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Os técnicos superiores de reeducação e o trabalho prisional

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Ana Cláudia Serra Araújo

outubro de 2015

Os Técnicos Superiores de Reeducação

e o Trabalho Prisional

Ana Cláudia Serr

a Ar aújo Os Técnicos Superiores de R eeducação e o T rabalho Prisional UMinho|20 15

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Ana Cláudia Serra Araújo

outubro de 2015

Os Técnicos Superiores de Reeducação

e o Trabalho Prisional

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Teresa Mora

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Crime, Diferença e Desigualdade

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

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Declaração

Nome: Ana Cláudia Serra Araújo

Endereço eletrónico: ana.lau.araujo0@gmail.com

Telefone: 915 726 960

Cartão de Cidadão: 13927057

Título da dissertação: Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Orientadora: Professora Doutora Teresa Mora

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado: Mestrado em Crime, Diferença e Desigualdade

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE.

Universidade do Minho, ___ de__________ de 2015

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Agradecimentos

Na minha opinião, faz todo o sentido que as primeiras palavras de um trabalho como este sejam para agradecer àqueles que proporcionaram a sua realização e a todos os outros que pelo caminho foram marcando positivamente esta experiência.

Como tal, em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, já que sem o apoio e disponibilidade que demonstraram nada seria possível. Mas não posso deixar de aproveitar para lhes pedir desculpa por todos os momentos menos simpáticos da minha parte, dos quais nenhuma culpa tinham, mas que, infelizmente, acabaram por aturar.

Tenho ainda que agradecer às fantásticas pessoas que conheci no Mestrado de Crime, Diferença e Desigualdade, todas elas sempre divertidas, dispostas a ajudar e muito carinhosas com todo o grupo de mestrandos.

E para terminar, não podia também deixar de agradecer aos técnicos superiores de reeducação dos Estabelecimentos Prisionais do Porto e de Coimbra, pela disponibilidade, simpatia, e ajuda prestada para que a presente investigação existisse.

A todos estes um muito obrigada pelos momentos fantásticos que proporcionaram e por todas as memórias que foram criadas no decorrer deste último ano.

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Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Resumo

Esta investigação integra-se no mestrado de Crime, Diferença e Desigualdade, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e tem como objetivo deslindar as dificuldades associadas à prática dos Técnicos Superiores de Reeducação, nos Estabelecimentos prisionais, junto da população reclusa.

O papel dos Técnicos Superiores de Reeducação assenta, primordialmente, no acolhimento do recluso, na elaboração ou dinamização de programas psicossociais e no acompanhamento do recluso durante o cumprimento da pena. Devem ainda prestar assessoria ao tribunal de execução de penas, assim como apoiar a direção do estabelecimento prisional no plano de tratamento do recluso, seja no que concerne à colocação laboral, frequência de cursos escolares e/ou de formação profissional, seja na aplicação de sanções disciplinares e alteração do regime de cumprimento de pena do recluso, sempre que se mostrar necessário.

Embora o papel do técnico superior de reeducação esteja bem definido e previsto legalmente, este estudo dedicou-se a compreender até que ponto os objetivos esperados são alcançados, tendo em conta as condições das prisões e a sua sobrelotação, pretendendo-se assim perceber se o papel é executado com sucesso. Para além disso, também houve interesse por parte desta investigação em perceber se os técnicos gostariam de aplicar novas técnicas de intervenção e de reeducação e que técnicas seriam.

Este estudo revelou que, apesar da sobrelotação das prisões e da falta de técnicos superiores de reeducação para acompanharem mais de perto os reclusos, as atividades mínimas, exigidas por lei, são todas executadas. No entanto, a maior parte dos técnicos efetivamente refere que as atividades aplicadas não são as mais adequadas ao grupo de reclusos, nem são suficientes. Acreditam que se existissem mais técnicos, seria muito mais simples o acompanhamento e a criação de programas direcionados para as principais necessidades dos reclusos.

Com os resultados obtidos é possível depreender que o ideal seria toda uma restruturação do tratamento penitenciário, já que o que se encontra descrito na lei nem sempre

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é possível de se colocar em prática. Para além disso, o papel do técnico deveria ser revisto, fazendo com que as funções do mesmo fossem ainda mais ao encontro das necessidades do seu trabalho, sendo que, no entanto, o mesmo, autonomamente não pode realizar tais mudanças. Estas facilitariam, em muito, a intervenção dos técnicos, efetivando de maneira mais notória o papel reeducador dos mesmos, preparando os reclusos para a reinserção e a reentrada na sociedade.

Palavras-chave: Reeducação, Educação, Serviço Social, Técnicos Superiores de Reeducação, Prisões e Reclusos

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The Probation Officers and the Prison Work

Abstract

This investigation was developed in the scope of the master degree in Crime, Difference and Inequality on Social Sciences Institute of Minho University and it has de purpose to find the difficulties of the probation officers applying their work regarding its practical use within the prison context.

The role of probation officers stand mainly on the integration and support of the prisoner and the implementation of psychosocial programs of re-education with the prisoner during the sentence period. Besides that also make assessing to the penal court, as well as helping the prison administration with management all the prisoners throughout the fulfillment of sentence, it could be by attending school or finding them some work tearless of what that is availed, at the same time they have to apply some punishment if the behavior of the prisoner isn’t the best.

Although the probation officer’s duties and responsibilities are very well structured in the law, this investigation aims to find out if its objectives are complished, regarding less of always attending with overpopulation. Besides that, this investigation also has interested in discovering if probation officers would like to introduce new techniques of working and which may those be.

It was unveiled during this investigation that even though there was a problem and a small number of probation officers, all the mandatory activities are executed. However the most part of probations officers say that the activities are not as good as they should be, because they aren’t fit the properly most of prisoners and aren´t enough for all prisoners. That scenario wouldn’t happen if they had more probation officers and also a proper support would be created regarding prisoners actual needs.

The final results had to the conclusion that an entire reconstruction would be necessary in order to achieve positive goals. That would automatically change the way that probation officers can do their jobs, and also would help improve prisoner’s re-education and behavior toward society.

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Índice Geral

Dedicatória………...II Agradecimentos ………III Resumo………V Abstract………VII Introdução………..1 Parte I – Enquadramento……….3

1. Enquadramento histórico do Serviço Social em Portugal………..3

2. Serviço social na área da justiça………..6

3. Contexto prisional Português……….10

3.1.Caracterização da população reclusa portuguesa……….11

4. Contexto prisional francês………..14

5. A Educação e a Importância da Educação para Adultos………15

6. O Técnico Superior de Reeducação………21

6.1.O trabalho social……….23

Parte II – Metodologia………31

1. Metodologia de Investigação Utilizada………..31

2. Amostragem………33

Parte III – Apresentação de Resultados……….35

1. Estabelecimento Prisional de Coimbra……….35

2. Estabelecimento Prisional do Porto………36

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3.1. Adaptação ao contexto prisional………..39

3.2. Funções desempenhadas pelos TSR……….40

3.3. Meios de Ação……….42

3.3.1.Reconhecimento de Problemas e Soluções Propostas………42

3.3.2. Objetivos dos Programas de Treino de Competências………45

3.3.3. Programas e Atividades de intervenção………45

3.3.4. Atividades Recreativas e Implementação……….47

3.3.5. Plano Individual de Readaptação……….47

3.3.6. Preparação para a Saída em Liberdade………50

4. Contexto organizacional: recursos e relações interpessoais………..51

4.1.Recursos………..51

4.2.Relações Interpessoais Externas………52

5. Articulação com entidades institucionais externas……….55

6. Perspetivas face ao Futuro Técnico Superior de Reeducação………..56

Parte IV – Discussão e Considerações finais……….59

Bibliografia………67

Anexos………69

Índice de Imagens

Gráfico 1 – Relação entre a lotação e distribuição da população reclusa por tipo de Estabelecimento Prisional………..11

