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2 PANORAMA DA REGIÃO SUL CATARINENSE ENTRE OS SÉCULOS XVIII E

2.4 A CONSTRUÇÃO DA ELITE E DOS ESPAÇOS DE PODER: EXERCÍCIO DA

2.4.3 Araranguá

Como vimos, o sul de Santa Catarina contava com três importantes núcleos de ocupação luso-brasileira; onde também se desenvolveu uma elite econômica e política. Laguna foi o primeiro desses núcleos, seguido por Tubarão - ambos apresentados acima. Araranguá, consequentemente, constituía o terceiro município mais importante, e se desenvolveu no extremo sul, abrangendo uma área que fazia limite com o Rio Grande do Sul, tendo o rio Mampituba como elemento natural que estabelecia a divisão territorial entre as duas províncias. Conforme Paulo Hoboldt, Araranguá permaneceu, até a metade do século XVII, como um local de passagem muito utilizado por exploradores, viajantes e bandeirantes vicentistas. No aspecto geográfico, Araranguá encontrava-se situado junto ao litoral, era banhado pelo rio homônimo com boa navegabilidade e, também, era cortado pela estrada do litoral, a mais antiga via terrestre de ligação entre Desterro, Laguna e Colônia do Sacramento, na embocadura do rio da Prata. Essa condição colocava Araranguá como um lugar de “passagem Obrigatória” (HOBOLDT, 2005).

Mas foi no século XVIII que a região sul do Brasil passou “por uma verdadeira revolução econômica com o advento da economia mineira” (Furtado, 1987, p. 76), por meio da exploração do ouro. Por ocasião da extração do ouro e de diamantes em grandes quantidades na região de Minas Gerais, as regiões situadas ao sul do Brasil se transformaram em fornecedoras de gado bovino e, principalmente, de equinos e muares, muito utilizados nas áreas de mineração como animais de tração, de carga e de transporte, e que eram trazidos pelos tropeiros do pampa gaúcho, como os campos de Viamão e de Tramandaí, no Rio

Grande do Sul. Foi nesse contexto que a região sul do Brasil passou a integrar-se efetivamente ao conjunto da economia colonial brasileira.62 (FURTADO, 1987). Importante destacar que a força da tradição da historiografia local/regional, tal como a historiografia nacional positivista, o horizonte é sempre o do progresso econômico e, nesse sentido, a historiografia produzida por Celso Furtado também não deixa de mirar este horizonte.

Esse processo de integração da região sul do Brasil à economia colonial afetou decisivamente a região do Vale do rio Araranguá. Isso porque o gado, saído dos campos do Rio Grande, conduzido pelos tropeiros, seguia o trajeto da antiga estrada do litoral, que cortava Araranguá, ao porto de Laguna, onde era embarcado com destino a São Paulo, para ser comercializado e encaminhado para a região de exploração do ouro em Minas Gerais.

Entre os anos de 1728 e 1730, foi aberto outro caminho, que também estabelecia a ligação das áreas de criação de gado no Rio Grande do Sul aos campos de Curitiba e de São Paulo, com vistas à feira de Sorocaba, onde os animais eram comercializados. Como já tratamos anteriormente, esse novo trajeto, o primeiro que perfazia todo o percurso por via terrestre, principiava no lugar denominado Conventos, na embocadura do rio Araranguá, e, dali em diante, subia a Serra em direção aos campos de Lages e à vila de Curitiba, até chegar a São Paulo, mais especificamente, na feira de Sorocaba (HOBOLDT, 2005).

62 Celso Furtado registra que até o momento da abertura do comércio de gado com as regiões de mineração do

ouro em Minas Gerais, a economia do sul era inexpressiva e subsistia vinculada às exportações de couro, com baixa rentabilidade. De acordo com ele, depois da abertura do mercado pecuário, a cada ano dezenas de milhares de mulas eram levadas do Rio Grande do Sul para ser comercializado em feiras, como a que havia em Sorocaba, para, de lá, abastecer a região das minas.

