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2 PANORAMA DA REGIÃO SUL CATARINENSE ENTRE OS SÉCULOS XVIII E

2.4 A CONSTRUÇÃO DA ELITE E DOS ESPAÇOS DE PODER: EXERCÍCIO DA

2.4.1 Laguna

Pensar a região sul de Santa Catarina e o seu processo de ocupação interior exige pensar sua ocupação pretérita a partir da faixa litorânea e, acima de tudo, a partir de Laguna, que, até o ano de 1870 - ano da emancipação de Tubarão –, ocupava uma área que se estendia desde Imbituba até o rio Mampituba, na divisa com o Rio Grande do Sul, e na direção Oeste, até os contrafortes da Serra Geral. Desse modo, até a metade do século XIX, praticamente toda essa área interior e afastada do litoral em direção à Serra permanecia coberta por florestas da Mata Atlântica e habitada pelo povo Xokleng que, por ser estacionário, se movia como um pêndulo entre as bordas do planalto e o litoral, de acordo com as estações do ano e a consequente oferta de alimentos, como já mencionado anteriormente. Aos poucos, com a concessão de sesmarias, ou mesmo pela ação de posseiros, a presença luso-brasileira também se fez perceber por aquelas paragens, mesmo que de forma esparsa até, praticamente, o início da década de 1870, quando um grupo de colonos, de origem germânica, se estabeleceu no vale do rio Braço do Norte, formando o primeiro núcleo colonial do sul catarinense.

Essa caracterização se faz necessária justamente porque as estruturas de poder foram se formando nas vilas e nas cidades que surgiram no litoral. Foi ali, nos centros urbanos – ou mais urbanizados –, e em suas adjacências, onde surgiram as primeiras áreas destinadas à produção agrícola, os primeiros engenhos e as primeiras casas comerciais, cuja população se valia do porto de Laguna para escoar a produção e/ou receber as mercadorias que vinham de outras praças. Ali foram erigidas as estruturas do poder constituído, como as Câmaras Municipais, as quais abrigavam o poder político, e as igrejas, onde era demarcado o poder eclesiástico, que, por sua vez, também cumpria destacado papel político, dada a influência exercida por muitos dos religiosos que atuaram na região (DALL’ALBA, 1979; VETTORETTI, 1992; ZUMBLICK, 1974).

Cabe ressaltar que Laguna foi, pelo menos até os primeiros anos da segunda metade do século XIX, o grande centro político e econômico de toda a região sul da Província de Santa Catarina, vivendo períodos que oscilavam entre os avanços e os retrocessos em sua economia, pois dependia, em grande medida, das vias internas de comunicação, as quais faziam a ligação com o Rio Grande do Sul, com Lages e com Desterro, capital da Província. Nesse contexto, Laguna se desenvolveu como uma cidade fortemente marcada pelas atividades comerciais, valendo-se do porto para exercer o controle do mercado de exportações e de importações. Isso significava que tudo que era produzido nas propriedades rurais e nos engenhos de farinha de mandioca, de açúcar ou nos alambiques da região deveria passar,

necessariamente, pelos comerciantes e pelo porto de Laguna, o que favorecia e enriquecia uma pequena elite de comerciantes e de armadores formada por famílias luso-brasileiras, que também controlavam a política local e regional. O mesmo se aplicava aos diversos produtos que eram importados de outras praças e que abasteciam o núcleo urbano de Laguna, bem como as povoações localizadas no seu entorno e as mais distantes, como as do Planalto Serrano, de onde desciam os tropeiros trazendo, no lombo de seus animais – cavalos e mulas –, diversos produtos que eram comercializados a partir de Laguna (BITTENCOURT; DALL’ALBA, 1979; VETTORETTI, 1992).

Cabe mencionar que a literatura regional34 tem sido pródiga em suas respectivas construções narrativas, as quais abordam a história de Laguna, colocando-a na condição de marco “pioneiro” da ocupação do sul do país; como cidade-polo que exerce importante papel econômico e político regional até o final da Primeira República, cujo domínio do poder local se concentrava nas mãos de grupos de famílias de luso-brasileiros. Colocam-na como responsável pela expansão que, ainda no período colonial, resultou na fundação histórica do sul catarinense e da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul; além de destacar sua participação na “Revolução Farroupilha” e a consequente instalação da “República Juliana” nos idos de 1839 (ZANELATTO, 2012, p. 110).

Dos aspectos acima elencados, um deles merece destaque dada a relevância para o fortalecimento e a consolidação da vila de Laguna, e que, de certa forma, a legitima como “marco e mito fundador”. Trata-se da expansão que se processou a partir de Laguna em direção ao sul do país, de forma sucessiva e ininterrupta durante os séculos XVII e XVIII. Fosse com as levas de soldados recrutados para combater os espanhóis, em Colônia do Sacramento, fundada em 1680. Fosse pelas expedições de conquista organizadas e compostas por vicentistas/lagunistas à ampla região dos campos de Viamão e de Tramandaí, onde encontraram grande quantidade de gado em estado selvagem, proveniente das missões jesuíticas. Resultou daí a ocupação daquela região de pampa por meio da concessão de sesmarias, o que, consequentemente, deu origem aos grupos de estancieiros rio-grandenses. Fosse por intermédio das levas de famílias de colonos provenientes das ilhas dos Açores e da Madeira, promovendo a ocupação e a fundação da vila de Rio Grande no ano de 1751 (PRADO JÚNIOR, 2007; ZANELATTO, 2012).

34 Quando nos referimos à literatura regional, estamos nos valendo de autores como João Leonir Dal’Alba,

Walter Fernando Piazza, Oswaldo Rodrigues Cabral, Ruben Ulysséa, Walter Zumblick, Paulo Fernando Lago, Amadio Vettoretti, Paulo Hobold, entre outros que corroboram a tese que confere à Laguna um papel de destaque, de relevância e de liderança no sul catarinense.

Figura 6 - Mapa dos confins do Brasil com as terras da coroa de Espanha na América meridional – “mapa das cortes” 35

Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) - Mapoteca do Itamaraty (Medidas: 60cm x 54cm); data: 1899 (autenticação); localização: Coleção América e Brasil

De acordo com as informações extraídas do próprio mapa acima, conhecido como “Mapa dos Confins do Brasil”, ou “Mapa das Cortes”, essa cartografia teria sido utilizada pelos ministros plenipotenciários dos países ibéricos, Portugal e Espanha, durante as negociações dos termos estabelecidos no Tratado de Madrid, firmado em 14 de janeiro de

35 Segue a transcrição paleográfica: “Mapa dos Confins do Brazil com as terras da Coroa de Esp.a na América

Meridion.l. O que esta de Cor Amarela he oque se acha ocupado pelos Portuguezes. Oque esta de Cor de Roza he oque tem ocupado os Espanhoes. Oque fica em Branco esta athe noprezente por ocupar”.

“Esta Carta geográfica he copia fiel e exata da primeira sobre que se firmou i e ajustou o Tratado dos Limites, assinado em 13 de janeiro de 1750; E porque na dita Carta se acha huma linha vermelha, que asinala, epasa pelos lugares poronde se há de fazer a demarcaçam, que por ser anterior ao Tratado dos Limites que se fes depois nam vae conforme com ele em pasar do pe do Monte de Castilhos grandes a buscar as Cabeceiras do rio Negro, e seguir por ele ate entrar no rio Uruguai, devendo buscar a origem principal do rio Ibicui conforme o dito Tratado, se declara que a dita linha se serve enquanto ela se conforma com o Tratado referido. E paraque atodo otempo asim conste nós abaixo asinados Ministros Plenipotenciarios de S.M.F e S.M.C lhe puzemos as nosas firmas e Celos de nosas Armas. Madrid 12 de julho de 1751. Tomas da silva Telles; Joseph de Carvajal y Lancaster”. Disponível em: http://www.arpdf.df.gov.br/map_ita_5/. Acessado em 22 de agosto de 2019.

1750, portanto, no contexto das disputas territoriais entre as duas potências coloniais ibéricas na América meridional. Fato este que coincide com o processo de expansão a partir de Laguna em direção ao Rio Grande do Sul por vicentistas, lagunistas e colonos açórico- madeirenses, o que culminou com a fundação da Vila de Rio Grande e o estabelecimento das primeiras estâncias voltadas à criação de gado, cujo desdobramento foi o fortalecimento de Laguna como importante entreposto e praça comercial e portuária (PRADO JÚNIOR, 2007, p. 201 - 204).

