Aproveitamento de Recursos Endógenos

Esta dimensão apresentou um Alpha de Cronbach de 0,885 e uma média geral de 3,23. A variável que apresentou a maior média de todas foi a “45- A rede promove ações que visam o estímulo e a promoção do potencial turístico da região”, cuja influenciou a escolha do nome da dimensão.

A dimensão de Aproveitamento de Recursos Endógenos está intimamente ligada ao enoturismo e à enogastronomia, visto que as empresas que compõem APROVALE e APROBELO situam-se num verdadeiro pólo vitivinícola. Assim, não seria possível dissociar a competitividade empresarial das vinícolas destas outras duas atividades econômicas: turismo e a gastronomia.

Do ponto de vista regional, pode-se destacar o conceito de desenvolvimento endógeno proporcionado pelo Aproveitamento de Recursos Endógenos. O desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo de crescimento econômico que implica uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção (FILHO, 2001). Nessa nova concepção de desenvolvimento regional, observa-se que a interação entre os agentes assume posição de destaque (FILHO, 2001; OCDE, 2001).

Uma estratégia de desenvolvimento com base nos novos paradigmas tem por objetivo munir um determinado local, ou região, de fatores locais sistêmicos capazes de criar um pólo dinâmico de crescimento, transformando a região num atrator de fatores e de novas atividades econômicas (FILHO, 2001). Neste caso, além das vinícolas atraiu-se para a região da serra gaúcha o turismo e a gastronomia.

Para Boisier (1997) a teoria regional endógena resume-se em considerar a importância da sociedade e das relações sociais no processo de desenvolvimento da região. Assim, a integração social e a cooperação, podem ser consideradas os principais agentes da modernização e da transformação sócio-econômica em uma região.

Barquero (2002) corrobora enfatizando que onde há participação social, o desenvolvimento regional é equilibrado e sustentado no longo prazo, sem entrar em conflito com a base social e cultural da região. Cientistas mais antigos como Godard et al. (1987) já enfatizavam que as chaves do desenvolvimento local residiam na capacidade de cooperação entre seus atores. O histórico dos territórios, sua organização, seus comportamentos coletivos, os consensos que os estruturam são fatores determinantes da inovação. Portanto, os

comportamentos inovadores dependem de variáveis definidas no plano local ou regional (MAILLOT, 1996). O que caracteriza os comportamentos inovadores é sua dotação em atributos naturais ou de localização, mas, antes de tudo, a densidade de seu tecido institucional, seu “capital de relações” (MAILLOT, 1996, p.257).

Produtos típicos, principalmente locais, comida e vinho, são considerados recursos adequados para caracterizar a oferta turística de um destino e, em muitos casos, eles são uma grande atração de um território (ASERO e PATTY, 2009). Esses produtos contêm uma referência forte para o território no qual são produzidos. Eles representam simultaneamente no mercado uma área geográfica, as suas tradições e o seu patrimônio cultural, eles identificam uma comunidade local e a sua identidade também (ASERO e PATTY, 2009).

Assim, o turismo do vinho representa o fenômeno mais inovador da oferta turística e certamente o mais evidente neste contexto de estudo. Neste sentido Storper (1996) destaca que os sistemas produtivos mais dinâmicos são os que se caracterizam pelas inovações, emergem de racionalidades endógenas e diferenciadas de atores coletivos ligados uns aos outros.

Um estudo realizado por Asero e Patti (2009) ressalta que os vinhos ajudam a criar a oferta turística dos territórios através da concepção da rota enoturística e enogastronômica, que representam um tipo particular de roteiros turísticos temáticos. O estudo confirma que os vinhos de qualidade são os potencializadores do desenvolvimento sócio-econômico local.

Para Asero e Patty (2009) a relação da herança cultural é especialmente maior quando o vinho e produtos típicos são identificados por selos de qualidade e marcas que protegem a sua identidade e são atribuídos a esses produtos, cujas características dependem do território em que são produzidos esses produtos, como é o caso do Vale dos Vinhedos que já possui a Indicação Geográfica de procedência.

Hall et al. (2000) utilizam o termo de "terroir"10 turístico para ilustrar a combinação de elementos físicos, culturais e naturais que dão a cada região o seu recurso distintivo. Além

10

A palavra terroir passa a exprimir a interação entre o meio natural e os fatores humanos. E esse é um dos aspectos essenciais do terroir, de não abranger somente aspectos do meio natural (clima, solo, relevo), mas também, de forma simultânea, os fatores humanos da produção - incluindo a escolha das variedades, aspectos agronômicos e aspectos de elaboração dos produtos. Na verdade o terroir é revelado, no vinho, pelo homem, pelo saber-fazer local. O terroir através dos vinhos se opõe a tudo o que é uniformização, padronização, estandardização e é convergente ao natural, ao que tem origem, ao que é original, ao típico, ao que tem caráter distintivo e ao que é característico.

disso, as existências de rotas enoturísticas e enogastronômicas melhoram processos empresariais (ASERO e PATTY, 2009), possivelmente porque a ajudam a criar novas relações espaciais entre os empresários locais que se tornam os principais intervenientes e desempenham um papel decisivo envolvendo outros atores no sistema. Além disso, ele suporta novos vínculos entre produtores e consumidores, a fim de atrair fluxos de turistas para as comunidades locais.

Em consonância as idéias propostas por Asero e Patty, também Aydalot (1986) e Maillot e Perrin (1992), as localidades, ou “distritos do vinho” representam ainda um ambiente inovador, onde os fabricantes de vinho são considerados como agentes que operam no meio atuando como incubadoras de inovação. Nesse sentido, as redes de vitiviniculturas renovam os territórios e comunidades locais conferindo à localidade uma forte identidade territorial.

Indiscutivelmente urge a necessidade de colaboração e as ações conjuntas da rede. No contexto onde se realizou o estudo, as redes colaborativas têm funcionado como potencializadoras do desenvolvimento local e da atração turística para a região, visto que agregam visibilidade ao produto que por sua vez possui alta qualidade. Faccin et al.(2009) avaliaram o potencial do turismo do vinho do cluster da Serra Gaúcha, apontando que além do papel econômico o turismo do vinho também tem uma importância social, apresentando-se como um elemento cultural das tradições italianas no Brasil.

Para Camagni (1991) essa complexa rede de relações sociais informais, principalmente em uma limitada área geográfica, determinada por uma identidade local, realça a capacidade de inovação por meio de processos de sinergia e de aprendizado coletivo, podendo levar a resultados altamente positivos no âmbito econômico regional.

Em suma, pode-se afirmar que a potencialização das características locais contribui para a melhoria da competitividade das empresas associadas às redes em estudo principalmente porque se apresenta como uma cola que vincula os negócios existentes (PRAHALAD e HAMEL, 1990), favorecendo novos negócios e aproximando oportunidades. Ao potencializar as características locais evidencia-se uma identidade coletiva que se torna reconhecida pela qualidade do produto e pelo terroir da região, garantindo novas fatias do mercado vinícola para os produtos desta região.

Então, as redes APROVALE e APROBELO, dado o “terroir” da Serra Gaúcha possivelmente são capazes de gerar marcas com maior reconhecimento e obtenção de maior amplitude na exposição pública (LORENZONI e BADEN-FULLER, 1995).

Esta característica também é herança cultural da imigração italiana, isto porque aqueles imigrantes que aqui chegavam recebiam apenas um lote de terras que se constituía na sua única fonte de alimentos e de renda, caso houvesse excedentes. A construção da comunidade e o cultivo da terra são valores ainda emergentes nesta região, demonstrados pelos resultados quantitativos desta pesquisa.