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Gráfico 3 – Situação penal da população reclusa……….12 Gráfico 4 – Penas aplicadas aos reclusos condenados………..13 Gráfico 5 – Distribuição etária da população reclusa por sexo………13

Índice de tabelas

Tabela 1 – Género dos Técnicos Superiores de Reeducação………..37 Tabela 2 – Tempo de serviço dos Técnicos Superiores de Reeducação……….38 Tabela 3 – Mobilidade dos Técnicos de Reeducação nos EP’s………..38

Abreviaturas

DGRSP – Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais EP – Estabelecimento Prisional

EPC – Estabelecimento Prisional de Coimbra EPP – Estabelecimento Prisional do Porto PIR – Plano Individual de Readaptação RAE – Regime Aberto ao Exterior RAI – Regime Aberto ao Interior

TSR – Técnico Superior de Reeducação ULD – Unidade Livre de Drogas

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Introdução

A presente investigação pretende perceber a visão dos técnicos superiores de reeducação relativa às suas dificuldades ao longo da carreira. Apesar de existirem alguns estudos sobre o mesmo tema (Fassin, et al., 2013); (Larminat, 2011), foram realizados noutros países, havendo que ter sempre em conta a diferença entre os estabelecimentos prisionais. Em Portugal, ainda pouco foi elaborado nesse sentido (Cunha, 2013; Gomes, 2008). Tendo em conta que a população-alvo destes profissionais é constituída por indivíduos que se encontram no topo da pirâmide dos considerados excluídos e indesejados da sociedade (delinquentes, toxicodependentes, ladrões, homicidas, violadores, etc.), considero então importante identificar os meios de ação, os problemas e as soluções propostas pelos técnicos que intervêm junto desta população de forma a avaliar a adequação das suas próprias ferramentas de trabalho.

Nesse sentido, nesta investigação, serão entrevistados técnicos superiores de reeducação de dois estabelecimentos prisionais diferentes, o Estabelecimento Prisional do Porto e o Estabelecimento Prisional de Coimbra, procurando-se perceber, com base nos meios de ação existentes e condições da sua aplicação, até que ponto as dificuldades vividas pelos técnicos são semelhantes ou se variam nos dois contextos prisionais.

As entrevistas aos técnicos superiores de reeducação têm como principais objetivos perceber, de entre as várias medidas de reinserção estabelecidas legalmente, quais as que estão a ser postas em prática, através de que meios e em que condições. Tal implica, por um lado, compreender as várias tarefas associadas à carreira de TSR (vários tipos de trabalho exigido enquanto profissional num Estabelecimento Prisional - EP), e, por outro, descobrir se as condições físicas dos estabelecimentos prisionais, assim como as burocráticas, permitem a aplicação dos instrumentos de ação previstos pelas políticas sociais existentes. Trata-se de contribuir para conhecer a realidade da reeducação dos reclusos através da experiência e da visão dos TSR face aos objetivos definidos, à adequação dos meios de ação disponíveis e à sua eficácia, o que nos leva a procurar identificar as dificuldades sentidas por este grupo de profissionais.

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Pretende-se, por último, identificar as melhorias que, segundo os TSR, podem vir a ser inseridas no sistema prisional português, tendo em conta a importância da sua carreira no contacto e trabalho permanente com os reclusos e na preparação dos mesmos para uma saída em liberdade com sucesso.

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Parte I – Enquadramento

1. Enquadramento histórico do Serviço Social em Portugal

Tendo em conta que o presente estudo se debruça sobre os técnicos superiores de reeducação, é importante situar o surgimento da carreira no tempo, remetendo-nos para os anos 50 e, para a sua posterior integração no sistema judicial, que só veio a acontecer apenas nos anos 80.

Primeiramente é fundamental abordar a emergência do serviço social em Portugal, bem como o surgimento da profissão de técnico superior de serviço social, a sua entrada no sistema judicial e a transformação da carreira de Técnico Superior de Serviço Social em Técnico Superior de Reeducação.

O início do Serviço Social em Portugal dá-se em 1907, quando foi constituída a Liga da Ação Social Cristã, a qual, segundo os princípios da igreja, nomeadamente o da caridade, pretendia promover a aproximação de classes, bem como normas de justiça. Na mesma altura, surgiram elites que hierarquizavam a forma de ajuda conforme a vida política e católica dos ajudados. (Carvalho, 2010)

Sendo que o princípio da Liga da Ação Social foi evoluindo, em 1935, a Condessa de Rilvas, em parceria com a Ação Católica Portuguesa, cria em Lisboa o Instituto Superior de Serviço Social e, dois anos mais tarde, em Coimbra, a Escola Bissaya Barreto.

Mais tarde, em 1939, o Serviço Social e o seu ensino é considerado por diploma oficial, tendo como objetivo: “[a] elevação do nível de vida da gente portuguesa, quando se apoia em sãs doutrinas e os anima em verdadeiro espírito social”, nomeadamente através da “criação de escolas de formação social, onde se habilitem raparigas até da melhor condição para exercerem

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junto de fábricas, organizações profissionais e instituições de assistência, obras de educação coletiva, uma ação persistente e metódica de múltiplos objetivos – higiénicos, morais e intelectuais – (…)” (Dec. Lei no.30 135 de 14.12.1939).

O Serviço Social, em Portugal, na década de 30 do século XX, estava, pois, profundamente ligado a um ideal de “caridade”, de ajuda aos mais “pobrezinhos”, sendo atribuída à igreja a gestão social das comunidades, gestão essa que assentava na família, afirmando-a como um lugar estruturado em volta do chefe e de sua mulher e considerando-a a base dos valores da sociedade da época. (Marques, Mouro, Portugal, Campanini, & Frost, 2004)

Em 1974, no final do Estado Novo, é exigida pelas escolas de Serviço Social, até então existentes, a entrada nas estruturas de utilidade pública de ensino. Luta que só viria a terminar 10 anos mais tarde, em 1985, quando o Instituto Superior de Serviço Social (ISSSL) de Lisboa decide alterar a estratégia de qualificação, assumindo-se como Instituição de Ensino Superior Privado. Em Abril de 1986, a mesma estratégia é seguida pelo Instituto de Serviço Social do Porto, que se mantém até aos dias de hoje como instituição privada de ensino. (Negreiros, 1995)

Apesar de ambos os Institutos de Serviço Social referidos serem estabelecimentos privados de ensino, e não obstante o plano curricular de quatro anos de duração, até 1989 os mesmos não conferiam qualquer grau académico, mas sim um diploma profissional, já que tal grau só poderia ser certificado por Universidades. Esta posição que o Estado impõe ao Serviço Social cria-lhe barreiras como o não acesso a alguns locais de trabalho que exigiam técnicos superiores habilitados com o grau de licenciatura.

Esta situação terá levado, na década de 70, a uma mobilização (iniciada a 7 de Dezembro de 1979) por parte de vários dirigentes da Associação Portuguesa de Serviço Social, tendo em vista um único objetivo, a “equiparação do grau de licenciatura para efeitos profissionais”. Este processo só viria a terminar em 1984 e sem sucesso, já que, segundo o Ministério da Educação, o grau só seria dado se o curso fosse considerado licenciatura.

