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Fase 5 Análise crítica dos resultados e avaliação do contributo desta tecnologia para a concretização dos objectivos da política energética nacional em termos de:

3 Caracterização nacional dos resíduos orgânicos

3.1.5 Lamas orgânicas

No âmbito deste trabalho, foram consideradas as lamas das actividades que constam das CAE 15,55 e 10 e da Tabela 3.5, mas não foram incluídas as lamas de ETAR por apresentarem características muito variáveis, por serem encaminhadas para outros destinos e por poderem afectar o processo de DA pela introdução de produtos químicos que possam prejudicar a actividade bacteriana.

3.1.5.1 Circuito das matérias

As lamas orgânicas, embora sendo compostos pouco estabilizados, são susceptíveis de espalhamento em solo agrícola, mediante autorização de entidade competente.

Esta autorização é concedida mediante análise às lamas e características do solo disponível para deposição. A legislação em vigor prevê um acompanhamento com periodicidade definida para acompanhamento da reacção dos solos e das características das lamas.

No entanto, o normativo comunitário aponta para a contenção da deposição de lamas em solos agrícolas, pelo que os agentes que as geram terão que encontrar outras soluções para o seu encaminhamento.

Tabela 3.17 Quadro resumo dos circuitos de recolha das diferentes matérias, por fonte

Origem Matérias Recolhedor

Custo Médio (€/ton) Receita (€/ton) Destino Gorduras e sólidos da

gradagem UTS 350,00 UTS

Lamas decantadas e

prensadas Recolhedor 20,00 Sistema multimunicipal

Matadouros

Lamas decantadas e

prensadas Próprios - - Espalhamento

Gorduras e sólidos da

gradagem UTS 37,41 UTS

Indústria de transformação de

carne Lamas decantadas e

prensadas

Recolhedor

privado 20,00 Sistema multimunicipal

ETAR´s municipais Lamas decantadas e

prensadas Privados - - Espalhamento Agrícola Gorduras e sólidos da gradagem Recolhedor

resíduos Sistema multimunicipal

Hipermercados Lamas decantadas e prensadas Recolhedor resíduos 50,00 a 100,00 Sistema multimunicipal

Indústrias de peixe Óleos de peixe e gorduras UTS 50,00 Fertilizantes orgânicos

Fabrico de sabão

As gorduras e sólidos de gradagem provenientes dos matadouros são classificadas como M1 e logo tarifadas como as restantes matérias desta categoria.

Os recolhedores autorizados para a recolha de lamas praticam preços muito díspares, dependendo do tipo de lamas e das opções disponíveis para encaminhamento ou deposição. Tal como praticado com os resíduos orgânicos, o preço praticado integra duas componentes: uma referente à prestação do serviço e outra referente ao custo de encaminhamento, o que justifica a variabilidade das tarifas praticadas.

O preço de recolha das lamas contaminadas com hidrocarbonetos, por exemplo, pode ascender aos 500€ / tonelada.

3.1.5.2 Análise resumo

Ao longo desta secção foram detectadas forças, fraquezas, ameaças e oportunidades, cuja análise demonstra os aspectos a seguir apresentados.

Forças

Possibilidade de definir critérios de selecção, aceitação e rejeição dos resíduos a aceitar na central de biogás, por forma a optimizar a eficiência e eficácia dos processos e a maximizar a qualidade dos produtos finais.

Possibilidade de negociar com os diversas entidades as condições de fornecimento das matérias.

Bom conhecimento dos mercados locais e contactos promissores realizados com fornecedores de matérias.

Possibilidade de estabilizar as lamas através dos processos microbiológicos de digestão anaeróbia e de compostagem.

Ameaças

Alguns componentes das lamas podem comprometer a eficácia da digestão anaeróbia Necessidade de se implementarem sistemas de controlo rigorosos das lamas recepcionadas

Oportunidades

Restrições à deposição de matérias orgânicas em aterro, resultante da aplicação da Directiva respectiva.

Restrições esperadas à deposição de lamas orgânicas em em solo agrícola, resultante da aplicação da Directiva respectiva (nova directiva lamas).

Aumento da quantidade de lamas disponíveis até 2010, devido à construção prevista de novas ETAR´s para tratamento de efluentes domésticos, ao abrigo do processo de abastecimento de água à população.

