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Constatamos que 100% das entrevistadas atendem alguma demanda coletiva, sendo que, nos CAOP’s cuja atuação na política pública tem um enfoque em respostas coletivas, o trabalho profissional também é desenvolvido prioritariamente nesse âmbito.

Porém com o novo fluxo de demandas, implantado pela CATE, profissionais que atendiam, prioritariamente, demandas coletivas, passaram a atender também demandas individuais frente a distribuição volumétrica efetivada por esse Central.

Com esse novo fluxo, que está sendo integralmente efetivado em 2020, há uma tendência que o atendimento das demandas individuais aumente, visto que, as demandas individuais reprimidas nos CAOP’s, agora dispõe de uma maior disponibilidade de profissionais técnico para atendimento.

Destaca-se que no período definido para a análise documental – 2018 e 2019 – o fluxo de atendimento das demandas era o anterior a CATE, totalmente gerido e centralizado por cada CAOP, correspondendo a realidade da proporção apresentada no tópico 4.6, ou seja, 50% dos Centros de Apoio atuando majoritariamente com demandas individuais e 50% com demandas coletivas e o trabalho predominante no atendimento das demandas coletivas.

O que ainda está em processo de observação é como ficará a proporção dos atendimentos das demandas individuais e coletivas com o novo fluxo implementado pela Central de Apoio Técnico Especializado, ainda é cedo para afirmar qual direcionamento esse setor vai utilizar, mas o que já pode ser observado é a

permanência da prioridade no atendimento nas demandas individuais, na maioria das vezes, classificadas como urgentes.

A partir das entrevistas foi possível constatar que 100% das profissionais realizam visitas técnicas em instituições que prestam algum tipo de serviço público, nas mais diversas áreas, sendo essa demanda o maior quantitativo de solicitações nos CAOP s, no âmbito dos direitos coletivos. Ressalte-se que 80% das entrevistadas afirmaram que atenderam demandas vinculadas a algum Projeto Estratégico do MP, além das demandas espontâneas de origem das Promotorias de Justiça.

As visitas de inspeções, anteriormente identificadas no MPRN como perícias33, geram relatórios técnicos ou informativos voltados para subsidiar a tomada de decisão do promotor em algum procedimento já instaurado na promotoria, ou para que ele possa decidir sobre a abertura de um novo procedimento, ou não.

As evidências sinalizadas nos dados secundários, oriundos das planilhas de perícia de 2018 e 2019, sintetizados nos gráficos 7 a 10, permitem visualizar a dimensão das demandas coletivas no cotidiano profissional por CAOP.

Observe-se que no CAOP Cidadania, que trabalha majoritariamente com demandas coletivas, tem sido muito esporádica o deferimento de solicitações no âmbito individual conforme se pode visualizar nos dados das demandas ao serviço social em 2018 e 2019.

33 É importante referir que o termo perícia foi recentemente deixado de ser utilizado no MPRN nas identificações das atividades realizadas pelos analistas, posto que, a atividade pericial não é de competência do Ministério Público, mas ao órgãos do judiciário, mesmo assim, há discussões entre os analistas que questionam se algumas de suas atividades realizadas tem características de perícia, e não apenas de uma análise ou de uma atuação técnica.

Gráfico 7 - Descrição Demandas Coletivas - Serviço Social - CAOP CIDADANIA

Fonte: Elaboração própria da autora (2020)

Os dados constataram que a maioria das solicitações atendidas pelo Serviço Social foram relativas a inspeções escolares realizadas através de visitas em campo.

Observou-se também que o quantitativo dessas solicitações permaneceu em percentual semelhante em 2018 e 2019.

No âmbito da Política de educação, as visitas são voltadas para averiguação de aspectos relativos à qualidade do serviço e à merenda. Sendo que na observação acerca da merenda não há opinião técnica específica, mas observação de elementos genéricos – existência de nutricionista, oferta diária, variedade, dentre outros elementos capazes de detectar se está sendo assegurado o acesso dos estudantes à merenda, portanto havendo a preocupação em não adentrar a área de competência da nutrição.

