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APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE JANEIRO DE

No documento Pareceres da CITE no ano de 2007 (páginas 56-72)

I II – ENQUADRAMENTO JURÍDICO Direito Comunitário

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE JANEIRO DE

PARECER N.o7/CITE/2007

Assunto: Parecer prévio ao despedimento de trabalhadora lactante, nos termos do

n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho e do n.o 1 do artigo 98.o da

Lei n.o35/2004, de 29 de Julho

Processo n.o15 – DL/2007

III – OBJECTO

1.1. Em 12 de Janeiro de 2007, a CITE recebeu um pedido de parecer prévio ao despedimento da trabalhadora lactante …, nos termos referidos em epígrafe, por parte da …, S.A.

1.2. A trabalhadora exerce, desde a data da sua contratação, 1 de Março de 2005, as funções inerentes à categoria profissional de Técnica Superior. 1.3. O processo disciplinar foi instaurado em 16 de Novembro de 2006 pela Administração da empresa, na sequência da participação e documen- tação anexas (folhas 1 a 11 dos autos).

1.4. Da nota de culpa, consta o seguinte:

– A trabalhadora não tem exercido a sua actividade de forma zelosa e diligente;

– Desde 6 de Novembro de 2006, a trabalhadora tem incorrido, ininter- ruptamente, na violação do dever de assiduidade;

– A trabalhadora não apresentou, até à data da instauração do processo disciplinar, qualquer documento válido justificativo da sua ausência, incorrendo, assim, ininterruptamente, em faltas injustificadas;

– De 9 de Junho a 5 de Novembro de 2006, a trabalhadora esteve de licença de maternidade;

– Em 31 de Outubro de 2006, a trabalhadora entregou à entidade empregadora um atestado médico, no qual se declara que ainda se encontrava em período de amamentação, e assim deveria continuar

por um período de dois meses, a tempo inteiro;

– A trabalhadora deveria ter regressado ao trabalho no dia 6 de Novembro de 2006, o que não sucedeu, quer até à data da instauração do processo disciplinar (16 de Novembro de 2006), quer até à data da elaboração da nota de culpa (29 de Novembro de 2006), e não justi- ficou, nos termos legalmente exigíveis, a sua ausência;

– A empresa enviou à trabalhadora, em 14 de Novembro p.p., uma carta informando-a de que considerava as faltas dadas como injustificadas; – As faltas dadas perturbam o normal funcionamento dos serviços da

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– O facto de a trabalhadora ter entregue um atestado médico, no qual se declara que o período de amamentação é a tempo inteiro e durará pelo período de 24 de Outubro 24 de Dezembro, não é meio idóneo nem legalmente admissível ou suficiente para que as suas faltas devam ser consideradas justificadas;

– Não avisou atempadamente a entidade patronal das faltas em que estava a incorrer, nem posteriormente as justificou, tendo todas elas sido consideradas pela empresa como faltas injustificadas, com as legais consequências;

– Tais faltas, nos termos do n.o 3 do artigo 225.o do Código do

Trabalho, devem ser consideradas injustificadas;

– As faltas injustificadas, tal como prescreve o n.o1 do artigo 231.odo

Código do Trabalho, constituem violação do dever de assiduidade e determinam perda da retribuição correspondente ao período de ausência;

– De acordo com a alínea g) do n.o 3 do artigo 396.o do Código do

Trabalho, constitui justa causa de despedimento faltas não justifi-

cadas ao trabalho que determinem directamente prejuízos graves para a empresa ou, independentemente de qualquer prejuízo ou risco, quando o número de faltas injustificadas atingir, em cada ano civil, 5 seguidas ou 10 interpoladas;

– As faltas da trabalhadora arguida determinaram graves prejuízos para a empresa, na medida em que se encontra, desde o dia 6 de Novembro, sem uma colaboradora, o que dificulta a organização e os planeamentos de serviço da empresa, para além de já ter incorrido, durante o ano civil, em mais de 5 faltas consecutivas injustificadas; – Os comportamentos descritos e imputados à trabalhadora arguida contrariam os deveres que lhe são impostos pelas alíneas b) e c) do n.o1 do artigo 121.odo Código do Trabalho;

– O comportamento da trabalhadora, pela forma reiterada com que se tem verificado, revela um total desinteresse e falta de zelo não compatível, até porque não justificado, com o normal desempenho e cumprimento das mais elementares regras emergentes de um contrato de trabalho;

– Os comportamentos integram indiciariamente o condicionalismo

exigido para a aplicação da sanção disciplinar de despedimento com justa causa, nos termos dos artigos 365.oe 396.on.os1 e 3 alíneas d) e g) do Código de Trabalho.

