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1. Estabelecimento Prisional de Coimbra

O Estabelecimento Prisional de Coimbra (EPC), conforme referido anteriormente, recebe reclusos apenas do sexo masculino, divididos por oito alas diferentes. Com uma lotação máxima de 421 reclusos, em 2010 albergava 42419, no entanto, e como foi possível apurar de forma

informal aquando da realização das entrevistas, atualmente alberga cerca de 500 reclusos. Desde grupo de reclusos, 58 já beneficiam de Regime Aberto para o Interior20 (RAI)21. Os reclusos

cumprem penas de prisão superiores a 10 anos de condenação, sendo que a idades médias se encontram entre os 20 e 30 anos de idade. É ainda de destacar que a população reclusa apresenta um elevado número de reincidentes e um vasto número de crimes relacionados com o tráfico de estupefacientes.

O EP de Coimbra está ainda organizado de forma a proporcionar aos reclusos a possibilidade de aprenderem tarefas nas áreas da marcenaria, carpintaria, serração, estofaria, encadernação, empalhadores, entalhadores, polidores, sapataria e serralharia. Bem como outros cursos de formação que demonstrem ser importantes para a população reclusa. Para além das tarefas laborais, existem também outras atividades socioculturais, tais como, teatro, música, biblioteca, ginásio de musculação e um campo polidesportivo.

O EP de Coimbra tem 244 funcionários ao seu serviço, sendo que 184 pertencem ao grupo de Guardas Prisionais e 10 exercem funções de Técnico Superior de Reeducação.

Segundo os dados do Relatório de Atividade de 2010 (p.38), relativamente ao tratamento da execução de penas, foram realizados 12 conselhos técnicos internos e 79 conselhos técnicos com o Tribunal Execução de Penas de Coimbra.

19Relatório de Atividades DGSP, 2º Volume – 2010.

20Destina-se a reclusos com penas de prisão igual ou inferior a um ano. (Lei n.º115/2009 de 12 de Outubro, Artigo n.º 14). 21(Relatório de Atividades de 2010, 2º Volume, DGSP).

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2. Estabelecimento Prisional do Porto

O Estabelecimento Prisional do Porto (EPP), ao contrário do Estabelecimento Prisional de Coimbra, possui na sua constituição uma Unidade Livre de Drogas (ULD) que se destina a reclusos que, numa fase de tratamento de desintoxicação, preferem fazer parte de um serviço terapêutico, capaz de os retirar do mundo do consumo de estupefacientes. Assim como se distingue daquele, por manter em reclusão sujeitos em prisão preventiva.

À semelhança do EP de Coimbra, o Estabelecimento Prisional do Porto, também recebe apenas indivíduos do sexo masculino e, segundo o Relatório de Atividades de 2010, no espaço de um ano (entre 2009 e 2010) contou com um aumento de reclusos de 868 para 898, sendo que 614 reclusos são condenados e 284 são preventivos. No entanto, dados fornecidos mais recentemente pelo Estabelecimento Prisional do Porto, a 20 de Julho de 201522, aquando a

realização das entrevistas, referem que atualmente o EP do Porto alberga um total de 1220 homens, sendo que 347 deles são preventivos e os restantes 873 são condenados.

Relativamente ao tipo de crimes cometidos, a maioria ressalta no crime contra o património, seguido dos crimes relacionados com o tráfico de estupefacientes.

Embora o número de reclusos do EPP seja consideravelmente maior do que no EP de Coimbra (no primeiro caso, cerca de 500 reclusos, no outro 1220), o Estabelecimento Prisional do Porto tem ao seu serviço 286 funcionários, contra 244 do Estabelecimento Prisional de Coimbra, sendo que 9 deles são Técnicos Superiores de Reeducação e 218 fazem parte do corpo de Guardas Prisionais.