O atendimento da demanda de averiguação de merenda escolar pelo Serviço Social foi a forma encontrada pela gestão para responder a essa solicitação com sua própria equipe técnica, sem necessitar contratar serviços externos de um nutricionista.

Cabe mencionar que antes da chegada da assistente social no CAOP Cidadania essa demanda era encaminhada para ser atendida por órgão externo a instituição, por via da contratação de serviço.

Nos anos de referência dessa pesquisa – 2018 e 2019 – os CAOP’s tinham a possibilidade de solicitar serviços de diversos profissionais por via da Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC) porque existia contrato vigente do MPRN com essa organização. Em 2020 iniciou-se a implantação do Banco de

Profissionais Autônomos como alternativa para acessar o trabalho de profissionais quando não é possível esse atendimento pela equipe própria do MPRN.

Foi relatado na entrevista que a demanda de averiguação de elementos da merenda é respondida mediante respostas genéricas, não adentrando na matéria da nutrição, mesmo assim, avaliamos existir um limiar pequeno entre o debruçar em elementos gerais (informativos que não requerem conhecimento técnico específico) e as competências profissionais de outra área, nesse caso a nutrição).

Destaca-se que nem todas as atividades realizadas pelas assistentes sociais dos CAOP’s do MPRN eram descritas na planilha de perícia, por exemplo, a atividade de assessoria aos promotores em diversas matérias e a participação em reuniões e audiências ministeriais eram registradas externamente a essa planilha, mas é uma minoria quantitativa. Houve consenso de que a assessoria e consultoria no âmbito da atuação profissional no MP é uma temática que não tem sido muito abordada nos estudos sobre o sociojurídico, sendo um tema interessante para outros estudos.

Enfatizamos que uma particularidade das demandas do CAOP Cidadania é a sua pluralidade de matérias, enquanto os outros Centros de Apoio tem áreas bem definidas – saúde, infância e juventude, Idoso e pessoa com deficiência – o CAOP Cidadania atende todas as outras demandas, no âmbito do direito coletivo, que não sejam de responsabilidade dos demais CAOP’s. Mesmo nessa diversidade a predominância é atuação no âmbito da política de educação.

No CAOP Saúde, as demandas são integralmente coletivas, desde as visitas até as orientações. Em 2013 esse CAOP chegou a atender algumas demandas individuais, hoje é fortalecido o direcionamento do trabalho para a defesa da política de saúde em uma perspectiva coletiva. Em relação as demandas atendidas pelo serviço social nesse CAOP conforme ilustrado no gráfico a seguir:

Gráfico 8 - Descrição Demandas Coletivas - Serviço Social - CAOP SAÚDE

Fonte: Elaboração própria da autora (2020)

Constata-se que as demandas ao Serviço Social no CAOP Saúde se traduz no quantitativo das visitas de inspeção em Unidades de Saúde, representado na maior quantidade das visitas a Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em menor quantitativo as visitas em Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), na vigilância sanitária, em Hospitais e Unidades Mistas de Saúde.

Em relação a distribuição entre 2018 e 2019, as visitas em Unidades de Saúde foram em maior quantitativo em 2019, mas as demandas que requereram uma atividade mais articulada com outras políticas públicas, diminuiu consideravelmente nesse mesmo ano.

Destaca-se que em 2018 um dos hospitais visitados foi uma Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APAMI) onde a atuação do assistente social foi focada na análise da regularidade da entidade, principalmente na sua vinculação com a prestação de serviço no âmbito do SUS, sendo realizada em parceria com a gestora hospitalar do CAOP.

As visitas realizadas pelo assistente social ocorrem em todos os serviços da política de atenção básica, e averigua o acesso do usuário aos serviços públicos de saúde, e a qualidade do serviço prestado à população.

Merece destaque também que uma outra demanda identificada na análise dos dados foi a de visita em Conselhos Municipais de Saúde, vinculada ao Projeto

quantitativo, mas sendo um trabalho de relevância por se debruçar no âmbito do controle social, que ainda possui poucas atuações ministeriais, sendo um campo que o trabalho do órgão ainda precisa ser fortalecido.

