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CAPITULO I – APRENDIZAGEM PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA

1.2. Aprendizagem docente para o trabalho com a educação infantil

O trabalho na educação infantil, assim como em qualquer outra modalidade de ensino, exige que o professor busque novos saberes para atender a necessidades de seus alunos. No caso desta pesquisa a preocupação é referente aos menores de três anos, desta forma, o professor atento à realidade de seu aluno, pode valorizar a história social e cultural dos pequenos, pensando um trabalho na coletividade.

A aprendizagem profissional docente para o trabalho com as crianças pode-se tornar um processo de desenvolvimento muito rico, por possibilitar a ampliação de saberes já existentes com a aquisição de novos saberes que serão construídos nas experiências vivenciadas com as crianças e com as atividades desenvolvidos em sala de aula.

Ao pensar em saberes para o fazer docente, Tardif (2011) afirma que devemos contextualizar com o ambiente de trabalho do professor, pois este está intimamente ligado com sua identidade , com história de vida e com a sua experiência profissional, dentre os demais elementos que compõem esta lógica. Portanto, é necessário pensar os saberes relacionando com estes elementos que compõem os afazeres do professor.

Tem-se como desafio para a formação de professores de educação infantil uma perspectiva formadora preocupada em preparar os futuros docentes que tenham a responsabilidade de desenvolver o seu trabalho com os pequenos, atrelando o cuidar e o educar. Não tem mais como nos dias atuais pensar em um profissional da educação infantil que não esteja preparado para desenvolver estas duas ações em seu trabalho.

Qualificar o futuro docente para educar e cuidar, entender a complexidade da infância, dando voz às crianças e valorizando sua cultura (FARIA, 2011), além de lhes garantir que seus direitos fundamentais , têm se constituído enquanto elementos fundamentais para se pensar em uma formação de professores comprometida com as especificidades de sua área de trabalho.

O professor iniciante ainda não está pronto quando se insere no mercado de trabalho (GARCIA, 1999; IMBERNÓN, 2004; MIZUKAMI, 2002; TANCREDI, 2009), pois ao se inserir no ambiente de trabalho irá se deparar com uma série de questões que irão exigir decisões em sua atuação.

Devido à função da creche estar historicamente ligada a um atendimento assistencialista (KUHLMANN JR. 1998), o professor iniciante entrará em contato com diversas posturas profissionais que influenciarão na sua aprendizagem da docência. Queremos ressaltar a necessidade do docente em estar atento para não se ajustar ao comodismo e à reprodução de posturas profissionais focadas no cuidado físico, higienismo e na saúde da criança, o que lhe exigirá uma reflexão constante sobre o seu trabalho, a fim de repensar que postura profissional vai assumir e que práticas precisam ser desenvolvidas para não distanciar o cuidar do educar.

Gomes (2009) nos coloca a importância de se pensar a formação de professores de educação infantil associando a forma como os docentes aprendem pelos saberes da experiência prática, que irá contribuir para a construção de sua base de conhecimento (TARDIF, 2011) para atuar nas creches. A autora destaca que o professor irá se formar na “ dinâmica de relações, interações, mediações e proposições, e a(s) identidade(s) que ele constituirá está (estão) vinculada(s) a esses contextos socializadores, a esses modos de ser e estar na profissão” (GOMES, 2009, p.41).

A realidade da situação profissional dos educadores de creches e pré-escolas que existem hoje no Brasil foi ressaltada por Campos (1994) quando este coloca que se a preocupação para com este nível de ensino estiver voltada a um atendimento que garanta um ambiente limpo e seguro, para que as crianças não se sujem, não se machuquem e que seus responsáveis possam retirá-las da mesma forma que quando as entregaram aos cuidados da instituição, então precisaremos de uma atuação profissional que esteja voltada para a limpeza, alimentação, controle do comportamento dos alunos, e para isso são contratados profissionais com pouca escolaridade recebendo, consequentemente, baixa remuneração.

Outra perspectiva que a autora aponta como realidade no país, é uma atuação profissional preocupada para preparar as crianças para o ensino fundamental, ou seja, o professor precisa ser formado em nível médio ou superior e desenvolver atividades focando a escolarização das crianças pequenas.

