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4. AS EXPERIÊNCIAS DOS EDUCADORES DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA:

4.4 FORMAÇÃO, PRODUÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO

4.4.1 Apropriações tecnológicas no ensino e aprendizagem

43 Página do projeto A Física e o Cotidiano. Disponível em: <

A partir de 2015, a formação para o uso de Mídias e Tecnologias Educacionais, passou a se chamar Apropriações Tecnológicas no Ensino e Aprendizagem, continuou tendo foco no atendimento aos professores formadores, entretanto foram feitas algumas oficinas em escolas e para outros públicos. Geralmente, esta formação ocorre por meio de atividades de curta duração, nas quais os educadores apresentam as mídias da Rede Anísio Teixeira, falam sobre REA, softwares e licenças livres, e sobre o uso destas mídias e tecnologias em sala de aula.

O professor Sandro (2016) relata a sua experiência de participação nessa formação, ele aponta a resistência dos professores ao uso das tecnologias como um desafio a ser superado neste processo.

A formação é outra linha de trabalho aqui que é um desafio. Porque a gente vai trabalhar com professores que estão atuando, e vamos falar de tecnologia, e tecnologia, hoje talvez nem tanto, mas há muito tempo sempre foi visto pelos professores como algo que não é necessário. […] Então não adianta chegar pra esse público, que é a grande maioria, e falar de tecnologia, e dizer a eles que eles têm que trabalhar com material livre, que a gente pode produzir, que a gente pode usar o Ambiente Educacional, pode usar o blog do Professor Web, a TV e tudo pra sala de aula. […] Foi sempre desafiador porque parecia sempre que a gente tava vendendo algo, e que a gente tinha que convencer o cliente, e o cliente não acredita na qualidade do produto por desconhecimento, a maior parte. Mas também por questões políticas. Então a gente tinha que vencer essas barreiras aí.

Ele conta que para tentar superar a resistência dos professores cursistas, o grupo começou a pensar em outras estratégias metodológicas para aplicar nas formações.

[…] e aí o comitê gestor, começou a pensar em meios de fazer isso que não fosse aquela formação tradicional, com muita gente que expõe o conteúdo e espera que a pessoa se aproprie. E aí pensamos em fazer formações com dinâmicas, recursos, músicas, tentando captar esse público para que acreditassem no trabalho da gente. Isso foi sempre muito desafiador. Eu acredito que fez alguma diferença na rede pública, mas eu acho que poderia ser ainda maior essa diferença, a gente poderia ter conseguido resultados melhores. […] Mas de uma maneira geral, é um caminho bom, a maneira como as formações acontecem elas são produtivas, tem um resultado sempre bom, as avaliações dos participantes é sempre muito boa (SANDRO, 2016).

O professor Sandro (2016) destaca a receptividade que o grupo teve na formação com os professores das licenciaturas indígenas.

A gente teve públicos muito interessantes, a licenciatura indígena é algo que chamou muito a atenção da gente pelo interesse, pelo comportamento das pessoas, as pessoas focadas, assim com um respeito muito grande por aquele que tá querendo trazer algo para ele. Em outros locais a gente não teve uma receptividade assim tão forte, como foi com a licenciatura indígena.

Para o professor Roberto (2016), as formações também são uma boa forma de divulgar as mídias da Rede Anísio Teixeira.

As formações deram a possibilidade dos professores de conhecer o nosso trabalho, e também, assim como eu, de se surpreender com o material disponível. Não só o que era encontrado na internet dos parceiros, mas também os produzidos pela TV Anísio Teixeira. Muita gente não conhecia e a gente teve a oportunidade de levar o nome da Rede Anísio Teixeira e da TV Anísio Teixeira para essas pessoas que, como eu, sempre viram com surpresa. […]

Segundo ele, havia uma resistência inicial que depois ia diminuindo ao longo da formação.

Geralmente os professores eram um pouco resistentes, quando achavam que a gente era da Secretaria da Educação. Mas logo quando dizia que era da Rede Anísio Teixeira, que a gente veio apresentar uma coisa nova, a abertura era total. Nunca vi resistência dos colegas nesse sentido. […] geralmente éramos bem recepcionados e o trabalho era bem aceito (ROBERTO, 2016).

