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CAPÍTULO IV – ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM CONTEXTO DE

4.2 Alfabetização e Letramento em Contexto de Diversidade Linguística e Cultural em sala de

4.2.1 Descrição e análise do livro utilizado nas duas turmas

4.2.1.1 Descrição e análise do livro do aluno

Foram analisados os seguintes materiais: O livro do aluno Periquito alfa e Periquito beta. A Série de livros para a primeira classe do Ensino Básico, PERIQUITO, inclui três livros do aluno (Periquito beta, Periquito alfa e o Caderno de Caligrafia Periquito). Também há livros de Ciências Naturais-Ciências Sociais O meu ambiente e Conta comigo. Os livros analisados trazem ilustrações, textos e conteúdos adaptados à realidade guineense e são acompanhados de um livro do professor. É interessante perceber como o professor é orientado a trabalhar com os alunos.

FIGURA 10 – Livro do aluno, Periquito alfa 1ª classe Fase Propedêutica67

67 Título: PERIQUITO alfa - Fase propedêutica, Primeira classe. Edição: Editora Escolar, República da Guiné-Bissau, 1991.

Autores: BARROS, A. F. de; BENOIT , M; COSTA, L. S. 1991, 48p.

3 A escola / 14 A família / 19 O corpo - A letra O / 25 Em casa - A letra A / 31 Na tabanca - A letra I / 38 No mercado - As letras U, E

De acordo com a proposta apresentada no livro do professor, a fase propedêutica deve propor atividades e momentos lúdicos e educativos, proporcionando às crianças conhecimentos, para que estejam preparadas para a aprendizagem da leitura e da escrita. É a fase inicial e importante da vida de uma criança na sala de aula, é a fase em que a criança tem curiosidade em aprender68 e conhecer coisas novas. Por esta razão, a tarefa do professor, ao receber uma criança na sala de aula pela primeira vez, é estimula - la a sentir a alegria de estar ali, além do prazer pelos livros e pelas atividades escolares, de modo que ela possa se sentir integrada e participativa sem nenhum obstáculo. Não por acaso subtitulado “fase propedêutica”, o livro traz a concepção de que nessa fase pode-se prevenir dificuldades futuras.

O livro do aluno é dividido em 6 sessões. As duas primeiras apresentam temáticas e ilustrações em torno da escola e da família. A cada sessão seguinte, introduz-se uma vogal. As sessões trazem diálogos,69 atividades de coordenação motora, ilustrações, compreensão dos significados de sons, por meio de letras de iniciação à escrita. Ressalte-se a presença do método fônico orientando as atividades.

Aprendizagem da leitura e da escrita é essencial e necessária para desenvolver atividades que estimulem nas crianças o gosto e o prazer de ler. A FIG. 11 permite a visualização da p. 2-370 do livro do aluno.

FIGURA 11 – Livro do aluno, Periquito alfa 1ª classe (p. 2-3)

68 Aprendizagem da língua, das ciências naturais e sociais, matemática, desenho, música, dramatização, etc. 69 O professor e o aluno interagem, dialogam e discutem.

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No livro do aluno há uma nota na p. 2 que diz “há um tema: “Os meus primeiros passos na aula”, que deve ser tratado durante uma semana, mais ou menos, antes de iniciar o trabalho com o livro do aluno. No livro do

No desenho da p. 3, “A Escola”, temos a imagem de uma sala de aula, o professor e os alunos. Observa-se ainda os objetos no desenho, iniciados pelas vogais, como árvore, elefante, ilha, ovo, unha e etc. De acordo com o livro do professor (p. 10), o aluno deve ser levado a falar sobre o desenho, identificando o professor, os alunos e os objetos. Deve comparar os objetos reais com os objetos dos desenhos. Abaixo temos a imagem da família.

FIGURA 12 – Livro do aluno, Periquito alfa 1ª classe (p. 14-15)

No primeiro dia da nossa observação de sala de aula, dia 07 de Janeiro de 2014, a D1 colocou no quadro como tema “A Família”, perguntou aos alunos quem tem uma família e quais são os membros da sua família. Dialogou com os alunos sobre suas famílias, explicando, em poucas palavras, a relação existente entre os membros da família, inclusive a questão do parentesco, que é da própria realidade guineense, considerando todos (pais, irmãos, tios, avós, primos, sobrinhos, etc.) os membros da família. Depois da explicação, orientou aos alunos que fizessem o desenho nos seus cadernos representando a sua própria família e, através do desenho, explicou ainda que a família pode ser muito numerosa, com primos, tios, tias, avó, etc.

Os alunos, ao serem convidados a dizer quais as atividades de alguns membros da sua família, apresentaram o nome dos membros da família e falaram da atividade profissional dos pais e encarregados de educação. A FIG. 13 mostra a proposta de criação de uma narrativa a partir das ilustrações em quadrinhos.

FIGURA 13 – Livro do aluno, Periquito alfa 1ª classe (p. 17)

De acordo com o livro do professor (p. 17), quanto à “história em quadrinho”, a proposta é estimular os alunos a inventar e contar oralmente uma história sobre o amor da família. No entanto, percebemos que as imagens não deixam muito espaço à imaginação determinando previamente o texto.

É interessante que, nesta parte da história em quadrinho, numa perspectiva multilingue, a história poderia ser contada oralmente na língua materna dos alunos, que podem dar os nomes às personagens, cada um contar do seu jeito, e na sua LM e depois escrever na língua portuguesa.