Mas se a preocupação com a atuação do professor de educação infantil é associar o cuidar e o educar, como formar professores que não separem essas funções? Os recentes estudos (BARRETO, 1994; CAMPOS, 1999; FARIA, 2005; GOMES, 2009; KRAMER, 1994) têm mostrado a necessidade de se repensar a forma como estes profissionais estão sendo formados, a fim de traçar um novo perfil profissional que tenha uma formação para o desenvolvimento infantil, que integre o cuidar ao educar em sua prática, pois estas ações precisam ser integradas por todo processo educacional da educação infantil. O docente também pode aprender a elaborar um espaço educativo, juntamente com um planejamento preocupado em desenvolver uma pedagogia para infância, tomando como responsabilidade a formação integral dos pequenos.

Saber apoiar a criança, contribuir com o seu desenvolvimento, e potencializar sua criatividade e “propor novos desafios são competências esperadas pelo professor de educação infantil” (ORTIZ, 2007, p.13), mas para o profissional possuir estas competências, tem que haver em sua formação conhecimentos para isso.

Cerisara (1999) e Campos (1994) realçam a necessidade dos cursos de formação inicial fornecer conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, ajudando o professor compreender as potencialidades e os limites das crianças em cada faixa etária, para que se identifique o que é próprio para ser trabalhado com as crianças menores de cinco anos, considerando as características de cada idade para a elaboração de seu trabalho.

A necessidade de se preocupar com a formação profissional para atuar na educação infantil é defendida por Rosemberg (1994) ao colocar como imprescindível que “o profissional em educação infantil tenha acesso a uma educação formal específica (que lhe é garantida institucionalmente), e que lhe permita o acesso a uma habilitação profissional específica, socialmente reconhecida e lhe possibilite progresso na carreira” (ROSEMBERG, 1994, p. 55).

Kramer (1994) refere sobre a importância de se considerar nos cursos de formação inicial de professores, três aspectos para compor um currículo de formação preocupado com o educador para a infância, sendo que este deveria ser constituído por:

(...) ( i) conhecimentos científicos básicos para a formação do professor ( matemática, língua portuguesa, ciências naturais e sociais) e conhecimentos necessários para o trabalho com a criança pequena (psicologia, saúde, historia, antropologia, estudos da linguagem etc); (ii) processo de desenvolvimento e construção dos conhecimentos do próprio profissional; ( iii) valores e saberes culturais dos profissionais produzidos a partir de sua classe social, sua história de vida, etnia, religião, sexo e trabalho concreto que realiza. (KRAMER, 1994, p.78).

A autora ainda afirma que a formação inicial precisa ser pautada no binômio de cuidar/educar e que para se construir saberes voltados para a prática profissional docente na educação infantil, de acordo com que se espera para uma atuação competente, a formação inicial não pode estar permeada pelo afastamento do trabalho do “profissional que cuida e do que educa, entre a universidade e a escola básica, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, entre o fazer e o pensar, uma vez que tal como o homem a que se dirigem, são indissociáveis” ( KRAMER,1994, p.79) pois superar este binômio tem sido um grande desafio para a formação de professores de educação infantil.

O profissional de educação infantil, de acordo com Ortiz (2007) é “ aquele que sabe mediar as experiências da criança pequena de modo a contribuir positivamente para o seu desenvolvimento e sua aprendizagem” (ORTIZ, 2007, p.11), que colabora para que as crianças utilizem e tenham valorizadas suas múltiplas linguagens, que aprendam sobre si mesmas, sobre sua cultura, da mesma maneira em que trabalhe com os pequenos atividades que estimulem a expressão de suas experiências e afetividades.

Essas condições formativas configuram a docência enquanto uma atividade complexa e por mais que sejam ressaltados alguns cuidados a serem tomados neste estudo, não há a intenção de oferecer práticas determinadas a serem seguidas, mas talvez caminhos para que a atuação docente na educação infantil se adapte ao contexto e consiga realizar um trabalho que abranja as questões da realidade em que o profissional atua. Também podemos apontar elementos para serem dialogados e refletidos pelos professores para que repensem sua prática pedagógica com os menores de três anos.

CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO