• Nenhum resultado encontrado

4. AS EXPERIÊNCIAS DOS EDUCADORES DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA:

4.4 FORMAÇÃO, PRODUÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO

4.4.3 Produção de mídias estudantis

Outra formação realizada pela Rede Anísio Teixeira, voltada para estudantes das escolas públicas é a de Produção de Mídias Estudantis (PME)46. Nos anos de 2014 e

2015, os cursos ocorreram como etapa preparatória para as Coberturas Colaborativas realizadas pelos estudantes no Encontro Estudantil de Ciência e Cultura da Rede Pública Estadual de Ensino, evento que reúne estudantes de escolas públicas de todo o estado da Bahia. No ano de 2016, as formações em Produção de Mídias Estudantis deixaram de estar atreladas ao Encontro Estudantil e passaram a ocorrer com maior periodicidade. O professor Adriano (2016) descreve a proposta do curso e o seu processo coletivo de construção.

[…] a gente tem uma formação hoje para estudantes e professores da rede pública, chamada de Produção de Mídias Estudantis ou Produção de Mídias para Educação. Você tem aí, não só produção

46 Todos as mídias produzidas durante estas formações estão publicadas no Ambiente Educacional Web e no Blog do Professor Web. Disponível em:< http://ambiente.educacao.ba.gov.br/tv-anisio-

audiovisual, mas tem produção textual para multimeios, blogs e redes sociais; roteiros, edição, produção audiovisual, fotografia, interpretação e leitura de imagens críticas. [...] Os módulos quem criam são os próprios professores, discutindo em reunião, a estrutura pedagógica, a estrutura de ensino e aprendizagem quem discute são os professores. […] E aí, a gente tem essa formação! Foi difícil no início, porque a gente não tinha uma formatação adequada pra isso, a gente sentou, conversou, criou uma grade, criou módulos.

Colaboradores técnicos da Rede Anísio Teixeira também atuam como formadores deste curso, o professor Adriano (2016) fala da metodologia adotada e de como se dá a relação entre os formadores e os cursistas.

O PME, além de ser um processo formativo interessante, consistente em uma metodologia inovadora. Ela não tem, como eu poderia dizer, dogmas, ela não tem caixas! A equipe de formadores é constituída por professor da rede estadual, que tem uma habilidade técnica, e por jovens que também têm uma habilidade técnica, mas não necessariamente são professores formados, concursados. É uma equipe muito competente e com compromisso! E você vai desembocar numa turma que também é multifacetada: professores e estudantes. Então você tem um universo diverso, colaborativo, cheio de experiências, que no momento das discussões, a criação se estabelece.

Ele avalia positivamente a forma como as aulas são conduzidas.

A gente foge da metodologia, por exemplo, do professor único. [...] a nossa aula é dada por três ou quatro professores em sala de aula. É a primeira e única experiência interdisciplinar que eu vivi na educação. Já ouvi falar muito, mas vivenciar é a primeira vez. Um colega está falando de software livre, ao mesmo tempo um complementa a fala do outro. Não tem aquele pedestal “eu sou o professor, quem fala só sou eu”. Não! É um bate-papo. A aula é leve e é positiva por isso (ADRIANO, 2016).

Adriano (2016) defende a participação e o reconhecimento de outros colaboradores da equipe técnica da Rede Anísio Teixeira como formadores do PME.

Não é só professores do estado que são professores do PME, pelo contrário! Tem um colega, que veio da Escola de Aplicação que trabalha com softwares e licenças livres. Ele é o único da equipe com competência pra falar sobre isso, não tem outro! Porque ele se apropriou do conteúdo de forma livre. E ele não precisa ter a cátedra. Tem outro colega que faz animação em 3D, nenhum professor faria. Então, como é que eu não posso chamar um cara desse de professor, se ele está me ensinando algo que eu não sei? Educação é troca.

Ele destaca a importância e a coerência do uso de softwares livres nas formações.

Você oferta para esses estudantes e professores tudo em software livre. Porque a filosofia da gente é essa, porque também não adianta você formar, dentro de uma estrutura comunicacional, com software proprietário, você tá dando bala para o inimigo (ADRIANO, 2016).

Adriano (2016) acredita que, ao colocar o sujeito da formação no papel de produtor de narrativas, a formação pretende estimular uma quebra de paradigma.

[…] você possibilita a esses atores, que antes eram consumidores, a serem produtores. Não é fácil ser produtor, porque é a sua fala que está ali, é a forma como você vê o mundo, que você o concebe. […] É muito confortável ver o mundo pelo olhar dos outros. Mas tem uma consequência aí, você vai ser alfabetizado pelo mundo dos outros. A proposta é olhar pra dentro, olhar pra escola, olhar pro seu par, olhar pra sala de aula, escutar a forma que você fala, as suas regionalidades, as suas territorialidades. […] Você dá uma câmera, pede pra escrever um roteiro, uma história. […] as reações são diversas, mas na maioria das vezes é: “eu posso, que banaca!”. Então, ele se vê.