Ademais, dentre outras demandas identificadas na pesquisa documental, acerca do CAOP Saúde, estavam as solicitações para visitas em redes de saúde, como a de saúde mental, ou visitas em serviços específicos, como os voltados para a população em situação de rua. Em ambas demandas foram realizadas visitas em serviços da política de saúde, como também da Política de Assistência Social.

Cabe menção que no atendimento das demandas de visitas em Redes de Saúde ou serviços que abrangem outras políticas públicas, geralmente são realizadas em articulação com outros profissionais, como o psicólogo, enfermeiro, gestor hospitalar, até mesmo, assistentes sociais de outros Centros de Apoio.

Em referência às demandas do CAOP Inclusão é importante resgatar que o trabalho nesse centro de apoio ocorre, principalmente, no atendimento de demandas individuais, por isso, observemos um baixo quantitativo de demandas no âmbito coletivo conforme se pode visualizar no seguinte gráfico:

Gráfico 9 - Descrição Demandas Coletivas - Serviço Social - CAOP INCLUSÃO

Fonte: Elaboração própria da autora (2020)

É possível inferir que o CAOP inclusão é o que apresentou menor diversidade de demandas coletivas, em 2018 todas as demandas coletivas realizadas foram de visitas de inspeção em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), em 2019, praticamente todas as demandas também foram atendidas nesse cenário, com

100%

exceção de 01 resposta a consulta e 01 participação em reunião que foram registradas na planilha de perícia34.

É importante mencionar que o CAOP Inclusão foi o que apresentou também um menor número de demandas atendidos no âmbito do direto coletivo, e se diferenciou consideravelmente da realidade dos demais Centros de Apoio, até mesmo, do CAOP Infância e Juventude, que também atua, majoritariamente, com demandas individuais.

Em referência às demandas do CAOP Infância e Juventude, houve período que esse Centro de Apoio desenvolvia, considerado número de demandas no âmbito coletivo, no período de execução do Projeto Estratégico “Conviver SUAS”, porém nos últimos anos a demanda desse CAOP está, cada vez mais, centrada em responder demandas individuais, principalmente nas situações de violência sexual contra crianças e adolescentes. Observe-se os dados das demandas coletivas desse Centro de Apoio:

Gráfico 10 - Descrição Demandas Coletivas - Serviço Social - CAOP INFÂNCIA E JUVENTUDE

Fonte: Elaboração própria da autora (2020)

34 É importante referir que a participação em reuniões ou respostas a consultas não foram o enfoque da análise de mapeamento das demandas realizadas nessa pesquisa, posto que, são em menor

Os dados demonstram que no CAOP Infância e Juventude a maioria das demandas coletivas respondidas pelas assistentes sociais, em 2018 e 2019, ocorreram em unidades da Política de Assistência Social (CRAS e CREAS), em Conselhos Tutelares e em Unidades de Acolhimento, seguida, das visitas em unidades do sistema socioeducativo.

Os dados também apontam que houve diminuição das demandas coletivas no ano 2019, ao mesmo tempo, em que as demandas individuais tiveram um aumento nesse mesmo ano – como já exposto em dados anteriores.

Dentre as demandas coletivas realizadas no período destaca-se o trabalho executado no âmbito da Política de Saúde, voltado para análise do fluxo de atendimento de pessoas em situação de violência sexual em 2018, executado em parceria com a equipe do CAOP Saúde.

As atividades articuladas entre os CAOP’s são menos constantes, mas quando ocorrem tem a finalidade de atender uma demanda em uma perspectiva mais ampliada, por via da articulação entre distintos conhecimentos específicos das áreas das políticas públicas.

No geral, o conjunto dos dados expostos indicam que o atendimento às demandas coletivas requer habilidades e capacidade de análise e resposta numa perspectiva de totalidade, tanto em relação a própria política pública em questão, quanto em relação as interfaces com outras políticas, assim podemos inferir que esse é o diferencial dos assistentes sociais, justamente sua capacidade de análise ampla, crítica e propositiva contemplando diversos direitos e políticas públicas.