Possibilidade de aumentar a quantidade de biogás produzidos através da introdução das lamas na mistura a digerir

3.1.6 Chorumes

Os chorumes de bovinos, de suínos e de aves são em geral sujeitos a espalhamento no solo agrícola como matérias fertilizantes (ENEAPAI, 2007). Embora infracção ao normativo nacional e comunitário, é também frequente a prática de lançamento em linhas de água.

Tabela 3.18 Matérias de origem animal por destino

Origem Matérias Recolhedor Custo

(€/ton) Receita (€/ton) Destino Bovinos Chorumes Produtor Outros agricultores 0 0 Espalhamento agrícola Aves Chorumes Produtor Outros agricultores 0 0 Espalhamento agrícola

Fonte: Dados reunidos junto dos agentes económicos, durante o primeiro trimestre de 2005

3.1.6.1 Situação em Portugal

Estas matérias encontram-se em geral pouco estabilizadas e sujeitas a processos de mineralização. São, quando sujeitas a espalhamento, frequentemente responsáveis pela contaminação de aquíferos e cursos de água com matéria fecal e organismos patogénicos, com consequências negativas ao nível social, económico e ambiental.

A legislação comunitária tem vindo a reprovar estas práticas. Em alguns países da UE (ex: Dinamarca), encontram-se já há vários anos proibidas e o espalhamento das matérias resultantes do tratamento dos chorumes (por exemplo por incineração) é alvo de pedido de autorização e de pagamento de taxa ambiental. A Alemanha e a Inglaterra têm subsidiado a implementação de soluções de produção e aproveitamento de energia (produção de biogás) numa óptica de sustentabilidade ambiental.

A protecção dos solos e das águas subterrâneas e superficiais contra a contaminação de nitratos com origem agrícola tem sido uma prioridade em todos os países da comunidades europeia.

Em Portugal, devido aos gravíssimos problemas que as práticas de espalhamento de chorumes têm vindo a provocar, o Ministério da Agricultura em conjunto com o Ministério do Ambiente têm tentado uma estratégia para redução da contaminação dos solos, da água e dos ar com lamas resultantes da pecuária industrial. A digestão das lamas pecuárias proporciona benefícios significativos em termos de redução de cargas orgânicas e odores.

A estratégia integra 3 componentes básicas:

1 – realização de investimentos para redimensionamento das fossas das explorações pecuárias 2 – Aquisição de equipamentos para separação das fracções sólidas e líquidas do chorume, para posterior tratamento ou aplicação agrícola.

3 – Criação de estruturas colectivas (ETAR) para tratamento da fracção líquida dos chorumes.

Mais do que uma ameaça esta situação pode revelar-se uma oportunidade para as centrais de biogás, porque:

• Mais interessante do que receber o chorume diluído nas águas de lavagem, seria a recolha das matérias secas e quando necessários da fracção líquido concentrada.

• As lamas das novas ETAR´s, que poderão apresentar-se com interesse para as centrais de biogás.

• Um projecto colectivo deste tipo implica uma organização e responsabilização dos produtores pelos seus próprios resíduos, criando interlocutores mais sensibilizados para as questões ambientais.

No entanto, conforme o Regulamento 1774/2002,para poderem ser comercializados no mercado o chorume e produtos transformados à base de chorume estão sujeitos à observância de :

• Serem provenientes de uma unidade técnica, de biogás ou de compostagem aprovadas por entidade competente ao abrigo do Regulamento 1774/2002

• Ter sido submetido a um processo de tratamento térmico de pelo menos 70º C durante 60 minutos ou tratamento equivalente

Estar isentos de salmonelas e enterobacteriaceae.

• Ter sido submetido a uma redução de bactérias formadoras de esporos e de toxicidade • Após transformação devem ser armazenados e preservados de contaminações, infecções

secundárias e humidade.

• Devem ser armazenados em silos bem fechados e isolados ou sacos adequadamente fechados (de plástico ou big bags).

3.1.6.2 Apuramento das matérias disponíveis

O apuramento das matérias com origem pecuária foi apurada com base no levantamento efectuado no último censo agrícola. A utilização desta fonte deve-se ao facto de ser a única a apresentar a informação desagregada por concelho e por espécie.

