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7 ETAPA 4: VALIDAÇÃO DOS PROTÓTIPOS

7.5 Discussão da testagem dos protótipos

Quanto aos dados sociodemográficos, a caracterização dos estudantes que participaram da testagem dos protótipos foi semelhante a outros estudos de validação de tecnologias para o ensino sobre DE em relação tanto ao sexo quanto à idade (LIRA; LOPES, 2011; LOPES et al., 2013). Há uma predominância de estudantes de Enfermagem do sexo feminino no Brasil e em diversos países, conforme encontrado em estudos sobre raciocínio diagnóstico desenvolvidos na Turquia, Holanda e Austrália (CHOLOWSKI; CHAN, 2004; PAANS et al., 2010; TÜRK; TUĞRUL; ŞAHBAZ, 2013; YONT et al., 2014).

Diferentemente da amostra que participou da testagem do Protótipo 1, na qual todos os alunos afirmaram ter utilizado a NANDA anteriormente, na testagem do Protótipo 2 o percentual de alunos que já haviam utilizado a NANDA foi de 67,9%. As instituições de ensino norte-americanas abordam o uso das terminologias de Enfermagem diferentemente do modo como essa temática é ensinada no Brasil, em particular no Ceará. Além disso, mais da metade da amostra de estudantes norte-americanos estava no início do curso, o que pode estar relacionado ao fato de alguns estudantes terem referido que tiveram o primeiro contato com a classificação da NANDA-I por meio do presente estudo.

Nos Estados Unidos, a incorporação da classificação diagnóstica da NANDA-I ao processo de enfermagem ocorreu entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980 (LAVIN; MEYER; CARLSON, 1999). A Associação Americana de Enfermagem (ANA) mantém um comitê que, atualmente, aceita o uso de doze linguagens padronizadas dentre as quais a NANDA-I é a fonte mais amplamente utilizada nos Estados Unidos (ANA, 2012; THEDE; SCHWIRIAN, 2013).

Em ambos os grupos de alunos que participaram da testagem dos protótipos, a taxa de acertos na identificação dos FR foi mais alta que na identificação das CD e dos DE. Sabe-se que a inferência a respeito das CD se relaciona fortemente à conclusão diagnóstica, o que foi evidenciado na testagem dos protótipos pelacorrelação positiva entre identificação correta das CD e total de respostas corretas e identificação correta dos DE e total de respostas corretas. Ao pensar sobre um DE numa determinada situação clínica, o estudante analisa múltiplos dados. Essa análise está relacionada às pistas ou manifestações exibidas pelo paciente, as quais

constituem as CD. Assim, a acurácia de um DE depende da quantidade, relevância, especificidade e consistência dessas pistas (MATOS; CRUZ, 2009).

Outra semelhança se deu na identificação dos DE, pois, em ambos os grupos, a maior taxa de acertos ocorreu na identificação do DE Síndrome pós-trauma e a menor na identificação do DE Risco de crescimento desproporcional. Não foi possível encontrar uma explicação clara para o fato de ambos os grupos terem tido uma boa performance na identificação do diagnóstico Síndrome pós-trauma. Esse resultado pode estar relacionado tanto à clareza das pistas apresentadas na descrição do caso clínico quanto à qualidade do raciocínio executado pelos alunos.

Em um estudo desenvolvido com o objetivo de elucidar os componentes associados à habilidade de solução de problemas por estudantes de Enfermagem, verificou-se que a qualidade e a compreensibilidade das respostas dadas por alunos na solução de casos clínicos estão associadas ao fornecimento de orientações motivacionais, à estrutura e à acessibilidade ao conhecimento prévio e à qualidade do raciocínio diagnóstico (CHOLOWSKI; CHAN, 2004).

Uma justificativa para a baixa taxa de acertos na identificação do Risco de crescimento desproporcional é o fato de se tratar de um diagnóstico de risco. É provável que, na avidez por identificar um problema real, muitos alunos tenham assinalado opções erradas no tocante à identificação de CD no caso clínico do domínio Crescimento/desenvolvimento ocasionando, por consequência, erro na inferência diagnóstica. Nesse caso clínico, a alternativa correta para responder à pergunta relacionada às CD era “Nenhuma das opções anteriores”, visto que os diagnósticos de risco não possuem características definidoras.