Nas (p. 28-29), é explicado “como aprender uma letra”. No processo de alfabetização e letramento os alunos constroem as representações nos textos por meio dos objetos, imagens, formas, cores, etc.

Na (p. 31), “A Tabanca”, o próprio nome já traz a realidade guineense, ao chamar a vila de “Tabanca”. Importante frisar aqui, como se dá o respeito aos mais velhos, como e por que muitas vezes a criança deve ajudar nas tarefas do dia-a-dia aos mais velhos. Os mais novos tendem sempre a respeitar e a obedecer não só os pais, mas todas as pessoas mais velhas da comunidade. O livro incentiva os mais novos a ajudarem os pais nas lavouras e outros afazeres, ensina o respeito à natureza e o cuidado com a higiene pessoal.

A seguir temos a FIG. 15 do mercado.

FIGURA 15 – Livro do aluno, Periquito alfa 1ª classe (p. 38-39)

Segundo a orientação do livro do professor, o professor deve sempre dialogar com os alunos a respeito dos temas, trazendo exemplos concretos sobre a realidade dos alunos, estimulando com perguntas sobre o determinado assunto. No caso do mercado, o professor deve dramatizar situações de compra e venda no mercado, atividades de alfabetização e letramento, nas áreas da linguagem e da Matemática. Percebemos, neste ponto, certa abertura à criatividade e aos conhecimentos contextuais do professor.

FIGURA 16 – Livro do aluno, Periquito beta 1ª classe

As atividades de dada capítulo giram entorno de atividades como as encontradas entre as (p. 4-9) do livro de leitura do aluno Periquito beta, 1ª classe:

 Descrever imagens;  Ler pequenos textos;

 Encontrar informações pontuais dadas pelo texto;  Dramatizar pequenas situações;

 Formar frases;

 Formar palavras (Iniciação de vogais e das consoantes);  Relacionar palavra escrita a imagem;

 Ligue as palavras, as sílabas e as imagens;

 Identificação do nome e do som das letras em estudo.

Dessa forma, o livro apresenta uma concepção de linguagem bastante estruturalista e a influência do método fônico salta aos olhos. A formação de frases tenta ser voltada para o contexto do aluno, mas as situações são superficiais. Mesmo em atividades como “dramatizar pequenas situações”, a artificialidade e o simulacro prevalece na sala de aula. Certamente, como enfatizado por Soares (1998), ao adentrar os portões escolares, os diferentes conhecimentos passam por processos de escolarização que não podem ser negados ou relegados. No entanto, se letrar envolve conhecimentos outros para além da aquisição do código, práticas situadas e lúdicas precisam fazer parte do processo de alfabetização.

Na entrevista realizada com D1, encontramos o seguinte depoimento:

E42-D1

No segundo trimestre / introduziremos somente as letras em que os alunos farão jogos de letras e depois entrarão nas lições de leituras / alguns já conseguem compreender e ler / e os outros decorram as leituras / se perguntar qual é essa letra às vezes não sabem responder / por isso continuarei a trabalhar com o jogo das letras com eles até o final de trimestre / assim poderão conhecer melhor as letras / depois de conhecerem as letras que vou poder formar as sílabas com eles / até então não entramos totalmente nos consoantes / pretendo fazê-los conhecer sons das letras dos consoantes / para conhecer os sons de cada letra / se pergunto para eles que animal tem o som de “mmmm” vão me dizer o animal tem o som de “m” e forma-se com a sílaba ma me mi mo mu / a letra “l” que tem o som de “lllllll” vão entender que é para formar a sílaba la le li lo lu / a letra “s” com som “sssssss” formado pela sílaba sa se si so su e assim em diante / Se eles conseguirem aprender através dos sons facilmente conseguem formar as sílabas /

A D1 elabora as estratégias gerando situações de aprendizagem e de troca de experiência entre os alunos sobre o objeto de estudo. Conhecer primeiro as letras para depois as sílabas para depois as palavras. Na aula de leitura, costuma pedir aos alunos para irem ao quadro fazer a leitura, percebia que a maioria deles decoravam as palavras, não conheciam as letras, liam cantando. Então, resolveu utilizar o método silábico.

O método fônico, presente no livro do professor, também subjaz à fala da professora. Julgamos importante não existir um único processo para alfabetizar.

E43-Ped.

Normalmente começamos com a letra M de uma palavra que é muito afetiva mãe / mama /

Reconhecemos que os textos trabalham, com a localização e retomadas de informações. Há contribuição para a formação do leitor, pois as atividades disponibilizam diversas informações sobre as realidades guineenses, mas, não trabalhem a diversidade linguística e cultural dos alunos.

Os manuais escolares71 adotados nas escolas são analisados previamente por alguns professores e técnicos da área da educação a fim de darem os seus pareceres. Os autores são equipes de professores com experiências pedagógicas. Contudo, é importante destacar que:

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Há falta de recursos materiais didáticos no Ensino Básico, O Instituto Camões e a Editora Escolar são os dois grupos produtores de manuais feitos pelo projeto português. Não existe a competitividade entre as Editoras por serem poucas no país.

 O conteúdo do livro está acessível à faixa etária e ao desenvolvimento cognitivo do aluno;

 O texto estimula e valoriza a participação do aluno durante as aulas;

 O texto está sempre acompanhado de ilustrações e gravuras relacionadas com as ideias nele discutidas.

No item a seguir apresentaremos e discutiremos as cenas escolares nas duas turmas observadas.