CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.3.1. APRENDIZAGEM COOPERATIVA E CONSTRUTIVISMO
uma teoria que permite interpretar todas as coisas. Permite a elaboração e organização do conhecimento através da interação do indivíduo com o meio físico e social, pela sua força de ação e não por qualquer dotação prévia, hereditária ou do meio. Assim, contrariamente ao que dizem os empiristas, que o conhecimento acontece porque vemos, ouvimos, etc., e não porque agimos, o construtivismo permite afirmar que antes de qualquer ação não existe consciência, muito menos pensamento (Becker, 2009).
Se a epistemologia, conceção do conhecimento, do professor for empirista ele tenderá a seguir um método didático-pedagógico que considere o aluno como uma tábua rasa, ou seja, uma folha de papel em branco sem qualquer tipo de conhecimento. Este facto é o que acontece na maioria das salas de aula, em que o professor ensina a teoria e exige que o aluno a repita várias vezes, para a memorizar, e a aplique na prática, como se a teoria nada tivesse a ver com práticas anteriores e a prática não sofresse alterações com a teoria que a precedeu. Esta prática na sala de aula, segundo Mortimer (1996), contribui para aumentar a consciência dos alunos sobre as suas conceções, mas não lhe permite caminhar em direção aos conceitos científicos.
Para Vygotsky e Piaget a relação do homem com o mundo é direta e os processos mentais superiores como o pensamento verbal, memória lógica e atenção seletiva são criados em atividades mediadas socialmente. A maior dificuldade enumerada por Vygotsky é que o desenvolvimento desses processos inicia-se e termina de forma individualista (Mortimer, 1996).
A aprendizagem mais significativa é a que se baseia no processo de construção de conhecimento por parte dos alunos, que será tanto melhor quanto melhor for a capacidade de o professor criar um ambiente de aprendizagem que potencie a interação entre alunos com diferentes estádios cognitivos. Vygotsky diz que a criança aprende melhor quando é confrontada com novos desafios cognitivos, pelo que o professor tem um importante papel de instrução, permitindo o aumento e desenvolvimento das competências e conhecimento, partindo daquilo que os alunos já sabem e levando-os a interagir uns com os outros num processo de aprendizagem cooperativa (Marques, 2007).
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O ambiente construtivista é o ambiente estimulado pela aprendizagem cooperativa, a fim de garantir o sucesso da aprendizagem. Este ambiente apresenta as seguintes características:
enfatiza a construção do conhecimento e não a memorização;
privilegia as tarefas desempenhadas pelos alunos e situações do mundo real e do dia a dia;
propicia várias representações da mesma realidade (verbais, formais, qualitativas, etc.);
encoraja a reflexão crítica constante dos alunos;
propicia atividades dependentes do contexto e do conteúdo e tem em conta as formas de aprendizagem dos alunos;
estimula a construção colaborativa do conhecimento através da interação social, em vez de uma competição individual pela classificação;
privilegia a avaliação formadora quer para a regulação da aprendizagem do aluno quer para a reflexão, autoavaliação e autocorreção da própria aprendizagem;
favorece relações interpessoais dentro e fora da sala de aula; motiva e responsabiliza os alunos nas suas próprias aprendizagens.
Em atividades construtivistas, cria-se um ambiente que conduz à aprendizagem como uma atividade pessoal, em que o aluno possui uma liberdade controlada e uma responsabilidade partilhada num meio estimulador de diálogo e cooperação onde o professor é apenas um mediador fundamental (Valadares, s.d.).
2.3.1.1. Instrumentos Construtivistas
Atualmente existem instrumentos que encaixam em ambientes construtivistas numa aprendizagem cooperativa, nomeadamente os mapas conceptuais de Novak e os Vês do conhecimento (Valadares, s.d.).
46 2.3.5.1.1. Mapas Conceptuais de Novak
Os mapas conceptuais são meros diagramas que hierarquizam conceitos ligados entre si através de palavras. Quando um mapa destes é elaborado pelos alunos revela a sua estrutura cognitiva, mostrando ou não lacunas conceptuais. Estes mapas, genericamente, são uma forma grosseira da organização de conceitos, uma vez que é condicionado pelas suas dimensões, no entanto existe a possibilidade de construir mapas mais elaborados e detalhados. A sua construção pode dar origem a vários tipos de mapas de estruturas diferentes, pelo que deve ser encarada apenas como um mapa revelador de estrutura e nunca como o único mapa correto acerca desse assunto. O que é importante é que revele uma estrutura de hierarquia de conceitos, coerente com a estrutura do assunto e com o contexto em que decorreu a apreensão do seu significado, mostrando relações cientificamente corretas, o que determina uma escolha cuidadosa das palavras de ligação (Valadares, s.d.).
Alguns dos aspetos, segundo o mesmo autor, que devem ser valorizados nos mapas de Novak são:
O aspeto dendrítico, ou seja, a existência de ramificações como numa árvore; A validade dos níveis de hierarquia;
A correção da ligação dos conceitos;
As ligações transversais entre conceitos de ramos distintos; A correção dos exemplos.
2.3.5.1.2. Vês do Conhecimento
Como é de senso comum o conhecimento assume sempre uma estrutura, pelo que através do Vê do conhecimento, Heuristico, Epistemológico ou de Gowin, pode-se analisar a estrutura de um determinado conhecimento, identificar as suas componentes e clarificar as relações entre essas componentes. Esta estratégia construtivista e
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investigativa no ensino é utilizada na orientação de atividades experimentais (Valadares, s.d.).
A sua forma é exatamente como a letra “Vê”, fig. 13, e aponta para os acontecimentos e/ou objetivos sobre os quais incide a investigação que conduz ao conhecimento. Na parte central superior, está a questão problema a investigar , toda a investigação centra-se em objetivos/acontecimentos e na questão problema acerca do mesmo. O lado esquerdo do Vê é a componente conceptual onde o aluno assume as teorias e os princípios em que se baseia e os conceitos que possui na sua estrutura cognitiva, enquanto o lado direito é a componente metodológica onde o aluno observa os fenómenos/objetos, se interroga, interpreta as observações e faz juízos cognitivos de modo a encontrar a resposta à questão-problema. É a interação entre estes dois componentes, conceptual e metodológico, que está na basa da produção do conhecimento.
Figura 13 – Forma e estrutura do Vê de conhecimento. [10]
Os Vês de Gowin orientam os alunos na construção do seu conhecimento através de experiências educativas, e permitem detetar as dificuldades conceptuais e
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metodológicas. Por este facto, é considerada uma ferramenta de avaliação formativa e formadora.
A realização de uma investigação baseada nos Vês do conhecimento deve valorizar vários aspetos, tais como: clareza da explicação das teorias assumidas e da enunciação dos princípios; rigor na definição de conceitos, nos registos formulados e na transformação dos dados; adequação dos juízos de valor e cognitivos.