O Estabelecimento Prisional do Porto, à semelhança do EP de Coimbra, também promove a aprendizagem de tarefas, nomeadamente nas áreas da padaria, carpintaria, tipografia, serralharia, obras e pichelaria, mecânica, restauração, faxinas, sapataria, lavandaria, assim como parcerias de trabalho com empresas do sector privado externas ao estabelecimento prisional.

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3. Entrevistados e Análise dos Dados

Conforme a disponibilidade dos técnicos, foram agendados momentos específicos para realização das entrevistas, já que não se pretendia alterar de forma muito significativa as rotinas de trabalho dos TSR. Infelizmente, o facto das entrevistas se terem realizado durante o mês de Julho de 2015, levou a um número mais reduzido de entrevistas, já que alguns dos TRS se encontravam de férias.

Dos doze entrevistados, apenas três são do sexo masculino (3 TSR do sexo masculino e 9 TSR do sexo feminino). A maioria tem mais de 10 anos de carreira (4 TSR têm menos de 10 anos de carreira e 8 TSR têm mais de 10 anos de carreira). Apenas três dos técnicos nunca trabalharam noutro estabelecimento prisional, para além daquele a que estavam afetos (3 TSR só trabalharam num EP até ao momento da entrevista, ao contrário dos restantes 9 TSR). É importante ainda referir que a média de idades dos TSR entrevistados é de 52 anos de idade.

Tabela 1: Sexo dos Técnicos Superiores de Reeducação Sexo dos Técnicos

Superiores de Reeducação Número de TSR Estabelecimento Prisional de Coimbra Estabelecimento Prisional do Porto Feminino 9 4 5 Masculino 3 1 2 Total 12 5 7

38 Técnicos Superiores de Reeducação – Tempo de Serviço Número de TSR Estabelecimento Prisional de Coimbra Estabelecimento Prisional do Porto Menos de 10 anos de Serviço 4 0 5

Mais de 10 anos de Serviço 8 5 2

Total 12 5 7

Tabela 3: Mobilidade dos TRS nos EP’s. Presença dos Técnicos

Superiores de Reeducação em EP’s Número de TSR Estabelecimento Prisional de Coimbra Estabelecimento Prisional do Porto Apenas um Estabelecimento Prisional 3 2 2 Mais que um Estabelecimento Prisional 9 3 5 Total 12 5 7

Um outro aspeto que foi alvo de questões foi o número de reclusos que cada técnico de reeducação tem a cargo.

Tal como foi referido acima, o EP de Coimbra alberga cerca de 500 reclusos, o que, atendendo à sua distribuição pelos 10 técnicos de reeducação, dá uma média de 50 reclusos por técnico. Todavia, com a sobrelotação, vários técnicos do Estabelecimento Prisional de Coimbra referiram que acompanhavam cerca de 60/70 reclusos “Mais ou menos 60”, “são mais ou menos 70” (entrevista 11 e 9, respetivamente). Enquanto o EP do Porto alberga cerca de 1220 reclusos, distribuídos pelos 9 técnicos superiores de reeducação, o que dá uma média de 135 reclusos por técnico, que na realidade também se constata já que os técnicos referem

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“À volta de 100! Tenho o Pavilhão X, eles são cerca de 300, nós somos três técnicos, por isso são à volta de 100.”, “Tenho 130” (entrevista 1 e 4, respetivamente). Denota-se assim uma diferença considerável entre o número de reclusos que os TSR do EPP e do EPC têm a cargo.

3.1 Adaptação ao Contexto Institucional

Seguindo a lógica do guião da entrevista, no âmbito do contexto institucional, é perceptível, através das entrevistas, que a adaptação dos técnicos ao ambiente prisional foi fácil, pois, na generalidade dos casos, a entrada no sistema prisional foi resultado de uma concurso nacional de acesso ao Ministério da Justiça, do qual gostariam de fazer parte, conforme ressalta de alguns testemunhos que de seguida se apresentam.

