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APROVADA POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 2 DE MARÇO DE

No documento Pareceres da CITE no ano de 2007 (páginas 87-95)

I II – ENQUADRAMENTO JURÍDICO Direito Comunitário

APROVADA POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 2 DE MARÇO DE

PARECER N.o11/CITE/2007

Assunto: Parecer prévio nos termos do n.o 2 do artigo 80.o da Lei n.o 35/ 2004,

de 29 de Julho

Processo n.o160 – FH/2006

III – OBJECTO

Em 28 de Dezembro de 2006, a CITE recebeu do Hospital … E.P. pedido de emissão de parecer prévio à intenção de recusa do pedido de atribuição de horário diurno flexível, apresentado, em 7 de Novembro de 2006, pela técnica de radiologia …, nos termos do n.o2 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004 de 29

de Julho.

Uma vez que se suscitaram dúvidas quanto à natureza do vínculo da técnica em questão, foram solicitados, telefonicamente em 16 de Janeiro p.p., os devidos esclarecimentos ao Departamento de Recursos Humanos do Hospital … E.P.

Em 18 de Janeiro de 2007, a CITE recebeu a resposta do Sr. Coordenador de Recursos Humanos, que informa esta Comissão nos seguintes termos:

… A trabalhadora … exerce funções neste Hospital com a categoria de técnica de radiologia e encontra-se vinculada ao quadro de pessoal, com a relação jurídica de emprego público que lhe confere a qualidade de funcio- nária da Administração Pública, por nomeação definitiva, desde 10 de Julho de 1995.

III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

O disposto nos artigos 80.oe 111.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, regula-

menta o artigo 45.o do Código do Trabalho, respectivamente para o sector

privado e para a Administração Pública. Efectivamente o disposto no artigo 45.oé aplicável à relação jurídica de emprego público que confira a qualidade

de funcionário ou agente da Administração Pública, com as necessárias adap- tações do artigo 5.oda Lei n.o99/2003, de 27 de Agosto, que aprovou o novo

Código do Trabalho. Este artigo 45.otem em vista a conciliação entre a vida

profissional e familiar, resultando estabelecidos regimes diversos, uma vez que o artigo 111.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho, que regulamenta para

a Administração Pública, contrariamente ao artigo 80.o, que regulamenta para

o sector privado, não prevê a necessidade de parecer prévio da CITE no caso de intenção de recusa por parte do organismo a quem foi solicitado o exercício do direito a trabalhar a tempo parcial ou com flexibilidade de horário.

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Citando a Recomendação 1/CITE/2004, … A partir de 23 de Outubro de 2002,

as entidades empregadoras que entendessem recusar a pretensão dos seus trabalhadores no que se refere ao direito de prestação de trabalho em tempo parcial ou horário flexível, nos termos da Lei da Protecção da Maternidade e da Paternidade, estavam obrigados a solicitar parecer prévio da CITE. A fundamentação da sua recusa estava limitada a razões expressas ligadas ao funcionamento da empresa ou à impossibilidade de substituir o traba- lhador por este ser indispensável, e para que pudesse ser efectivada carecia de parecer favorável da CITE.

A instituição desta nova competência veio reforçar a efectividade do prin- cípio constitucional consagrada na alínea b) do n.o1 do artigo 59.oda CRP, referente à conciliação da vida familiar, e criar uma garantia acrescida da eficácia deste direito para a categoria de trabalhadores.

Ao manter inalterada a regulamentação existente para os trabalhadores da Administração Pública, estes não gozavam da mesma garantia ainda que tivessem os mesmos direitos.

Em face desta distinção, a CITE sustentou, por maioria, ao abrigo dos prin- cípios constitucionais e legais da igualdade, da conciliação da actividade profissional com a vida familiar e da protecção da sociedade e do Estado na realização da insubstituível acção de pais e mães em relação aos seus filhos, que o regime instituído para o sector privado, relativamente à exigência de parecer prévio em caso de recusa da pretensão do trabalhador, deveria ser aplicado, também aos trabalhadores da Administração Pública, por se tratar de uma garantia acrescida na efectivação dos seus direitos.

Apesar da intenção manifestada expressamente pelo legislador em criar dois regimes diferentes, pode questionar-se, à luz do principio da igual- dade, previsto no artigo 13.o da Constituição da República, do princípio da protecção da maternidade e paternidade, artigo 68.o da CRP, dos direitos dos trabalhadores, n.o1 da alínea b) do artigo 59.o da CRP, se se justifica a existência de regimes diferentes para os trabalhadores sector privado e para os trabalhadores da Administração Pública, neste domínio…

Não obstante a recomendação da CITE, aprovada por unanimidade dos membros presentes na reunião de 7 de Dezembro de 2004, dirigida ao ministro responsável pela área laboral e ao ministro responsável pela adminis- tração pública, no sentido de uniformizar a aplicação das normas sobre a conciliação da actividade profissional com a vida familiar, a verdade é que os regimes ainda são diversos.

III – CONCLUSÃO

Face ao que antecede, não se encontrando prevista a necessidade de emissão de parecer prévio à intenção de recusa, pelos serviços e organismos da Admi- nistração Pública, dos pedidos de autorização para o trabalho a tempo parcial

ou com flexibilidade de horário a funcionários e agentes com filhos menores de 12 anos, não se encontra a CITE habilitada a proceder à apreciação da intenção de recusa do Hospital … E.P. do pedido de atribuição de horário flexível à trabalhadora …

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE JANEIRO DE 2007

PARECER N.o12/CITE/2007

Assunto: Parecer prévio ao despedimento de trabalhadora grávida, nos termos do

n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho e do n.o 1 do artigo 98.o da

Lei n.o35/2004, de 29 de Julho

Processo n.o37 – DG/2007

III – OBJECTO

1.1. Em 29 de Janeiro de 2007, a CITE recebeu um pedido de parecer prévio ao despedimento da trabalhadora grávida …, nos termos referidos em epígrafe, por parte de …, L.da.

1.2. Da leitura do processo, afigura-se como provável que a trabalhadora exerça funções inerentes à categoria de vendedora.

1.3. A acusação constante da nota de culpa, que foi recebida pela arguida em 9 de Janeiro de 2007 (cfr. cópia do aviso de recepção, assinado pela trabalhadora), reporta-se à alegada venda de um par de óculos a um cliente, efectuada pela arguida, em 7 de Setembro de 2006, sem que esta tenha feito entrega à entidade empregadora do montante de € 70, corres- pondente ao preço do par de óculos, pago pelo cliente, tendo feito sua tal quantia sem que para tal estivesse autorizada e sem que a mesma lhe

tivesse sido entregue por qualquer título translativo de propriedade.

1.3.1. A nota de culpa refere que a trabalhadora, ao adoptar tal conduta, sem autorização, causou prejuízo à entidade empre- gadora no valor de € 70, e que o referido comportamento

consubstancia um ilícito criminal punível nos termos da lei,

para além de violar o dever de lealdade ao qual está vinculada por força do previsto na alínea e) do n.o 1 do artigo 121.o do

Código do Trabalho, para além de violar o dever de promover e executar todos os actos tendentes à melhoria da produtividade da empresa, previsto na alínea g) do n.o 1 do artigo 120.o do

Código do Trabalho.

1.3.2. A nota de culpa termina referindo que nos termos do artigo

396.o do Código do Trabalho, o comportamento da arguida inviabiliza em definitivo, pela sua gravidade e consequências, a subsistência da relação laboral, constituindo, nos termos do n.o3 da alínea e) do artigo 396.odo Código do Trabalho, justa causa de despedimento.

1.4. A entidade empregadora anexa ao processo uma declaração, assinada e datada de 30 de Novembro de 2006, cujo conteúdo se transcreve: … ,

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morador na Rua … , Freguesia de … , Concelho de … , em estado civil de solteiro, declara para os devidos e legais efeitos que no dia 7 de Setembro, do corrente ano, dirigiu-se ao estabelecimento… , no Centro Comercial … , em … , propriedade de … L.da, e uma vez aí adquiriu uns óculos de sol da marca … , modelo … , no valor de € 70 (setenta euros), tendo pago os mesmos à funcionária … , a qual recebeu o respectivo dinheiro na sua totalidade e lhe entregou os óculos. Por ser verdade se emite a presente declaração, (assinatura).

1.5. Em resposta à nota de culpa, a trabalhadora nega o facto de que é acusada referindo que, encontrando-se a trabalhar na empresa desde 1 de Outubro de 2002, não efectuou, ao cliente em questão, qualquer

venda, designadamente a venda do par de óculos (cuja marca e modelo

são identificados no processo), no valor de € 70. Mais refere que a

confirmar tal facto, está a total ausência de registos informáticos no sentido de que a venda em causa, ou qualquer outra realizada ao cliente citado (…), tenha sido efectuada pela ora respondente que, não só não efectuou a venda em causa, como também não se apropriou ilegitimamente da quantia correspondente ao par de óculos.