O professor Fábio (2016) conta um pouco da sua experiência na formação PME. Ele acredita na importância de compartilhar esses conhecimentos e de buscar a coerência do processo de formação com o que é vivenciado na Rede.

A Formação é a forma que a gente tem de se aproximar do nosso público, que é estudante e professor, e a gente de fato é testado. A gente está aqui dentro, a gente tem acesso a muitas informações, coisas importantes, coisas atuais, mas como é que a gente está usando isso? Pra gente mesmo, ou a gente vai compartilhar? Eu acho que a formação é o espaço pra isso, pra a gente compartilhar e aí que a gente é testado. Eu acho que a gente tem tido bons resultados. Porque a gente sempre faz as avaliações e a contrapartida é muito boa.[...] Eu gosto da minha participação porque eu tento levar para as pessoas o que eu faço aqui. Eu só saio daqui e vou pra lá, então não tem muito segredo. É bacana a parte da produção de texto, da orientação que a gente dá. A galera se apropria de fato, não é uma falácia.

Ele relata a experiência da turma de estudantes que fez a Cobertura Colaborativa no IV Encontro Estudantil, o potencial dos estudantes e do trabalho em equipe.

A formação que a gente faz para a Cobertura Colaborativa Estudantil é sempre mais marcante, porque a gente fica com esse público por mais tempo, pois tem o tempo da formação e tem o tempo da implementação no Encontro Estudantil. Eu lembro de um estudante ano passado, foi uma turma muito boa. Na avaliação esse estudante falou o quanto foi bom trabalhar com a equipe, ele de fato aprendeu coisas que ele vai poder utilizar. Na formação da cobertura colaborativa ele ficou com produção de texto, ele era uma cara muito rápido, que a gente dava a pauta, ele ia e voltava, e produzia o texto assim. A minha contribuição é muito mais de organização, de dar

uma orientação, porque a galera já sabe muita coisa. A gente está com um publico que é muito rápido e sabe muita coisa. É um trabalho mais de orientação. Me marcou bastante a turma passada! (FÁBIO, 2016).

Fábio (2016) destaca a importância do estímulo ao uso e à produção de Mídias e Tecnologias Livres.

Quando a gente está na formação da PME, a gente leva esse discurso, você está aqui, você está se apropriando e você pode. Ao invés de ter um site falando de sua comunidade, você próprio pode ser o veículo da sua comunidade. […] As Mídias e Tecnologias Livres são as ferramentas que chegaram pra empoderar todo mundo. Basta a pessoa querer, basta a pessoa buscar isso que ela vai conseguir.

Ele considera as ações de formação como as que melhor representam os princípios que inspiram a proposta de apropriação tecnológica pretendida pela Rede Anísio Teixeira.

Eu acho que as formações são as ações mais representativas da proposta do programa. Agente tem um tripé, produzir, compartilhar e formar. Nas formações isso fica muito mais evidente. É um momento em que a gente compartilha o que a gente aprende aqui com outras pessoas, a gente produz, tanto para a gente quanto estimula a produção. As formações de uma forma geral, as de Interpretação, Memórias e Identidade, Apropriações e PME, elas são a identidade da Rede, eu acho que elas conseguem reunir tudo o que a gente faz, a nossa proposta (FÁBIO, 2016).

O reconhecimento do potencial dos estudantes, o estímulo à colaboração e a defesa pelo uso de mídias e tecnologias educacionais livres se apresentaram como características marcantes na experiência vivenciada pelos educadores nas formações do PME. Esta formação busca convergir todos princípios e processos vivenciados na Rede Anísio Teixeira. Uma tentativa de trabalhar a criticidade, a contextualização e a colaboração, junto com estudantes e professores, em processos formativos de gestão, produção e compartilhamento de mídias livres. Alguns educadores percebem o potencial transformador vivenciado nessas formações. Isso se observa na forma como os estudantes constroem e se reconhecem nas narrativas produzidas; no fortalecimento da autoestima dos estudantes; no reconhecimento do trabalho em equipe e da gestão participativa; na construção de um ponto de vista crítico em relação às tecnologias e aos seus posicionamentos frente ao mundo; no empoderamento dos meios de comunicação

por parte destes sujeitos. Todos esses elementos constituíram as experiências de formação do PME narradas pelos educadores.

Professores, técnicos e estudantes juntos, colaborando e se relacionando de forma mais horizontal e dialógica, produzindo mídias livres, usando softwares e licenças livres, com os equipamentos que têm disponíveis. A dinâmica proposta para a formação do PME, talvez seja a iniciativa da Rede Anísio Teixeira que mais se aproxima daquilo que Pretto (2012) chama de um jeito hacker de ser professor. Também se aproxima da Pedagogia da Autonomia e da aprendizagem com a experiência, defendidos por Freire(1995) e Macedo(2015), no sentindo que colocam o sujeito e as suas experiências como o centro dos processo de ensino e de aprendizagem. A compreensão das experiências vivenciadas pelos educadores nas formações PME contribui para o entendimento de alguns desafios e potencialidades presentes nestes jeitos de ensinar e aprender propostos por Pretto (2012), Freire (1995) e Macedo (2015).