Não, não tinha receio. O receio não, até por... foi opção própria hummm... e pedi transferência (…) e pronto e cá vim parar. Inicialmente tratava a população alvo assim como se trata os doentes (…) (EPP, entrevista 2, 1.4.).

(…) senti-me bem aceite, senti-me integrada, bem acolhida em termos de contexto dos colegas e também toda a estrutura do estabelecimento prisional, um belíssimo acolhimento poderei mesmo dizê-lo (…) (EPC. entrevista 9, 1.4.).

Não, foi normal, eu concorri voluntariamente, portanto era uma coisa que eu queria (…). Eu nunca tinha entrado numa cadeia, foi fácil a adaptação..., todas as pessoas foram ótimas eu não tive dificuldade de adaptação, foi bom e fiquei, tanto que ainda aqui estou e nunca tive..., nunca mais saí dos prisionais, não procurei alternativa porque nunca senti necessidade disso (…) (EPC, entrevista 11, 1.3.).

Muito embora, os técnicos, na sua maioria, tenham referido que a adaptação ao serviço e ao trabalho do TSR foi fácil, sem problemas, e que tinham conseguido alcançar aquilo a que a carreira se destinava, é também importante referir que para outros TSR, a adaptação, apesar de não ter sido difícil, também não foi assim tão fácil como outros referiram. Estes mencionaram que, apesar de outros colegas colaborarem na adaptação ao local, o ambiente prisional, os procedimentos de segurança diários (por exemplo, passar pelo detetor de metais, apresentar os bens materiais que transporta, deixar dispositivos eletrónicos na portaria, entre outros) a que são

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sujeitos, aquando da entrada no EP, não foram muito fáceis, embora tenham sido interiorizados e aceites rapidamente na rotina diária do trabalho enquanto TSR.

(…) foi uma coisa diferente, receei, só que era uma coisa que eu queria muito. (…) Os meus pais também acharam muito estranho (…)quando aqui cheguei era tudo muito estranho, muitas portas, isto era completamente diferente (…) depois não há nada como o habito, atualmente eu sou mobília da casa (…) (EPP, entrevista 1, 1.4)

(…) A única coisa que eu acho que ao chegar cá que me custou assim um bocado mais a adaptação foi os procedimentos de segurança, a pessoa ter que passar no detetor de metais (…) a pessoa no inicio fica assim um bocado mais digamos, entre aspas, “duvidosa” “receosa”, mas uma pessoa tem, com o tempo habitua-se, (…) (EPP, entrevista 3, 1.3.).

3.2 Funções Desempenhadas pelos Técnicos Superiores de Reeducação

Quanto à execução das funções legalmente previstas de Técnico Superior de Reeducação, na generalidade, os técnicos dos dois estabelecimentos prisionais referem o seu típico dia-a-dia da mesma maneira. Todos respondem às petições (que são pedidos de atendimento realizados por escrito pelos reclusos ao seu técnico) no decorrer da manhã, tentando dessa forma resolver os mais variados problemas que lhes são apresentados, assim como tendem a realizar atendimentos não pedidos pelos reclusos, de forma a acompanharem devidamente os mesmos no cumprimento da sua pena. Para além disso, documentam todos os registos administrativos e técnicos, assim como dão resposta às solicitações provenientes da direção do Estabelecimento Prisional e do Ministério da Justiça e Tribunais de Execução de Penas (TEP), sendo que muitas das vezes o dia-a-dia, tal como esperado, não acontece devido à afluência de reclusos sem petição que, mesmo assim, pretendem ser atendidos.