Figura 8 - Mapa dos Caminhos de Penetração, Autor: Artur Ferreira Filho (1958), Adaptação: Carmen Thomas

Fonte: História Geral do Rio Grande do Sul 1503 - 1964

A literatura regional aponta o advento do “Caminho dos Conventos”, ou “Caminho do Sul”, aberto por Francisco de Souza Faria em 1730, como sendo o evento responsável pelos primeiros núcleos de povoamento no vale do rio Araranguá, ao passo que trouxe uma significativa redução do fluxo de pessoas, de mercadorias e, consequentemente, de negócios para Laguna e seu porto, já que as tropas de gado continuaram fazendo o trajeto da antiga estrada do litoral somente até a foz do rio Araranguá, onde dava início a nova estrada, ou “Caminho dos Conventos”, em direção à região serrana. Foi nas imediações do novo caminho que, de acordo com Paulo Hoboldt (2005, p. 82), “devem sua origem como decorrência de natural e espontâneo processo, além de Araranguá, os núcleos de povoamento como São Joaquim, Lages, Curitibanos, Bom Retiro, Canoinhas, Mafra, Porto União e diversos outros adjacentes a esse (...)”.

Hoboldt ainda assinala que esse “caminho do gado” promoveu uma intensa circulação e profusão de pessoas, de mercadorias e de informações:

Nesse constante vai e vem e segue engajada em tropeiragem dava-se entre Norte e sul e vice-versa um importante intercâmbio econômico e social como um emaranhado de comunicações e contatos entre comunidades nascentes e em

formação. Verdadeiro traço de união, a tropa também carreando produtos e mercadorias, afluindo com as notícias mais frescas, as utilidades e as futilidades que centros maiores ofereciam, fez nascer e crescer os sítios de pouso, embriões de nódulos populacionais encravados nas profundezas do interior catarinense e que depois viriam a se constituir em cidades econômica e socialmente progressistas (HOBOLDT, 2005, p. 82) [Grifo nosso].

Em um movimento muito semelhante ao que aconteceu em Tubarão, com a abertura da estrada que passou a ligar as vilas de Laguna e Lages, Araranguá também verificou o surgimento de pessoas e de famílias atraídas pelo movimento proporcionado pela abertura do caminho de tropas, que apontava para a possibilidade da prestação de serviços e a abertura de negócios. Foi assim que “surgiram em suas imediações moradores, erguendo o seu rancho, acomodando criações, plantando milho, e passando a negociar com os homens das tropas que por ali pernoitassem” (HOBOLD, 2005, p. 81). O quadro que nos é apresentado por Paulo Hoboldt aponta para o início do povoamento de Araranguá, diretamente atrelado à movimentação proporcionada pela nova via de comunicação.

De acordo com a historiadora Liliane M. F. de Lucena, logo após a construção do Caminho dos Conventos, na região de Araranguá, foi erguido um posto de guarnição militar no alto de uma colina, o que facilitava a observação do vale, cujo objetivo era patrulhar a estrada e controlar a circulação de pessoas, bem como prestar informações aos viajantes que por ela transitavam. Ainda, de acordo com ela, devido ao comércio de animais e de mercadorias, havia outros postos de policiamento ao longo do caminho, sendo que alguns deles tinham a função de recolher impostos para a fazenda real, como no caso do posto que havia em Torres (LUCENA, 2003).

Depois da abertura do Caminho dos Conventos, foi a imigração açórico- madeirense que, em meados do século XVIII, contribuiu para aumentar a demografia das províncias do Sul e, por consequência, incrementar a ocupação da região de Araranguá por volta de 1760, como abordamos no primeiro capítulo desse trabalho, sendo que os primeiros registros de concessão de sesmarias nas terras do “grande Araranguá”63 datam de 1770. Os primeiros sesmeiros donatários de Araranguá foram o tenente de infantaria Manoel Gonçalo Leite de Barros,64 que recebeu a concessão de 3.000 braças de terras entre a foz do rio Araranguá e Barra Velha, na data de 22 de fevereiro de 1772; e o tenente João da Costa

63 Termo usado por João Leonir Dall’Alba para designar a região do Vale do rio Araranguá, sendo também

utilizado como título de uma de suas importantes obras.

64 Conforme: http://fortalezas.org/index.php?ct=personagem&id_pessoa=1251&muda_idioma=PT, o tenente de

infantaria, Manuel Gonçalo Leite de Barros, aparece em um relatório do ano de 1786, produzido pelo Alferes José Corrêa Rangel, como sendo “comandante do Forte de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa à época”. Acessado em 07 maio 2020.