A professora Gabriela (2016) conta como foi a mudança do papel de professora do ensino médio para o papel de formadora de professores.

Uma demanda nova pra mim, porque até então eu sempre estava no lugar da professora do ensino médio e quando a gente vai pra uma realidade dessa (formação de professores) a gente passa a dialogar com os colegas, que ocupam o nosso mesmo lugar e que trazem, na verdade, as mesmas demandas das quais nós vivemos. […] Eu adoro fazer o que eu estou fazendo, não que eu não gostasse da sala de aula, mas aqui é um trabalho totalmente diferente, uma experiência totalmente diferente da que eu já vivi. Me permite estar diariamente dialogando com outras áreas do conhecimento e aprendendo também. Na escola tudo é muito corrido, tocou tem que ir pra sala, tocou tem que sair da sala e esse entrosamento com os colegas era mais difícil.

Ela conta como se deu o processo de concepção da proposta do curso.

É construir e desconstruir, chegou um momento em que a gente comungou da mesma ideia e que formatamos e fizemos o desenho pedagógico. […] às vezes a gente tenta traçar de uma forma, outros se posicionam achando que não, mas aí a gente tenta ajustar, cada um se posiciona, e aí sai (GABRIELA, 2016).

Para Gabriela (2016), é preciso cuidar da relação com os professores e acreditar que o aluno é um aliado.

E muitas vezes se a gente não tiver o cuidado, a gente transforma a formação num muro das lamentações. No sentido de sempre estar ouvindo: “porque a escola não tem, porque não é possível, porque o aluno é isso, o aluno é aquilo.“ Esse tentar fazer por mais que seja difícil, aos trancos e barrancos, a gente consegue levar essa fala, no sentido de que realmente é possível. Não é fácil, mais o nosso grande aliado é o alunado. É realmente professor e aluno juntos transformando a realidade, qualquer que sejam os espaços de aprendizagem, junto com a direção da escola e a família. […]

Ela percebe as formações como importantes momentos para interagir com outros professores, dialogar com a realidade da escola e compartilhar conhecimentos.

As formações que a gente faz, estar frente a frente com os professores, ver a demanda de cada realidade de cada escola, poder levar uma realidade diferente, que nem eu sabia que existia antes de vim pra cá.[...] É um espaço desse fazer, desse produzir, de tentar mostrar ao professor a capacidade que ele tem junto ao aluno, dessa produção no chão da escola e de agregar aquela realidade ao conhecimento (GABRIELA, 2016).

Para alguns educadores as formações em Apropriações Tecnológicas no Ensino

e Aprendizagem são as ações mais importantes desenvolvidas pela Rede Anísio

Teixeira. Por meio delas, os educadores podem compartilhar as mídias que são produzidas e os conhecimentos que são fomentados no Programa; podem discutir sobre estratégias metodológicas de uso das mídias e tecnologias em sala de aula, mas acima de tudo; podem manter maior contato e diálogo com os professores e estudantes que estão nas escolas.

A concepção da formação foi feita pelos educadores e ocorreu por meio da elaboração do Desenho Pedagógico. Alguns educadores afirmam que essa construção foi um processo rico de produção colaborativa e de bastante aprendizagem. A cada formação, ao se deparar com os desafios encontrados nessas experiências, os educadores buscaram outras estratégias de atuação, outros conteúdos, que pudessem contribuir para a superação da resistência encontrada por uma parte dos professores da Rede Pública Estadual. No intuito de encontrar alternativas ao modelo de aula tradicional, passaram a experimentar formatos mais lúdicos e participativos, que segundo eles contribuiu de forma significativa para uma mudança na dinâmica da formação e na relação com os professores cursistas.

Como defendem Freire (1995) e Macedo (2015), os educadores buscaram vivenciar as formações e as experiências como processos de aprendizagem que contribuem para melhorar as próprias práticas educativas.