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CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3.5. ESCOLA E APRENDIZAGEM COOPERATIVA

A aprendizagem cooperativa não é algo novo no sistema educativo, contudo são poucos os docentes que recorrem a este método de ensino em sala de aula.

Segundo Cochito (2004), o sucesso do método de aprendizagem cooperativa será tanto maior quanto maior for a sua aplicação na sala de aula e na escola em geral, o que dificilmente é prática sistemática e reconhecida.

A estrutura tradicional do ensino competitivo-individualista acentua as diferenças preexistentes entre os alunos, para além de potencialmente provocar conflitos e indisciplina. Estabelece também as condições necessárias de participação/interação de um pequeno grupo de alunos enquanto outros não conseguem alcançar o êxito e reconhecimento académico. A aprendizagem cooperativa é considerada o maior e mais importante instrumento no combate à discriminação social e fator de motivação para aprendizagem, o que acarreta um melhor rendimento académico por parte dos alunos. É por este facto uma estratégia eficaz na promoção da igualdade de oportunidade e dimensão intercultural da educação.

Seja qual for o contexto, a competência de cooperação é fundamental ao desenvolvimento quer das pessoas quer das organizações. Esta metodologia permite “eliminar” os muros da escola, levando à criação de ligações entre diversos membros das comunidades escolares através de uma troca de experiências, onde se cria e sustenta uma comunidade de prática. Esta comunidade prática requer a organização de grupo ou grupos no mesmo local de trabalho, ou até mesmo de diferentes localizações geográficas, que potencia o sentimento de proximidade, elaboração de mais conhecimento e o aumento da confiança nas interações diárias.

Não é um processo fácil que se aprenda e use de um dia para o outro, mas há que experimentar, ultrapassar barreiras, enfrentar críticas destrutivas e incompreensão. É um processo que exige persistência para alcançar uma mudança e introduzir metodologias mais ativas e responsabilizadoras, para que se elimine a falsa segurança encontrada no refúgio previsível do manual escolar (Cochito, 2004).

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2.3.5.1. Implementação da Aprendizagem Cooperativa

A aprendizagem cooperativa não substitui o trabalho do professor, mas estrutura o trabalho, o estudo e a responsabilidade individual (Ribeiro, 2006).

Construir a sala de aula num meio de cooperação implica desde o primeiro dia uma mudança total nas normas tradicionais. Depende fundamentalmente do professor a criação de espaço e disponibilidade para que os alunos se conheçam mutuamente e procedam de acordo com as regras básicas da sala de aula cooperativa, onde todos são responsáveis pelo funcionamento do grupo (Cochito, 2004).

Todos têm o direito de pedir ajuda e a obrigação de ajudar; ninguém pode considerar o seu trabalho acabado até que todos os elementos do grupo estejam prontos; cada aluno deve, no final do trabalho de grupo, de forma individual completar um relatório sobre o funcionamento e empenho do grupo (Cochito, 2004).

Na implementação da aprendizagem cooperativa é necessário ter em consideração alguns aspetos, nomeadamente relacionados com a metodologia de ensino aprendizagem. A experiência e o à-vontade do professor deve ser fundamental para aplicar com sucesso esta metodologia (Lopes & Silva, 2006). Para tal, o professor deve saber a sequência geral de uma aula de aprendizagem cooperativa, que inclui seis fases fundamentais: (1) estabelecer os objetivos e o contexto da tarefa; (2) dar informação aos alunos através de uma apresentação oral ou escrita; (3) organizar os alunos em equipas de aprendizagem; (4) proporcionar tempos e assistência ao trabalho de grupo; (5) avaliar os resultados e (6) reconhecer tanto a realização individual como a de grupo (Arends, 1995).

Aplicando esta metodologia, o professor pode estruturar uma aprendizagem de forma organizada e que permita avaliar exatamente o processo tendo em conta: (1) a interação nos grupos; (2) o feedback constante; (3) o tempo para reflexão; (4) a avaliação do processo no grupo turma e (5) a demonstração de satisfação pelos progressos (Correia et al., 2005).

Em suma, organizar uma sala de aula cooperativa não é uma questão periférica na estratégia do professor, pois é necessário planear de forma interdisciplinar, articulando e explicitando os diferentes tipos de competências (socias e cognitivas) que os alunos adquirem através da relação entre competências e conteúdos. Isto implica

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interação e participação na resolução de problemas, permitindo o sucesso dos alunos quando estes conseguem reproduzir de outra forma aquilo que aprenderam, tornando-se independentes do professor, responsáveis e participativos contrariamente ao método da sala de aula individualista e competitivo, centrado fundamentalmente na reprodução de conteúdos sem contexto de aplicação (Cochito, 2004).

