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2. Fundamentação Teórica

2.1 Aprendizagem

2.1.4 Aprendizagem na organização familiar

Ao ser considerada como forma de empresa predominante em todo mundo, a empresa familiar ocupa também uma grande parte de nosso tecido econômico e social. A significação estatística de pesquisas abordando esse tema permite desenvolver estudos, tendo esse assunto como interesse primário. Muitas das organizações familiares estão entre as maiores e bem sucedidas do mundo (LEONE, 2006).

Apesar de um cenário de alto crescimento do número de empresas familiares, é enganoso pensar que o surgimento desse tipo de empresa é algo recente, sua existência remonta a muitas décadas, pois criar um negócio em família e manter sua gestão unida aos laços de parentescos sempre foi uma forte tendência na história do capitalismo (SOUZA, 2002).

O campo de pesquisas sobre empresa familiar tem inicio na década de 1950 com um inventário sobre os principais problemas de sucessão nas pequenas empresas e vai se constituindo, durante a década de 60 e 70, com a temática da sucessão. Contudo, ao longo da década de 80 é que o campo de estudos organizacionais se consolidará com diversas publicações e eventos. Certamente, desde a década de 80, a atenção dos profissionais e pesquisadores tem se voltado para o fenômeno empresa familiar resultando em uma literatura nacional já considerável (DAVEL e COLBARI, 2000).

A literatura e resultados empíricos enfocam que o contexto familiar pode ter uma ampla influência na aprendizagem dos dirigentes. Embora sejam necessários estudos mais aprofundados, entende-se que na contínua interação do aprendiz com o membro familiar (mentor), os aspectos culturais do negócio e os valores da família, em geral, são repassados pelo mentor e introjetados pelo mentorado (aprendiz), naturalmente, durante intensa convivência (LEVINSON, 1978, BOYD et al., 1999; SILVA, 2000, 2004; LUCENA, 2001).

A importância dos relacionamentos para a aprendizagem dos gerentes é enfatizada por alguns pesquisadores da área. Algumas publicações sobre esses estudos enfocam que gerentes aprendem por intermédio de relacionamentos (KRAM, 1983; KRAM; ISABELLA, 1985; AKIN, 1987; LA PARO, 1991; SILVA, 2000; LUCENA, 2001; 2005).

Em investigação sobre a aprendizagem profissional de gerentes-proprietários do setor de varejo, Lucena (2001) observou que os pesquisados atuavam em contextos empreendedores de negócios e em “empresas familiares” e que nove das dez empresas estudadas eram do tipo familiar. Alguns dos varejistas relataram que, por um certo período de

suas carreiras, desenvolveram relacionamentos com profissionais que possuíam mais experiência na área de gerenciamento e, além disso, estabeleceram uma relação mentor-

aprendiz com um de seus pais. Destaca-se, ainda, na observação do estudo, que os pais de

alguns dos informantes desempenharam o importante papel de mentor na aprendizagem deles. O estudo de Lucena (2001) sugere que os participantes aprendem por intermédio de suas relações com outras pessoas. Os varejistas analisados na pesquisa estabeleceram interações com várias pessoas, inclusive com membros familiares, uma vez que alguns eram sócios dos participantes. As diversas relações possuíam características distintas. Em alguns casos, os participantes estabeleciam relacionamentos superficiais e, em outras situações, a relação não se limitava ao aspecto profissional, pois proporcionava também apoio pessoal.

O resultado desse estudo indicou que as famílias dos gestores influenciaram ou apoiaram suas escolhas de trabalharem em seus próprios negócios e que a maioria dos participantes ‘aprendia através relações com membros familiares’. Os resultados ainda revelaram que o desenvolvimento deles foi viabilizado mediante relacionamentos com colegas de trabalho e amigos (LUCENA, 2001). Portanto, os resultados, na pesquisa citada, enfatizaram que os gestores aprendiam por intermédio dos múltiplos relacionamentos sociais que possuíam.

Bastos (2006), em estudo recente, investigou a correlação entre as sucessões familiares que alcançaram resultados positivos e o processo de formação de sucessores baseado na mentoria. O autor analisou o processo de mentoria informal experimentado pelos herdeiros, comparando-o com o modelo de Kram (1985) e relacionando-o com o êxito que obtiveram na transição de poder. O estudo focou prioritariamente a mentoria no processo de sucessão familiar.

Em levantamento necessário ao referencial teórico desse estudo, constatou-se que a literatura sobre mentoria nas organizações familiares é escassa. Esta constatação foi corroborada nas investigações de Boyd et al. (1999).

Os pesquisadores Boyd et al. (1999) propiciaram uma descrição geral sobre a literatura de mentoria e apresentaram o resultado de entrevistas com 76 executivos seniores, que relatam suas experiências pessoais como mentorados. A análise desses dados inclui sugestões a respeito de mentoria em firmas familiares, contudo não apresenta convicção de que a mentoria deve ser formal ou informal e desempenhada por membros familiares ou não familiares. Segundo Boyd et al. (1999) a limitada e disponível literatura sobre negócios

apóiam a eficácia do desenvo lvimento do sucessor mentorado. No entanto, os estudos não comparam várias formas de mentoria ou provêm evidências para a eficácia de um processo sobre outro.

Para Boyd (1999), fica, para a comunidade acadêmica, o desafio de averiguar os resultados das pesquisas anteriores de mentoria, enfocando, particularmente, os negócios familiares. Para os autores, apesar do número muito reduzido de trabalhos sobre a mentoria em negócios familiares, ela é recomendada nesse tipo de organização. O que se pode constatar, de certa forma, é que há algum apoio, suporte, para a opinião de que mentoria pode ser útil para os membros de negócios familiares.

Esta seção tratou da aprendizagem dos dirigentes, no contexto da organização familiar, que acontece através de relacionamentos sociais formais ou informais, e podem ser estabelecidos com membros familiares ou não- familiares. Assim, a seção teórica apresentada justifica o interesse dessa pesquisa de conhecer quem provê apoio aos professores-dirigentes, ou seja, quem são os mentores dos dirigentes na organização familiar de ensino superior

privada.

A seção seguinte busca compreender as relações de mentoria cuja definição, em geral, é associada à interação entre, pelo menos, duas pessoas, um mentor e o mentorado para que o processo ocorra.