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Fase 5 Análise crítica dos resultados e avaliação do contributo desta tecnologia para a concretização dos objectivos da política energética nacional em termos de:

3 Caracterização nacional dos resíduos orgânicos

3.1.4 Farinhas animais

3.1.4.1 Apuramento das farinhas em Portugal

O preço da farinha para ração encontra-se indexado ao preço da farinha de soja, que custa mais 0,01 – 0,015 € /kg do que as farinhas de carne e osso. No cenário 2, que corresponde à situação anterior à proibição, o preço destas farinhas, assim como parte das receitas das UTS, dependia directamente das cotações da soja nas praças internacionais.

Tabela 3.14 Preço das farinhas com origem animal

Tipo Cenário 1 – situação actual Cenário 2 – derrogação da proibição das

farinhas em alimentos para animais

M2 0 € 0,15 – 0,30 € /kg

M3 0 € 0,15 – 0,30 € /kg

Farinha de peixe 0,35 – 0,45 € /kg 0,35 – 0,45 € /kg

Fonte: Dados reunidos junto das UTS, da região norte, durante o 1º trimestre de 2005

Actualmente, as UTS além de não auferirem as receitas provenientes da venda da farinha, têm que suportar os custos de encaminhamento dos mesmos. A análise realizada segundo os quadros em anexo permitiu apurar:

Tabela 3.15 Distribuição das Farinhas Animais por Destino em Portugal (2008)

Destinos (un: tonelada) Farinhas Animais por

Categoria Incineração U. Técnica Fertilizante Alimentos para animais Países Terceiros Total M1 15 075 0 0 0 0 15 075 M2 715 8 653 14 983 0 15 979 40 330 M3 0 4 698 1 833 18 721 1 761 26 566 Total 15 790 13 351 16 816 18 721 17 740 81 971 Fonte: DGV 2009

Conforme previsto na regulamentação comunitária, a incineração é o destino obrigatório para as farinhas da categoria M1. No entanto, as farinhas das categorias M2 e M3 podem ser encaminhadas para: incineração; unidades técnicas de produção de fertilizantes orgânicos; produção de alimentos para animais (M3) ou exportação para países terceiros, onde são geralmente utilizadas para aplicação directa no solo, como fertilizante orgânico.

A categoria fertilizante refere à aplicação directa da matéria em solos nacionais, geralmente em zonas que manifestam maiores carências de matéria orgânica, como por exemplo no Alentejo.

Por unidade técnica entende-se segundo a definição do Regulamento CE 1774/2002 “uma unidade em que os subprodutos animais são utilizados para produzir produtos técnicos.” No caso em estudo, atendendo às características das matérias em causa, as unidades técnicas referidas são unidades de produção de fertilizantes orgânicos e correctivos orgânicos do solo. 5

As unidades de tratamento de biogás, dependendo das condições comerciais oferecidas às UTS, podem funcionar como alternativa aos destinos apontados. Se excluídas as farinhas de categoria M1, encontram-se potencialmente disponíveis 66 896 ton/ano ou cerca de 140 ton/dia.

Não é expectável que estes montantes se venham a alterar significativamente nos anos mais próximos, dado que estão directamente dependentes do consumo de carne.

As farinhas totais produzidas ao nível nacional encontram-se equilibradamente distribuídas pelos diversos destinos, com excepção das unidades técnicas que apresentam um peso relativo ligeiramente inferior à média, Figura 3.9.

Figura 3.9 Distribuição das farinhas produzidas totais por destino

Fonte: DGV 2009

Já as farinhas da categoria M2 são maioritariamente encaminhadas para países terceiros ou para a produção de fertilizantes orgânicos. Mantém-se a proibição na utilização de matérias desta categoria em alimentos para animais, pelo que a utilização em unidades técnicas revela ainda um peso de cerca de 20% do total. A incineração, geralmente realizada nas cimenteiras, apresenta-se como uma opção residual, captando 2% das farinhas produzidas, Figura 3.10.

5 Por unidade técnica entende-se segundo a definição do Regulamento CE 1774/2002 “uma unidade em que os subprodutos animais são utilizados para produzir produtos técnicos; considerando-se como produtos técnicos, “os produtos directamente derivados de certos subprodutos animais, destinados a fins que não o consumo humano ou animal, incluindo couros e peles curtidos e tratados, troféus de caça, lã transformada, pêlos, cerdas, penas e partes de penas, soro de equídeos, produtos derivados de sangue, produtos farmacêuticos, dispositivos médicos, cosméticos, produtos à base de ossos para porcelana, gelatina e cola, fertilizantes orgânicos, correctivos orgânicos do solo, gorduras animais fundidas, derivados de gorduras, chorume transformado e leite e produtos à base de leite”

Incineração 19% U. Técnica 16% Fertilizante 20% Aliment. A. 23% P.Terceiros 22%

Figura 3.10 Distribuição das farinhas da categoria 2 por destino

Fonte: DGV 2009

As farinhas da categoria M3 são constituídas por matérias que embora sejam passíveis de consumo humano, não são vendáveis. Estas farinhas têm valor comercial. quando encaminhadas para a produção de alimentos para animais, que é o destino prioritário, Figura 3.11.