É possível que alguns alunos tenham tido receio em escolher a alternativa “Nenhuma das opções anteriores”, embora a descrição do caso clínico tenha sido elaborada de forma a evidenciar, claramente, um diagnóstico de risco. Destaca-se que o caso clínico continha a informação de que o paciente se encontrava com peso e estatura dentro da faixa de normalidade, porém próximo do limite inferior. Além disso, algumas alternativas se referiam a manifestações parecidas às citadas no caso clínico, porém semanticamente diferentes (por exemplo, o caso clínico continha a evidência “cabelos opacos” e, dentre as alternativas, havia a opção “perda excessiva de cabelos”).

Haladyna (2004) afirma que a elaboração de questões de múltipla escolha é trabalhosa e que a construção de distratores é a parte mais difícil da produção dos itens, exigindo zelo e atenção do elaborador. A chave para o desenvolvimento de distratores é a plausabilidade, ou seja, as opções que não constituem respostas da questão, embora falsas, não podem ser

absurdas. Um item deve ser corretamente respondido por aqueles que dominam a habilidade veiculada à questão e equivocadamente respondido por aqueles que não a dominam.

Verificou-se também que na testagem do Protótipo 1 houve correlações estatisticamente significantes entre as variáveis semestre do curso e idade e identificação correta das CD e total de respostas corretas: alunos do 4º semestre e mais jovens tiveram uma melhor performance que alunos do 7º semestre e indivíduos com mais idade. Essa relação se justifica pelo fato de que os alunos do 4º semestre tinham sido expostos mais recentemente às aulas teóricas e avaliações sobre DE que os alunos do 7º semestre. Outrossim, a relação com a idade já era esperada, visto que idade e semestre do curso tendem a ser diretamente proporcionais.

Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Lopes et al. (2013), no qual alunos do 3º ano tiveram melhor performance e foram mais homogêneos que alunos do 4º ano na identificação de CD e FR em um caso clínico. Os autores explicaram que na instituição onde o estudo foi realizado os alunos são ensinados a identificar DE no 3º ano, sendo também continuamente expostos ao uso de DE em atividades práticas no contexto hospitalar. Além disso, os autores acreditam que a grande carga de atividades acadêmicas à qual os alunos do 4º ano são expostos nessa instituição, pode ter gerado cansaço e influenciado os resultados. Em contrapartida, Yont, Khorshid e Eşer (2009) encontraram melhores escores na identificação de DE por alunos do 4º ano em comparação com alunos do 2º ano e atribuíram isso a uma maior experiência na elaboração de planos de cuidado e na execução de inferências diagnósticas.

De acordo com Lira e Lopes (2011), a uniformidade entre os grupos é importante para controlar as variações de conhecimento e experiência anterior. No entanto, nessa etapa do estudo, verificar a existência de tais diferenças não constituiu uma limitação e sim serviu de base para comparação com os resultados obtidos posteriormente, na etapa de implementação, na qual instituiu-se técnicas para a obtenção de um grupo mais homogêneo de estudantes e que abrangesse outros semestres do curso.

A etapa de testagem dos protótipos foi fundamental para a verificação da adequabilidade do conteúdo e da estratégia de ensino-aprendizagem a serem utilizados na criação da versão definitiva do software. Com base na performance dos alunos, o intuito de criar um questionário com nível de dificuldade intermediário foi atingido, uma vez que foram obtidos percentuais de acerto entre 60 e 70%. Assim, com relação ao conteúdo dos casos clínicos e de suas respostas, concluiu-se que era desnecessário fazer alterações.

Durante a observação das interações dos alunos com o protótipos, foi identificada a necessidade de inserir duas funcionalidades no software que não estão disponíveis na ferramenta de criação de questionários eletrônicos do Google Forms: 1) uma funcionalidade

que mostrasse as respostas do aluno e as respostas corretas, para fim de comparação e feedback e 2) uma funcionalidade para registro do tempo decorrido do início ao final da resolução dos casos clínicos para que ao usar o software, subsequentemente, o aluno possa verificar se é capaz de executar o raciocínio diagnóstico de maneira mais rápida. Em conjunto, essas duas funcionalidades podem demonstrar a eficiência do raciocínio diagnóstico executado pelo aluno na resolução dos casos clínicos, ou seja, a capacidade de fazer inferências diagnósticas corretas dentro de um tempo adequado (DOENGES; MOORHOUSE, 2012).