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Apresentação dos documentos oficiais sobre alfabetização e escolarização em Guiné-

CAPÍTULO I – CARACTERIZAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU

1.6 Apresentação dos documentos oficiais sobre alfabetização e escolarização em Guiné-

Foram apresentados os seguintes materiais: Programa de Língua Portuguesa para o Ensino Básico (1993)26 e Ensino Básico Unificado – Programa (2001).

1.6.1 Programa de Língua Portuguesa para o Ensino Básico

O Programa de Língua Portuguesa (1ª, 2ª e 3ª Fases)27 apresenta na p. 5 – a concepção deste programa.

Foram considerados os seguintes pressupostos:

 A língua portuguesa na Guiné-Bissau é a língua de comunicação nas relações sócio-político-cultural, contribui para a unidade nacional e beneficia do estatuto de língua oficial;

26 Título: Programa de Língua Portuguesa para o do Ensino Básico Autores: Ana Pires Sequeira/Luísa Solla

Local de Edição: Setúbal, Portugal

Editor: Escola Superior de Educação de Setúbal Composição: Alexandre Chaby

Data: Maio de 1993

Nº de exemplares: 25 exemplares

 A língua portuguesa não é a língua materna da maioria das crianças guineenses;

 A diversidade de línguas maternas existentes não origina grupos de alunos linguisticamente homogêneos;

 A língua portuguesa nas suas modalidades de aquisição enquanto língua segunda vai ser utilizada pelos alunos para assegurar um certo número de funções idênticas às das diversas línguas maternas sem, no entanto, as pretender substituir;

 A escolha dos conteúdos teve em conta uma perspectiva de articulação vertical e horizontal - contemplando os saberes dos alunos e os conteúdos das outras áreas de aprendizagem;

 A escolha dos temas teve em consideração o nível etário e os interesses dos alunos do Ensino Básico;

 O sucesso escolar em língua portuguesa é um fator que proporcionará sucesso nas outras áreas curriculares.

O Programa apresenta a diversidade de línguas, tendo em vista o número de línguas existentes no país, mas não fala de ensino a partir de uma perspectiva plurilingue; Também é necessário fazer uma ressalva sobre a dimensão cultural: o Programa não faz referencia às línguas étnicas faladas pelos alunos na sala de aula. Reconhece a heterogeneidade linguística dos alunos, mas não leva em consideração. Fala de “sucesso escolar em língua portuguesa”, mas não fala do sucesso no ensino da L2 a partir da L1.

Na página 6 o Programa apresenta suas finalidades:

Considera-se que o ensino da língua portuguesa no Ensino Básico deverá:  Contribuir para uma maior consolidação da unidade nacional;

 Consciencializar e reforçar a identidade cultural guineense;

 Contribuir para o desenvolvimento integral da criança e para a melhoria qualitativa dos resultados escolares;

 Contribuir para a aquisição de método de trabalho e de estudo extensivo às outras áreas curriculares;

 Proporcionar o acesso a meios de informação veiculadores de novos saberes, nomeadamente a rádio, a televisão e os jornais;

 Criar motivação pessoal para prosseguir os estudos;

 Estimular o interesse pelo contato com a comunidade internacional, sobretudo com os países de língua oficial portuguesa.

O Programa apresenta a LP como forma de “consolidação da unidade nacional”, mas não traz a língua crioula como sendo o “símbolo” dessa unidade nacional que deveria também participar no processo de ensino-aprendizagem. Em nenhum momento o Programa fala de ensino bilingue e a língua crioula é totalmente silenciada.

O Programa apresenta seus objetivos:

Objetivos gerais

“Durante a 1ª e 2ª fase do Ensino Básico e considerando os pressupostos referidos, a área da língua portuguesa deverá proporcionar aos alunos a possibilidade de atingir objetivos nos domínios do desenvolvimento global, linguístico, cultural e pessoal” (p. 9).

No domínio do desenvolvimento global o Programa afirma que o aluno deve “adquirir e desenvolver o gosto pela aprendizagem e pela escrita, promovendo o seu desenvolvimento sócio-afetivo e integral”. No domínio cultural, o Programa apresenta “conhecer a cultura dentro das possibilidades do nível etário dos alunos”. Apresenta a heterogeneidade cultural, mas não fala da importância ou reconhecimento da diversidade cultural trazida pelos alunos a não ser a que a escola tende a lhes oferecer. Já no domínio pessoal, o Programa apresenta que o aluno precisa “desenvolver a autonomia” (p. 10).