1.5. Na nota de culpa, a entidade arguente refere ainda que, nos termos do n.o 2 do artigo 39.o do Código do Trabalho, a mãe que, comprovada-

mente, amamente o filho, tem direito a dispensa de trabalho para o efeito, durante todo o tempo que durar a amamentação e, nos termos do

n.o3 do artigo 73.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, que regulamenta

o Código do Trabalho, a dispensa diária para amamentação ou alei-

tação é gozada em dois períodos distintos com a duração máxima de uma hora cada, salvo de outro regime for acordado com o empregador. Daqui resulta, continua a entidade empregadora, que só com o acordo do empregador é que a mãe que ainda se encontre em amamentação pode usufruir de uma dispensa diária diversa da que legalmente se encontra estatuída (dois períodos distintos com a duração máxima de uma hora cada). Assim, para que a dispensa pudesse ser a tempo inteiro, necessário seria que o empregador tivesse dado o seu acordo. Acresce que tal documento não foi entregue com dez dias de antece- dência relativamente ao início da dispensa (cfr. n.o 1 do artigo 73.o da Lei n.o35/2004).

1.6. Em resposta à nota de culpa, a trabalhadora contra-alega o seguinte: – Que as acusações contra si deduzidas não têm qualquer fundamento

e denotam manifesta violação pela empresa dos princípios da boa-fé que lhe cabia respeitar nos termos do artigo 119.o do Código do Trabalho;

– Que foi convidada para trabalhar na empresa como quadro superior,

sendo-lhe inclusivamente paga uma compensação para deixar a ocupação que tinha e garantidas condições remuneratórias de base e acessórias e benefícios complementares que acabaram por não ser concedidas e antes foram, ao longo do tempo, diminuídas consi- deravelmente;

– Que, no decurso da prestação de trabalho, foram-lhe retiradas as

funções que desempenhava, acabando por ser afecta ao serviço de recursos humanos, sem quaisquer funções atribuídas;

– Que, neste quadro de incumprimento generalizado por parte da

empresa, foram claras as tentativas de «empurrar» a arguida para o desemprego, com cartas de cessação do contrato de trabalho, depois retiradas, e propostas de cessação por mútuo acordo;

– Que, ainda que as faltas imputadas à arguida pudessem ser conside-

radas injustificadas, nunca haveria justa causa de despedimento por não se preencherem os requisitos previstos no n.o 1 do artigo 396.o do Código do Trabalho;

– Que, na situação descrita, não podem existir para a empresa conse-

quências graves decorrentes da falta ao serviço de um trabalhador a quem foram retiradas todas as funções para as quais foi contratado;

– Que o enquadramento dos factos imputados à arguida não é o

correcto, devendo-se tal facto, eventualmente, à menor precisão da declaração médica que foi entregue pela arguida para justificar as faltas dadas;

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– Que, por carta datada de 30 de Outubro de 2006, enviou para a

empresa uma declaração do médico pediatra do seu filho, datada de 24 de Outubro de 2006, onde se diz que a arguida está a amamentar o seu filho desde o nascimento até à data da declaração e durante mais dois meses a tempo inteiro;

– Que, perante essa declaração médica, a elaboração da nota de culpa

foi feita com o enquadramento legal da dispensa pura amamentação, quando não é dessa situação que se trata. De facto aquela declaração médica quando fala em amamentação «a tempo inteiro» pretende significar que, perante uma situação específica do menor, o mesmo precisa de acompanhamento da arguida a tempo inteiro dadas as especiais circunstâncias exigidas para a amamentação. E nada tem que ver com a regulamentação da dispensa para amamentação;

– Que são faltas justificadas nos termos do artigo 225.o, n.o 2 e) do Código do Trabalho;

– Que, se a empresa tinha dúvidas sobre a declaração médica apresen-

tada pela arguida ou sobre a aplicabilidade do normativo citado à situação em causa, podia e devia ter pedido, no prazo de 15 dias (artigo 229.o, n.o 1 do Código do Trabalho,) prova adicional dos factos invocados para aferir da justificação da falta para além do limite normal legalmente estabelecido no artigo 40.o, n.o1 do Código do Trabalho;

– Que, não o tendo feito dentro daquele prazo de 15 dias, é porque

aceitou, implicitamente, como boa, a prova oferecida e para o limite temporal dela constante;

– Que as faltas da arguida no período que decorre de 6 de Novembro

de 2006 a 24 de Dezembro de 2006, são, pois, faltas consideradas justificadas;

– Que não cometeu qualquer infracção disciplinar;

– Que o processo disciplinar deve ser arquivado, sem que dele decorram quaisquer sanções contra a arguida.