2.3.5.2. Papel do Professor

Desde sempre o professor foi tido como uma fonte de informação a quem os alunos poderiam recorrer num ensino tradicional. Atualmente um professor não é apenas uma fonte de informação mas também um orientador no desenvolvimento de competências sociais no processo de aprendizagem dos alunos (Cochito, 2004).

As competências sociais são englobadas/desenvolvidas no processo de aprendizagem dos alunos, em contexto de sala de aula, através de uma aprendizagem cooperativa, em que o professor se mantém a figura central, como orientador e observador, durante a realização das tarefas propostas aos alunos. Sendo este processo responsável por elevar o grau de autonomia, responsabilidade e capacidade de auto- organização dos alunos, cabe ao professor executar as suas funções devidamente, para que os alunos alcancem o sucesso, que será tanto maior quanto maior for o sucesso do professor nas suas tarefas (Ribeiro, 2006).

Para Sanches (1994), um professor que usa a aprendizagem cooperativa na sala de aula afirma-se quanto à sua adesão e preferência por um modelo de aprendizagem; à sua preparação para pôr em prática o modelo; e quanto ao seu papel no planeamento das atividades e monitorização dos grupos.

Então, para que o sucesso pretendido na aplicação de uma aprendizagem cooperativa seja atingido por ambas as partes (professor e aluno), o professor terá de executar várias funções ao longo de todo o processo, desde que pensa nas tarefas a propor aos alunos até que sejam concluídas pelos mesmos numa auto e heteroavaliação.

Inicialmente o professor terá de assumir funções perante o grande grupo, presente na sala de aula, em que terá de apresentar as normas e as características gerais do trabalho cooperativo que se vai desenvolver, bem como explicar as tarefas e indicar

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o material necessário para a sua realização. Posto isto, o professor terá de organizar os grupos cooperativos, o espaço da aula e os materiais necessários à realização das tarefas. Nesta fase o professor terá de prever também tarefas complementares ao trabalho proposto. Assim, ao professor cabe definir com clareza os objetivos (académicos e sociais) do trabalho, tomar decisões e realizar os preparativos necessários à aprendizagem cooperativa. Devem também motivar os alunos para a realização das atividades propostas e explicar os procedimentos da aprendizagem cooperativa – responsabilidade individual, interdependência positiva e interação pessoal- para uma execução mais eficaz das atividades propostas (Ribeiro, 2006).

Neste tipo de aprendizagem, o professor deve facilitar o mais possível todo o processo de aprendizagem cooperativa nos grupos, para que valores e atitudes como autonomia e confiança sejam reforçados no decorrer das tarefas atribuídas. Para que tal aconteça o professor exercerá a função de orientador e observador sistemático do funcionamento dos grupos, de modo a detetar as condutas manifestadas pelos alunos na execução das tarefas propostas dentro dos respetivos grupos de trabalho. Estas observações vão permitir ao professor detetar situações problemáticas, como por exemplo alunos marginalizados, permitindo-lhe intervir na inclusão de todos os elementos, promovendo canais de comunicação e reflexão eficazes sobre as funções desempenhadas, dando indicações do que pode ser melhorado e ajudando ao reconhecimento pessoal de quer dos seus pontos fortes, quer fracos. Neste contexto, o professor deteta os problemas dos alunos e o desenvolvimento de competências cooperativas para que atinjam com sucesso garantido a resolução das tarefas propostas (Ribeiro, 2006).

O professor deve ainda ter consciência, quando utiliza a aprendizagem cooperativa, que quanto mais estruturados e organizados estiverem os grupos maior será a autorregulação e o sucesso dos elementos, que consequentemente leva ao sucesso dos grupos. Para que isso aconteça o professor deve garantir: (1) o sucesso dos alunos mais fracos e que cada aluno conhece os objetivos do grupo; (2) que existe rotatividade de papéis e recursos básicos para a resolução das tarefas; (3) que ocorre intercâmbio de explicações e justificações necessárias à resolução dos problemas, bem como capacidade de argumentação no caso de surgirem opiniões divergentes; (4) o controlo do tempo utilizado pelo grupo na execução da atividade; (5) o fornecimento de critérios

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e instrumentos de avaliação necessários à fase final da atividade proposta que é a avaliação (Ribeiro, 2006).

De forma resumida, as funções do professor na aplicação da aprendizagem cooperativa, ilustram-se na figura 16.

Figura 16 – Funções do professor na aplicação da aprendizagem cooperativa (extraído de

Ribeiro, 2006).