Silveira,65 que recebeu sua concessão correspondente a 9.000 braças, no lugar conhecido como Itoupava, em 5 de abril de 1774 (PIAZZA, 1972)66. O livro de registros de sesmarias da Capitania de Santa Catarina, já mencionado anteriormente nesse mesmo capítulo, nos permite inferir que, embora a região do Vale do rio Araranguá fosse povoada, mesmo que de forma esparsa, desde 1730, quando o Caminho dos Conventos começou a ser utilizado pelos tropeiros, não há nenhum outro registro de concessões de sesmarias até o ano de 1806, fora as duas relacionadas acima (PRADO JÚNIOR, 2007). Geralmente, as datas de terras eram concedidas àqueles que tivessem certa condição social e financeira, indicando-nos que as ocupações anteriores deviam ser de posseiros, com nenhum ou pouco recurso, mas que, ao se instalarem nas imediações da estrada, foram, aos poucos, ampliando suas relações de comércio e, consequentemente, aumentando e equipando os seus negócios, os quais podiam estar relacionados à extração da madeira, à plantação de pequenas roças, à criação de gado e à prestação de serviços, que eram oferecidos aos tropeiros, como a disponibilização de pouso para os viajantes, as mercadorias e os animais.

Referindo-se às vias de comunicação e ao transporte, Caio Prado Júnior diz que “certo ou falso que, ‘o caminho cria o tipo social’, o fato é que no Brasil uma coisa é sem dúvida verdadeira: a influência considerável que as comunicações e transportes exercem sobre a formação do país” (2007, p. 237), e que o desenvolvimento do sistema de comunicação estabelecido desde o início da colonização teve o seu desenvolvimento associado, naturalmente, à progressão do povoamento. Essa reflexão reforça os processos de ocupação da região sul de Santa Catarina, na medida em que as fontes nos permitem confirmar que o tema das vias de comunicação e de transporte sempre esteve entre as necessidades, as preocupações e no horizonte dos grupos sociais que estabeleceram povoamento ao longo do tempo no sul catarinense. Foi assim com Laguna, com Tubarão, com Araranguá e demais núcleos de ocupação e povoamento, que criavam a necessidade da abertura de caminhos da mesma forma que esses caminhos, uma vez abertos, também estimulavam outras povoações.

Nessa perspectiva, o tropeirismo, a partir da década de 1730, passou a representar uma importante atividade econômica, e muito lucrativa ao longo dos séculos XVIII e XIX – chegando a ser praticada na região sul durante a primeira metade do século XX –, que

65 De acordo com: http://fortalezas.org/index.php?ct=personagem&id_pessoa=1078, em 13 de maio de 1789,

João da Costa Silveira ascendeu à patente de Capitão, passando à condição de “Governador da Fortaleza dos Ratones pelo Regimento de Infantaria de Linha da Ilha de Santa Catarina”. Acesso em: 7 maio 2020.

66 Disponível em: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/1972/BLU1972003.pdf.

praticava o comércio do gado obtido no sul com as regiões consumidoras de Sorocaba, São Paulo e Minas Gerais (Prado Júnior, 2007), o que tornou imperativa a necessidade da abertura de estradas por onde o gado pudesse ser conduzido com agilidade e segurança. Essa necessidade fez com que diversos caminhos fossem abertos, inclusive para atender regiões mais distantes do leito basilar dos principais caminhos. Foi nesse contexto, e a partir dessa necessidade, que surgiu um terceiro caminho para ligar os campos de Viamão aos Campos de Lages, diretamente pelo Planalto e sem fazer uso do primeiro trecho da antiga estrada do mar até Araranguá, onde se ligava ao Caminho dos Conventos, reduzindo “consideravelmente o tráfego de tropeiros no Vale do Araranguá” (Lucena, 2003, p. 104), lembrando que essa redução no movimento das tropas em Araranguá se assemelhou à redução sofrida por Laguna, quando iniciou o trânsito pelo Caminho dos Conventos, o que impactou sobremaneira a economia do porto lagunense.

De acordo com Zanellato (2012), o quadro econômico, social e político de Araranguá não demonstrou maiores alterações até meados do século XIX, quando esta foi elevada à categoria de Freguesia, com a denominação de Nossa Senhora Mãe dos Homens, pela Lei Provincial n.º 272, de 4 de maio de 1848.67 Essa nova condição de Araranguá possibilitou a instalação de equipamentos públicos que passaram a prestar serviços às comunidades de sua abrangência, como “registros de nascimentos, casamentos e óbitos, além de atos políticos e administrativos como o serviço militar e eleitoral bem como o julgamento de crimes”, o que estimulou o aumento da população na Freguesia e em seu entorno. Ainda de acordo com o autor, esse período também foi marcado pela ampliação das práticas agrícolas, com destaque às plantações de mandioca e de cana-de-açúcar, proporcionando mudanças na paisagem de Araranguá.