No Programa os conteúdos encontram-se organizados em torno de três áreas: temas (identificação, escola, família, corpo humano, animais e alimentação), vocabulário e gramática.

A abordagem dos conhecimentos linguísticos é predominantemente identificada com a gramática tradicional: “conhecer e refletir sobre algumas características fundamentais da estrutura da Língua portuguesa em situações de uso” (p. 9). O Programa fala da “competência comunicativa em LP”, sem levar em consideração a competência comunicativa já adquirida pelos alunos nas suas línguas maternas.

O Programa apresenta também sugestões metodológicas: Para a 1ª fase propõe-se a abordagem da língua em três momentos:

1º Momento – aquisição e desenvolvimento da língua oral

A expressão oral é efetivamente tomada como objeto de ensino-aprendizagem da LP, e a proposta vem comentada pelo manual do professor. Além disso, a linguagem oral é

tratada como uma competência já adquirida, mobilizada principalmente em propostas de leitura e/ou de escrita.

2º Momento – sensibilização à leitura e à escrita

Neste segundo momento de aprendizagem deverá iniciar-se um processo em que ao desenvolvimento da compreensão e expressão oral, se aliará a compreensão e progressão escrita através da visualização e compreensão de algumas palavras que tenham significado no meio circundante da criança, processando-se assim o inicio da sua alfabetização (p. 9).

A leitura e a escrita são apresentadas de forma monolingue e não plurilingue. O que dificulta a aquisição de habilidades linguísticas. Mesmo na introdução de algumas palavras nas línguas maternas dos alunos, exceto o crioulo, as línguas maternas não têm ligação com a língua portuguesa.

3º Momento – desenvolvimento da linguagem escrita

Pretende-se que a criança consolide as aprendizagens anteriores e desenvolva a linguagem escrita através da visualização, compreensão e expressão escrita de palavras e pequenos textos adequados aos interesses e à cultura das crianças (p. 20).

Tendo em vista a aprendizagem da forma monolingue apresentado no Programa, dificilmente a criança “consolide as aprendizagens anteriores”. A “consolidação” só pode dar a partir dos conhecimentos prévios da L1.

De acordo com o Programa deve avaliar o trabalho do aluno e fazer uma avaliação no trabalho do professor. Ela deve ser contínua (p. 21).

Objetivos específicos

“Esta fase tem como objetivo o alargamento e aprofundamento das competências adquiridas na 1ª Fase. Pretende-se ainda que o aluno: tenha o domínio da compreensão oral, da expressão oral, da compreensão escrita e da expressão escrita” (p. 31).

1.6.2 Ensino Básico Unificado – Programa28

No prefácio do Programa foi escrito “o Programa de ensino é um importante guia pedagógico” (p. 3). Na página seguinte escrita a “educação para a cidadania” com Hino Nacional em baixo.

Na introdução, (p. 7) foram escritas as diferentes áreas integradas (Matemática, Ciências Sociais, Ciências Naturais, Expressão Artística e Comunicação Social e Educação Física e Desporto Escolar).

Na página 14 do programa foram escritas as atribuições orientadas pelo Instituto Nacional para Desenvolvimento da educação, e uma delas é “contribuir na execução da política educativa aprovada pelo Governo”.

No Programa estão apresentadas as seguintes orientações:

O professor deve obedecer: objetivos operacionais, conteúdos e sugestões de atividades e de avaliação. Nos objetivos estão inseridos os seguintes conteúdos: Ciências Sociais, Ciências Naturais, Matemática, Expressões e Educação Física e Desporto, onde são apresentadas várias informações sobre os objetivos, conteúdos e sugestões para as atividades. As propostas colaboram significativamente para o desenvolvimento de cada atividade.

A seguir no capítulo 2, desenvolveremos as discussões sobre a problemática da língua de ensino, trazendo elementos importantes para a compreensão do presente estudo.

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Ficha técnica

Título: Ensino Básico - Programa

Recolha: Domingos Sanca e Equipa Técnica,

Serviço de Inspeção para o Apoio, Avaliação e Documentação Inspeção Geral da Educação, Ciência e Tecnologia.

Supervisão da Edição: Augusto pereira Apoio para a recolha: UNICEF Ano: 2001

Tiragem: 3000 Exemplares Edição: Novagráfica, LDª