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Ao consideramos fundamental que as entrevistadas formulassem considerações espontâneas sobre as demandas coletivas estruturamos esse subitem.

Particularmente porque durante diversos momentos nas entrevistas as profissionais referiram que reconhecem que o enfoque dos Centros de Apoio e do Ministério Público deve ser nas demandas coletivas por reconhecerem que o trabalho com as demandas individuais produz resultados pontuais e momentâneos.

Segundo 20% das entrevistadas a atuação concentrada no âmbito individual não deveria ocorrer, mas sim um trabalho mais voltado para o fortalecimento da rede de atendimento, expondo:

Eu acho que a maioria desses casos que a gente atende não deveria terem sido encaminhados como demandas individual, mas avaliada a possibilidade de se transformar em demanda coletiva. A gente deveria atuar, mas de uma forma coletiva, fortalecendo a rede. Porque eles chegam para gente por causa da fragilidade da rede, se fosse feito um trabalho de fortalecer a rede, eles não continuariam a chegar. A gente poderia ter um resultado muito melhor. A maioria dessas demandas individuais chegam para o CAOP porque lá trás não houve um trabalho efetivo da rede. (SOL, 2020).

Ademais essa entrevistada relatou que é comum chegar no CAOP demandas individuais sem registros de atuações anteriores da rede coletiva de atendimento.

Assim, o MP acaba atuando como substituto dessa rede sob o argumento de limitação da própria rede para atender o que a promotoria necessita para responder a demanda do usuário. Assim, as limitações já são identificadas pelo MP, mas geralmente, não trabalhadas efetivamente.

Na mesma perspectiva, 20% das entrevistadas identifica que a maior atuação nas demandas individuais não permite um trabalho no âmbito da melhoria de um serviço público, exemplificando demandas que ainda precisam ser trabalhadas no âmbito coletivo perante a sua extrema fragilidade, relatando uma inércia da atuação do MP perante essas fragilidades. Sobre esse cenário foi enfatizado: “Às vezes a gente tem intenção já de propor alguns projetos no âmbito coletivo, mas a gente acaba sendo engolido pelas demandas individuais.” (MAIA, 2020)

Portanto, identifica-se que as profissionais destacaram ideias para novas atividades no âmbito coletivo, inclusive a partir de análises realizadas sobre as demandas individuais que respondem, mas esbarram nas condições objetivas de disponibilidade para desenvolver essas ações. Lamentando que alguns CAOP’s e muitas promotorias, ainda tem seu processo de trabalho direcionado para atuar de modo individual nas demandas espontâneas que recebe, não promovendo iniciativas para atuar de modo mais abrangente.

Para 20% das entrevistadas o alto quantitativo de demandas individuais em alguns CAOP’s é resultante do alto número de denúncias individuais que as promotorias também recebem, mas também das acentuadas fragilidades da rede de atendimento, sobre esse cenário temos esse depoimento,

a falta de políticas públicas efetivas também vai parar no ministério público e como são muitos casos com demandas distintas, eles acabam atuando muito mais no individual. A maioria deles, eu acho, não consegue enxergar que talvez uma atuação coletiva pudesse dar melhor resolutividade e prevenir novos casos individuais. [...] Eu acho que ainda tem muita promotoria que tem dificuldade dessa articulação com a rede, no sentido de sentar e tentar traçar estratégias. A existência de tais dificuldades se esbarra no fato de que eles precisam dar andamento aos processos que chegam, que são instaurados individuais. (MAIA, 2020).

Note-se que 20% das entrevistadas evidenciam a relevância do trabalho no âmbito das políticas públicas como forma de diminuir as demandas individuais, assim

como, para tornar o processo de trabalho no MP mais fortalecido no atendimento das necessidades da população, por via de intervenções a nível de rede de atendimento.

É importante lembrar que a maioria das demandas sociais não chegam ao MP para serem transformadas em demandas institucional, e assim uma atuação no âmbito coletivo beneficia uma coletividade, inclusive as que não tiveram condições de buscar o MP para requerer o acesso a algum direito ameaçado ou negado.

Nesse entendimento, 20% das profissionais participantes da pesquisa referiu que o trabalho focado em âmbito individual não tem como ser efetivo porque a solicitação individual representaria uma fragilidade que é comum aos outros sujeitos que acessam o mesmo serviço, não apenas a pessoa que está envolvida na solicitação.

Para 20% das entrevistadas há relação entre a atuação de alguns CAOP’s concentrada no âmbito individual e a ausência de equipe técnica nas promotorias do interior do estado para responder às demandas que são essencialmente individuais, afirmando o seguinte:

Quando a gente entrou no CAOP a gente tinha entendido que era a demanda coletiva o foco principal. Mas, pela questão de não existirem equipes no interior, profissionais para atender essas demandas que eles também precisam, eu acho que acabou sendo necessário. E ficou um pouco mais de lado. Mas mesmo não tendo equipe, sempre achei que o CAOP deve inssitir em priorizar atuação bastante ativa no coletivo. (ESTELA, 2020).

Segundo 20% das entrevistadas existe a necessidade de suporte técnico ao promotor no atendimento de demandas individuais que é de competência do MP atuar, como por exemplo nas situações que envolve averiguação de denúncias que os serviços da rede não possuem competência para atuar. Mesmo nessas situações cabe mencionar que o trabalho para fortalecimento dos serviços públicos é indispensável para prevenir situações de violação de direitos presentes em diversas denúncias.