Olhe, então é assim, eu por norma, (…) chego, portanto, vou ver o despacho que foi aquilo que eu já fui ver, vejo se tenho entrados, vou para o pavilhão. Portanto, o colega é que normalmente vai ao pavilhão buscar as petições (…) depois vou para o pavilhão e a prioridade é atender, chamar os reclusos que fizeram a petição ou algum recado que eu tenho que dar de acordo com o despacho que tinha ali na minha capa, pronto.” (…) “Depois há uma altura em

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que vamos ter que fazer as precárias, temos de fazer as precárias, ou temos de fazer relatórios porque entretanto o despacho..., estava o relatório para fazer, portanto, vai dependendo muito do que nos aparece. Quando a gente tem assim um bocadinho, vai fazendo avaliações e vai fazendo os PIR’s, da parte da tarde, normalmente nunca vou ao pavilhão (…) (EPP, entrevista 1, 2.1.)

(…) São os atendimentos, eles fazem pedidos para atender, eu atendo, (…)eu hoje, por exemplo, arquivei, registei as coisas que tinha de registar nos processos, atendi, (..)Fui à cave falar com um recluso (…)fui lá ver se ele precisava de alguma coisa, ver como é que ele estava, tudo isso faz parte da estabilidade dos reclusos (…) (EPC, entrevista 11, 2.1).

No entanto, alguns técnicos referem que nem sempre necessitam das petições ou pedidos escritos dos reclusos para os atender e acompanhá-los. Alguns dos técnicos mencionam que se deslocam até às alas prisionais onde realizam os atendimentos, e lá aguardam pelos reclusos que vão chegando e atendendo conforme a ordem de chegada.

(…) supostamente devia ser por pedido, mas não é por pedido, às vezes não é por pedido, são atendimentos em crise, é na hora! (…) o que eu faço é quem tem petição vai à frente para trabalhar as competências do exterior (…) quem não tem marcação tem que esperar pelas vagas, tento fazer no pavilhão o mesmo que num atendimento lá fora (…) (EPP, entrevista 4, 2.1).

Nós agora, para evitar o uso abusivo de petições, os reclusos dão o número ao guarda de manhã e chegam lá e fazem na mesma petição, se for para alterar uma visita, uma declaração de detenção, eles usam a petição e nós vemos as petições, vemos os que estão lá, chamamos os reclusos, mas eu, normalmente atendo mesmo que eles não tenham dado o número, às vezes chateio-me um bocadinho quando são muitos, (…) (EPP, entrevista 6, 2.3.)

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3.3 Meios de Ação

3.3.1Reconhecimento de Problemas e Soluções/Propostas

Um aspeto que também foi alvo de questões no âmbito desta investigação, foi a opinião dos técnicos relativamente aos programas de treino de competências que os próprios gostariam de aplicar aos reclusos, tendo em conta as necessidades que os mesmos apontam como fulcrais. Neste aspeto, a resposta também não foi unânime: a maior parte deles referiu a falta de tempo e a pequena dimensão do grupo de TSR como constrangimentos à realização e implementação de atividades e programas extra (não tendo em conta as obrigatórias pela DGRSP).

Aqui, nesta cadeia, não há nenhuma, porque não há tempo. Porque é assim, o problema é que todo e qualquer técnico (…) gostaria obviamente de ter tempo para implementar projetos, fazer coisas diferentes, que aqui não há tempo, é humanamente impossível, (…) há muita população reclusa, não é? Como sabe… ah, portanto, [é muito complicado, nós temos inclusive programas que temos que implementar, são programas estipulados pela Direção Geral e mesmo esses programas às vezes a gente vê-se com alguma dificuldade para os por em prática (…)] (EPP, entrevista 1, 2.4)

(…) se diminuísse já conseguíamos estar mais livres, [já conseguíamos passar para atividades diferentes], mas estamos sempre atentos e estamos sempre a procurar esse tipo de atividades, nós, não… (…) (EPP, entrevista 7, 2.3.).

Foi também referida a inadequação dos planos, tendo sido considerado que a maior parte dos planos que são aplicados não se coadunam com as verdadeiras necessidades de intervenção da população reclusa atual.

