• Nenhum resultado encontrado

2 INTERFACES: CIBERCULTURA, COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

2.3 CARACTERÍSTICAS DA CIBERCULTURA

2.3.2 As relações da computação móvel, pervasiva e ubíqua

Buscamos, no dicionário Houais (versão eletrônica), a origem etimológica da palavra

ubiquidade, a fim de compreender este verbete em suas acepções. Conforme o dicionário,

ubiquidade advém do verbete francês ubiquité, que, por sua vez, provém do radical do advérbio latino ubíque, cujo significado é em ou por toda parte, que pode ter diversas

localizações, condição de estar em toda parte ao mesmo tempo. O termo é muito utilizado

para designar a capacidade dos “Deuses” de estarem em todos os lugares ao mesmo tempo, onipresença, que pode dividir-se ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo, cuja projeção pode ser capturada de vários e diferentes lugares.

Ubiquidade, do inglês ubiquity, refere-se à descrição do fenômeno de propagação da TD e o acesso aos diversos dispositivos da internet. No contexto dessa pesquisa, entendemos a ubiquidade como a possibilidade de interagir com o espaço geográfico ao mesmo tempo em que se interage com o ciberespaço e os espaços online decorrentes deste, uma vez que os espaços estão imbricados, coexistem e se misturam no viver e conviver do ser humano na contemporaneidade. Esse tipo de interação é possível, por meio do uso das TDM e das conexões digitais em rede de computadores interligados pela internet e pelos diversos aparatos tecnológicos e serviços associados.

Para ampliar nossa compreensão a respeito da ubiquidade, buscamos a origem do conceito na Informática. O conceito de computação ubíqua foi criado por Weiser (1991) quando o autor proferiu que as tecnologias mais profundas são aquelas que desaparecem por se integrarem à vida cotidiana até se tornarem indistinguíveis da mesma, tornando-se pervasivas, ou seja, praticamente invisíveis. Assim, Weiser vislumbrou, ainda em 1991, que no futuro os computadores habitariam os objetos mais triviais de uso cotidiano, tais como etiquetas de roupas, xícaras de café, interruptores de luz, canetas, entre outros, de forma invisível para o usuário. Então, a computação se torna subjacente ao nosso viver e conviver cotidiano. Nesse cenário, o autor (ibid.) aponta que precisamos aprender a conviver com computadores, e não apenas a interagir com eles. É esta a realidade computacional que vivenciamos hoje; cada vez mais objetos computacionais, dotados de inteligência artificial, são inseridos em nosso cotidiano com tecnologias embarcadas, resultando na “internet das coisas”.

Em termos tecnológicos, Araujo (2003, p. 45) entende por ubiquidade a coordenação de dispositivos inteligentes, móveis e estacionários, a fim de prover aos usuários acesso imediato e universal a novos serviços, de forma transparente, visando ampliar as capacidades

humanas. A autora explica que, embora os termos computação ubíqua, pervasiva e móvel (entre outros) sejam usados muitas vezes como sinônimos, conceitualmente são diferentes e empregam distintas ideias de organização e gerenciamento dos serviços computacionais. Uma vez que a computação ubíqua implica na computação móvel e pervasiva, iniciaremos as definições e diferenciações desses conceitos pela computação móvel, conforme os estudos de Araujo (ibid., p. 50):

- Computação móvel: define-se pelo aumento da capacidade de movimentação física humana, levando consigo serviços computacionais. O computador torna-se um dispositivo onipresente que expande a capacidade do usuário de usar os serviços que o equipamento oferece, independente de sua localização. Desse modo, a computação móvel, combinada com a capacidade de acesso, transforma a computação numa atividade que pode ser transportada para qualquer lugar a qualquer momento;

- Computação pervasiva: implica que o computador está embarcado no ambiente de forma invisível para o usuário, então o computador tem a capacidade de obter informação do ambiente no qual está embarcado para utilizá-la dinamicamente na construção de modelos computacionais. Assim, o computador pode “controlar, configurar e ajustar a aplicação para melhor atender as necessidades do dispositivo ou usuário” (ibid., p. 50). De modo complementar, “o ambiente também pode e deve ser capaz de detectar outros dispositivos que venham a fazer parte dele” (ibid., p. 50). É dessa interação que surge a capacidade da ação inteligente dos computadores no ambiente no qual nos movemos, povoado por sensores e serviços computacionais;

- Computação ubíqua: beneficia-se dos avanços da computação móvel e da computação

pervasiva. Surge da necessidade de integração da mobilidade com a funcionalidade da computação pervasiva, ou seja, qualquer dispositivo computacional, “enquanto em movimento conosco, pode construir, dinamicamente, modelos computacionais dos ambientes nos quais nos movemos e configurar seus serviços dependendo da necessidade” (ibid., p. 50).

Por fim, considerando-se a integração estabelecida entre as três formas de computação, a autora aponta que:

O potencial de aplicações da computação ubíqua é limitado apenas pela imaginação - com a conexão, monitoramento e coordenação de dispositivos localizados em casas, edifícios e carros inteligentes, através de redes sem fio locais e de longa

distância com alta largura de banda, as aplicações variam desde o controle de temperatura, luzes e umidade de uma residência, até aplicações colaborativas com suporte à mobilidade. (ARAUJO, 2003, p. 45)

Na Figura 2, podemos visualizar a relação entre a computação móvel, ubíqua e pervasiva, que implicam na comunicação ubíqua, conforme já referido.

Figura 2 - Relação entre a computação móvel, pervasiva e ubíqua

Fonte: A autora (2016).

Silva (2006) esclarece que o conceito de ubiquidade isolado não inclui mobilidade; no entanto, aponta que dispositivos móveis podem ser considerados ubíquos, uma vez que podem ser encontrados e usados em qualquer lugar, portanto, possibilitam uma comunicação ubíqua:

Idealmente, essa conectividade é mantida independente da localização ou do movimento da entidade. Essa independência de localização deve estar disponível em áreas muito grandes para um único meio com fio, como por exemplo, um cabo ethernet. Evidentemente, a tecnologia sem fio proporciona maior ubiquidade do que é possível com os meios com fio, especialmente quando se dá em movimento. Além do mais, muitos servidores sem fio espalhados pelo ambiente permitem que o usuário se mova livremente pelo espaço físico, sempre conectado. (SILVA, 2006, p. 179)

Santaella (2010) aponta que a comunicação móvel tornou-se um sinal do movimento progressivo do uso do computador para além do desktop, em direção a novos contextos físicos

e sociais, sendo que as interações tangíveis e encarnadas interligarão, cada vez mais, os mundos físico e digital, em consequência da inteligência computacional embutida nos objetos que fazem parte do nosso cotidiano e nos ambientes. Assim, a computação pervasiva ou ubíqua possibilita que se estabeleça uma comunicação heterológica, ou seja, o diálogo entre humanos, objetos e agentes artificiais.

Em relação à potência da ubiquidade, Santaella (2010, p. 17) sinaliza que “a ubiquidade destaca a coincidência entre deslocamento e comunicação, pois o usuário comunica-se durante seu deslocamento”. Aponta ainda que a “onipresença, ao contrário, oculta o deslocamento e permite ao usuário continuar suas atividades mesmo estando em outros lugares” (ibid., p. 17).

Conforme já referimos, a conectividade, mobilidade e ubiquidade proporcionam novas modalidades de ensino e aprendizagem, configuradas em diferentes contextos, que ocorrem dentro e fora das instituições de ensino, possibilitando a organização de práticas pedagógicas potencializadas pela interatividade das TDM.