taxa de juro do mercado monetário
5. Um modelo da actuação do BCE
5.1. Apresentação do modelo
82 Em Cochrane e Piazzessi (2002), por exemplo, encontramos estimações empíricas que identificam a
reacção do Federal Reserve, na definição do valor alvo da taxa de juro de curto prazo, a expectativas inflacionistas e expectativas relacionadas com a actividade económica futura.
A questão que aqui se coloca é a seguinte: o banco central oferece liquidez regularmente de modo a atingir o seu objectivo imediato de política monetária. Como se caracteriza o comportamento de oferta de liquidez do BCE e qual o efeito que essa oferta tem sobre a taxa de juro do mercado monetário? Esta questão é analisada no quadro da Política Monetária Única e do quadro operacional que o BCE dispõe para atingir os seus objectivos.
O ponto de partida é assim constituído pelos objectivos do banco central, presentes quando este realiza operações de refinanciamento. O BCE oferece liquidez ao sector bancário sobretudo através das MRO. Tendo em conta este tipo de operações, esses objectivos são dois:
1) Um objectivo de liquidez ou liquidity smoothing, isto é, supõe-se que o BCE pretende assegurar uma oferta neutral de liquidez, que permita que os bancos atinjam o nível normal de reservas excedentárias, tendo em conta a previsão de factores
autónomos de liquidez83. Assim, este fornecimento de fundos neutral é tal que a
expectativa de recurso a cada uma das facilidades permanentes é 1/2 e, por conseguinte, a taxa de juro esperada para o último dia do período de constituição de reservas é igual ao ponto médio do corredor e, portanto, igual à taxa de juro da última MRO. Note-se que isto é válido para o caso em que não existem expectativas de alteração da taxa de juro. Se elas existirem, então a oferta neutral de liquidez assegura que a taxa de juro corrente é semelhante à taxa esperada para o último dia do período de constituição. Estes raciocínios decorrem da aceitação da propriedade da
martingala84.
Se a situação de liquidez (representada pela diferença entre as reservas efectivas e as reservas normais) não for neutral, isso pode dever-se quer aos factores autónomos (isto é, pode haver um erro de previsão por parte do BCE), quer a uma política deliberada de oferta por parte do BCE para afastá-la do neutral. Como vimos
83
Ver a secção 3.4. onde se analisa a determinação do benchmark allotment, que assegura as condições neutrais de liquidez.
anteriormente, o benchmark allotment é o montante que assegura que a oferta de liquidez é neutral.
Este objectivo tem por fundamento a previsibilidade dos montantes oferecidos por um lado, e a criação de condições estáveis para a constituição de reservas, por outro, reduzindo assim a incerteza com que se deparam os bancos.
2) Um objectivo de sinalização e condução das taxas de juro de acordo com o qual o banco central pretenderia seguir uma política de interest rate smoothing. Assim, o BCE usaria a sua oferta de liquidez para manter o valor da taxa de juro do mercado próximo do valor da taxa de juro das MRO. Manter a taxa de juro ao nível oficial dá credibilidade ao objectivo do BCE de utilizar a taxa de juro das MRO para sinalizar a política monetária.
Deste modo, os objectivos do banco central podem ser expressos analiticamente através de uma função objectivo, do tipo:
( )
[
]
2(
) ( )[
]
2 1 t t t t E L L E i i Loss =γ − + −γ − (2.4)onde a variável
[
E( )
Lt −Lt]
representa o desvio esperado de liquidez do sectorbancário face ao pretendido,
[
E( )
it −it]
representa o spread entre a taxa de juroesperada e a taxa de juro alvo e γ é o parâmetro que mede a importância relativa
atribuída aos dois objectivos. Naturalmente, o desvio de liquidez depende quer dos factores autónomos de liquidez quer das acções voluntárias do banco central para o determinar.
Esta função de perda quadrática, que o banco central pretende minimizar, é habitualmente apresentada na literatura, por exemplo em Ejerskov, Moss e Stracca (2003), Valimaki (2002) e Bindseil (2002). Tal como vimos anteriormente, Ayuso e Repullo (2003) apresentam uma função com os mesmos argumentos, mas assimétrica.
Os dois objectivos presentes nesta função são, na maior parte das vezes, perfeitamente compatíveis e indistinguíveis, o que acontece se não existirem
expectativas de alterações de taxa de juro, ou expectativas de uma situação de liquidez desequilibrada.
A função objectivo do banco central conduz a uma função reacção, uma
liquidity reaction function, que sintetiza um conjunto de normas e regras que o banco
central segue ao oferecer liquidez. Taylor (2001) e Ejerskov, Moss e Stracca (2003) apresentam funções reacção do mesmo tipo, em que a oferta de liquidez depende de
dois argumentos: o spread esperado85 e a oferta de liquidez do período anterior. Assim,
a função reacção virá:
(
)
s t t t t s t E i i L L =α +β +1 − +θ −1 (2.5) onde sL representa a oferta de liquidez pelo banco central. Esta oferta designa a
liquidez oferecida para além (ou abaixo) da necessária para responder aos factores autónomos de liquidez previstos.
Se o parâmetro β for positivo, o banco central reage ao spread esperado
aumentando a oferta de liquidez. No limite, se o banco central apenas se interessar
pelos desvios da taxa de juro, o parâmetro γ na função objectivo é zero e o banco
central apenas se foca neste objectivo.
No que diz respeito à procura de liquidez, assume-se que, na ausência de fricções, a taxa de juro de mercado é determinada pela propriedade da martingala
alargada86. Assim sendo, se saldos de reservas são substitutos perfeitos entre dias do
mesmo período de constituição de reservas e se os bancos pretenderem minimizar os seus custos de obtenção de fundos no mercado, então, de acordo com um raciocínio de arbitragem: ) ( +1 = t t E i i (2.6)
Se a isto juntarmos a hipótese de que a taxa de juro pode ser afectada pelas condições de liquidez do mercado, então a propriedade da martingala alargada exprime-se como:
85
A função reacção de Taylor (2001) depende do spread passado (em vez do spread esperado) como na equação (2.2).
t t
t E i L
i − ( +1)=−ϕ (2.7)
onde L designa a situação de liquidez e ϕ >0, o que significa que um excesso/falta