continuada para inclusão na cibercultura

6 TESSITURAS SOBRE O VIVIDO: PERCEPÇÕES EMERGENTES DAS

6.3 VIVÊNCIAS DA FORMAÇÃO DOCENTE NA CIBERCULTURA

6.3.3 Contribuições da formação docente continuada para inclusão na cibercultura

Os professores participantes da pesquisa expressam o crescimento pessoal e profissional, a partir da experiência formativa vivenciada no desenvolvimento do PIDM. Manifestam que sentem falta das reuniões do grupo de estudos, destacando a importância dos processos formativos nesse contexto. Selecionamos algumas narrativas com essas percepções:

“Usar os iPads em sala de aula, representou, para nós, um grande desafio! Primeiro precisávamos introduzir o uso do iPad, pensar em como fazer uma atividade com os estudantes e depois como manejar a questão da dificuldade de alguns estudantes e a nossa própria dificuldade. Precisamos de formação, incentivo, assim como os estudantes. Eu comecei

utilizando como ferramenta de pesquisa em aula, a partir dos questionamentos dos estudantes sobre as temáticas trabalhadas na disciplina. No grupo de estudos eu fui percebendo outras

possibilidades.” (Professora – P3)

“Na faculdade de Física nós compartilhamos o que aprendemos no PIDM, mas penso que isso

não tem a mesma riqueza da experiência de se manter uma reunião sistemática, quinzenalmente, como nós tínhamos. Eu sinto falta dos nossos encontros para discussão, reflexão, sistematização das práticas que compartilhávamos. Nós aplicávamos em aula e depois

falávamos no grupo o que deu certo e o que não deu certo, experimentando, pensando teoricamente sobre o que alguns autores dizem a respeito. Eu acho isso muito rico, cresci muito

com o grupo de estudos!” (Professora – P4)

“Eu gostei muito de participar do grupo de estudo do PDIM, eu nunca tinha usado iPad antes de ser convidada pela professora (P4) a participar do grupo. Como eu não conhecia as

potencialidades, a primeira coisa que eu fiz foram as filmagens. Por isso nossos encontros no

grupo eram produtivos, nós trocávamos experiências. Eu sinto falta em ter mais troca entre os colegas que usam esses dispositivos para termos novas ideias para aplicar em sala de aula.”

(Professora – P7)

Conforme já referimos, a professora P4 disseminou a proposta de uso dos dispositivos móveis na Faculdade de Física, por meio de ambiências formativas entre seus pares, incentivando-os também a participarem do grupo de estudos do PDIM. Lembremos que ela convidou a professora P7 para participar desse grupo. Destacamos que, quando as professoras P4 e P7 apontam que sentem falta dos encontros do grupo de estudos, estão se referindo à reestruturação do PIDM, conforme já referido.

Constatamos, assim, a importância da formação docente continuada para proporcionar a “inclusão cibercultural”, proposta por Santos (2014), pois, à medida que os professores participantes têm a oportunidade de vivenciar processos de ensino e aprendizagem com o uso de diferentes TDM, ampliam sua compreensão acerca do potencial dessas tecnologias. A

experiência formativa promove a mobilização das competências relacionadas à fluência tecnológica digital e pedagógica, necessária para ampliar a compreensão a respeito das possibilidades dessas tecnologias e propor novas práticas e metodologias. Nesse sentido, os professores participantes apontam a necessidade de processos formativos referente ao uso de metodologias, mediadas pelas TDM:

“No início temos uma tendência muito forte de acabar usando os iPads para pesquisas em sala de aula. Então é uma situação de desacomodação. O importante, e é o que o professor precisa

entender, e eu também precisei entender, não é simplesmente, ao invés de fazer a aula no

laboratório de informática, levar os iPads e ficar com os estudantes em sala de aula fazendo mais do mesmo! É uma questão de mudar a metodologia, mas nem todos os professores sabem como fazer, como usar os iPads.” (Professora - P2)

“Eu vejo que a IEs tem que investir na formação de professores. O PIDM está se direcionando para um novo formato. A proposta do 1º semestre de 2015 foi a construção de metodologias. Então fizemos um trabalho com o Design Thinking no grupo de estudos. Formamos pequenos

grupos e cada grupo ficou encarregado de propor outras metodologias que poderiam ser desenvolvidas a partir disso. Mas a maioria dos professores ainda está centrada na aula

expositiva e na pesquisa enquanto uma atividade extra. Não enquanto metodologia, educar pela pesquisa. Então eu acho que ainda estamos engatinhando! Eu vejo como um grande desafio institucional. Porque não adianta a IES enxergar e querer esse processo de inovação, se o

professor ainda não está aberto para isso! E, não é fácil! É uma quebra de paradigma bem forte,

conceitual!” (Professora – P3)

