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2.2 CAPITAL SOCIAL

2.2.2 Fontes e Determinantes de Capital Social

As diferentes concepções do capital social levam também a diferenças de concepções de suas fontes e determinantes. A criação de capital social é um “processo cultural complicado” (FUKUYAMA, 1996, p. 26), fortemente influenciado por fatores sociais,

Coleman (1990, p. 302)

“Aquelas características da organização social, tais como confiança, normas e redes que podem melhorar a eficiência da sociedade, por facilitarem ações coordenadas”.

Putnam (2002, p. 117)

“(...) capital social diz respeito a características da organização social como confiança, normas e sistemas, que contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando ações coordenadas”.

Portes (1998, p. 7) “O capital econômico está nas contas bancárias das pessoas, o capital humano está dentro de suas cabeças, o capital social está nos seus relacionamentos”. Nahapiet e Ghoshal (1998, p.

243)

“Capital social é a soma dos recursos reais e potenciais envolvidos, avaliados e derivados das redes de relacionamento tidas por um indivíduo ou unidade social”.

Durston (1999) – CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe

Conteúdo de certas relações sociais, que combinam atitudes de confiança, com condutas de reciprocidade e cooperação, que proporciona maiores benefícios para aqueles que o possuem, do que se poderia obter sem este ativo.

Onyx e Bullen (2000) Capital social é uma força de poder do povo e, portanto igualmente acessível a todos. É matéria bruta da sociedade civil.

Fukuyama (2000, p. 209) “ (...) normas ou valores além dos necessários às transações habituais de mercado”

Araujo (2003, p. 10) “Capital social é a argamassa que mantém as instituições em contato entre si e as vincula ao cidadão visando a produção do bem comum.

World Bank (2008) As instituições, relações e normas que confirmam a qualidade e a quantidade das interações sociais de uma sociedade.

OECD (2008) – Organisation for Economic Co-operation

and Development

Redes em conjunto com normas, valores e entendimentos que facilitem a cooperação dentro ou entre os grupos.

políticos e culturais, assim como por tipos dominantes de atividades econômicas (GROOTAERT et al., 2003).

As características-chave, para a criação de capital social são normas, redes e a confiança (PUTNAM, 2002). O efeito combinado destes construtos cria um grupo forte pautado na colaboração (ONYX e BULLEN, 2000).

As normas sociais são regras informais, que condicionam comportamento em várias circunstâncias, em geral não são escritas, mas compreendidas segundo os padrões de comportamento valorizados ou socialmente aprovados. Uma das principais é a norma de "reciprocidade" (COMISSION RESEARCH PAPER, 2003). A reciprocidade é comum onde existe capital social. Um indivíduo fornece um serviço a outro, ou age em benefício de outro na expectativa de que esta gentileza retornará no futuro (TOCQUEVILLE, 1830 apud PUTNAM, 2002).

A confiança permite que a colaboração ocorra na ausência de sanções (ONYX e BULLEN, 2000), ela é a expectativa que nasce em um grupo de comportamento estável, honesto, cooperativo, baseado em normas compartilhadas (FUKUYAMA, 1996). Granovetter (1985) enfatizou o potencial que as redes sociais têm para promover a confiança, já que ela deriva das regras de reciprocidade e dos sistemas de participação cívica (PUTNAM 2002). As diferenças reais entre o capital social de cada grupo é o “raio de confiança” (densidade de relacionamentos), isto explicaria porque quase todas as empresas começam como negócios familiares (FUKUYAMA, 2000).

Sendo a confiança um componente básico do capital social e levando-se em conta que para gerar confiança é necessária a presença de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica, então, pode-se afirmar que os três fatores devem estar inter-relacionados na produção de capital social (PUTNAM, 2002; COLEMAN, 1988).

O capital social difere de outras formas de capital na medida em que é geralmente “criado e transmitido por mecanismos culturais como religião, tradição ou hábito histórico” (FUKUYAMA, 1996, p. 41), fazendo com que não seja distribuído uniformemente. Putnam (2002, p. 23) ressalta que “as instituições são moldadas pela história e que a história é importante por que segue uma trajetória: o que ocorre antes condiciona o que ocorre depois. O autor destacou que as diferenças entre as regiões tem raízes históricas.

As tradições são fundamentais para a compreensão das normas (FUKUYAMA, 2000) e a ação coletiva pode ser facilitada pela homogeneidade sociológica do grupo em causa

(CALLOIS e AUBERT, 2007). Essa homogeneidade se dá pela cultura do grupo que é produto de convivências, coincidências, crenças e valores que vão sendo construídos em sua vida comum, em seus medos, ansiedades e desejos (ARAUJO, 2003), trata-se de um “hábito ético herdado, uma idéia, um valor” (FUKUYAMA, 1996, p. 49).

Putnam (2002) afirma que é possível produzir capital social mudando hábitos e dinâmicas sociais, porém isso demandaria anos. Logo, o legado histórico traz importantes contribuições para os determinantes do capital social de um grupo.

Contudo, Nahapiet e Ghoshal (1998), enfatizam que qualquer novo recurso pode ser criado através de dois processos: combinação e troca. A combinação pode envolver a criação de capital social através de mudanças incrementais (combinação de elementos desconectados) ou de mudanças radicais (novos recursos ou novas formas de conexão). O processo de troca ocorre quando os indivíduos têm experiências de ação conjuntas, isto é, quando as pessoas vivem a experiência de trabalhar em conjunto, como uma equipe. Pode-se dizer então que o capital social reside nas relações e as relações são criadas através de trocas (MACKE, 2005), então, capital social é criado por conseqüentes combinações e trocas (NAHAPIET e GHOSHAL, 1998).

Uma característica do capital social é que pode haver efeitos complexos de feedback entre suas origens e efeitos (COMISSION RESEARCH PAPER, 2003), resultando em "círculos virtuosos e viciosos” de criação de capital social (PUTNAM, 2002). Putnam (2002) cita como exemplo, que, quando há confiança mútua, são maiores as chances de envolvimento em atividades cooperativas (PUTNAM, 2002).

O capital social constitui um tipo particular de recurso, e é geralmente definido por suas funções. Ele não é uma simples entidade, mas uma variedade de entidades, com dois elementos em comum: todos coexistem em algum aspecto da estrutura social e eles facilitam certas ações dos atores da rede (COLEMAN, 1988). A figura 6 representa o mecanismo de fontes e determinantes do capital social.

EXTERNALIDADES POSITIVAS Regras de Reciprocidade Participação Cívica

COOPERAÇÃO HORIZONTAL = SINERGIA (confluência positiva)

Figura 6 - Fontes e Determinante do Capital Social

Fonte: Elaborado pela autora com base no presente estudo.

Para Onyx e Bullen (2000) o capital social pode ser gerado em qualquer lugar, onde sejam satisfeitas as condições para sua produção, isto é, onde houver redes densas envolvendo o engajamento voluntário, confiança e benefício mútuo, com relações horizontais (PUTNAM, 2002) onde a hierarquia e o controle não comprometam o seu desenvolvimento.

Para fins de análise a literatura apresenta diferentes tipologias de capital social, bem como dimensões nas quais ele se apresenta, as mesmas serão revisadas nas seções seguintes.