Em relação às profissionais que trabalham, majoritariamente, com demandas coletivas 100% destacaram elementos que evidenciam uma maior identificação profissional com o trabalho realizado, quando comparado com os relatos das profissionais que atendem mais demandas individuais.

Para 20% das entrevistadas o campo da política pública que atua o trabalho de defesa da política pública é a linha mais adequada, expondo que ao se inserir no

processo de trabalho no MPRN ficou um pouco preocupada como o trabalho seria desenvolvido, se haveria um enfoque em atendimento de demandas individuais em uma promotoria, e achou positivo quando tomou ciência que ia trabalhar no CAOP com demandas coletivas, conforme bem coloca no seguinte depoimento:

E eu acho que aqui dentro do Ministério Público é um campo que o Serviço Social tem muito ainda a caminhar e a construir [...], claro que com alguns ajustes, com muito estudo ainda, muito a ser construído, mas eu vejo como algo positivo essa inserção no coletivo. (LUCIDA, 2020)

A referida entrevistada também relatou que se angustia face a realidade das colegas que trabalham basicamente, no atendimento a demandas individuais, porque, no seu entendimento, a demanda individual é algo que só aumenta e não consegue resolver de modo mais efetivo para a coletividade. Ao mesmo tempo que reconhece a necessidade de um trabalho coletivo, refere que ainda é necessário ajustes e estudo para fortalecer essa atuação.

Cabe resgatar que durante a realização das entrevistas a dinâmica de gestão das demandas pela CATE ainda estava sendo efetivada, no período de conclusão deste trabalho – novembro/2020 – essa gestão já estava mais consolidada, de modo que, todas as assistentes sociais dos CAOP’s atuam em demandas individuais e em demandas coletivas, independente do CAOP’s que esteja lotada, perante a proposta de distribuição volumétrica dessa Central.

A rigor com a criação da CATE, foram sistematizadas informações sobre a demanda reprimida de visitas técnicas dos CAOP’s, sendo identificado elevado quantitativo dessas demandas no âmbito individual, o que resultou em um enfoque do trabalho das assistentes sociais e psicólogos dos CAOP’s nesse âmbito, nos primeiros meses de 2020.

Assim, há preocupação que a dinâmica da CATE estimule o aumento do trabalho profissional em demandas individuais, em detrimento do trabalho nas demandas coletivas, principalmente com o caráter prioritário atribuído às demandas individuais no órgão. Além disso, muitas dessas demandas individuais apresentam elementos comuns e tem natureza coletiva, sendo importante analisar esse perfil na perspectiva do potencial de tratá-las como demandas coletivas.

4.13.1. Demandas individuais com essência coletiva

Durante a entrevista as profissionais foram questionadas sobre as demandas atendidas de modo individual que são passíveis de serem problemas de natureza coletiva, ou seja, demandas acolhidas como problemática de apenas uma pessoa, mas que é originada de um contexto compartilhado por uma coletividade, o que exigiria um atendimento mais amplo no campo dos direitos coletivos.

Nesse cenário, 20% das entrevistadas relacionou o alto número de demandas individuais em decorrência das fragilidades nos serviços localizados no território, expondo que caso a atuação fosse no âmbito coletivo havia potencialidade para alcançar resultados muito melhores.

Para 20% das profissionais participantes da pesquisa várias demandas atendidas na área que atua têm essência coletiva, que requer o fortalecimento de alguma política pública ou serviço. Relatou que demandas relacionadas a averiguação de situação de risco, de grupos considerados vulneráveis, sempre precisam de uma retaguarda da rede de atendimento, e como essa é precária, as demandas individuais se agravam e chegam ao MP.

Assim, 20% das entrevistadas reforçou a necessidade de os CAOP’s fomentarem ações com a finalidade de fortalecimento dos serviços públicos coletivos, tanto para diminuir a chegada de demandas individuais no MP, quanto para ter o suporte assistencial necessário no atendimento das demandas individuais que se façam necessárias de atuação.

Para 20% das entrevistadas, no âmbito da política pública que atua, é cabível um trabalho no âmbito coletivo na busca por enfrentar problemáticas de uma forma mais efetiva. Nesse cenário foi exposto a possibilidade de um trabalho articulado com diversas instituições, públicas e privadas, para trabalhar demandas coletivas, na área das políticas públicas.

E, inclusive acrescentou que à nível de promotoria, poderia existir atividades coletivas intersetoriais executadas por esses órgãos voltadas para trabalhar demandas que tem uma dimensão coletiva, em uma perspectiva de prevenção e proteção, exemplificando a questão da violência a segmentos considerados vulneráveis como uma área necessária para esse tipo de trabalho.

Em geral, as profissionais que atuam com demandas individuais identificaram a natureza coletiva de muitas dessas demandas, exemplificaram situações específicas que caberiam uma atuação mais ampla do CAOP e das promotorias de justiça. E assim, as assistentes sociais evidenciaram forte potencialidades em contribuir para estruturar propostas de atendimento coletivo de demandas que identificam no cotidiano profissional no âmbito do MPRN.

4.14. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE TRABALHO PARA ATENDIMENTO ÀS