As narrativas das professoras P2 e P3 mostram o que, geralmente, ocorre quando uma IES encampa um projeto institucional pautado na inovação. Percebemos que a adesão dos professores ao PIDM ainda não se consolidou no âmbito de toda universidade. Não temos elementos para mapear a quantidade de professores que aderiram ao PIDM, e tampouco é este o nosso objetivo. As mudanças, principalmente, na área educacional, acontecem em longo prazo. Como a própria professora P3 aponta, não é uma tarefa fácil mudar uma cultura de ensino centrada em paradigmas instrucionais, transmissivos, fundamentada em uma lógica comunicacional hierárquica e unidirecional. Por isso, acreditamos que a formação docente continuada, quando realizada de forma sistemática e com o engajamento do corpo docente, pode ser um caminho para efetivar as inovações emergentes das demandas sociais e educacionais da contemporaneidade.

Nesse sentido, faz-se necessário incorporar, nos processos de formação docente, a reflexão acerca das potencialidades das diferentes TDM e modalidades de ensino e aprendizagem associadas a tais tecnologias. Entendemos que, para a construção de novas práticas pedagógicas e metodológicas, sintonizadas com os espaços multirreferenciais de aprendizagem, híbridos e ubíquos, é necessário repensar as concepções epistemológicas que norteiam o fazer pedagógico na cibercultura. Acreditamos que essas concepções, que caracterizam a ação docente, podem ser modificadas ao longo do processo, por meio da formação continuada.

No caso dos professores participantes da pesquisa, percebemos que suas práticas pedagógicas expressam concepções epistemológicas que perpassam o paradigma da cultura da aprendizagem, da construção do conhecimento de forma colaborativa e cooperativa em rede, e as relações dialógicas estabelecidas com todos os envolvidos no processo educativo. Assim, entendemos que esses professores estão formando os estudantes para atuarem na sociedade atual, mutante, híbrida e ubíqua.

Ainda, em relação aos programas de formação continuada que contemplam os diferentes usos das TDM, ofertados pela IES, os professores pontuam a necessidade da formação em exercício, ou seja, de um processo formativo similar à formação do grupo de estudos do PIDM, com espaço para vivenciar e compartilhar experiências, bem como para a reflexão da própria prática. Nesse sentido, destacamos a seguinte narrativa:

“Eu acredito que existem alguns mecanismos de formação. Por exemplo, se eu quero usar o

Popplet, então podemos fazer uma oficina para aprender a usar, é bem focado, é muito mais instrumentalização. Mas eu penso que existe outra questão, que é uma formação mais contínua,

que é uma reflexão sobre o que você faz, sobre sua prática, e não é uma vez por semestre! Eu gostaria, apesar de não ter tempo, de ter essa reflexão toda a semana, ou seja, poder compartilhar com os meus colegas aquilo que deu certo e aquilo que deu errado, ouvir um pouco a questão teórica. Eu imagino que tenham pessoas que já teorizaram sobre isso e os teóricos vão me fazer pensar sobre minha prática. Os colegas irão nos trazer contribuições,

também irão me fazer repensar a minha prática. E, principalmente, que ao contar minhas

experiências para os colegas, eu faço a minha reflexão. Penso que esse processo contínuo, é o mais produtivo.” (Professora - P4)

A professora P4, assim como os demais professores participantes, sinalizam a necessidade de que a formação em exercício seja retroalimentada, isto é, que os professores, ao participarem dessa formação, possam ter tempo para retornar à sala de aula, aplicar o que

aprenderam, verificando os erros e acertos e, após, fazer esta reflexão no grupo em formação. Nesse sentido, sugerem que os programas de formação continuada ofertados pela IES ocorram no decorrer do ano letivo, e não apenas em dois períodos específicos do ano já estipulados, geralmente no recesso institucional (julho e janeiro). Por isso, propomos pensar em percursos de formação docente continuada, nos quais o professor seja autor e ator desses percursos, participando ativamente de sua construção.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: POR UMA ECOLOGIA DA UBIQUIDADE NA