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Quando a direção do ISSS de Lisboa mudou, propôs uma nova estratégia que consistia em obter o grau de licenciatura para o Curso Superior de Serviço Social, implementando um plano de estudos com duração de cinco anos e qualificando cientificamente os docentes desta área de estudos1 (Carvalho, 2010). Tais objetivos só foram finalmente conseguidos a 27 de Julho

de 1989, para os Institutos de Lisboa e do Porto, atribuindo assim o grau de licenciatura aos seus formandos2. (Negreiros A. G., 1995)

Tal como constatado, é no final da década de 80 que o serviço social alcança legitimidade académica. No entanto, a classe de profissionais do serviço social continua a lutar contra a imagem generalizada de que é apenas um serviço assistencialista de apoio aos mais desfavorecidos e beneficiários de RSI (Rendimento Social de Inserção), quando, na realidade, independentemente da área de intervenção, o Serviço Social constrói-se efetivando direitos, justiça social, equidade e concretização da cidadania. (Andrade, 2001)

Na década de 90, multiplicaram-se os novos cursos de Serviço Social, reformulando toda a formação lecionada até à data. A abertura da primeira escola pública, localizada nos Açores e mais tarde na Universidade Católica, obrigou à reformulação geral e nacional do curso de três para quatro anos, incluindo estágio curricular obrigatório. A carreira de Técnico Superior de Serviço Social deu também entrada nos quadros do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), enquadrando-se no subgrupo dos “Especialistas das Ciências Sociais Humanas”, passando a integrar equipas de diversas entidades. (Branco, 2009)

A partir de então, tornam-se facilmente identificáveis as várias áreas do trabalho social, que rapidamente passou a ser parte integrante das funções estatais, mais especificamente, no âmbito do emprego, da segurança social, da saúde, da justiça, da educação, equipamentos sociais de apoio à infância, juventude, deficientes e idosos, centros de formação profissional,

1(cf. Decreto-lei 100B/85).

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centros de saúde e hospitais, centros de profilaxia da droga e apoio a toxicodependentes, estabelecimentos prisionais, serviços de reinserção social e tribunais, e serviços de apoio social nas escolas.

Os assistentes sociais podem ainda ser encontrados em Autarquias Locais, como é o caso das Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Ação Social e Cultural. Assim como em Associações não lucrativas, IPSS’s (Instituições Particulares de Serviço Social), Misericórdias, entre outras, que ao serem reconhecidas pela Segurança Social com tendo Estatuto de Utilidade Pública são parcialmente financiadas através do orçamento de Estado pela Segurança Social. É importante ainda referir que, além de todas as áreas de intervenção e entidades referidas anteriormente, os Assistentes Sociais, podem ainda integrar Empresas privadas, colaborando nas equipas de Recursos Humanos.

Em 1996, foi possível perceber que os dados relativos ao número de Assistentes Sociais nos organismos públicos mostravam que a maioria deles (25,4%) se encontrava ao serviço do Ministério da Justiça3, demonstrando a importância dos mesmos na referida área. (Rodrigues,

Nunes, Tapajós, & Paiva, 2003).

2. O Serviço Social na Área da Justiça

Na área da justiça, o trabalhador social inicia as suas funções muito antes dos anos 90 do século XX, na segunda metade do séc. XIX, em 1867, com a Lei de 1 de Julho de 1867. De acordo com (Pimentel, 2001), podemos distinguir três fases na evolução do Trabalho Social.

3 Assistentes Sociais nos Organismos da Função Pública (1996), Presidência do Conselho de Ministros 0,1%, Ministério da Justiça 25,4%,

Ministério das finanças 0,2%, Ministério da Defesa 1,1%, Ministério da Solidariedade e Segurança Social 24,4%, Ministério da Saúde, 21,7%, Ministério do Ambiente 0,1, Ministério da Educação 5,1%, ministério da Administração Interna o,2%, Ministério do Planeamento e Administração do Território 0,5%, Ministério da Agricultura 4,2%, Ministério da Qualificação e Emprego 1,9%, Câmaras Municipais 13,8% e Juntas de Freguesia 1,2%.

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A primeira fase, com início em 1867, baseou-se apenas na intervenção exclusiva de instituições privadas de assistência social, junto dos estabelecimentos prisionais com um cariz religioso e humanitário. O trabalho nesta época tinha subjacente uma recuperação do indivíduo através da prática religiosa, sendo esse trabalho realizado, na maioria das vezes, por Misericórdias.

A segunda fase situou-se entre 1902 e 1936, e nela já existia uma intervenção estatal específica. Nesse sentido, foram criadas4 duas comissões de patronato, uma no Porto e outra

em Lisboa, que evoluíram para uma Associação do Patronato das Prisões, legislada pelo Ministério da Justiça e dos Cultos. Esta Associação tinha como principal finalidade “colaborar com o regime prisional na obra de regeneração dos delinquentes, assistir-lhes moral e materialmente durante a prisão, trabalhar para a sua reintegração na vida social, ampará-los quando livres, em ordem de evitar a reincidência, e proteger as vítimas imediatas dos delitos (…)”. (Pimentel, 2001, p. 261)

A terceira fase, compreendida entre 1936 e 1981, correspondeu a uma intervenção estatal mais ampla, que assegurava a assistência social nos estabelecimentos prisionais. Em 1936, deu-se uma reforma considerável no sistema, delimitando as competências específicas da Associação do Patronato, tais como as visitas e o auxílio material e moral dos reclusos e suas famílias, o acompanhamento dos reclusos colocados em liberdade condicional, o auxílio material das vítimas do delito.

O Estado pretendia iniciar uma intervenção especializada e individualizada, através da profissionalização de agentes sociais responsáveis pelo acompanhamento de delinquentes, durante e após o cumprimento da pena de prisão, com o objetivo de promover a readaptação social do recluso.

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No entanto, só em 1956 é que é publicado o Regulamento do Concelho Superior dos Serviços Criminais e da Direção Geral dos Serviços5, que efetiva uma estruturação e organização

do Serviço Social na Prisão. Tais profissionais do Serviço Social tinham como principais funções “auxiliar o detido (…) estimular as visitas da família do recluso (…) preparar com a necessária antecedência o promover o repatriamento e a colocação familiar e profissional dos reclusos postos em liberdade condicional, vigiada ou definitiva, recorrendo à colaboração das entidades públicas ou particulares, capazes de coadjuvarem a assistência prisional” (Pimentel, 2001, p. 261). Tinham ainda como ação intervir junto de sujeitos em meio livre, como é o caso dos ex-reclusos, prostitutas, mendigos, e delinquentes inimputáveis.

Em 1982, houve mais uma alteração através do Decreto-Lei n.º 319/82, de 11 de Agosto. O Instituto de Reinserção Social (IRS), sob a alçada do Ministério da Justiça, passou a ter como principal função a prevenção criminal, que ia desde a prevenção primária junto de grupos de risco, até qualquer sujeito que tivesse contacto com o sistema judicial da justiça, prevendo-se legalmente que cumprissem funções de: (1) apoio técnico nas fases pré-sentencial e sentencial; (2) execução de medidas e execuções não detentoras; (3) apoio especializado aos tribunais nos domínios do direito tutelar de menores e família, compreendendo as fases de preparação da decisão judiciária e de execução de medidas; (4) intervenção em projetos e ações de reinserção social e de prevenção de situações de marginalidade, em articulação com outras instituições e serviços públicos e privados dos sectores do emprego, da saúde, da segurança social, ou outras que prossigam objetivos complementares (Pimentel, 2001, p. 263).

O tipo de intervenção mantém-se até o surgimento, em 1995, de um novo Decreto-Lei6

que define os técnicos de reinserção social, profissionais não só de serviço social, mas também de áreas de estudo vindas das ciências sociais e humanas, como é o caso da psicologia, sociologia, direito, entre outras. Este grupo de profissionais, de acordo com o decreto referido, deveriam desenvolver as seguintes funções:

5Decreto-Lei n.º 40877.

