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É notável que o uso da informática, por parte da população em geral, se expandiu de forma acelerada ao longo do tempo. Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento os computadores são acessíveis a grande parte da população, sobretudo pela redução dos custos para aquisição e manutenção dos mesmos e pela popularização, cada vez maior, dos conhecimentos em informática. Essa expansão também pode ser percebida nos diversos âmbitos da área da saúde tendo ocorrido de forma mais rápida no meio acadêmico, no qual a informática tem sido amplamente utilizada (FREITAS, 2010).

A utilização de computadores no ensino teve seu início na década de 1960, porém o custo necessário para implementar esse método de ensino era inviável para a maioria das instituições (WOODS; JONES; SHOULTZ et al., 1988). Um dos sistemas construídos neste período foi o Computer Assisted Instruction (CAI), método de instrução programada no qual o material didático era organizado em segmentos lógicos, composto basicamente por questões de verdadeiro ou falso utilizadas para a avaliação dos estudantes (DEV; HOFFER; BARNETT, 1996; VALENTE, 1998).

A partir da década de 1970 e durante a década de 1980 iniciou-se a revolução dos microcomputadores, a partir da qual equipamentos menos dispendiosos foram criados. Nessa época, os sistemas CAI evoluíram para os sistemas Intelligent Computer Assisted Instruction (ICAI) favorecendo o desenvolvimento de softwares destinados à educação, inclusive na área da saúde (WOODS; JONES; SHOULTZ et al., 1988).

A partir daí, surgiram os primeiros sistemas de simulação, nos quais o sistema assumia o papel do paciente permitindo que o aluno interagisse com o mesmo, vivenciando uma situação análoga à realidade. Também data desse período o desenvolvimento dos sistemas especialistas (ou sistemas experts), que abrangem técnicas e métodos da inteligência artificial (DEV; HOFFER; BARNETT, 1996).

Mudanças significativas ocorreram na década de 1990, quando foram fabricados microcomputadores com capacidade para manipulação de maiores quantidades de informação, o que favoreceu a criação de softwares educacionais cada vez mais complexos, dotados de sons e imagens (RODRIGUES, 2006). O artigo publicado por Gerheim (1990), num momento histórico de expansão do uso de computadores no ensino da Enfermagem, evidencia a popularização dos métodos de ensino mediados por computador, na época. A autora defende a ideia de que o uso de sistemas computadorizados contribui para melhorias na educação em Enfermagem e destaca o desafio de capacitar os educadores para não apenas utilizar softwares adquiridos de fornecedores, mas criar sistemas de sua autoria, permitindo uma melhor adequação do conteúdo inserido nestes.

Há aproximadamente 15 anos atrás, Jones e Wainwright (1998) já afirmavam que a aprendizagem mediada por computador é um método custo-efetivo. Os autores argumentaram que, passada a fase inicial de produção do material didático (a mais dispendiosa), os custos com manutenção são mínimos. Além disso, os autores destacam que o uso do computador possibilita a disponibilização de conteúdo digital aos alunos, que pode ser armazenado e acessado em meio eletrônico, sem a necessidade de utilizar papel, o que também contribui para a redução de custos.

Atualmente, o computador é utilizado como uma ferramenta de apoio ao professor e ao aluno e considera-se que seu uso é vantajoso por ser simples, de ampla aceitação no meio acadêmico e de baixo custo em relação a outros métodos de simulação, auxiliando o processo ensino-aprendizagem com eficácia e eficiência (GÓES, 2010).

Estudos têm demonstrado diversos benefícios da utilização da informática como ferramenta de apoio ao ensino. A capacidade de simular situações reais é apontada como um elemento facilitador da correlação entre teoria e prática, enquanto o caráter audiovisual contribui para uma melhor fixação dos conhecimentos (FREITAS, 2010).

Autores de um estudo experimental analisaram o desempenho de estudantes de enfermagem em atividades clínicas a partir da utilização de um software educacional. Os resultados mostram que os alunos que tiveram acesso ao programa mostraram um desempenho significativamente superior em relação àqueles que não foram expostos a esse método de ensino

(SANTOS et al., 1995). Em outro estudo, randomizado e controlado, autores verificaram escores de conhecimento significativamente maiores no grupo experimental (o qual teve acesso a um módulo multimídia de ensino mediado por computador) que no grupo controle (o qual participou somente de aulas teóricas), com diferenças emergentes após oito semanas de seguimento em favor do grupo experimental (BLOOMFIELD; ROBERTS; WHILE, 2010).

O aumento da confiança é outro resultado que pode ser obtido a partir da utilização da informática como ferramenta de ensino. Pesquisadores verificaram que o uso da aprendizagem on-line e tecnologias de áudio e vídeo por estudantes de uma universidade na Austrália esteve associado a uma melhora da compreensão, da linguagem clínica e das habilidades de comunicação (ROGAN; MIGUEL, 2013). Semelhantemente, autores de uma pesquisa desenvolvida em diferentes instituições verificaram que alunos que faziam uso da CAI demonstraram mais confiança para execução de atividades assistenciais, após o uso dos programas de computador, que os alunos que não tiveram acesso a esse tipo de ferramenta (KELLEY; KOPAC, 2001).

Pesquisadores destacam ainda que, do ponto de vista dos alunos, a percepção acerca do uso das tecnologias computacionais para o ensino é predominantemente positiva. Estudantes de enfermagem que acessaram diferentes ferramentas de ensino disponibilizadas na internet (questionários interativos, glossários com áudio, apresentações em PowerPoint narradas, animações e videoclipes) apontaram que tais ferramentas contribuem para a fixação do aprendizado e favorecem o estudo no “próprio ritmo”, isto é, constituem uma abordagem individualizada (KOCH et al., 2010).

Em outro estudo, pesquisadores disponibilizaram um curso à distância sobre genética para alunos e profissionais da área da saúde, e verificaram que o uso da internet é uma forma aceitável e prática para lidar com a educação nesse tema. O feedback avaliativo (recebido verbalmente, por telefone e por e-mail) apontou um posicionamento entusiástico e altamente positivo por parte dos usuários desse recurso (GRESTY; SKIRTON; EVENDEN, 2007).

O ensino de enfermagem mediado pelo computador ainda representa um desafio a ser vencido, pois mudanças na postura de discentes e docentes frente ao processo educacional são necessárias (PERES; MEIRA; LEITE, 2007). Nesse ponto, considera-se que o processo de informatização dos métodos de ensino requer um esforço maior por parte dos docentes, os quais terão que adquirir habilidades necessárias para acompanhar os anseios dos discentes de conhecimento atualizado e aprofundado (LOPES, 2001).

Vale ressaltar que a tecnologia computacional facilita a aprendizagem de aspectos de ensino difíceis de alcançar por outros meios e que não minimiza a participação do docente,

pois a presença do mesmo parece transmitir mais segurança para a realização de tarefas utilizando o computador, logo, o reconhecimento dos benefícios dos computadores tem sua origem na pessoa que orienta seu uso (LOPES, 2001; VIERA et al., 2004).

Diante do exposto, verifica-se que o uso da tecnologia computacional no ensino de enfermagem encontra-se em fase de desenvolvimento, mas trata-se de uma estratégia eficaz para a aprendizagem e com ampla aceitação na comunidade acadêmica. Dessa forma, a produção de ferramentas que favoreçam o ensino-aprendizagem utilizando recursos da informática deve ser incentivada, desde que a qualidade técnica e de conteúdo permeie esse processo.