(...) eu acho que neste momento as atividades que seriam importantes de implementar careciam de uma breve análise ou avaliação (se quiser) do perfil dos reclusos porque a população prisional que eu conheci há 30 anos não tem nada a ver com o perfil dos criminosos hoje em dia (…). Temos tipologias de crimes também diferentes, (…) têm havido muitas alterações ao

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código penal e, (…) com comportamento aditivo, com álcool e drogas, são ambas substâncias psicoativas. Temos também indivíduos com outras características e formação académica (…), temos pessoas também licenciadas que entram já com outros conhecimentos e que, portanto, quantas vezes ao nível da nossa intervenção, também devia ser de acordo com as necessidades e com o perfil de cada um (…)(EPC, entrevista 9, 3.1)

Mas, tal como foi referido anteriormente, nem todos os técnicos partilham da mesma opinião, já que houve também quem achasse que existiam imensos programas realizados pela DGRSP, não existindo por isso necessidade da realização e estruturação de novas atividades.

(…) já temos tantas, que assim a perguntarem-me de repente não me ocorre (…) não há nada que tenha…obviamente com tempo até podia vir a descobrir, uma que… mas de repente, não tem chegado nenhum feedback (…), há um leque tão variado de atividades que se promovem (…)não estou nada de acordo com isso, acho que de facto já de promove muitas atividades. (EPC, entrevista 8, 2.4).

3.3.2 Objetivos dos Programas de Treino de Competências

Após os técnicos superiores de reeducação terem sido questionados sobre o trabalho diário e sobre as atividades e programas de treino de competências que vão aplicando à população reclusa, foi também importante perceber que tipo de objetivos pretendem atingir quando intervêm junto do recluso e se efetivamente sentem que atingem esses objetivos, ou seja, se as expectativas de atuação são conseguidas, ou se, pelo contrário, saem defraudadas. Apesar de uma parte dos TSR declarar que está satisfeito com o seu trabalho na prisão e junto dos reclusos, a maior parte refere que gostaria de realizar e de ter liberdade para fazer muito mais atividades e ter uma intervenção muito mais proeminente do que a que tem no momento da entrevista.

(…) não fiquei defraudada, portanto, era aquilo que eu achava que iria ser, tenho perfeita noção que a integração social não é o que nós gostaríamos que fosse. (…) achava que

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havia outras coisas que eu ia fazer que naturalmente não fiz, acabei por fazer outras que achava que nunca iria fazer e fiz ahh, (…) ) (EPP, entrevista 1, 2.9)

Sim gostava de fazer ainda mais, sim, mas, desde de que entrei até agora, vejo uma melhoria muito grande, aliada aos programas que existem, os projetos, quando entrei para cá, não havia, (…), neste momento já há, felizmente, e que é uma mais valia para eles e se cada vez mais. ( EPP, entrevista 2, 2.9)

(…) isso é um sonho, (…), mas.. tinha perfeito conhecimento do que é que iria... e qual era a tarefa que me esperava, eu tinha um conhecimento muito muito exato do eu é que era, porque já trabalhávamos em parceria uns com os outros, foi só mudar-me de um sítio para outro, em relação..., as expectativas, é assim, há coisas que se calhar consegui superar as minhas próprias expectativas, onde me vieram as lágrimas ao olhos de bom, (…) a maioria dos dias vêm as lágrimas ao olhos mas é de amargura, de tristeza, mas também já tive o contrário onde consegui bons, bons, uma boa relação com eles, um empenho brutal com eles, coisas que eu hoje recordo e tento repetir com muito orgulho (…) (EPC, entrevista 10, 2.9)

Um outro aspeto importante de ser inquirido foi a opinião dos TSR relativamente aos programas de treinos de competência23 elaborados e obrigatoriamente aplicados nos

estabelecimentos prisionais pela equipa técnica. Os profissionais responsáveis, afirmam que os programas são realizados sem uma avaliação da diversidade de necessidades dos reclusos de cada estabelecimento prisional. Para além disso, são apenas aplicados a grupos pequenos, quase como se fosse uma escolha propositada dos reclusos, sendo que nunca chegam a estar verdadeiramente disponíveis para toda a população reclusa.