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A elaboração de relatórios que substanciem o diagnóstico/prognóstico da situação de menores, seus progenitores ou outras pessoas a quem sejam confiados, para apoio a decisões judiciárias, nomeadamente para a aplicação da medida adequada;

A elaboração de relatórios sociais, perícias sobre a personalidade e outras informações relativas a arguidos e a vítimas, nomeadamente para efeitos de reexame de pressupostos da prisão preventiva ou outa medida de coação, de suspensão provisória do processo e da escolha e medida da reação penal; O acompanhamento do menor, do jovem ou adulto durante o processo decisório, no âmbito do direito de menores, da família e penal, por solicitação da competente autoridade judiciária ou em cumprimento de disposição legal; A elaboração e envio ao tribunal de relatórios de avaliação dos processos de acompanhamento.

Posteriormente, o Decreto-Lei n.º 126/2007 de 27 de Abril criou a Direção Geral de Reinserção Social, extinguindo o Instituto de Reinserção Social, constituindo assim a nova Lei Orgânica dos Serviços de Reinserção Social, que atualmente se faz reger pelo Decreto-Lei n.º215/2012 de 28 de Setembro. (Gomes, 2008, p. 19)

Este novo Decreto-Lei definiu uma nova Direção Geral, designada por Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, tendo como principal missão o “desenvolvimento das políticas de prevenção criminal, de execução das penas e medidas e de reinserção social e a gestão articulada e complementar dos sistemas tutelar educativo e prisional, assegurando condições compatíveis com a dignidade humana e contribuindo para a defesa da ordem e da paz social.” (Dec. Lei 215/2012, art.º2). Esta legislação, pretende permitir “uma intervenção centrada no indivíduo desde a fase pre-sentencial até à libertação, preparando, em colaboração com os serviços do setor público e privado, oportunidades de mudança e de reinserção social, diminuindo as consequências negativas da privação da liberdade e reduzindo os riscos de reincidência criminal.” (Gomes, 2008, p. 19)

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3. Contexto Prisional Português

Sendo que o enquadramento legal que rege o funcionamento prisional já foi previamente apresentado, vamos agora considerar o contexto prisional português a partir do número de prisões, e de reclusos, entre outros aspetos.

A Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais tem sob sua alçada o total de 49 estabelecimentos prisionais, sendo que 2 são femininos, 8 são mistos e os restantes 39 são masculinos, todos eles distribuídos por quatro distritos judiciais. O Distrito Judicial do Porto que é constituído por 14 estabelecimentos prisionais, o Distrito Judicial de Coimbra que é constituído por 9 estabelecimentos prisionais, o Distrito Judicial de Lisboa que é constituído por 15 estabelecimentos prisionais, englobando também os estabelecimentos prisionais dos Açores e da Madeira e, por último, o Distrito Judicial de Évora que tem no total 11 estabelecimentos prisionais.

A organização e separação dos reclusos por estabelecimentos prisionais realiza-se, conforme descrito no artigo n.º9 do Código de Execução de Penas e Medidas Privativas da Liberdade, tendo por isso sido criados vários tipos de estabelecimentos prisionais: uns, destinados ao acolhimento de reclusos preventivos e/ou de reclusos que cumprem penas de prisão pela primeira vez ou então jovens com idades até aos 25 anos; outros, que acolhem exclusivamente mulheres; e ainda aqueles estabelecimentos que se destinam a reclusos que apresentem necessidade de proteção especial. No entanto, os estabelecimentos prisionais podem ainda variar conforme a situação jurídico-penal em que o recluso se encontre, segundo a idade, o estado de saúde físico-mental, as exigências de segurança associadas e ainda os regimes de execução da pena aplicados. (Campos, 2015)

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É importante referir também que os estabelecimentos prisionais têm níveis de segurança diferentes. Tal distinção é feita através da Portaria n.º13/2013, publicada a 11 de Janeiro de 2013, onde são classificados em três tipos diferentes: nível de segurança especial, nível de segurança alta e nível de segurança média. Estas diferenças têm por motivo a execução da pena e a medida privativa da liberdade. No estabelecimento prisional de alta segurança a pena é cumprida sempre em regime de segurança, existindo apenas um estabelecimento prisional desse tipo em Portugal (EP de Monsanto). Os restantes estabelecimentos prisionais funcionam com medidas de segurança média com regime aberto (RAE7 e RAI8). (Campos, 2015)

3.1 Caracterização da população reclusa portuguesa

Quanto ao número português de reclusos, atualmente e segundo as estatísticas prisionais da DGRSP9, referentes ao 2º Trimestre do ano do 2015, é possível perceber que,

embora a lotação total de reclusos seja de 12.591 reclusos, podemos efetivamente encontrar 14.332 reclusos nas prisões portuguesas. Veja-se o gráfico abaixo.

Gráfico 1. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015)(p. 2)

7Regime Aberto para o Exterior. 8Regime Aberto para o Interior.

9 Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais Estatísticas Trimestre de 2015.

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Para além da notória lotação dos estabelecimentos prisionais, é de evidenciar que a maior parte da população reclusa é do género masculino (94%).

Gráfico 2. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 2)

É também importante referir que, na generalidade, trata-se de reclusos condenados a penas de prisão (83,8%) de 3 a 6 anos de condenação, sendo a faixa etária com mais reclusos a dos 30 anos de idade.

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Gráfico 4. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 8)

Gráfico5. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 3)

Após uma breve caracterização do sistema de prisões portuguesas, assim como dos reclusos que preenchem as cadeias nacionais, considero útil fazer uma breve contextualização do sistema prisional francês, de modo a facilitar a compreensão dos dados mais à frente apresentados, relativos a dois estudos realizados em estabelecimentos prisionais franceses (Fassin, et al., 2013); (Larminat, 2011).

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4. Contexto Prisional Francês

À semelhança do sistema prisional português, em França, as prisões estão também sobre a alçada do Ministério da Justiça. No entanto, a forma como se organizam é diferente da do sistema prisional português. Em França, de acordo com dados do ano de 2015 (Campos, 2015) existem 190 estabelecimentos prisionais e 103 serviços de liberdade condicional e reintegração (services pénitentiaires d’insertion et de probation). A missão das direções inter-regionais e dos departamentos e territórios ultramarinos é a de controlar e coordenar a atividade dos estabelecimentos prisionais bem como dos serviços de reinserção e de liberdade condicional sob sua autoridade.

As execuções das penas, têm em consideração três aspetos diferentes: castigar os condenados, proteger a sociedade do “perigo” e os interesses da vítima/lesado. A estes aspetos, acrescenta-se uma preparação para a inserção ou reinserção do detido aquando da saída em liberdade.

Os 190 estabelecimentos prisionais referidos estão divididos por duas grandes categorias de ação: Casa de Detenção (maison d’arrêt) e Estabelecimentos para a Pena (établissements pour peine). (Campos, 2015)

As “casas de detenção” destinam-se a reclusos em prisão preventiva ou a condenados com penas iguais ou inferiores a 2 anos, sendo que estas prisões incluem dois tipos de áreas ou dois tipos de cumprimento de penas: as penas curtas, e os cumprimentos de penas por dias livres10.