Referindo-se ao papel estratégico de Laguna na defesa das áreas ocupadas e povoadas pelos “catarinenses” no Rio Grande do Sul, o historiador Amadio Vettoretti (1992, p. 40) escreve que, no ano de 1767, a esquadra espanhola, comandada por Pedro Antonio de Cevallos Cortés y Calderón – também conhecido por Dom Pedro de Ceballos –, tomou a colônia de Sacramento e a Vila de Rio Grande, promovendo o fechamento da barra da Lagoa dos Patos. Esse episódio acabou forçando os comerciantes daquela região a escoar os seus produtos pelo porto de Laguna, fazendo o transporte das mercadorias e de pessoas/soldados por meio de carretões ou no lombo de animais, que eram conduzidos pela antiga estrada do mar, que ligava a Vila de Rio Grande à Laguna e Desterro.36

Já que estamos tratando do processo de ocupação e apropriação da região sul catarinense, cabe abrir um pequeno parêntese para ressaltar que as vias de comunicação e, fundamentalmente as estradas, assim como rios e as lagoas navegáveis, foram de extrema importância para a fase embrionária desse processo. Assim sendo, a “estrada do mar”, ou “estrada do litoral”, como ficou conhecida, foi a primeira via de ligação entre a Província de Santa Catarina e o extremo sul do país. Aliás, essa estrada, de acordo com Paulo Hobold, foi sendo “construída” a partir de um traçado já trilhado desde tempos remotos pelos índios “Carijós, de Santa Catarina, os Arachãs e outros da região sul que intercomunicavam-se por ela fazendo comércio recíproco” (HOBOLD, 2005). A relevância desse caminho/estrada, habitualmente utilizado por exploradores, tropeiros, comerciantes e colonizadores desde o século XVI, apresenta-se como uma importante via de comunicação ao longo dos séculos subsequentes. Era por essa estrada que os tropeiros conduziam o gado dos campos de Tramandaí e Viamão para serem comercializados nas conhecidas feiras de Sorocaba, para, dali, fundamentalmente, abastecer a região das Minas Gerais. Por esse traçado, as tropas deveriam passar, necessariamente, por Laguna, onde o gado era embarcado. Esse fluxo

36 Mais uma vez, destacamos o papel da linguagem cartográfica no processo de invasão e usurpação dos

somente fora interrompido com a abertura da “estrada dos conventos”, no ano de 1728, por Francisco de Souza Faria. (PRADO JÚNIOR, 2007)

No século XIX, por exemplo, quando já existiam outros caminhos, como o que ligava Laguna a Lages, a estrada do litoral ainda era mencionada, com certa frequência, nos relatórios provinciais, dada a necessidade constante de manutenção daquela que, em tempos de chuva, tornava-se impraticável. Podemos referenciar o relatório apresentado pelo Brigadeiro Antero Jozé Ferreira de Brito à Assembleia Legislativa da Província de Santa Catharina na sessão ordinária de 1º de março de 1846, quando o Presidente Provincial, ao se referir às obras públicas, disse não haver sombra de dúvidas,

que as estradas são o que mais necessitamos, e por isso sollicitando eu do Governo Imperial o necessário auxilio para o melhoramento das geraes que partem do Rio Grande pelo litoral e por Lages á Província de S. Paulo, obtive hum credito de oito contos de reis para ser empregado em taes obras, nas quaes me occupo (SANTA CATHARINA, 1857, p. 7) 37

Outro exemplo que retrata bem a importância da referida estrada e a constante preocupação com sua manutenção está no relatório apresentado à Assembleia Legislativa pelo então Presidente, Dr. João José Coutinho, em 1º de março de 1857, quando faz referência ao Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, o lagunense Jeronimo Francisco Coelho. De acordo com o relatório provincial, Jeronimo Coelho, em ofício datado de junho de 1856, apontava que a baixa circulação de pessoas e de mercadorias pela antiga estrada do litoral se dava por “não haver em toda a extensão de Porto Alegre á Laguna ranchos e commodos pousos para os viandantes, suas bagagens, e cavalhadas, e do máo serviço da passagem dos rios que atravessão a estrada”. Ainda de acordo com o relatório, o ofício endereçado à Província catarinense trazia um “plano de melhoramento”38 e propunha uma

37 No relatório, o Presidente relata que teria feito o pedido dos recursos financeiros para os melhoramentos

necessários nas estradas diretamente às Suas Majestades Imperiais – Imperador e Imperatriz – quando estes estiveram em Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, entre os dias 12 de outubro e 8 de novembro do ano anterior (1845).