1.6.1. A trabalhadora requer, como diligência probatória, que a enti- dade empregadora junte aos autos o processo individual da arguida, do qual deverão constar todos os elementos com a mesma relacionados desde a sua proposta de contratação. Tal diligência foi observada pela entidade empregadora e a traba- lhadora foi informada de que poderia consultar o processo no escritório do mandatário da arguente.

1.6.2. O processo individual da arguida não chegou ao conhecimento da CITE.

III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.1. A Constituição da República Portuguesa consagra, nos n.os 2 e 3 do

artigo 68.o, que a maternidade e a paternidade constituem valores sociais

eminentes e que as mulheres têm direito a especial protecção durante a gravidez e após o parto, tendo as mulheres trabalhadoras ainda direito a dispensa do trabalho por período adequado, sem perda da retribuição ou de quaisquer regalias.

Corolário deste normativo legal, é a especial protecção no despedimento de trabalhadoras grávidas, puérperas e lactantes, preconizada pelo artigo 51.o do Código do Trabalho, em conjugação com o artigo 98.o da Lei

n.o35/2004, de 29 de Julho, que regula tal protecção.

2.2. Assim, nos termos do n.o 2 do artigo 51.o do Código do Trabalho,

o despedimento por facto imputável a trabalhadora grávida, puérpera ou lactante presume-se feito sem justa causa, pelo que a entidade

patronal tem o ónus de provar que o despedimento se justifica.

Ora, nos termos do n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho e da

alínea e) do n.o 1 do artigo 496.oda referida Lei n.o 35/2004, de 29 de

Julho, o despedimento de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante carece sempre de parecer prévio da entidade que tenha competência na área da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, compe- tindo à CITE emitir o aludido parecer.

2.3. Da análise do processo submetido a esta Comissão, verifica-se que: – A trabalhadora arguida esteve em situação de licença por materni-

dade, de 9 de Junho a 5 de Novembro de 2006, e deveria ter regres- sado ao trabalho em 6 de Novembro de 2006, o que não sucedeu. Assim sendo, a trabalhadora tem incorrido, ininterruptamente, desde aquela data, na violação do dever de assiduidade;

– Em 31 de Outubro de 2006, a trabalhadora enviou à entidade empre- gadora uma comunicação à qual anexou uma declaração do médico pediatra do seu filho, datada de 24 de Outubro p.p., que refere o seguinte: para os devidos efeitos se declara que … , está a fazer

alimentação a peito ao seu filho (…), desde o nascimento até esta data, e durante mais 2 meses a tempo inteiro;

– A entidade empregadora enviou à trabalhadora, em 14 de Novembro p.p., uma carta informando-a de que considerava as faltas dadas como injustificadas, com perda de retribuição e desconto na antiguidade, por violação do dever de assiduidade e por não ter apresentado, no prazo devido, qualquer justificação;

– Em 22 de Novembro p.p., o mandatário da trabalhadora arguida enviou um fax à entidade empregadora, dando conta da remessa, pela arguida, da aludida declaração médica, da qual junta cópia, que

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considera como justificativa da sua ausência ao serviço desde 24 de

Outubro de 2006 e pelo período de dois meses, razão por que não se podem ter por injustificadas as ausências ao serviço desde o dia 6 de Novembro do mesmo ano.

2.4. Ora, de acordo com o previsto no n.o 2 do artigo 39.o do Código do

Trabalho, a mãe que, comprovadamente, amamente o filho, tem direito

a dispensa de trabalho para o efeito, durante todo o tempo que durar a amamentação sendo a dispensa diária e gozada em dois períodos distintos com a duração máxima de uma hora cada, salvo se outro regime for acordado com o empregador (Cfr. n.o3 do artigo 73.oda Lei

n.o 35/2004, de 29 de Julho). Verifica-se, pois, que apenas mediante

acordo com a entidade empregadora é que a trabalhadora lactante pode usufruir de uma dispensa diária diversa da que legalmente se encontra prevista (dois períodos distintos com a duração máxima de uma hora cada).

2.5. Defende-se a trabalhadora referindo que a declaração médica quando se refere a amamentação a tempo inteiro pretende significar que, perante

uma situação específica do menor, o mesmo precisa de acompanha- mento da arguida a tempo inteiro dadas as especiais circunstâncias exigidas para a amamentação, e nada tem que ver com a regulamen- tação da dispensa para amamentação.