1.5.1. A trabalhadora arguida menciona ainda ser manifestamente

duvidoso que, tratando-se de uma venda efectuada no mês de Setembro de 2006, a empresa arguente, somente, em 30/11/ /2006, tenha tomado conhecimento da referida venda e da even- tual falta do valor do par de óculos em causa, o que, como

refere, deveria ser conhecida no próprio mês em que foi reali-

zada, ou seja, em Setembro de 2006.

1.5.2. A resposta à nota de culpa termina, enfatizando que atentas as

circunstâncias (…) expostas, não existem factos particularmente gravosos e, aliás, culposos que integrem a violação dos deveres constantes do artigo 121.o, n.o 1, alíneas c) e g) do Código do Trabalho. Na verdade, consta ainda na nota de culpa, face à total ausência de fundamento da (…) nota de culpa, a sanção disciplinar não se afigura justa e proporcional.

1.5.3. A arguida considera ser uma trabalhadora zelosa, dedicada,

respeitadora, assídua e que cumpre, desde sempre, cabalmente, as funções que lhe estão destinadas.

III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.1. A Constituição da República Portuguesa reconhece, nos n.os 2 e 3 do

artigo 68.o, que a maternidade e a paternidade constituem valores sociais

a gravidez e após o parto, tendo as mulheres trabalhadoras ainda direito a dispensa do trabalho por período adequado, sem perda da retribuição ou de quaisquer regalias.

Corolário deste normativo legal é a especial protecção no despedimento de trabalhadoras grávidas, puérperas e lactantes, preconizada pelo artigo 51.o do Código do Trabalho, em conjugação com o artigo 98.o da Lei

n.o35/2004, de 29 de Julho, que regulamenta tal protecção.

2.2. Assim, nos termos do n.o 2 do artigo 51.o do Código do Trabalho,

o despedimento por facto imputável a trabalhadora grávida, puérpera ou lactante presume-se feito sem justa causa, pelo que a entidade

patronal tem o ónus de provar que o despedimento se justifica.

Ora, nos termos do n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho e da

alínea e) do n.o1 do artigo 496.oda referida Lei n.o35/2004, de 29 de

Julho, o despedimento de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante carece sempre de parecer prévio da entidade que tenha competência na área da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, compe- tindo à CITE emitir o aludido parecer.

2.3. Analisado o processo, verifica-se que a entidade empregadora alega mas não prova, inequivocamente, que a trabalhadora arguida tenha efectuado a venda de um par de óculos de sol da marca …, modelo …, no valor de 70 euros a um cliente, tendo recebido e guardado para si tal montante, em 7 de Setembro de 2006.

De facto, embora conste do processo uma declaração de alguém que refere ser o cliente da loja a quem foi entregue, pela arguida, o referido par de óculos pelo preço de 70 euros, não se afigura que tal declaração possa comprovar ou substituir o que, a ser verdade o alegado, deveria estar documentalmente provado e não está, ou seja, que os óculos tenham sido realmente vendidos pela arguida e que esta se tenha apro- priado ilicitamente da quantia alegadamente entregue pelo cliente. De salientar que esta Comissão desconhece as razões pelas quais a enti- dade empregadora tomou conhecimento dos factos, que alega terem sucedido em 7 de Setembro de 2006, apenas em 30 de Novembro p.p., bem como desconhece as circunstâncias em que foi emitida a declaração pelo cliente.

Assim, constata-se que, ao não integrar o processo qualquer documen- tação da entidade empregadora que sustente a acusação, designadamente e a título exemplificativo, registo de dados sobre o stock existente na loja, registo de dados sobre o material vendido, registo de dados sobre a saída de material da loja e respectiva entrada dos valores correspon- dentes, não é possível concluir que a entidade empregadora tenha afas- tado a presunção legal contida no n.o 2 do artigo 51.o do Código do

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puérpera ou lactante, por facto que lhe seja imputável, presume-se feito sem justa causa.

III – CONCLUSÃO

3.1. Face ao que precede, a CITE emite parecer desfavorável ao despedi- mento da trabalhadora grávida, na …, L.da, …, por considerar que a

entidade empregadora não ilidiu a presunção legal contida no n.o 2

do artigo 51.odo Código do Trabalho e que, consequentemente, a apli-

cação da sanção configuraria uma discriminação em função do sexo, por motivo de maternidade, violadora dos princípios contidos no n.o 2

do artigo 22.o e no n.o1 do artigo 23.o, ambos do Código do Trabalho,

que consagram o direito à igualdade e a proibição de discriminação, respectivamente.

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA

No documento Pareceres da CITE no ano de 2007 (páginas 87-95)

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