Assim, descreve Paulo Hoboldt:

Verifica-se que, dada essa paisagem imensa e viridente da região, coberta de canaviais com pendões majestosamente enflorados e de extensos mandiocais, houve- se por bem dar-lhe sem efeitos jurídicos, a designação toponímica, de índole botânica, e não menos poética e sugestiva de “Campinas” (2005, p. 110).

A denominação Campinas68 aparece em alguns documentos e mapas do século XIX para designar a região correspondente à Freguesia “Nossa Senhora Mãe dos Homens” e,

67 De acordo com o historiador Oswaldo Rodrigues Cabral (1970, p. 170), no ano de 1848, foi criado o Distrito,

pertencente à Laguna, com a Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens.

68 Contrariamente ao que nos aponta Paulo Hoboldt, Oswaldo Rodrigues Cabral escreve que “Araranguá teve

ainda de acordo com o autor, essa denominação toponímica teria sido incorporada informalmente por associação com a paisagem agrícola, a qual teria desaparecido com o processo de declínio econômico da cultura da cana-de-açúcar e da mandioca na região, provocando novamente alterações na paisagem. Com isso, o lugar passa a ser denominado pelo nome do rio que cortava a Freguesia.

Em meados do século XIX, havia na Freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens uma quantidade significativa de engenhos de açúcar e de alambiques que, de acordo com Paulo Hoboldt, eram em número de 72, produzindo açúcar mascavo (sem refino) e um número semelhante à dos engenhos canavieiros, que produziam aguardente. Certamente também eram produzidas as caixas de madeira onde o açúcar era acondicionado para o transporte e a venda, assim como as pipas preparadas para o armazenamento e o transporte da cachaça (ZANELATTO, 2012, p. 124).

Com a emancipação de Tubarão e o seu consequente desmembramento de Laguna, em 1870, Araranguá permaneceu vinculado ao novo município pelo período de dez anos, até que a Lei Provincial n.º 901, de 3 de abril de 1880, determinasse sua emancipação político-administrativa, com a criação do Município de Araranguá, separando-o de Tubarão (CABRAL, 1970, p. 170). Em oposição à narrativa histórica apresentada por Cabral, Paulo Hoboldt sustenta que a “tramitação de todo processo de instalação do município de Araranguá, foi da Câmara Municipal de Laguna que deu todas as credenciais legais necessárias, e não a de Tubarão”, e que isso era um indicativo da tese de que Araranguá permanecia, desde 1848, quando foi elevada à categoria de Distrito, sob a jurisdição de Laguna (HOBOLDT, 2005, p. 111).

Abrimos um novo parêntese para refletir acerca dos interesses econômicos e políticos que mobilizavam as forças luso-brasileiras que formavam as elites dominantes, tanto em Laguna, como em Tubarão e em Araranguá. Para além da disputa pela narrativa histórica, havia também as disputas por territórios, que configuravam áreas de influência político- administrativas e econômicas. Essas disputas podem ser observadas em documentos que demonstram os esforços mobilizados por grupos de interesse em torno dos movimentos emancipatórios, enquanto que outros grupos procuravam limitar e impedir esses mesmos movimentos.

A Lei Provincial n.º 635, de 27 de maio de 1870, estabelecia, em seus artigos 1º e 2º, o seguinte:

Conventos, próximo da foz do rio Araranguá e que, mais tarde, subindo o seu curso, estabeleceram-se no local da atual sede do Município, que recebeu o nome de Campinas do Sul” (CABRAL, 1970, p. 170).

Art. 1º - As Freguesias de N. Sr. da Piedade do Tubarão e de N. Sr. Mãe dos Homens do Araranguá, ficam desmembradas do Termo da Laguna para formarem um município que denominará – do Tubarão, e fará parte da Comarca do Santo Antonio dos Anjos da Laguna.

Art. 2º - os limites do município ora criado serão os mesmos que compreendem entre si as duas freguesias, de que fica composto (VETTORETTI, 1992, p. 361).

Em sua “História de Tubarão: das origens ao século XX”, Amadio Vettoretti traz, além da cópia da referida Lei nos anexos, um ofício da Câmara de Vereadores de Laguna, datada de 23 de abril de 1861, que fora endereçada ao Vice-Presidente da Província, João José de Andrade Pinto. 69

Esta Câmara informa a V. Ex. que não há conveniência de ser elevada a Vila da dita Freguesia do Tubarão, com quanto hajam cidadãos naquela Freguesia que reúnam qualidades necessárias para os cargos públicos, é limitado o seu número que não chega para ocupar os cargos públicos, não tendo a Freguesia a possibilidade de possuir rendas necessárias para ocorrer as diversas despesas da municipalidade (VETTORETTI, 1992, p. 70).

Embora o exemplo de Tubarão esteja temporalmente distante quase duas décadas da emancipação de Araranguá, ele nos ajuda a compreender as disputas e as relações de poder que se constituíram nas povoações do litoral, tendo à frente políticos, comerciantes, proprietários de terras e escravos, que disputaram o poder entre si e se mantiveram quase que incontestes até o final da Primeira República, como já havíamos mencionado algumas vezes neste capítulo. No caso de Tubarão, a emancipação significava exercer poder de mando – político, econômico e administrativo – sobre uma ampla área que seria explorada, em breve, por dois empreendimentos que prometiam grande lucratividade - a colonização e a mineração. Isso por si só ajuda a explicar as disputas desencadeadas entre as elites de Laguna e de Tubarão, o que nos faz inferir que possa ter se dado no processo emancipatório de Araranguá que, uma vez desmembrado de Tubarão, abarcaria uma “área territorial que se estendia desde o rio Urussanga até o rio Mampituba, fazendo divisa com o Rio Grande do Sul e, a Oeste, até a Serra do Mar, permanecendo com os mesmo limites geográficos estabelecidos quando transformada em Freguesia”. A emancipação de Araranguá aconteceu no contexto em que se deu o processo de ocupação do Vale do rio Araranguá por imigrantes europeus, com a criação de diversos núcleos coloniais, como o de Acciolly de Vasconcellos, que compreendia os núcleos coloniais de Cocal e Criciúma (ZANELATTO, 2012, p. 124).

69 Em 17 de abril de 1861, o Vice-Presidente João José de Andrade Pinto assumiu a presidência interina da

Do ponto de vista político, Paulo Hoboldt construiu uma boa definição para o termo “coronel”, explicitando que, quando não estava relacionado com uma patente habitual na “hierarquia militar”, assumia um caráter aparentado a de um “título nobiliárquico”, com raízes profundas na tradição do patriarcalismo brasileiro e fortemente ligado às estruturas agrárias predominantes no país.

Sobre os chefes políticos, chamados de coronéis, Hoboldt escreveu que

Seu poder era medido pelas propriedades que possuíam, patrimônio, tradição, e capacidade de arregimentar seguidores fiéis, sob a sua tutela, listados num partido político. Desta maneira o coronel, ou chefe político, sempre estava às voltas do poder, direta ou indiretamente, sendo controlador das decisões, conselheiro e distribuidor de cargos (HOBOLDT, 2005, p. 177).

Em Araranguá, no período que segue a partir de sua emancipação, no ano de 1880 até 1930, foram identificadas quatro famílias que disputaram e exerceram o poder político, cujas relações de alianças e disputas tiveram início na fase final da monarquia e se estenderam durante a Primeira República. Essas quatro famílias estavam representadas pelos coronéis Apolinário João Pereira, João Fernandes de Souza, José Vieira Maciel e Porphírio Lopes de Aguiar.

O primeiro deles, coronel Apolinário João Pereira, nasceu em 18 de março de 1864, na comunidade denominada Manoel Alves,70 do interior de Araranguá. Coronel Apolinário atuou como escrivão das Coletorias Estadual e Federal no município de Araranguá, assumindo o seu primeiro cargo político no decorrer dos anos de 1884 e 1885, com apenas 30 anos de idade, quando substituiu o coronel João Fernandes de Souza na Superintendência Municipal (Prefeitura), seu aliado político (ZANELATTO, 2012). Mais tarde, o chefe do Partido Republicano de Araranguá foi eleito Deputado Estadual por três