É natural que se tenha vindo a registar nos anos mais recentes, um movimento de concentração de cabeças de gado por exploração devido ás crescentes exigências legais aplicáveis à actividade pecuária.

A comparação dos dados com as estatísticas do INE demonstrou não existirem variações significativas entre os números apresentados e os dados disponíveis para 2008, por NUT II.

O resumo dos efectivos animais apurado com base no Recenseamento Geral da Agricultura é apresentado na Tabela 3.19.

Tabela 3.19 Resumo dos efectivos por zona e por espécie

Nº DE EFECTIVOS

NUT II BOVINOS SUÍNOS OVINOS CAPRINOS EQUÍDEOS COELHOS AVES TOTAL

NORTE 400 258 179 863 466 402 139 724 38 034 581 444 4 418 914 6 224 639 LISBOA e V. do TEJO 159 317 1 072 748 263 238 46 562 10 444 301 236 17 980 290 19 833 835 CENTRO 208 586 546 467 643 520 190 432 24 963 717 180 16 694 025 19 025 173 ALENTEJO 392 268 466 228 1 476 342 119 949 12 638 40 832 2 081 500 4 589 757 ALGARVE 12 008 67 558 68 217 22 351 4 465 14 265 222 857 411 721 TOTAL 1 172 437 2 332 864 2 917 719 519 018 90 544 1 654 957 41 397 586 50 085 125 Fonte: INE Recenseamento Geral da Agricultura 1999

O Norte e o Alentejo apresentam maior concentração de bovinos, enquanto os suínos revelam maior presença na região de Lisboa e Vale do Tejo. Os ovinos são prevalecentes no Alentejo enquanto as aves se concentram nas zona Centro e Vale do Tejo.

A Tabela 3.19 evidencia as características pecuárias de cada região e indicia diferentes possibilidades no acesso às matérias passíveis de serem incorporadas na DA.

No âmbito de ENEAPAI é reforçada a concentração geográfica dos efectivos bovinos, suínos e de aves, que provoca graves problemas ambientais e sociais nas zonas de localização das instalações produtoras, em geral já sinalizadas como problemáticas.

Este documento refere ainda a tendência para a concentração dos efectivos em unidades de maior dimensão e maior capacidade competitiva. A conjugação destes factores poderá induzir ao aumento da procura de sistemas de valorização e tratamento de resíduos e efluentes.

À informação apresentada no anexo A6. Efectivos animais por categoria, por NUT II e por concelho, e resumida na Tabela 3.19, foi aplicado um coeficiente de geração de resíduos por categoria animal, conforme apresentado na tabela a seguir apresentada.

Os valores apresentados na Tabela 3.20, atendem ao contributo médio dos animais da espécie. Embora, animais da mesma espécie com diferentes pesos e em diferentes fases do ciclo de vida, tenham diferentes potenciais de geração de resíduos, tal não foi contemplado na análise, devido à inexistência de dados com a desagregação geográfica necessária para o efeito.

Tabela 3.20 Quantidade estimada de resíduo gerado por categoria animal

Espécie Resíduo gerado

Kg/cabeça/dia Resíduo gerado Kg/cabeça/mês Bovinos 40,00 1200,0 Suínos 5,50 165,0 Ovinos * 4,11 123,3 Caprinos * 1,64 49,2 Equídeos 25,00 750,0 Coelhos ** 0,22 6,6 Aves 0,07 2,1

Não foram consideradas diluições em águas de lavagem das instalações de recolha dos animais. As diluições podem variar entre 1:0,5 a 1:7

Fonte: Santos (2000); Nielsen (2008)

*Fonte: Revista Almanaque Rural nº 6 Março 2005. Pesquisadores da EMBRAPA caprinos

** Pereira e all. (1989)

A aplicação das quantidades estimadas de resíduos ao número de efectivos por concelho permitiu a obtenção dos dados que constam do anexo A9. Apuramento dos resíduos pecuários potencialmente disponíveis. O resumo e a análise dessa informação é apresentada nas tabelas e figuras que se seguem.

Tabela 3.21 Resumo dos resíduos pecuários apurados por espécie e distribuição geográfica

RESÍDUOS PECUÁRIOS (TON/ANO)

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