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2. APROPRIAÇÕES TECNOLÓGICAS NOS PROCESSOS DE ENSINO E

2.3 SOFTWARES E LICENÇAS LIVRES

O uso das mídias digitais, dos softwares e das plataformas de compartilhamento na internet é regulado pela Lei de Direitos Autorais3, pela Lei dos Softwares4 e pelas

Licenças de Uso de softwares, que estabelecem uma série de condições de caráter jurídico, técnico e econômico. Estas condições podem se configurar como barreiras impeditivas dos processos de apropriação tecnológica e de compartilhamento de conteúdos nas escolas. Em boa parte dos casos, para poder utilizar softwares e mídias que possuem licenças restritivas, os usuários são obrigados a pagar altos valores pelo direito de uso por um tempo determinado, ficam impedidos de compartilhá-los, em muitos casos devem abrir mão de sua privacidade, da sua liberdade de expressão e do direito autoral sobre suas obras. Como forma de superar as restrições impostas pela legislação vigente e pelas licenças restritivas, o uso de Softwares e de Licenças Livres se apresenta como uma alternativa a ser considerada.

Pretto, Cordeiro e Oliveira (2013) destacam que o modelo hacker de desenvolvimento dos softwares livres, representado em especial pela filosofia do GNU/Linux e sua licença aberta GPL, funciona com uma dinâmica radicalmente inversa ao modelo de desenvolvimento dos softwares proprietários, uma vez que estimula que as cópias sejam compartilhadas entre os pares e que qualquer pessoa participe do desenvolvimento coletivo e aberto do conhecimento. Evangelista(2014) afirma que o software livre colabora para uma mudança no estilo de fazer negócios e de produzir softwares, cujo modelo principal, até então, era semelhante ao de uma empresa manufatureira: produzia-se e vendia-se software como se fosse um bem material. No software livre, embora também estejam envolvidos em seu processo de 3Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 10 de jan. de 2017.

produção trabalhadores contratados diretamente pelas empresas, o trabalho tido como modelo, e simbolicamente ostentado como o mais característico da produção livre é do tipo voluntário, realizado no tempo “de folga” do trabalhador e fora dos espaços típicos de trabalho capitalista, não acontece nem na fábrica nem nos escritórios das empresas.

Esses princípios foram, pouco a pouco, sendo apropriados por usuários/desenvolvedores, criando-se uma teia global, descentralizada e colaborativa, constituindo-se naquilo que hoje se conhece como o Movimento Software Livre. (PRETTO; CORDEIRO;OLIVEIRA, 2013, p. 32)

Evangelista (2014) destaca que, embora tenha nascido nos Estados Unidos, em meio à popularização do uso dos microcomputadores, o movimento software livre ganhou, no Brasil, especial relevância. Desde meados da década de 1990, um grupo de pessoas vem atuando no país no sentido de propor a adoção e contribuir para o uso de softwares livres em diversas áreas. Esse grupo, nem sempre homogêneo em seus posicionamentos, intitula-se “movimento software livre” e reúne técnicos, desenvolvedores, ativistas, usuários, organizações, empresas, empresários, artistas e intelectuais.

Um software livre garante ao seu usuário a liberdade de utilizá-lo para qualquer finalidade, de copiar, distribuir, estudar, modificar e aperfeiçoar o software. Estas liberdades são garantidas juridicamente por meio das Licenças de Softwares Livres, a pioneira e mais utilizada delas é a licença General Public License (GNU GPL)5. No

intuito de estender as mesmas liberdades dos Softwares Livres para outros formatos de mídia digital, foram criadas as Licenças Livres para qualquer tipo de conteúdo: textos, vídeos, imagens, áudios, dentre outros. A Licença Livre de conteúdo mais difundida é a Creative Commons6 (LEMOS, 2011).

O Ministério da Educação do Brasil (MEC) adotou a utilização de Softwares e Licenças Livres em alguns dos seus programas e projetos. Os computadores distribuídos pelo Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), que compõem os Laboratórios de Informática nas escolas públicas, utilizam Softwares Livres, como o Linux Educacional7, sistema operacional que possuí aplicativos e

mídias educacionais livres para uso em sala de aula. Os grandes repositórios de 5 Disponível em: < http://www.gnu.org/licenses/licenses.html#GPL >. Acesso em: 10 de jan. 2017.

6Disponível em: < http://creativecommons.org.br >. Acesso em: 10 de jan. 2017. 7Disponível em: < http://linuxeducacional.c3sl.ufpr.br/ >. Acesso em: 10 de jan. 2017.

conteúdos digitais mantidos pelo MEC, apesar de não serem softwares livres, utilizam Licenças Livres Creative Commons: o Banco Internacional de Objetos Educacional (BIOE)8, o Portal do Professor9, a TV Escola10 e o Portal Domínio

Publico11. Por meio destes repositórios, o MEC disponibiliza conteúdos digitais

educacionais licenciados livremente para estudantes e professores de qualquer lugar do mundo. Atualmente percebe-se um constante processo de descontinuidade destas políticas públicas, diante de um cenário no qual cada vez mais a participação das instituições privadas torna-se estruturante na definição da atuação governamental. Isso coloca em sérios riscos a defesa pelos softwares livres e pelas licenças livres na educação, tendo em vista que boa parte destas instituições privadas, mesmos as que não possuem fins lucrativos, operam sob uma lógica de atendimento aos anseios do mercado, que na maioria das vezes não vê com bons olhos os movimentos que defendem a liberdade dos softwares, das informações e dos conhecimentos.

Apesar das fortes ameaças, a utilização de Softwares e de Licenças Livres ainda se coloca como uma condição estratégica de garantia das bases técnicas necessárias para o desenvolvimento de uma proposta pedagógica de apropriação tecnológica crítica, contextualizada e colaborativa nas escolas públicas. Fortalece a coerência entre as dimensões técnica e pedagógica dessa proposta de apropriação tecnológica, pois traz como fundamentos básicos: participação social, liberdade de acesso, produção de conhecimentos, autonomia e cooperação.