As unidades técnicas beneficiam de preferência perante o encaminhamento para países terceiros ou a utilização na produção de fertilizantes.

O encaminhamento das matérias da categoria 3 para empresas de produção de adubos orgânicos, é uma solução que se encontra, como referido por algumas UTS, limitada pelas necessidades dos compradores. A UTS em geral tem que suportar os custos de transporte até ao comprador.

Figura 3.11 Distribuição das farinhas da categoria 3 por destino

Fonte: DGV 2009 Incineração 2% U. Técnica 21% Fertilizante 37% Aliment. A. 0% P.Terceiros 40%

Distribuição das farinhas da cat. 2 por destino

Incineração 0% U. Técnica 17% Fertilizante 7% Aliment. A. 69% P.Terceiros 7%

Distribuição das farinhas da categoria 3 por destino

A legislação nacional prevê que a entidade gestora do aterro para onde são encaminhadas as matérias, defina em função da capacidade disponível as condições de deposição e o tarifário a aplicar. Considerou-se 44,5 €/ton um valor médio aplicável aos resíduos, se bem que é expectável que este valor venha a aumentar, para incentivar o desvio de resíduos biodegradáveis dos aterros para outras aplicações mais interessantes.

Como se pode constatar pela análise da Tabela 3.16 as UTS têm que suportar um custo aproximada do 40€ por tonelada de farinha produzida, independentemente do destino escolhido. Se esta informação for cruzada com os dados referentes às quantidades de farinha de carne e osso, geradas por UTS, podem ser determinados com alguma precisão os custos suportados com o encaminhamento das matérias por destino final e definir com base nesses cálculos a estratégia de argumentação de o tarifário de recepção de resíduos, a aplicar a essas unidades.

Tabela 3.16 Estimativa de custos de operação de recolha, transporte e destruição de carne de mamíferos e aves

Custos de fabricação / encaminhamento (€ / ton) Valores médios para Portugal

Matérias de risco específico M1 Mamíferos M2 e M3 Aves M2 e M3 Fabricação

Farinação (custo da farinha produzida) 658,64 391,4 748,58

Encaminhamento

Aterro Não aplicável 44,5 44,5

Incineração 22,5 22,5 22,5

Transporte e espalhamento Não aplicável 40,0 40,0

Fertilizantes orgânicos (*) Não aplicável 40,0 40,0

Fonte: Dados recolhidos junto de UTS (2005)

A utilização das farinhas de animais na digestão anaeróbia (DA) pode revelar-se uma solução interessante para ambas as partes. Para os produtores porque lhes permite reduzir os custos de encaminhamento, para a central de biogás porque lhe permite complementar a mistura a digerir por forma a maximizar a produção de biogás. Mais a mais, as farinhas encontram-se estabilizadas podendo ser armazenadas e incorporadas nos processo de DA apenas quando necessário.

3.1.4.2 Análise resumo

Ao longo desta secção foram detectadas forças, fraquezas, ameaças e oportunidades, cuja análise demonstra os seguintes.

Forças

Possibilidade de definir critérios de selecção, aceitação e rejeição dos resíduos a aceitar na central de biogás, por forma a optimizar a eficiência e eficácia dos processos e a maximizar a qualidade dos produtos finais.

Possibilidade de negociar com os diversas entidades as condições de fornecimento das matérias.

Bom conhecimento dos mercados locais e contactos promissores realizados com fornecedores de matérias.

Destino legalmente autorizado para encaminhamento das matérias Fraquezas

Necessidade de integração das farinhas de carne osso na digestão anaeróbia para maximização da produção de biogás

Implica a procura de matérias alternativas ou oriundas de outras unidades

Ameaças

Instalação de unidades de biogás nas UTS

Eventual derrogação da proibição de incorporação de matérias da categoria 3 em alimentos para animais.

Implica a necessidade de assegurar o abastecimento de matérias-primas através da formalização de contratos de longo prazo.

Oportunidades

Restrições à deposição de matérias orgânicas em aterro, resultante da aplicação da Directiva respectiva.

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