2.6. Todavia, alega ainda a trabalhadora que a entidade empregadora não deveria ter entendido a declaração médica como integrando uma justifi- cação no âmbito do direito à da dispensa para amamentar (cfr. n.o 2 do

artigo 39.o do Código do Trabalho), mas antes como uma justificação

ao abrigo da alínea e) do n.o 2 do artigo 225.odo Código do Trabalho,

referindo ainda que o empregador, caso tivesse tido dúvidas, deveria tê-las comunicado ao trabalhador, o que não fez, pelo que terá aceite a justificação como certa.

2.7. O direito à dispensa para amamentação, previsto no n.o2 do artigo 39.o

do Código do Trabalho e regulamentado pelo artigo 73.o, concretamente

pelo n.o1 e pelo n.o3, da Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, não é suscep-

tível de ser confundido com o direito a faltar motivado pela necessidade

de prestação de assistência inadiável e imprescindível a membros do agregado familiar, previsto na alínea e) do n.o 2 do artigo 225.o do

Código do Trabalho e regulamentado pelo artigo 203.o da Lei n.o 35/

/2004, de 29 de Julho. Aliás, o direito a faltar, nesses termos, apenas se justifica por um período de 15 dias e refere-se a assistência a familiares maiores de 10 anos.

Contudo, o aludido direito à dispensa para amamentação não é, igual- mente, confundível com o direito a faltar, até um limite máximo de

30 dias por ano, para assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente a filhos menores de 10 anos, previsto no artigo

40.o do Código do Trabalho e regulamentado pelo artigo 74.o da Lei

n.o35/2004, de 29 de Julho.

2.8. O que se verifica, no caso sub judice, é que a trabalhadora arguida nunca apresentou meio idóneo para justificar a sua ausência e, mesmo após instada pela entidade empregadora para o fazer, enviou, de novo, a declaração médica anteriormente remetida, incapaz de justificar a sua ausência ao trabalho durante dois meses, por não corresponder a qualquer figura jurídica existente no ordenamento jurídico português. Seria seu o dever de agir de boa fé, uma vez já instada, e apresentar documento idóneo que lhe permitisse ausentar-se do trabalho de forma justificada.

2.9. Face ao exposto e considerando que a arguida não se apresentou para trabalhar, quando deveria, e que, mesmo após instada para o fazer, apre- sentou uma declaração médica que já tinha sido enviada à arguente e que não é susceptível de justificar a sua ausência (que inclusivamente ultrapassou cinco dias seguidos de faltas injustificadas), verifica-se que a matéria constante da nota de culpa configura infracção passível de justificar o despedimento da trabalhadora, de acordo com o previsto no n.o1 e na alínea g) do n.o3 do artigo 396.odo Código do Trabalho,

e uma vez que a entidade empregadora ilidiu a presunção legal contida no n.o2 do artigo 51.odo Código do Trabalho.

III – CONCLUSÃO

3.1. Face ao que antecede, a CITE emite parecer favorável ao despedimento da trabalhadora lactante na …, por entender que a entidade empregadora ilidiu a presunção legal contida no n.o 2 do artigo 51.o do Código do

Trabalho e, consequentemente, tal sanção não configurar uma discrimi- nação em função do sexo por motivo de maternidade, no âmbito do processo analisado.

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE JANEIRO DE 2007

PARECER N.o8/CITE/2007

Assunto: Parecer prévio nos termos do n.o1 do artigo 51.odo Código do Trabalho,

aprovado pela Lei n.o 99/2003, de 27 de Agosto, conjugado com a

alínea b) do n.o1 do artigo 98.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho

Processo n.o8 – DGL-C/2007

III – OBJECTO

1.1. Em 09/01/2007, a CITE recebeu da gerência dos …, L.da, cópia de um

processo de despedimento colectivo, abrangendo as trabalhadoras … e …, respectivamente, lactante e grávida, para efeitos da emissão de parecer prévio, nos termos do disposto no n.o1 do artigo 51.odo Código

do Trabalho, aprovado pela Lei n.o99/2003, de 27 de Agosto, conjugado

com a alínea b) do n.o 1 do artigo 98.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de

Julho.

1.2. A empresa tem por objecto o fabrico, montagem, venda, importação e

exportação ou comercialização de produtos químicos, farmacêuticos e cirúrgicos, de produtos relativos a cuidados de saúde, de cosméticos e de produtos de perfumaria e de higiene pessoal de todo o tipo.