10“A prisão por dias livres consiste numa privação da liberdade por períodos correspondentes a fins-de-semana, não podendo exceder 72

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Os “estabelecimentos para a pena” destinam-se a reclusos que tenham penas maiores a cumprir, sendo que, mesmo neste âmbito, se dividem ainda por mais três tipos de prisões com destinatários diferentes: (1) As “Casas Centrais” (maison centrale) são prisões de segurança máxima, existem 6 no território francês e destinam-se apenas a reclusos considerados perigosos; (2) os “Centros de Detenção” (centre de détention) albergam indivíduos que não são perigosos e que apresentam grandes capacidades de reinserção na sociedade, existindo 25 no território francês; e, por ultimo, (3) os “Centros de Semiliberdade” (centre de semi-liberté), que possibilitam ao recluso manter um emprego ou uma formação externa à prisão, tendo de voltar ao fim do dia e nos fins-de-semana, existindo 11 em França. (Campos, 2015)

Comparativamente ao caso português, a rede de estabelecimentos prisionais em França é direcionada para os mais variados tipos de penas de prisão, aspeto que vem contextualizar os resultados dos estudos aos quais mais adiante recorreremos.

5. A Educação e a Importância da Educação para Adultos

Sendo o trabalho do técnico direcionado para a educação, reeducação, readaptação e dinamização do tempo de cumprimento de pena do recluso, é fundamental percebermos, também, no que assenta a educação ou, neste caso, a reeducação de um recluso e de que forma tal objetivo é concretizado.

A educação para adultos desenvolveu-se a partir da primeira metade do séc. XX, quando várias organizações de foro político e social consideraram importantes a resolução de vários problemas, como o analfabetismo que afetava os cidadãos adultos, tendo assim emergido várias políticas públicas, nesse sentido, criaram-se várias associações e movimentos sindicais populares. No entanto, só mais tarde, após o golpe militar de 25 de Abril 1974, surgiram “novos tipos de organização social e de exercício de poder, materializados na criação generalizada de comissões, nos bairros, nas aldeias, nas empresas e nos quartéis” (Canário, 2007 cit. in (Cunha, 2013, p. 11)

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O movimento popular de 25 de Abril fomentou um processo coletivo e dinâmico de aprendizagem que favoreceu de forma transversal a população. Foi possível registarem-se “melhorias na retórica”, articulando-se os conceitos de “educação e de autonomia”, num contexto político de luta de classes, observando-se o processo de crescimento económico e o aumento dos desafios impostos à sociedade, em que se deu também o alargamento da oferta educativa, do próprio sistema educativo, que ao nível da educação para adultos também evoluiu. (Cunha, 2013, pp. 11-12).

Segundo Canário (2008), referido por (Cunha, 2013), “a educação de adultos é um movimento nascido de uma ideia de mudança social. A UNESCO viu-a como uma ideia de humanização da civilização”. Sendo assim é possível perceber que a UNESCO considera a educação de adultos uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento das sociedades e inevitavelmente do país que nela aposta. Com o desenvolvimento da educação de adultos nas sociedades, a mesma ganhou sentidos de orientação que se distinguiam por três diferentes vias: (1) práticas educativas, (2) formação profissional e (3) profissionalização.

A primeira das vias assenta nas práticas educativas, estas consistiam na oportunidade que criavam dos alunos frequentarem novamente a escola, ou de a frequentar pela primeira vez, caso fosse esse o problema. Neste âmbito, a alfabetização era o principal motor que movia a ação, já que nos anos 50, 60 e 70 a grande maioria da população portuguesa apresentava défice escolar.

A segunda via da educação de adultos, assenta na formação profissional, esta tem como principal função preparar o individuo para o exercício de uma atividade profissional, nunca esquecendo que durante o percurso laboral acontecem vários períodos de formação. Esta formação surge associada “à necessidade de conferir aptidões e conhecimentos, de carácter técnico ou científico, que permitisse aos operários produzir mais e melhor”, pois “quanto mais apurados forem os conhecimentos dos operários e dos trabalhadores, mais perfeitos e por isso mais rendosos serão os produtos industriais e agrícolas”. (Reis cit. in (Cunha, 2013, p. 14)

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A terceira via da educação de adultos leva-nos até à profissionalização, orientada para o desenvolvimento local, que tem como propósito o desenvolvimento e progresso da autonomia dos cidadãos locais com o objetivo de resolução de problemas locais pertinentes. Neste âmbito e por via da educação, a animação sociocultural surge como uma outra via na reposta para a concretização das mudanças sociais, já que é um domínio das práticas educativas alternativas ao modelo escolar. A animação sociocultural tem várias funções, sendo as principais as seguintes: (1) adaptação e integração, (2) recreativa, (3) educativa, (4) ortopédica e (5) crítica. (Besnard, ref. in Cunha, 2013, pp. 15-16)

A função de adaptação e de integração tem como finalidade “promover a socialização dos indivíduos”. A função recreativa está inteiramente ligada aos tempos livres, mas de forma organizada e lúdica. A função educativa, na perspetiva da animação sociocultural, é entendida como “escola paralela”, ou seja, ao mesmo tempo que desenvolve competências anteriores, permite ainda ao indivíduo dedicar-se a outros interesses mais específicos, tendo em conta a vontade e o gosto pessoal do mesmo. A função ortopédica pretende contribuir para a regulação da vida social através do reequilíbrio das situações de desintegração que existam. E, por último, a função critica visa fomentar o sentido crítico aos indivíduos de forma a manterem o exercício da democracia, centralizando a ação na procura de alternativas e novos estilos de vida mais adaptados aos cidadãos.

Nesta fase, é importante retomar, mesmo que de forma breve, a funções do técnico superior de reeducação. Isto porque o TSR, no exercício das suas funções, tem a obrigação de propor e desenvolver atividades consideradas necessárias ao acolhimento dos reclusos, fomentar a inscrição dos reclusos em cursos escolares e formações profissionais, organizar e dinamizar atividades culturais recreativas, formativas e de educação física e ainda cursos escolares de diferentes graus de ensino, para além de todas as outras responsabilidades burocráticas referentes ao tratamento penitenciário.

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Neste sentido, é importante percebermos de que forma funciona a educação de adultos. Considerando o processo educativo, pode ser de três formas, (1) educação formal, (2) educação não formal e (3) educação informal. A educação formal, é o tipo de ensino dispensado pela escola, com exigências de processos avaliativos e de certificação final. A educação não formal, caracteriza-se pela sua flexibilidade, quer de horários, quer de locais, e apesar de ser voluntária, pressupõe a construção de situações educativas. E por último, a educação informal refere-se a todas as situações potencialmente educativas, mas intencionais, já que são pouco organizadas e estruturadas. (Canário, 2008)

Assim sendo, é possível perceber que o técnico superior de reeducação aplica em muito, no desenvolver da sua carreira, uma forma de educação informal para adultos. Este tipo de educação é bastante amplo e heterogéneo, abrangendo um conjunto de processos, meios e instituições, específicos ou não, que podem não estar diretamente associadas ao sistema educativo comum. As práticas de educação informal, tal como já percebemos, são muito amplas pois pretendem alfabetizar alunos, expandi-los culturalmente e criar atividades de ocupação dos tempos livres. (Cunha, 2013, p. 21)

A educação informal pode ainda ser utilizada como um instrumento de orientação para a “formação cívica, social e, política, ambiental e ecológica”, já que, segundo Bernet (2003), referido por Cunha (2013, p. 22), é um “conjunto de processos, meios e instituições específicas e distintamente concebidos de acordo com objetivos explícitos de formação ou instrução, não diretamente destinadas a prestação de graus próprios do sistema do ensino formal”. É ainda ao nível da educação informal que se insere a animação sociocultural, já que corresponde a práticas educativas e sociais suficientemente capazes de trabalhar a autonomia, que é transversal às várias dimensões da educação que se pretendem também trabalhar em meio prisional.