(…) estar a fazer programas que não têm, enquadramento lá na rua, ou que o enquadramento é muito delimitado, onde nós estamos a fazer, às vezes, programas que não… não é visível a aplicação deles, quando um indivíduo for para a rua é complicado. (…) (EPC, entrevista 10, 2.4)

23O Plano de Contingência, por exemplo, tem como objetivos gerais: a prevenção geral do crime, a prevenção da reincidência e a prevenção da

recaída. E como objetivos específicos: a elaboração de planos de prevenção e de contingência para a vida futura, reconhecer a importância do que pode correr mal na sua vida futura e a utilização de estratégias de antecipação e correção. (POPH – candidatura nª 032866/2010/33 - Continente).

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(…) eu penso que, por vezes, quem integra programas (…) deviam ser feitas avaliações anteriores, uma vez que muitos têm perturbações da personalidade não é? Muitos têm mesmo doenças mentais e muitas vezes, a gente mete-os num programa e não (…) como é que vai ser a reação? E os psicólogos não conseguem atender os reclusos todos, (…) nem nós temos acesso a isso, é confidencial da parte clínica, os técnicos não têm acesso ao relatório clínico, (…) nós não temos qualquer conhecimento disso, e depois eles vão para os programas, a gente não sabe (…) se estão a canalizar as competências que aprendem para o crime, ou se estão a canalizar as competências para uma vida normativa, nós não sabemos, (…) (EPP, entrevista 4, 3.1]

(…) eu acho que, neste momento, as atividades que seriam importantes implementar careciam de uma breve análise ou avaliação (se quiser) do perfil dos reclusos porque a população prisional que eu conheci há 30 anos não tem nada a ver com o perfil dos criminosos hoje em dia, (…) Pronto, nós temos uma população com problemas diferenciados, nomeadamente, com comportamento aditivo, com álcool e drogas, são ambas substâncias psicoativas, temos também indivíduos com outras características e formação académica que não havia, temos pessoas também licenciadas (…) e que, portanto, quantas vezes (…) nós estamos aqui numa amálgama de indivíduos que está se calhar numa ala onde se misturam crimes, diferentes situações de pessoas com perfil diferente e, portanto, é uma intervenção.. aquela que é possível (…) (EPC, entrevista 9, 3.1)

3.3.3 Programas e Atividades de Intervenção

Após termos questionado os técnicos sobre os programas que são implementados nos estabelecimentos prisionais sob orientação e elaboração da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, interrogámo-los acerca de quais os programas e/ou atividades que acham ser importantes e que gostariam de criar e implementar junto da população reclusa. Foi-nos possível constatar que alguns técnicos apresentam como fundamental o desporto enquanto meio de trabalhar competências pessoais e de fazer trabalho em equipa. Para além disso, também referiram como sendo importante os programas de intervenção junto de indivíduos que tenham cometido crimes relacionados com abusos sexuais e, ainda, a possibilidade de capacitar os indivíduos de habilitação legal para a condução, quando a causa do cumprimento de pena tenha sido condução sem habilitação legal da mesma, sendo que nenhum dos técnicos desconsidera a

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necessidade de programas adaptados, e que a principal razão da implementação dos mesmos, é puramente estatística.

(…) eu acho que o desporto é um treino de competências, por muito que não seja formalizado em termos de grupo, que estejam ali, vamos treinar competências, (…) e há uma coisa que é importante que nos programas não se faz, que é corrigi-los na hora, eles ali estão a jogar futebol, têm uma atitude incorreta para com quem está noutra equipa e há uma falta de respeito pelo colega, não podemos corrigi-los na hora, não é? (…) (EPP, entrevista 4, 2.7).

(…) temos aqui um conjunto muito grande de indivíduos que estão presos porque não têm carta, (…) agora já há os estradais, mas os estradais, não é isso, o que eles precisam

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