1.3. A empresa refere que o mercado de produtos farmacêuticos tem vindo

a conhecer profunda alteração, que redunda em significativas perturba- ções sentidas pelos diversos intervenientes, tanto no domínio específico da actividade desenvolvida, quanto na configuração da organização das estruturas empresariais.

Exemplo significativo daquelas alterações é a concessão, no âmbito do sistema público de saúde e a partir de 2002, de diversos benefícios aos medicamentos genéricos, segmento do mercado a que a … não se dedica.

1.3.1. A intervenção governamental na regulação do mercado da saúde, a qual se tem caracterizado, nos últimos anos, por severas medidas restritivas, com impacto directo na actividade realizada, impôs a diminuição obrigatória do preço dos medi- camentos e o redimensionamento das respectivas embalagens.

1.3.2. A limitação do acesso de delegados de informação médica a estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde foi introduzida pelo Despacho n.o 2837/2004, de 8 de Janeiro de 2004 (Diário da República, II Série, de 7 de Fevereiro de 2004).

1.4. A empresa salienta que sem prejuízo de outros efeitos, as circunstâncias

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das empresas com actividade neste domínio, de que a … não constitui excepção.

1.4.1. Tomando em consideração, apenas, a evolução do mesmo mercado sem medicamentos genéricos – repetindo a consta- tação de que a … não se dedica à produção e comercialização destes genéricos – a perda de crescimento é ainda mais acen- tuada e evidente, pois, o mercado farmacêutico ambulatório português – sem considerar os medicamentos genéricos – estagnou nos últimos três anos.

1.4.2. No caso concreto da … , outras circunstâncias verificadas a partir de 2004 tomam mais pronunciadas as perturbações referidas e mais significativos os efeitos sentidos. Desde logo, a diminuição das taxas de comercialização dos principais produtos comercializados pela Empresa devida à concorrência dos medicamentos genéricos.

1.4.3. Assim, entre 2003 e 2007, as receitas geradas por seis dos onze

produtos mais vendidos pela … conheceram perda no valor de € 29.517.000,00. Em simultâneo, o medicamento da … de maior sucesso – o … – perdeu de modo significativo a parcela de mercado da terapêutica de correcção dos lípidos sanguíneos que detinha, devido à concorrência de outros produtos, prota- gonizada quer por medicamentos alternativos comercializados por empresas concorrentes, quer pela forte penetração no mercado, a partir de 2002, de produtos genéricos com substân- cias activas da mesma classe.

1.4.4. De Novembro de 2005 a Outubro de 2006, as vendas realizadas pela … no mercado farmacêutico ambulatório diminuíram 2,5%, relativamente a período homólogo do ano transacto.

1.5. A redução da actividade da empresa, explicada pelos factos referidos, gerou o sobredimensionamento da sua estrutura de recursos humanos.

1.5.1. Assim, a … teve necessidade de encetar processo de redução de

efectivos, de forma a adequar a sua estrutura produtiva, quer em número de profissionais, quer quanto ao respectivo custo, à dimensão da actividade da empresa e aos resultados opera- cionais do negócio, pelo que aquele processo teve início em 2003, ano em que 64 trabalhadores cessaram o vínculo com a Empresa, 38 dos quais especificamente em resultado de acordos revogatórios justificados pela reestruturação encetada.

1.5.2. Já em 2006, e até 30 de Novembro, cessaram 54 contratos de trabalho, 30 dos quais por revogação justificada pelo processo de reestruturação em curso. Não obstante o número de cessa- ções de contratos de trabalho ocorridas entre 2003 e 2006 – envolvendo o número total de 176 trabalhadores – a estrutura de recursos humanos da empresa mantém-se sobredimensio- nada para o adequado exercício da actividade desta e em face aos resultados gerados pelo respectivo negócio.

1.5.3. Este desequilíbrio é patente no que respeita aos delegados de informação médica, cujo número não encontra justificação no actual quadro de solicitações do mercado. Em Outubro de 2005, eram 285 os delegados de informação médica.

1.5.4. Com dados reportados a Setembro de 2006, a relação entre valor das vendas realizadas pela … e número de visitas a profissionais de saúde feitas pelos seus delegados de infor- mação médica era a pior das três maiores empresas presentes no mercado nacional.

1.6. Verifica-se, assim, redução da actividade provocada pela diminuição da procura de bens, que constitui motivo de mercado para despedimento colectivo, nos termos do artigo 397.o 1 e 2, alínea a), do Código do Trabalho.

No documento Pareceres da CITE no ano de 2007 (páginas 56-72)

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