Segundo Abraham Pain (1990), referido por Canário (2008, p. 81), a educação informal propõe uma forma inversa de definir situações educativas, ou seja, o principal objetivo é atingir os efeitos educativos, ao invés de partir das intenções dos seus intervenientes (ou seja,

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formadores). Valoriza as aprendizagens do quotidiano, ao contrário das fomentadas pelo ensino, sendo por isso aprendizagens com foco nos efeitos dos comportamentos e não nas intenções do comportamento. O mesmo autor refere ainda que as aprendizagens ao nível do quotidiano são tão elevadas que correspondem de forma maioritária às aprendizagens gerais da vida do indivíduo, o mesmo aplica-se inclusive aos indivíduos altamente escolarizados.

Nos estabelecimentos prisionais, o tipo educação informal faz mais sentido, quando comparado com a educação formal e, ainda, considerando o papel dos TSR, na medida em que não existe ocupação laboral para todos os reclusos da prisão. Segundo a investigação levada a cabo por Cunha (2013), no Estabelecimento Prisional Regional do Montijo, é ainda referido que, embora a prisão possa ser uma segunda oportunidade para a educação formal, tendo em conta que muitos dos indivíduos não tinham hábitos de estudo ou não se identificavam com o sistema educativo, para muitos deles, ingressar na escola do estabelecimento prisional continua a não ser uma opção, e como tal, é fundamental encontrar alternativas de atuação para ocupar o tempo livre dos reclusos. Cunha, 2013, p. 23)

O tipo de atividades educativas informais, e/ou não formais, tem também maior adesão, já que são mais apelativas. Segundo Bernet, referido por Cunha (2013, p. 23), o facto de se poder contar com a presença de voluntários, pessoas externas ao estabelecimento prisional, e do sexo oposto, faz com que as atividades sejam mais variadas, minimizando os efeitos negativos do cumprimento da pena. Desta forma, os educadores, técnicos, animadores socioculturais e voluntários têm um papel muito importante na ressocialização dos reclusos, através de atividades de animação, trabalhando o potencial educativo. Por efeitos educativos “entenda-se [...]a concretização de mudanças duráveis de comportamentos e atitudes, decorrentes da aquisição de conhecimentos na ação e da capacidade de experiencias vividas e coletivas” (Canário, 2006, cit. in Cunha, 2013).

Segundo Lopes (2006, p. 404), a educação não formal ou informal, procura dar enfâse aos afetos através da convivência entre os grupos, criar relações horizontais, ao invés de verticais, nas relações humanas, aproximar pessoas sem valorizar os seus graus académicos,

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abrangendo assim toda a população, valorizando as aprendizagens entre gerações e pessoais, sempre sem recurso à educação formal. Aspetos muitos semelhantes aos da animação sociocultural, a qual tem em atenção os interesses específicos do grupo ou do indivíduo, o uso de metodologias ativas e dinâmicas, com o máximo de exclusão de qualquer tipo de intervenção formal e exigências académicas, permitindo potenciar a educação para situações sociais típicas do quotidiano, sendo a prisão um local de novas aprendizagens em que as experiências vividas também são significativamente importantes para a tomada de decisão durante o cumprimento de pena.

Após esta breve exposição dos significados da educação para adultos, no que consiste e de que forma pode ser aplicada, conseguimos mais facilmente perceber o trabalho do TSR, já que o mesmo prevê legalmente a realização e promoção de atividades, sejam elas formativas ou recreativas, tendo nesse aspeto uma grande influência no exercício da educação não formal ou informal, independentemente de ser realizada ou organizada pelo próprio.

A par da função de educador não formal/informal, o técnico superior de reeducação tem também a responsabilidade de encaminhar os reclusos que se mostrem interessados ou com necessidade de aprendizagem escolar para a educação formal, também promovida pelos mesmos, possibilitando o acesso do recluso aos mais variados graus de ensino, seja ele básico, secundário ou até mesmo de grau superior.

Neste sentido, será então importante perceber, por intermédio da investigação desenvolvida, quais são as principais tarefas que os técnicos superiores de reeducação realização ao longo do dia, assim como as atividades e planos de intervenção que implementam junto dos reclusos que acompanham nos estabelecimentos prisionais selecionados (EP Porto e EP Coimbra), como ainda perceber se tais planos de intervenção, que visam a reeducação de comportamentos, alcançam os objetivos propostos.

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6. O Técnico Superior de Reeducação

Tal como já foi possível perceber, atualmente, o trabalho de serviço social é da competência de um grupo de técnicos formados nas áreas das Ciências Sociais e Humanas. Estes técnicos, apesar das várias alterações realizadas no séc. XXI, continuam a exercer as mesmas funções descritas no Dec. Lei 346/91 de 18 de Setembro11. Este decreto estabelece a

carreira de Técnico Superior de Reeducação do modo seguinte:

Propor e desenvolver as atividades necessárias ao acolhimento dos reclusos em colaboração com o Instituto de Reinserção Social e os restantes serviços do estabelecimento;

Conceber, adoptar e ou aplicar métodos e processos técnico-científicos considerados mais adequados ao acompanhamento dos reclusos durante a execução das medidas privativas da liberdade, nomeadamente no que diz respeito à elaboração e atualização do plano individual de readaptação e à emissão de pareceres legalmente exigidos ou superiormente solicitados;

Prestar às direções dos estabelecimentos a assessoria técnica necessária à execução do plano de tratamento dos detidos, nomeadamente no que concerne à colocação laboral, à frequência de cursos escolares e de formação profissional, à aplicação de sanções disciplinares e a alterações do regime de cumprimento de pena;

Dar apoio técnico aos tribunais de execução de penas através da elaboração de relatórios, emitindo pareceres sobre a evolução da personalidade dos reclusos, durante a execução da pena, de modo a habilitar os respetivos juízes a avaliar a persistência ou não de perigosidade e a viabilidade de reinserção social;

Elaborar programas e execução de estudos psicossociais e acompanhamento individual dos delinquentes;

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Conceber e ou desenvolver projetos de atuação ao nível de grupos específicos em risco psicoafectivo, designadamente toxicodependentes, portadores de doenças transmissíveis, jovens adultos e doentes mentais;

Conceber programas de prevenção primária e secundária, nomeadamente de consultas, tratamento e apoio permanente a reclusos em risco e/ou consumidores de drogas; Organizar e dinamizar atividades culturais recreativas, formativas e de educação física, com participação dos reclusos, com vista a ocupação dos tempos livres e à promoção da vertente psicossocial dos mesmos;

Organizar o contacto dos reclusos com o meio exterior, incentivando a troca de correspondência e o convívio periódico com familiares e amigos;

Organizar cursos escolares de diferentes graus de ensino, estimular os reclusos à sua frequência e estabelecer os contactos necessários com o Ministério da Educação; Fomentar o acesso dos reclusos aos meios de comunicação social por forma a mantê-los informados dos acontecimentos relevantes da vida social;

Estimular a participação de grupos de voluntários da comunidade na vida prisional em ordem a viabilizar a ressocialização futura dos reclusos;

Organizar estudos estatísticos e elaborar planos e relatórios de actividades.12

Em suma, e pelos objetivos decretados para a carreira dos TSR, os mesmos têm como principal função o acompanhamento e melhoria das capacidades pessoais, laborais e académicas dos reclusos. Pretende-se que na prisão sejam dadas ferramentas de desenvolvimento pessoal a quem necessitar das mesmas, já que, por vezes, em contexto de liberdade, nem sempre se proporcionaram. A par destas funções, os Técnicos Superiores de Reeducação têm ainda um papel administrativo, na elaboração de relatórios, pareceres, entre outros instrumentos escritos de acompanhamento dos reclusos, associados às suas funções.

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Como se depreende da leitura do decreto lei citado, nos nossos dias a prisão não é estritamente concebida como uma instituição de punição pelo crime cometido, mas cada vez mais, de reeducação e reabilitação.

6.1. O Trabalho Social

Estando as funções dos Técnicos Superiores de Reeducação legalmente definidas, é importante perceber a efetivação prática do trabalho destes técnicos nas prisões portuguesas. Embora em Portugal não haja nenhum estudo direcionado apenas para este tema, é possível encontrar alguns autores que, no âmbito das suas investigações, tiveram em conta o papel dos técnicos, assim como a opinião dos mesmos sobre as suas tarefas.

Inês Gomes (2008) realizou, no âmbito da sua dissertação de mestrado sobre reinserção de ex-reclusos, uma breve recolha de opiniões/informações dos técnicos, a título informal, no Estabelecimento Prisional de Coimbra, onde fez a investigação em 2006, ainda como estagiária curricular. Na sua investigação, Gomes (2008, p. 42) tentou perceber o tipo de apoio que era dado pelos técnicos, aquando da saída do recluso em liberdade. Eis dois testemunhos:

(…) seria possível criar e fazer cumprir este tipo de programas. (…) sistema carcerário é pouco educativo, (…) ele sai sem retaguarda familiar (na maior parte das vezes) e sem dinheiro. A primeira coisa que fazemos é orientá-los a requerer o RSI (Rendimento Social de Inserção). (…) mas estes utentes são geralmente indivíduos isolados). (...) Pela minha experiência, o plano individual (…) passava muito pela aprendizagem de um ofício que se tornou inútil quando saíram. (Gomes, 2008, p. 42)

Eles saem de lá sem se ter conseguido planear muito bem como vai ser a reinserção, (…) da falta de protocolos com outras instituições. (…) Penso que essa será uma das principais falhas. (Gomes, 2008, p. 41).

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É possível, assim, perceber que os principais problemas apresentados assentam essencialmente num sistema carcerário pouco educativo, que tem em vista a aprendizagem de um ofício inútil no meio exterior à prisão, para além da falta de treinos que reeduquem os comportamentos dos indivíduos. Gomes, refere ainda que a falta de técnicos superiores nas cadeias, e a falta de protocolos com instituições exteriores leva à uma deficiente preparação da liberdade do recluso, sendo que o mesmo é muitas vezes colocado em liberdade sem qualquer suporte social e/ou financeiro ao seu dispor, sendo apenas aconselhado dirigir-se à Segurança Social, entidade esta que se responsabilizara totalmente pelo encaminhamento do recluso.

A par disso, Gomes tentou, também, perceber que tipo de avaliação os técnicos faziam da efetivação da política escolar e de formação profissional exercidas no contexto prisional. É referido o “(…) desfasamento existente entre o que é lecionado lá dentro e a realidade exterior. Além disso, estas atividades são em número restrito, o que não possibilita o acesso a toda a população prisional (…)”. Percebe-se assim que a formação escolar lecionada não é compatível com os programas escolares regulares. Do mesmo modo, os ofícios aprendidos nada têm a ver com as necessidades e aprendizagens no meio externo.

De uma formal geral, a percepção de que as atividades organizadas são inferiores às necessárias e não servem de igual forma toda a população reclusa parece bem presente. Além disso, denota-se uma seleção muito precisa dos reclusos para participação dos mesmos, já que é referido que apenas os bem comportados são aceites para colaborar nas formações e ou outro tipo de ocupações existentes:

Só alguns é que têm essa possibilidade. (…) são os mais bem comportados que usufruem, (…) deveriam pensar um bocadinho na ocupação e na formação dos reclusos (Gomes, 2008, p. 41). (…) apanhei ex-reclusos que quando estiveram presos aprenderam e desenvolveram competências (…) não lhes serve de nada, (…)

Segundo Gomes, a desadequação das formações às necessidades resolvia-se com um estudo que fizesse perceber as necessidades do meio exterior, de modo a formar os reclusos

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nesse sentido, preparando-os para um ofício útil, com possibilidade de uma colocação laboral que lhes permitisse reinserirem-se na sociedade mais facilmente.

Já em França, Yasmine Bouagga (2013) iniciou o desenvolvimento de uma investigação semelhante à que se pretende desenvolver a partir desta investigação, embora o seu principal ponto de partida seja as alterações “morais” a que a carreira está associada.

Bouagga explora as reconfigurações dos perfis profissionais e das identidades profissionais dos técnicos de reinserção social ao longo dos anos 2008 e 2011. Analisa as várias dinâmicas associadas à esfera penal, os desafios impostos por ela, a sobre-população prisional, os constrangimentos administrativos das prisões, a transposição do papel do assistente social para o papel de criminólogo e, para além de tudo isso, analisa ainda o atual papel de técnico superior de reeducação como mediador do sistema penitenciário e do sistema judiciário.

Na investigação de Bouagga (2013), o objetivo centra-se nos “dilemas morais” criados pelas transformações do trabalho do técnico intramuros. Para isso, a autora conduziu uma investigação entre 2008 e 2011 em dois estabelecimentos prisionais masculinos franceses. Uma das prisões foi a de Dugnes, constituída por 2000 reclusos, e a outra foi a de Broussis, que alberga cerca de 900 reclusos. Ambos os estabelecimentos prisionais estudados estavam sobrelotados, sofriam várias mudanças ao nível da equipa técnica de reinserção social, assim como se caracterizavam por uma variação significativa de reclusos, quer pelo tempo de cumprimento de pena, quer pelas constantes transferências realizadas.

Quando a investigação foi realizada, o estabelecimento prisional de Dugnes (com uma população de 20000 reclusos) era constituído por 24 “técnicos de reinserção social” (4 deles tinham mais de 10 anos de serviço prisional) e o estabelecimento prisional de Broussis (com uma população de cerca de 900 reclusos) era constituído por 9 técnicos de reinserção social (1 deles tinha mais de 10 anos de serviço, e outros 4 ainda se encontravam numa fase de

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adaptação ao sistema), sendo que cada técnico se encontrava responsável por cerca de 80 a 120 reclusos.

Tal como a própria autora refere, tais números denotam claramente o distanciamento entre os técnicos e os reclusos. Acresce que que os gabinetes dos técnicos se encontram num edifício diferente do das alas da prisão, e o encontro entre as duas partes só acontece após a realização de um pedido por escrito dos reclusos. (Bouagga, 2014)

Com base na mesma investigação, Harcout (ref. in Fassin, Bouagga, et al, 2013) refere que a falta de tempo para um acompanhamento mais próximo e individualizado leva os técnicos a uma recolha de informação de forma a caracterizar os casos, à partida, como prioritários ou não prioritários. Segundo o autor, tal forma de atuação responsabiliza em larga percentagem os técnicos pelos atos dos reclusos, ou seja, é criada a percepção de que através das entrevistas/atendimentos realizados com os reclusos é possível prever ou perceber o tipo de comportamento que os mesmos irão adotar no futuro face às várias situações. Mas como refere a autora: “we do not have a crystal ball” (Bouagga, 2014, p. 84).

Um outro aspeto de importante reflexão, abordado por Wacquant (ref. in Fassin, Bouagga, et al, 2013) é o tipo de orientação que deve ser realizada pelos TSR. Este autor refere que a maior parte dos reclusos é proveniente de zonas pobres, jovens delinquentes, emigrantes, portadores de doenças mentais, sem-abrigo, entre outros.

A falta de respostas sociais e de soluções é muitas vezes apontada pelos técnicos franceses, “of course it’s not fair, but we feel powerless: when you are confronted with a homeless guy, there’s nothing you can do for him, there are not enought social shelters outside

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Anne Théron, técnica superior no estabelecimento prisional de Dugnes, desde 1975, (ref. in Bouagga, 2014), explica que os reclusos são caracterizados segundo cinco segmentos de avaliação específicos, sendo que o que fica colocado no primeiro segmento tem todas as possibilidades de voltar a ser reinserido na sociedade, no reverso, o recluso que fica no quinto segmento não terá qualquer tipo de intervenção para a reinserção, e conclui que: “(…) so nothing will be donne for him: it is scary!”.

No entanto, em 1992, Feeley e Simon, também no contexto prisional francês, aperceberam-se de que poderia existir toda uma nova forma de acompanhar os reclusos, caracterizada por ter como principal preocupação a provisão da residência, ao invés da reinserção socioeconómica e da moralidade de comportamentos, a qual levava os técnicos a uma forma muito confusa de intervenção: “you have to be at the same time in a caring attitude, displaying empathy, concern, while you are also evaluating and controlling!” (Bouagga, 2014)

Por estranho que pareça, a verdade é que a burocracia exigida aos técnicos superiores de reeducação é referida por Feeley e Simon (ref. in Bouagga, 2014) como facilitadora da gestão das relações, isto porque justifica de alguma forma a distância que tem de ser criada, assim como as constantes avaliações do comportamento dos reclusos. Fazendo com que em situações de residência e de regresso ao estabelecimento prisional, os técnicos superiores de reeducação adotem uma postura que responsabilize o próprio indivíduo, ao invés de se poderem envolver emocionalmente com a situação.

Um outro investigador, também da mesma área de estudo e também em França, Xavier De Larminat, entre 2007 e 2008, levou a cabo um estudo tendo também como foco os técnicos superiores de reeducação. Larminat (2013), pretendia abordar dois tipos de intervenção distintos, o trabalho dos técnicos de reinserção e o trabalho realizado pelos técnicos superiores de reeducação, que nos estabelecimentos prisionais escolhidos pelo investigador funcionam paralelamente. Para tal, realizou a investigação em dois estabelecimentos prisionais diferentes, o de Beauchcamp que se fazia constituir por 10 profissionais de reinserção, e o de Durbai que compunha um grupo de 27 técnicos. Durante seis meses, com uma frequência de três vezes por

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semana, o investigador realizou observação direta em cada um dos serviços, tendo ainda realizado 25 entrevistas a 25 técnicos diferentes. Estas tinham como principal objetivo conhecer a trajetória da carreira, assim como recolher informação acerca do ponto de vista dos técnicos sobre o próprio trabalho e práticas aplicadas.

Através da investigação de Larminat, foi possível perceber que embora os técnicos de reeducação admitam a falta de grau académico para desempenharem determinadas funções especificas provenientes de áreas de estudo que não são diretamente as dos técnicos, na realidade acabam por desempenhá-las. Isto acontece porque o trabalho do TSR é multifacetado, já que enfrenta desafios de várias áreas do conhecimento, como é o caso da sociologia, psicologia, criminologia e até da ciência política, áreas que adquirem cada vez mais importância, quando colocadas a par da reinserção social e do trabalho individualizado a realizar com o recluso (Larminat, 2013).

Os técnicos de reinserção social desta investigação referem que são precisos cerca de seis meses para que uma relação de confiança seja construída no sentido de uma intervenção individualizada adequada, o que inclui contactos com a rede de suporte do recluso (relações familiares, relações interpessoais, relações laborais, relações de amizade).

Mas, tal como os técnicos superiores do estudo de Durnain e Beauchcamp referem, o tipo de intervenção é definido muitas vezes pelas opções que a própria administração da prisão permite que sejam utilizadas. Em 2000 foi admitido pelas prisões francesas um projeto denominado “project sentence-serving”, este projeto dissociou-se do termo “utente”, dando lugar ao novo termo de “cliente”, já que o mesmo, por si só, reconhece efetivamente direitos aos reclusos, passando a existir uma revisão periódica do tipo de diagnóstico e intervenção a ser aplicada.

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Mas nem sempre tal forma de atuação é possível para os técnicos de Beauchcamp, que referem que “we do diffential follow up simply because there are too many cases” (Larminat, 2013, p. 3). Assim sendo, os diagnósticos acabam por funcionar como avaliadores do risco da estabilidade/instabilidade do estabelecimento prisional, ao invés de instrumentos para um plano de intervenção para a reinserção social personalizada.

Através destes três estudos distintos foi possível perceber as principais dificuldades que os técnicos superiores de reeducação/reinserção social noutros estabelecimentos prisionais fora do país referem aquando da sua intervenção juntos dos reclusos.

De modo geral, as opiniões dos técnicos nas três investigações anteriormente apresentadas são transversais. Todas elas de alguma forma referem que o tipo de intervenção utilizada não vai ao encontro das necessidades específicas da população reclusa, que as atividades organizadas não os preparam devidamente para a liberdade, nem chegam a atingir os objetivos de capacitação intelectual da forma pretendida, que as ocupações laborais não vão ao encontro das necessidades laborais em meio externo, que nas atividades organizadas apenas participa uma minoria da população reclusa e os que participam são seletivamente convidados a colaborar nas mesmas, que o trabalho dos técnicos também depende muito dos objetivos da Direção do Estabelecimento Prisional, assim como da intervenção personalizada do, técnicos. Ou seja, que apesar dos princípios de intervenção serem os mesmos no acompanhamento do recluso, as intervenções, na prática, são realizadas conforme a disponibilidade do técnico e a urgência dos problemas relativos a cada recluso. Por último, é possível ainda perceber que os reclusos, quando saem em liberdade, muitas vezes saem pouco orientados e sem uma retaguarda segura para a vida em liberdade.

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Parte II - Metodologia

1. Metodologia de Investigação Utilizada

Tal como já foi referido anteriormente, esta investigação pretende perceber as dificuldades dos técnicos superiores de reeducação no exercício das suas funções, atendendo à legislação que os rege, e tendo em conta o grupo-alvo destes profissionais.

Para tal, foram entrevistados técnicos de dois estabelecimentos prisionais. Desta forma, procurou-se perceber se as dificuldades são transversais aos técnicos, mesmo que trabalhem em estabelecimentos prisionais distintos.

Assim sendo, foram entrevistados técnicos superiores de reeducação com os objetivos de :

- Conhecer as várias tarefas associadas à carreira de TSR (vários tipos de trabalho exigido enquanto profissional num Estabelecimento Prisional - EP). - Perceber as condições em que as medidas de reeducação são aplicadas; - Identificar os obstáculos encontrados pelos TSR na aplicação das políticas sociais previstas legalmente;

- Compreender a visão dos TSR face às respostas e à sua eficácia;

- Identificar as aspirações destes profissionais relativamente à carreira de técnico superior de reeducação.

Para que tais objetivos fossem alcançados, a metodologia de investigação que suportou cientificamente a pesquisa foi a investigação qualitativa13, através de uma amostragem do tipo

não probabilístico, já que esta é usada quando se conhece o universo dos entrevistados e estes são selecionados por critérios previamente definidos pelo investigador. Tendo por base uma amostra por conveniência, neste tipo de amostras, o investigador seleciona alguns elementos a que tem acesso e parte do pressuposto que os mesmos podem representar um universo de sujeitos, existindo no entanto, riscos na imprecisão dos resultados (Kinnear & Taylor, 1979).

13 O objetivo da metodologia qualitativa é compreender o sentido da realidade social fazendo uso da indução como forma de obter uma

compreensão alargada dos fenómenos. O investigador pretende compreender o fenómeno tal como é vivido e relatado pelos indivíduos (Fortin, 2009)

Imagem

Gráfico 1. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015)(p. 2)
Gráfico 2. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 2)
Gráfico 4. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 8)
Tabela 1: Sexo dos Técnicos Superiores de Reeducação
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