38 O plano de melhoramento proposto por Jeronimo Coelho e respaldado por uma comissão de engenheiros

consistia no “estabelecimento de bons serviços nas passagens dos rios e a construcção em convenientes distancias de ranchos com repartimentos reservados para famílias, potreiros e guardas”. Depois disso, seria organizado “uma companhia de diligencias ou omnibus até a Laguna com serviço de pequenos vapores dessa cidade a esta capital”. Por fim, a comissão, organizada em São Pedro, aponta para a necessidade da “construcção de 46 ranchos e o melhoramento do serviço de seis passagens de rios” e arremata dizendo que “os benefícios que receberá esta província dos serviços acima mencionados, os deverá unicamente ao Sr. General Coelho, que os indicou, desenvolveu, e conseguio do governo imperial o seu necessário apoio, e que necessariamente se ha de esforçar na sua execução, e ao governo imperial, que habilitou esta presidência com os precisos fundos” (SANTHA CATHARINA, 1857, p. 22 - 23).

parceria entre as duas províncias para a reabilitação da estrada em estado de abandono (SANTA CATHARINA, 1857, p. 22 - 23).

Os exemplos extraídos das fontes citadas acima nos dão a dimensão da importância e da constante preocupação dos diversos grupos e agentes sociais, políticos e econômicos da região sul com a criação e a devida manutenção das vias de comunicação como forma de se assegurar o desenvolvimento socioeconômico regional.39

Retornando ao quadro apresentado por Amadio Vettoretti, quanto ao episódio da tomada de colônia do Sacramento e da Vila de Rio Grande em 1767 por Ceballos, com o consequente fechamento da barra da Lagoa dos Patos, Vettoretti chama atenção para a importância do episódio narrado para o fortalecimento e a consolidação da elite econômica e política de Laguna, ressaltando que,

O progresso daquela vila [de Laguna] foi tão acentuado que os armadores, geralmente comerciantes, fecharam-se numa espécie de “aristocracia localizada”, assoberbados de orgulho provinciano. Os ares do progresso se expandiram na região. Esta foi a causa indireta relacionada ao início do povoamento às margens do Tubarão. Em consequência, outro acontecimento foi se juntar a esse ressurgimento comercial, tornando-se a causa direta da origem de Tubarão: A ABERTURA DO CAMINHO, LIGANDO LAGES A LAGUNA (VETTORETTI, 1992, p. 40) [Grifo nosso].

A narrativa de Amadio Vettoretti atenta-nos para dois aspectos. O primeiro deles está associado à mudança da logística que teria contribuído significativamente para a reativação da prosperidade de Laguna;40 aponta que a abertura da estrada ligando Lages a Laguna, da qual fazia parte o rio Tubarão, até o onde pudesse ser navegável, concluída no ano de 1773, foi decisiva para o fortalecimento do intercâmbio de mercadorias e a circulação de viajantes, demonstrando que houve, ainda no final do século XVIII, um espraiamento da povoação lagunense em direção às margens do rio Tubarão, onde havia um porto fluvial na

39 Importante destacar que o traçado de uma via de comunicação na direção Norte – Sul, margeando em paralelo

ao litoral, e que pudesse estabelecer a ligação entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul esteve presente ao longo dos séculos, chegando até os nossos dias. Ainda hoje, grupos políticos e econômicos sustentam a necessidade da construção de uma ferrovia “Norte-Sul” ou “Translitorânea”. No século XIX, foram travadas intensas disputas em torno de três projetos que apresentavam, grosso modo, esse mesmo traçado: a Estrada de Ferro “D. Izabel”, a Ferrovia “D. Pedro I” e o Canal de Navegação “Príncipe D. Affonso”. Abordaremos esses projetos no quarto capítulo.

40 Ao tratar da reativação da prosperidade de Laguna a partir da tomada da Vila de Rio Grande e o consequente

fechamento da barra da Lagoa dos Patos, por onde os produtores rio-grandenses escoavam sua produção (1767), e a abertura da estrada Lages – Laguna (1773), Amadio Vettoretti o faz em comparação com a abertura do Caminho dos Conventos, aberto por Francisco de Souza Faria no ano de 1728. Esse caminho fazia a ligação da Vila de Rio Grande a Araranguá, onde a estrada subia a Serra em direção a Lages, Curitiba e São Paulo, para onde eram conduzidas as tropas de gado. Esse caminho fez com que o comércio e a riqueza de Laguna encolhessem, revigorando-se somente com a abertura da nova estrada e a retomada do comércio com os produtores do sul (VETTORETTI, 1992, pp. 37 - 39).

localidade denominada Poço Grande,41 considerado como sendo o núcleo inicial de Tubarão. Tratava-se, conforme o referido historiador, do surgimento de um incipiente “entreposto comercial na navegação fluvial e de início da via terrestre em direção ao planalto e vice- versa”, que logo despertou o interesse econômico na ocupação das terras que margeavam o rio e seguiam a via de acesso ao planalto, dada a viabilidade de escoamento da produção futura e da boa qualidade das terras agricultáveis. Já, o segundo aspecto, aponta para a descrição e a caracterização da elite dominante de Laguna, que, de acordo com ele, era formada por armadores, o que nos indica a relevância do porto de Laguna, uma vez que esses também se dedicavam ao comércio, controlando a intermediação e o transporte da produção excedente de toda a região. Ainda nessa perspectiva, o autor os caracteriza como uma “aristocracia localizada e fechada”, arrematando que se mostravam “assoberbados de orgulho provinciano”. Cabe ressaltar que, em seus escritos, Amadio Vettoretti, tubaronense de descendência italiana, se dedicava à construção de narrativas acerca da história de Tubarão e, ao mesmo tempo, era habitual, em seus textos, apontar para os desleixos e a falta de iniciativa dos grupos luso-brasileiros, ao passo que, frequentemente, exaltava toda a organização e a força do trabalho dos colonos imigrantes europeus não-ibéricos, os quais propiciaram o desenvolvimento e o progresso regional (VETTORETTI, 1992, p. 41).

Desse modo, observamos que, já no século XVIII, Laguna apresentava um grande desenvolvimento de suas atividades econômicas, as quais giravam em torno do seu porto e, com isso, foi possível a acumulação de riqueza proveniente dos lucros obtidos com o comércio e as armações que, por sua vez, se concentravam nas mãos de uma elite luso- brasileira, como já havíamos mencionado. Essa mesma elite, enriquecida com o controle do comércio de importação e de exportação, bem como do transporte marítimo e fluvial, ganhara destaque em Laguna e em toda a região povoada, que se estendia até Araranguá. Importante frisar que, nessa época, além da estrada do litoral, também já estava em pleno funcionamento o caminho de tropas que perfazia a ligação entre Laguna e os Campos de Lages (1773), no Planalto Serrano, incrementando sobremaneira a economia lagunense com os negócios que eram realizados entre os comerciantes e os tropeiros que desciam a Serra em busca de provimentos, e que, de lá, traziam diversos produtos que eram comercializados naquela praça. Pelo porto de Laguna chegavam diversos produtos como ferro, sal, tecidos e pescado, da

41 Em 22 de abril de 1833, a Câmara Municipal da Vila de Laguna estabeleceu os limites da base territorial de

seus distritos, entre eles, o 5º Distrito do Município de Laguna, denominado “Poço Grande do Rio Tubarão”, sendo essa, portanto, a primeira denominação do que viria a ser mais tarde o município de Tubarão. Entretanto, no ano de 1836, o Presidente da Província de Santa Catarina, José Mariano de Albuquerque Cavalcanti, sancionou o Decreto nº 32, que estabelecia a instalação da Paróquia/Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, segunda denominação dada àquele município.

mesma forma que, por ele, eram exportados tanto os produtos produzidos na região serrana, como carne salgada, queijos e artefatos de couro, como também os produtos locais: peixe seco, farinha, trigo e cochonilha 42 (ZANELATTO, 2012).

No início do século XIX, o Ajudante de Ordens, Paulo Joze Miguel de Brito, escreveu sua “Memoria Política sobre a Capitania de Santa Catharina”,43 em que descreve as condições materiais e a organização da Vila de Laguna. De acordo com ele, referindo-se às vilas na terra firme, Laguna foi a segunda em proporção e a mais antiga da Capitania, caracterizando-a da seguinte forma: